
A pandemia do novo coronav�rus desferiu um impiedoso e planet�rio ataque sist�mico contra os sistemas nacionais de sa�de, a economia global e as economias nacionais, o investimento e a produ��o, o emprego e a renda. Imp�s a reprodu��o ampliada da pobreza inclusive nos Estados Unidos, pa�s onde os pobres sequer disp�em de algo semelhante ao nosso SUS. Projetou a economia mundial em recess�o, a come�ar dos dois colossos, os Estados Unidos e a China. S�o quase duzentos pa�ses alcan�ados pela pandemia e pela recess�o. Coopera��o ampla, como a Europa decidiu incrementar, pol�ticas p�blicas bem desenhadas e otimamente implementadas, combinando conten��o da epidemia e retomada inteligente das atividades econ�micas dependem crucialmente de lideran�as nacionais agregadoras, empreendedoras e confi�veis, com foco no problema e enfoque na resolu��o, s�o exig�ncias pol�ticas fundamentais para a supera��o dessa crise multiplicativa de crises.
O que precisa ser feito, j�
Isso estabelecido, uma vez alcan�ada a desacelera��o da curva do cont�gio e a consequente libera��o razo�vel de leitos cl�nicos e de UTI, ent�o proceder-se-ia � retomada controlada das atividades econ�micas, sociais e culturais. Ainda assim, estimam os especialistas e concluem os estudos s�rios sobre o assunto, os governos nacionais, subnacionais e municipais precisar�o manter-se alertas para rapidamente captarem ou receber qualquer sinal de novos cont�gios. Havendo recorr�ncia, o retorno tempor�rio ao isolamento social seria imediato. Proje��es confi�veis, metodologicamente rigorosas e pautadas por uma perspectiva epidemiol�gica (modelos matem�ticos) combinada � an�lise econ�mica e sociol�gico-comportamental (observa��o emp�rica do comportamento real das popula��es + evid�ncias dos resultados do isolamento), indicam que, no caso brasileiro, provavelmente conviveremos com essa possiblidade de uma gangorra do tipo “isolamento-flexibiliza��o-isolamento-flexibiliza��o” at� os idos de 2021, quando deveremos vencer a pandemia, esperamos que uma luta abreviada pelo fundamental benef�cio de uma vacina.
Sobre a vacina vindoura (dentre v�rias pesquisas em andamento, h� tr�s mais promissoras: uma alem�, uma chinesa e uma americana), a melhor solu��o � uma dose ao ano por pessoa. Considerando a popula��o global de 7,5 bilh�es de pessoas e uma capacidade de produ��o instalada m�xima de 1 a 2 bilh�es de doses/ano, haveria uma “fila” de pa�ses em espera. A n�o ser que, em nosso caso, de imediato, o Pa�s invista fortemente em uma planta de produ��o industrial em larga escala para replicar, aqui, uma das vacinas adiante dispon�veis. No caso de duas doses ao ano, ter�amos duas filas anuais de pa�ses � espera. Hoje, n�o dispomos de capacidade instalada para a reprodu��o local dessa futura vacina. Incerteza das incertezas, ainda n�o se sabe, primeiro, se o cont�gio infecta novamente a mesma pessoa que j� tenha sido contaminada; em segundo lugar, imp�e-se a d�vida: por quanto tempo a vacina imunizar� as pessoas?
O melhor dos mundos seria disponibilizado pela ci�ncia caso uma das novas vacinas seja vital�cia. O pior dos mundos, para o qual a comunidade mundial dever� se demonstrar muit�ssimo preparada para captar os sinais de cont�gio por um v�rus novo, poder� ocorrer na forma de uma nada surpreendente epidemia de COVID-20 ou COVID-21. Estamos mundialmente melhor preparados para impedir que a brutal tirania de uma pandemia volte a prosperar!
