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Estado de Minas MODA E LIBERDADE

Em reconcilia��o com o universo da moda por causa de mulheres como Mama Cax

A moda nem sempre foi aberta �s mulheres com defici�ncia e isso ainda est� melhorando a passos lentos. Felizmente, h� mulheres tornando a jornada mais f�cil


10/02/2023 10:00 - atualizado 09/02/2023 14:19
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Imagem de uma mulher com a mão atrofiada ao lado de uma bolsa rosa com efeito holográfico e um óculos de sol bege com lentes marrons. Também é possível perceber que ela usa um vestido rosa e uma meia-calça branca.
O universo da moda nunca pareceu ter espa�o para mulheres com defici�ncia (foto: Reprodu��o)

Descobri esses dias, por causa de uma homenagem feita pelo Google, em sua p�gina inicial, a exist�ncia da modelo Mama Cax. Mulher negra, com defici�ncia, haitiana-americana, que tornou-se refer�ncia de ativismo no mundo da moda.

A verdade � que nunca fui uma pessoa muito ligada � moda — em partes por visualizar a moda e beleza enquanto constru��es do patriarcado para impedir que as mulheres conquistassem outros lugares no mundo, assim como os afazeres dom�sticos.

Basicamente, por algum tempo (e mesmo sem ter tanta consci�ncia disso), a moda e o universo da beleza tornaram-se algo que n�o merecia minha aten��o. Um desejo enorme de ir contra ao que gostariam que as mulheres fossem. Um ato de revolta adolescente.

"Roupas? Prefiro ler livros. Maquiagem? Acho que existem formas melhores de usar o tempo." E foi com esse tipo de pensamento que tive dois grandes preju�zos: 1. n�o saber me maquiar; 2. acreditar, mesmo que por um curto espa�o de tempo, que existem conhecimentos ou habilidades superiores �s quais as mulheres devem se dedicar.

Por sorte, existe o fim da adolesc�ncia. O amadurecimento. O feminismo e as feministas.

Dito isso, recentemente, nessa jornada de autoconhecimento, eu descobri tamb�m outro fator que me colocou t�o distante da moda: esse universo nunca pareceu que tinha espa�o para mim, uma mulher com defici�ncia.

No dia a dia, fechar qualquer acess�rio, seja pulseiras ou colares, parece uma prova de resist�ncia do BBB para mim. Bot�es nos pulsos? Melhor deixar aberto e fingir que sou descolada. Z�peres atr�s das saias? Sinceramente, nenhuma mulher consegue fechar, mesmo com dez dedos compridos (n�o � o meu caso, afinal tenho os cinco dedos da m�o direita bem curtinhos por causa da defici�ncia).

Eu n�o tinha o direito de ser uma crian�a ou adolescente que gostava do mundo da moda. Porque a moda n�o era um mundo que gostava de pessoas como eu*.

A Barbie, por exemplo, que � o primeiro contato dos padr�es impostos �s mulheres em termos de apar�ncia f�sica, teve sua primeira vers�o com defici�ncia apenas em 2019. Lembrando que antes disso, em 2016, a Mattel lan�ou uma vers�o da boneca inspirada na Frida Kahlo, mas nenhum detalhe indicava a defici�ncia da famosa pintora mexicana.

Sim, Frida Kahlo era uma mulher com defici�ncia. Mas esquecem disso regularmente, pois a defici�ncia, aparentemente, n�o � um atrativo ao construir �cones para gera��es atuais. Vale lembrar que Frida tamb�m foi uma mulher que mesclou moda e arte na constru��o de sua personalidade.

�s mulheres da moda

Por sorte, existem mulheres que est�o lutando para tornar a moda e a beleza um movimento de liberdade, e n�o mais um aprisionamento. Aqui est�o alguns exemplos:

A minha mais recente descoberta, Mama Cax, que h� quatros anos ocupou as passarelas na Semana de Moda de Nova York. E ocupou inteiramente: com suas pr�teses estilizadas por express�es art�sticas.

Lorenna Costa, minha prima-irm� e designer de Moda, que durante todo o per�odo da faculdade preocupou-se em construir uma moda que fosse mais acess�vel e inclusiva para pessoas como eu*.

Aline Calamita, consultora de estilo, que � uma web-conhecida de conhecidos e talvez nem saiba o quanto eu a acompanho, mas traz reflex�es constantes para o meu dia a dia sobre a imagem que quero apresentar e como posso fazer isso em sintonia com minha vida.

Lela Brand�o, influenciadora e empreendedora, que possui uma marca de roupas confort�veis e que espalha brilhantemente por a� a mensagem “uma mulher confort�vel em si � uma revolu��o”.

Maju de Ara�jo, modelo brasileira com S�ndrome de Down e destaque da Forbes Under 30, que ocupa as passarelas do mundo e cria conte�dos incr�veis para quem quer explorar melhor os looks ou pelo menos sentir-se modelo por um dia testando dicas de poses para fotos.

Rihanna, artista e empres�ria, que desafiou a mentalidade Victoria Secrets de sensualidade feminina e, atrav�s da Savage X Fenty, t�m mostrado ao mundo que todos os corpos podem (e merecem) se sentir sexies usando lingeries.

Em reconcilia��o

Eu e a Moda ainda n�o somos melhores amigas, mas estou aprendendo a recriar essa rela��o. Tudo isso gra�as �s mulheres que tomaram para si o poder de usar este universo ao nosso favor, e n�o como um limitador.

Espero que as crian�as com defici�ncia de hoje n�o precisem de uma jornada de 26 anos para fazer as pazes com algo t�o crucial no desenvolvimento da identidade.

Por fim, espero que os profissionais do universo da Moda sejam capazes de facilitar esse caminho para todas as pessoas, e especialmente para todas as mulheres com defici�ncia. 

N�o cabe mais um mundo em que a moda seja sin�nimo de restri��o. Moda precisa ser liberdade.

*Nota de rodap�: Recentemente, o cantor Harry Styles usou a frase “pessoas como eu” ao ganhar o �lbum do ano no Grammy, e esse � um par�nteses sobre quando usar a express�o. Dica: n�o usar quando voc� � um homem ingl�s cis branco, e n�o enfrenta qualquer tipo de discrimina��o ao existir.

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