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Estado de Minas CARNAVAL

Guto Borges conta a hist�ria da primeira escola de samba de BH

Na se��o 'Bloco na rua', carnavalesco cita versos da compositora Dona Eliza para lembrar que a Pedreira Unida fez o seu desfile de estreia em 1938


13/02/2022 04:00 - atualizado 12/02/2022 04:22

Mulher, de costas para a câmera, dança em cima da mesa cercada de foliões fantasiados de marinheiro no baile de carnaval realizado no Iate Tênis Clube, em BH, em 1963
O tradicional Baile do Marinheiro animou o sal�o do Iate T�nis Clube no carnaval de 1963 (foto: Arquivo EM/26/2/63)
 

BLOCO NA RUA

� preciso cavar pra frente


Guto Borges
Puxador de bloco de carnaval

“L� na pedreira nasceu o rufar desses tambores.
Quando l� se plantam rosas da pedra nasceram as flores”

No lindo samba acima, chamado “Rufar dos tambores”, Dona Eliza, uma das mais prof�cuas compositoras desta cidade, nomeia o ber�o do samba e da cultura suburbana em Belo Horizonte: a Pedreira Prado Lopes, ou “nossa querida Mangueira”, como gosta de cham�-la Mestre Conga.

Talvez voc� tenha ouvido falar sobre ter sido l� a funda��o da primeira e seminal escola de samba da cidade, a Pedreira Unida, em 1938. Mas Dona Eliza narra tamb�m uma esp�cie de procedimento incrivelmente poderoso que o nascimento do samba nos legou por aqui, o de fazer nascer flores sobre pedra.

Belo Horizonte n�o � uma cidade, digamos, afeita a manter de p� suas tradi��es, hist�rias e mem�rias. Especialmente quando elas se passaram “do lado de l� do rio”, como dizia Jadir Ambr�sio. Ao contr�rio, seu talento parece ser o de demoli-las. Basta lembrar o desaparecimento da Pra�a Vaz de Melo, uma esp�cie de eixo dessa formula��o n�o central de cultura e cidade, demolida para dar lugar ao complexo rodovi�rio da Lagoinha, triste gesto eternizado no samba de Gerv�sio Horta chamado “Adeus, Lagoinha”.

� de se perguntar, portanto, como fazer viver, cultivar algo ou, poder�amos dizer, fazer cultura em um terreno t�o �rido. A mem�ria do samba da cidade, assim como seus grupos tradicionais de carnaval, n�o cansam de nos dizer sobre isso. Resta escut�-los.

Vale lembrar que por aqui o carnaval j� passou por momentos de imensas crises. Agonizou, sem morrer. Talvez o leitor acostumado �s multid�es de dois anos atr�s se lembre, com algum esfor�o, das ruas desertas e dos desfiles empurrados para a Via 240 h� pouco mais de uma d�cada.

Os mais velhos v�o se lembrar, por outro lado, da d�cada de 1980, quando �ramos o segundo maior carnaval de avenida do Brasil. Mas o que acontece? Apesar das insistentes for�as pelo esvaziamento do carnaval em BH, parece haver um fio de mem�ria fundado h� muitos anos, como nos lembra Dona Eliza, que faz essa hist�ria nunca desaparecer por completo do nosso tecido urbano.

No seu samba, ela continua: “Ao sair l� da Pedreira e andar pelo Morro das Pedras, pra chegar no Acaba Mundo depois de passar pela Serra”, nos dizendo um pouco sobre como, onde e quem fez sobreviver essa tradi��o em meio a tanta destrui��o. E, vale dizer, guardar tradi��es nesta cidade � e sempre foi, n�o h� outra palavra, resistir.

Eu tamb�m sou, h� mais de 10 anos, puxador de bloco, um regente, como dizem. Nesse sentido, tenho consci�ncia de que essas hist�rias me atravessam quando estou ali cumprindo esse papel no carnaval. Elas v�m de muito antes e v�o muito al�m do que posso enxergar. Me cabe respeit�-las, mas tamb�m ajudar a cultiv�-las e faz�-las ir adiante. Como dizia Lourdes Maria, saudosa sambista da cidade, � preciso “cavar pra frente”.

Penso que o carnaval h� de sobreviver a mais essa crise. N�o sem esfor�os e perdas. Mas sobreviver�. Pois vale lembrar que em um temporal como esse que vivemos, fica em p� quem tem ra�zes profundas. �, portanto, urgente cultivar essas ra�zes: nomear seus mestres, respeitar-lhes a mem�ria, os espa�os e os trabalhadores da festa. Faz�-los sobreviver.

Falando abertamente: em um momento desses, � preciso urgentemente garantir, no m�nimo, aux�lio aos trabalhadores da cultura de carnaval da cidade, os de ontem e os de hoje. Afinal, sem densidade alguma, um ch�o para pisar, o carnaval � vento. Evento sem passado ou futuro algum. Ou seja, passar�.

A SE��O 'BLOCO NA RUA', PUBLICADA AOS DOMINGOS NA COLUNA HIT, TRAZ TEXTO SOBRE O CARNAVAL ESCRITO POR UM CONVIDADO E FOTO DE FOLIAS DE OUTROS TEMPOS






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