O melhor dos mundos seria disponibilizado pela ci�ncia caso uma das novas vacinas seja vital�cia. O pior dos mundos, para o qual a comunidade mundial dever� se demonstrar muit�ssimo preparada para captar os sinais de cont�gio por um v�rus novo, poder� ocorrer na forma de uma nada surpreendente epidemia de COVID-20 ou COVID-21. Estamos mundialmente melhor preparados para impedir que a brutal tirania de uma pandemia volte a prosperar!
Seja como for, estamos “condenados” a viver o chamado “novo normal”: uso quase regular de m�scara, lavar as m�os sucessivamente, evitar grandes aglomera��es, cada vez mais utilizar o home-office, viver o uso amplificado da bicicleta em lugar do transporte de massa e aceitar muitas novas pistas para ciclistas ocupando o antes habitual espa�o destinado a estacionamentos de ve�culos automotores em vias p�blicas, levar comida pronta para o local de trabalho ou utilizar o delivery, cada vez mais compras pela internet, todo mundo aprendendo a utilizar aplicativos instalados em celulares, governos disponibilizando imediatamente internet para os pobres e para todos os estudantes de educa��o b�sica, nas escolas e em casa.
Na �rea educacional, redes de ensino e secretarias de educa��o, em coopera��o, precisar�o disponibilizar para todos material de EAD de alta qualidade, com livre acesso dos estudantes mais pobres a tutorias de excel�ncia. Caso contr�rio, os estudantes mais pobres e das localidades rurais seriam discriminados e disso resultaria mais desigualdade social. Portanto, fazer isso � realizar uma pol�tica de equidade aplicada � educa��o. Em complemento, � claro, o fortalecimento institucional, material e financeiro do her�i chamado SUS, de que dependem 160 milh�es de brasileiros, antes t�o esquecido por governos e pelas elites (50 milh�es de pessoas) que disp�em de planos de sa�de privados.
Na �rea educacional, redes de ensino e secretarias de educa��o, em coopera��o, precisar�o disponibilizar para todos material de EAD de alta qualidade, com livre acesso dos estudantes mais pobres a tutorias de excel�ncia. Caso contr�rio, os estudantes mais pobres e das localidades rurais seriam discriminados e disso resultaria mais desigualdade social. Portanto, fazer isso � realizar uma pol�tica de equidade aplicada � educa��o. Em complemento, � claro, o fortalecimento institucional, material e financeiro do her�i chamado SUS, de que dependem 160 milh�es de brasileiros, antes t�o esquecido por governos e pelas elites (50 milh�es de pessoas) que disp�em de planos de sa�de privados.
Enquanto isso, no pa�s real...
No dia 25 de maio, com mais de 350 mil contaminados o Brasil j� ocupava o segundo lugar mundial de casos, registrando mais de 20 mil novos casos por dia. H� quase uma semana, registramos mais de mil mortes por dia. Estima-se que, no Pa�s, o pico do cont�gio dever� ser alcan�ado at� o final de junho, mantendo-se ainda elevado em julho. O decl�nio da curva do cont�gio ocorreria gradualmente a partir agosto at� setembro ou outubro. Isso, se todos, governo federal, governos estaduais e municipais praticarem coopera��o ampla. Isso, pressupondo-se que, imediatamente, o presidente Bolsonaro e seu minist�rio renunciem ao seu comportamento reiterado de politiza��o e ideologiza��o da quest�o, � ideol�gica oposi��o entre sa�de e economia e a essa insana tentativa de impor a prescri��o da hidroxicloroquina na contram�o das evid�ncias cient�ficas que atestam a inefici�ncia e os efeitos colaterais dessa medica��o apta para o tratamento da mal�ria.
A equa��o �: salvar vidas como requisito para recuperar a economia, nessa ordem, que, contudo, n�o dispensa a simultaneidade de a��es. Na aus�ncia do consenso, o resultado ser� o agravamento da crise, ao tempo em que o presidente Jair Bolsonaro, em gesto tresloucado, atestando insanidade, prossegue conclamando os brasileiros a se armarem e a resistir contra a aplica��o do isolamento social decidido pelos governadores e pelos prefeitos.
