
Em 1994, a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) buscou migrar o debate de seguran�a territorial, trazido pela heran�a do p�s-guerra, para o de prote��o (seguran�a) pessoal. Em 2003, Sadako Ogata e Amartya Sen apresentam nova defini��o incluindo prote��o e empoderamento como garantias da seguran�a humana no sentido das necessidades b�sicas, integridade f�sica e dignidade humana.
Na �ltima ter�a, 08/2, a ONU/Pnud lan�a o Relat�rio especial intitulado “New threats to human security in the Anthropocene - Demanding greater solidarity” (Novas amea�as � seguran�a humana no Antropoceno – Demandando maior solidariedade, em tradu��o livre) incluindo a solidariedade �s estrat�gias de prote��o e empoderamento dos indiv�duos e comunidades, dentro do contexto de antropoceno.
Como entender o antropoceno dentro do trip� solidariedade, prote��o e empoderamento? Acredito estar a� o “pulo do gato” desse novo documento. O relat�rio especial da ONU/Pnud trata das amea�as � seguran�a humana promovidas pelas pr�prias a��es humanas. E o que � mais curioso: evidencia que as percep��es de seguran�a humana n�o est�o relacionadas aos n�veis de desenvolvimento das Na��es. Mesmo nos pa�ses de maior renda, menos de vinte e cinco por cento da popula��o sente-se segura.
Solidariedade, empoderamento e prote��o s�o conceitos que v�o na contram�o do individualismo exacerbado promovido pelo capitalismo e agravado pela globaliza��o, por vultosos fluxos financeiros e comerciais, ac�mulos de riqueza, disparidades de renda e diferentes acessos �s oportunidades. � algo que transcende � percep��o de bem-estar social individual. A solidariedadefaz sentido existir � medida em que os indiv�duos t�m a compreens�o e o reconhecimento de que a seguran�a humana deve ir al�m da seguran�a individual e de suas comunidades.
Assim, s� faz sentido falar em solidariedade � medida em que os indiv�duos tomam consci�ncia de que a riqueza e as disparidades entre Na��es se d�o �s custas de danosos impactos ambientais tra�ados por pol�ticas que culminam em maiores disparidades de renda, aumento da pobreza, fome e vulnerabilidades sociais de toda sorte; � medida em que percebem que o jogo de gera��o e ac�mulo de riquezas pessoais e empresarias � ganho �s custas da destrui��o ambiental e da gera��o de inseguran�a humana; � medida em que compreendem que o encadeamento da crise clim�tica desemboca no aumento da desnutri��o e da inseguran�a alimentar de bilh�es de seres humanos.
No contexto do antropoceno, o trip� solidariedade-prote��o-empoderamento torna-se a edifica��o de uma estrutura mais robusta no entendimento e combate das a��es que v�m escancarando as mais diversas formas de inseguran�a humana, hoje ainda mais exacerbadas por meio das tecnologias digitais, conflitos de viol�ncia – guerras, �xodos etc. -, desigualdades e sistemas de sa�de inacess�veis a todos.
A pandemia do Covid-19 foi a “cereja do bolo” no acirramento das quest�es mais graves dentro do contexto antropoceno. Se antes da pandemia a discuss�o clim�tica j� vinha se acirrando, com seu advento, quest�es sanit�rias, clim�ticas, sociais e econ�micas misturaram-se, de t�o forma, que discutir os rumos das sociedades n�o faz mais sentido sem a total compreens�o da interdepend�ncia entre tais quest�es.
Neste ano, o tema da Campanha da Fraternidade � “Fraternidade e Educa��o” e seu lema � “Fala com sabedoria, ensina com amor”. Esse tema dialoga diretamente com o novo contexto antropoceno e o trip� solidariedade-prote��o-empoderamento trazido pelo relat�rio especial da ONU. Dialoga diretamente com os resultados da primeira etapa do Censo Escolar 2021, divulgado em fins de janeiro �ltimo.
Os dados da primeira etapa do Censo Escolar 2021 s�o capazes de evidenciar algo muito mais importante que a perda de anos de escolaridade: a in�pcia do setor p�blico. Os resultados mais gritantes do Censo Escolar foram:
- 1) a completa aus�ncia de aulas, em 2020, sobretudo nas escolas municipais, que respondem por 97% dos primeiros anos do ensino fundamental;
- 2) e a quase inexist�ncia de tecnologia para os alunos dessa mesma rede p�blica de ensino – 2% das escolas municipais disponibilizaram acesso gratuito ou subsidiado � internet em domic�lio.
- 2) e a quase inexist�ncia de tecnologia para os alunos dessa mesma rede p�blica de ensino – 2% das escolas municipais disponibilizaram acesso gratuito ou subsidiado � internet em domic�lio.
O ano de 2022 est� tornando-se oportunidade �nica para a sociedade brasileira exigir de seus candidatos aos governos federal e estaduais programas que realmente apresentem o m�nimo de reflex�o sobre como tratar seus graves problemas sociais, com pol�ticas capazes de promover grau m�nimo de pertencimento para invis�veis, desalentados, desempregados ou subempregados; assim como, para os mais de um milh�o e meio de crian�as e jovens que n�o foram matriculados, em 2021, nas escolas; para os necessitados dos servi�os de sa�de p�blica; e para os que veem-se amea�ados por diversas formas de viol�ncia.
A Campanha da Fraternidade coloca a educa��o no centro das quest�es sociais e traz a necessidade de solidariedade para com crian�as e jovens violentamente afetados pela pandemia. Abre di�logo direto com o queo relat�rio especial da ONU instiga.
2022 � o ano para a sociedade brasileira n�o dar brecha a falas que banalizam ou fazem apologia ao nazismo, � tortura, � n�o vacina��o e a qualquer tipo de negacionismo ou gesto que nos torne menos solid�rios, menos protegidos e menos empoderados. Que relat�rios como o da ONU/Pnud e campanhas como a do Vaticano tomem mais espa�o na m�dia e na mente de uma sociedade que parece dopada em frente a uma tela de BBB.