O ano letivo de 2020 parece definitivamente comprometido. Pelo tempo perdido em tantos desencontros entre o sem rumo governo federal (tr�s ministros da Sa�de em dois meses e esses dois meses completamente perdidos: abril e maio) e o pa�s real, � improv�vel que haja condi��o sanit�ria suficientemente segura para a volta �s aulas presenciais nas 200 mil escolas p�blicas e privadas de educa��o b�sica do Pa�s. Com efeito, do total de 5,5 mil munic�pios brasileiros, pelo menos 4 mil j� registram casos de cont�gio, agora em acelerado crescimento rumo aos interiores mais long�nquos. Em volta inversa do parafuso, j� se observa o cerco de regi�es metropolitanas pela expans�o do cont�gio a partir do interior, como nos casos de Salvador, na Bahia, e, em menor grau, em Belo Horizonte. Minas Gerais tem extensas fronteiras com os estados de S�o Paulo e Rio de Janeiro, ambos com o interior completamente invadido pelo cont�gio, que de l� penetra respectivamente as regi�es mineiras da Mata e as do Sul e Tri�ngulo.
A equa��o �: salvar vidas como requisito para recuperar a economia, nessa ordem, que, contudo, n�o dispensa a simultaneidade de a��es. Na aus�ncia do consenso, o resultado ser� o agravamento da crise, ao tempo em que o presidente Jair Bolsonaro, em gesto tresloucado, atestando insanidade, prossegue conclamando os brasileiros a se armarem e a resistir contra a aplica��o do isolamento social decidido pelos governadores e pelos prefeitos.
O ano letivo de 2020 parece definitivamente comprometido. Pelo tempo perdido em tantos desencontros entre o sem rumo governo federal (tr�s ministros da Sa�de em dois meses e esses dois meses completamente perdidos: abril e maio) e o pa�s real, � improv�vel que haja condi��o sanit�ria suficientemente segura para a volta �s aulas presenciais nas 200 mil escolas p�blicas e privadas de educa��o b�sica do Pa�s. Com efeito, do total de 5,5 mil munic�pios brasileiros, pelo menos 4 mil j� registram casos de cont�gio, agora em acelerado crescimento rumo aos interiores mais long�nquos. Em volta inversa do parafuso, j� se observa o cerco de regi�es metropolitanas pela expans�o do cont�gio a partir do interior, como nos casos de Salvador, na Bahia, e, em menor grau, em Belo Horizonte. Minas Gerais tem extensas fronteiras com os estados de S�o Paulo e Rio de Janeiro, ambos com o interior completamente invadido pelo cont�gio, que de l� penetra respectivamente as regi�es mineiras da Mata e as do Sul e Tri�ngulo.
Como se sabe, com a aproxima��o do inverno as regi�es Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste dever�o ser severamente afetadas pela recorr�ncia da gripe “influenza” (H1N1), al�m da recorrente epidemia da dengue e outras, o que tende a agravar o quadro geral epid�mico, com forte impacto na demanda agregada por leitos hospitalares, nessas regi�es. Na regi�o Nordeste, a COVID-19 avan�a na esteira do retorno de migrantes que perderam o emprego no estado de S�o Paulo, transportados em �nibus clandestinos que percorrem rotas alternativas para escaparem das barreiras sanit�rias. H� proje��es alarmantes, contudo realistas, sobre a progress�o do cont�gio e de �bitos que dever�o ocorrer no Pa�s at� o final de julho. Estima-se que deveremos ultrapassar o milh�o de contaminados, entre assintom�ticos e que desenvolveram a doen�a, e ultrapassar os Estados Unidos em n�mero de mortes pelo v�rus. Hoje, os americanos contam 95 mil �bitos.
Proje��es catastrofistas, equivocadas, estimavam matematicamente que na aus�ncia do isolamento social ou no caso de sua interrup��o intempestiva o Pa�s chegaria rapidaente a 70% da popula��o contagiada (147 milh�es de pessoas), dentre elas 80% assintom�ticas e 20% (29,4 milh�es) demandando interna��o hospitalar, sendo 6% (1,2 milh�o) desse total pessoas necessitadas de leito de UTI. Configuraria quadro de colapso generalizado e um n�mero de �bitos da ordem de algumas centenas de milhares. O erro de tais proje��es reside na dist�ncia entre o cen�rio l�gico-matem�tico e a realidade do comportamento das pessoas. Com ou sem governo, grande n�mero de pessoas toma a decis�o racional de se proteger e � sua fam�lia, assim estendendo a prote��o aos outros. Esse comportamento desej�vel associado ao isolamento social como um componente decisivo de uma pol�tica p�blica de conten��o da velocidade ou progress�o do cont�gio, faz a diferen�a entre o alarmismo e a realidade. O problema propriamente problem�tico que temos �, no entanto, o inverso do alarmismo: � a total irresponsabilidade moral e pol�tica de um presidente da Rep�blica completamente destitu�do de compaix�o humana, de racionalidade e razoabilidade, tra�os de uma personalidade tir�nica e de um esp�rito hostil � compaix�o. Por isso, e somente por isso, � que desgra�adamente chegaremos a uma centena de milhares de mortes. N�o fosse o esfor�o dedicado dos governadores e dos prefeitos, o catastrofismo do milh�o de mortos bateria � nossa porta e a realidade seguiria o script daquele cen�rio dez vezes mais macabro.
Sa�de versus economia ou primeiro a sa�de e, por isso, melhor tamb�m para a economia?
A m�xima aplic�vel resume-se a isso: quanto mais os governos (federal, estaduais e municipais) agirem na dire��o certa e cooperativamente na conten��o da epidemia, menor a recess�o econ�mica. Ou seja, conseguir bons resultados de sa�de sem uma recess�o severa. O problema � que perdemos, aqui, essa janela de oportunidade: “gripezinha”, “E da�”, “N�o sou coveiro”, “Essa quest�o j� est� indo embora”, “Tome cloroquina”, guerra aberta contra os governadores e o isolamento social, tr�s ministros em 60 dias e os meses de abril e maio completamente perdidos substitu�ram a racionalidade pol�tica.
A ideia que prospera fortemente para enfrentar a pandemia e a recess�o, ao mesmo tempo, vem sendo chamada de “conten��o inteligente”. Significa: dada a recess�o, inevit�vel, dispomos da escolha de testar as pessoas em grande n�mero, teste em massa. Um estudo recente demonstra que “o custo de testagens � baixo se considerarmos seu alto n�vel de retorno social comparado com o tipo de recess�o que precisar�amos ter se n�o tiv�ssemos testes e quarentenas” (entrevista do economista Martin Eichenbaun a �rica Fraga, FSP, A17, 24/05/2020). O problema �: enquanto o Brasil est� fazendo 3 mil testes por milh�o de pessoas (63 mil para 210 milh�es de habitantes), os Estados Unidos fazem 40 mil, a B�lgica faz 60 mil. Portugal, 62 mil. Emirados �rabes, 160 mil. Nova Zel�ndia, 52 mil. Portugal, 67 mil. Chile, 22 mil. Testagem � cara. Mas tem efeitos ben�ficos na conten��o da queda do PIB. O confinamento resumir-se-ia aos infectados, a chamada quarentena seletiva, e os n�o infectados se sentiriam mais confiantes para circular.
A ideia que prospera fortemente para enfrentar a pandemia e a recess�o, ao mesmo tempo, vem sendo chamada de “conten��o inteligente”. Significa: dada a recess�o, inevit�vel, dispomos da escolha de testar as pessoas em grande n�mero, teste em massa. Um estudo recente demonstra que “o custo de testagens � baixo se considerarmos seu alto n�vel de retorno social comparado com o tipo de recess�o que precisar�amos ter se n�o tiv�ssemos testes e quarentenas” (entrevista do economista Martin Eichenbaun a �rica Fraga, FSP, A17, 24/05/2020). O problema �: enquanto o Brasil est� fazendo 3 mil testes por milh�o de pessoas (63 mil para 210 milh�es de habitantes), os Estados Unidos fazem 40 mil, a B�lgica faz 60 mil. Portugal, 62 mil. Emirados �rabes, 160 mil. Nova Zel�ndia, 52 mil. Portugal, 67 mil. Chile, 22 mil. Testagem � cara. Mas tem efeitos ben�ficos na conten��o da queda do PIB. O confinamento resumir-se-ia aos infectados, a chamada quarentena seletiva, e os n�o infectados se sentiriam mais confiantes para circular.
Entretanto, o presidente Bolsonaro “resolveu” que a “solu��o” seria a “imunidade de rebanho” da popula��o brasileira. Isto �, na aus�ncia de vacina, p�r todo mundo nas ruas e no trabalho, uma vez que, segundo ele, � inevit�vel o cont�gio de pelo menos 70% da popula��o. Portanto, ele pensa: que seja logo de uma vez ... para salvar a economia! Isso, sim, resultaria naquele milh�o de brasileiros mortos pelo novo coronav�rus, ou melhor, pelo “bolsonav�rus”! Apesar do sistem�tico combate do presidente contra o isolamento social, governadores e prefeitos, a razoabilidade e a intelig�ncia pr�tica da maioria da popula��o e o hero�smo dos m�dicos e servidores da sa�de salvaram o Pa�s da trag�dia do milh�o de mortos.
Mais uma crise: o apag�o moral do presidente e dos ministros
Na esfera econ�mica a crise � geral: queda do PIB de 5% podendo chegar a 8% nesse ano, queda sustentada das receitas p�blicas da Uni�o, estados e munic�pios em 2020, eleva��o do d�ficit p�blico para permitir que as pessoas fiquem em casa se protegendo da epidemia (provavelmente R$ 800 bilh�es), desinvestimento - exceto no agroneg�cio -, fuga de capitais de investimento, crescimento da d�vida p�blica � raz�o de 100% do PIB e n�o compensado pela eleva��o do crescimento econ�mico e do emprego, paralisia do setor de turismo e de servi�os conexos, como hot�is, pousadas, restaurantes e avia��o, gigantesca retra��o no com�rcio, de shopping centers a pequenas lojas.
A pol�tica fiscal reveste-se, transitoriamente, da carater�stica de uma pol�tica social de redu��o dos impactos ruinosos da supress�o da atividade produtiva sobre a vida das pessoas. Certamente ser� um imperativo moral e social prorrogar de julho at� dezembro desse ano o aux�lio de R$ 600,00 a R$ 1.200,00 entregue pelo governo federal a 60 milh�es de brasileiros cadastrados, entre informais, desempregados e os vulner�veis que at� agora encontravam-se “invis�veis”. Sua exist�ncia foi uma descoberta da crise. Custo adicional estimado: R$ 36 bilh�es ao m�s ou R$ 216 bilh�es, acrescentados ao d�ficit p�blico.
A pol�tica fiscal reveste-se, transitoriamente, da carater�stica de uma pol�tica social de redu��o dos impactos ruinosos da supress�o da atividade produtiva sobre a vida das pessoas. Certamente ser� um imperativo moral e social prorrogar de julho at� dezembro desse ano o aux�lio de R$ 600,00 a R$ 1.200,00 entregue pelo governo federal a 60 milh�es de brasileiros cadastrados, entre informais, desempregados e os vulner�veis que at� agora encontravam-se “invis�veis”. Sua exist�ncia foi uma descoberta da crise. Custo adicional estimado: R$ 36 bilh�es ao m�s ou R$ 216 bilh�es, acrescentados ao d�ficit p�blico.
A sociedade brasileira est� sob uma constela��o de crises: a sanit�ria, de efeitos multiplicativos, a econ�mica e a social. Emoldurando-as, como quer o governo federal, vivemos crise pol�tica e quase-crises institucionais como que no dia-a-dia. Em ambiente t�o conturbado, como administrar razoavelmente a crise sanit�ria? Militarizado e, por isso, subalterno � tirania (mandonismo amea�a) do presidente, o minist�rio da Sa�de n�o tem rumo. As raz�es s�o �bvias: um governo que n�o governa, incapaz de liderar a sociedade e de enfrentar e superar a crise, que n�o tem foco nem enfoque. Tomado por uma paix�o �nica: o combate nas trevas contra o “sistema”, isto �, os poderes legislativo e judici�rio, a imprensa, a sociedade civil, as oposi��es, a cultura organizada e as esquerdas.
De abril a maio tr�s ministros da Sa�de sucederam-se para culminar em um minist�rio transformado em bunker de militares do Ex�rcito. Sob o ent�o ministro Mandetta, o minist�rio da Sa�de e os governadores e prefeitos das capitais e os secret�rios estaduais de Sa�de interagiam, cooperavam e compartilhavam estrat�gia comum de enfrentamento da epidemia: informa��es verdadeiras, aloca��o de recursos, provis�o de meios, isolamento social, inciativas pr�-testagem e o desenho de diferentes formas de transi��o do indispens�vel confinamento � flexibiliza��o, desde que satisfeitos alguns par�metros epidemiol�gicos, entre eles a testagem. Enquanto a coopera��o ampla assim progredia, na dire��o oposta o presidente da Rep�blica transgredia, atacava a pol�tica p�blica estabelecida entre o ministro e os governadores, promovia aglomera��es, descaracterizava a epidemia como “gripezinha”, al�m de desdenhar o sofrimento das pessoas e ignorar os mortos. Isso foi seguidamente atestado em atos e coment�rios indicativos de um quadro ps�quico de aliena��o, a exemplo de “N�o sou coveiro”, “E da�? Um dia todo mundo ir� morrer”, o v�rus “J� est� indo embora”, e algo como “N�o tem jeito, todo mundo vai ser infectado, pelo menos 70%. � melhor agora”.
De abril a maio tr�s ministros da Sa�de sucederam-se para culminar em um minist�rio transformado em bunker de militares do Ex�rcito. Sob o ent�o ministro Mandetta, o minist�rio da Sa�de e os governadores e prefeitos das capitais e os secret�rios estaduais de Sa�de interagiam, cooperavam e compartilhavam estrat�gia comum de enfrentamento da epidemia: informa��es verdadeiras, aloca��o de recursos, provis�o de meios, isolamento social, inciativas pr�-testagem e o desenho de diferentes formas de transi��o do indispens�vel confinamento � flexibiliza��o, desde que satisfeitos alguns par�metros epidemiol�gicos, entre eles a testagem. Enquanto a coopera��o ampla assim progredia, na dire��o oposta o presidente da Rep�blica transgredia, atacava a pol�tica p�blica estabelecida entre o ministro e os governadores, promovia aglomera��es, descaracterizava a epidemia como “gripezinha”, al�m de desdenhar o sofrimento das pessoas e ignorar os mortos. Isso foi seguidamente atestado em atos e coment�rios indicativos de um quadro ps�quico de aliena��o, a exemplo de “N�o sou coveiro”, “E da�? Um dia todo mundo ir� morrer”, o v�rus “J� est� indo embora”, e algo como “N�o tem jeito, todo mundo vai ser infectado, pelo menos 70%. � melhor agora”.
Exemplo definitivo do estado de disson�ncia cognitiva, aliena��o e alheamento do presidente e do seu minist�rio no que concerne � epidemia e ao grande sofrimento e ang�stia das pessoas ficou evidenciado na exibi��o do v�deo contendo a grava��o da reuni�o do presidente e os ministros, do dia 22 de abril, no Pal�cio do Planalto. A reuni�o tinha dois objetivos informados: cuidar da epidemia e cuidar da economia. Nenhum desses assuntos foi tratado. Trinta e seis palavr�es foram exibidos, vinte e nove por conta da eleg�ncia presidencial. N�o bastasse o presidente evidenciar o seu prop�sito de interferir na Pol�cia Federal, ostensivamente conclamou os brasileiros a se armarem e ir �s ruas contra o isolamento social. Por extens�o, contra os governadores. Nenhum dos ministros presentes sequer ousou ponderar sobre as consequ�ncias de tal conclama��o, embora a sua afrontosa ilegalidade e achincalhe ao estado de direito democr�tico e � Constitui��o. Crime de responsabilidade ao vivo e em cores, com 30 testemunhas ministeriais e dirigentes de bancos p�blicos, entre ministros e servidores civis e os sete militares presentes, quatro generais de quatro estrelas, um contra-almirante, um almirante e um coronel da Aeron�utica, al�m do vice-presidente, outro general de quatro estrelas. Os militares permaneceram mudos. Quem l� estava e no governo permanece, coonesta a inf�mia. Essa reuni�o do 22 de abril fixou-se como um divisor de �guas entre a dec�ncia e a inf�mia. Salvou-se, de alguma maneira, o ministro da Sa�de Nelson Teich, que, adiante, “empurrado para fora”, seja como for, pediu demiss�o e foi sucedido por ... mais um general.
O assunto da reuni�o foi uma beligerante conclama��o presidencial � desordem, � confronta��o e � substitui��o da administra��o ministerial pela milit�ncia ideol�gica e pol�tica ensandecida, ao estilo dos ministros da Educa��o Abraham Weintraub, das Rela��es Exteriores Ernesto Ara�jo, Damares Regina Alves, pastora e ministra da Mulher, da Fam�lia e dos Direitos Humanos e Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional. A esses, associaram-se dois rec�m-chegados ao “gabinete do �dio” e � vulgaridade por arrivismo, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e Onix Lorenzoni, da pasta da Cidadania. Na linhagem da viola��o geral da dec�ncia disputaram a palma com o presidente, o ministro Weintraub e o do Meio-Ambiente, Ricardo Salles.
Ap�s um tresloucado e incompreens�vel pre�mbulo sobre a liberdade, Weintraub chamou os onze ministros do Supremo de “vagabundos”, sentenciando que todos deveriam ser presos imediatamente. Enxergando o dever de um cruzado onde se espera �tica da responsabilidade e desempenho, ausentes na pasta da Educa��o, ofereceu-se ao mart�rio. Imposs�vel um rid�culo maior. Tomada de f�ria de cangaceira, a pastora Damares Regina Alves prometeu “pegar pesado” com os governadores e prefeitos” e garantiu que nos pr�ximos dias v�rios ser�o presos! Por fim, a revela��o em corpo inteiro de um canalha: o ministro do Meio-Ambiente Ricardo Salles e seu louvor � ilegalidade e � fraude.
Todos foram ouvidos complacentemente pelo presidente da Rep�blica e pelo minist�rio civil e militar, sem um contradit�rio sequer. Perderam a no��o de dec�ncia. Os grandes ausentes na reuni�o foram a pandemia, a sa�de da popula��o brasileira e o respeito reverencial aos 20 mil mortos pela coronav�rus e suas fam�lias, al�m da dec�ncia. Ricardo Salles tranquilamente sustentou que todos deveriam aproveitar-se da concentra��o das aten��es da imprensa na pandemia para se dedicarem a “passar a boiada” de desregulamenta��es em drible � legisla��o, ao Congresso e � moralidade. A vinda de resorts com cassinos para o Brasil foi, em import�ncia, mais um assunto � altura dessa not�vel conselho.
Todos acanalharam-se nessa reuni�o. Um dentre todos decerto � um canalha: Ricardo Salles. Finalizo prestando-lhe merecida homenagem condensada em doze versos de O Para�so Perdido, de Milton, sobre o dem�nio Belial, participante do conselho dos anjos deca�dos, no inferno, presidido por Sat�:
Tal dignidade ostenta no semblante
Que s� rasgos de hero�smo em si inculca;
Era em tudo por�m fr�volo e falso.
A sua voz, de que o man� goteja,
Tantos encantos tem, tanto arrebata
Que mostra puras as raz�es mais torpes.
E torna embara�ados e perplexos
Os mais previstos e maduros planos:
Com perspic�cia suma induz ao v�cio,
Ante as altas a��es afrouxa e treme;
Aos ouvidos apraz quanto ele exprime;
Cobre alma vil com porte de grandeza.