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Estado de Minas PAULO DELGADO

O Brasil n�o deve confundir espionagem com intelig�ncia, como estamos vendo

H� uma sociedade high tech de espionagem e contraespionagem dando as cartas na pol�tica nacional


28/03/2021 04:00 - atualizado 28/03/2021 08:16

Quando Brasil e Alemanha souberam, pelo espião Edward Snowden, que suas comunicações foram espionadas pelos EUA, a denúncia estremeceu mais Rousseff do que Merkel (foto: Jörg Carstensen/AFP)
Quando Brasil e Alemanha souberam, pelo espi�o Edward Snowden, que suas comunica��es foram espionadas pelos EUA, a den�ncia estremeceu mais Rousseff do que Merkel (foto: J�rg Carstensen/AFP)

Para n�o perder o fio da meada que liga a espionagem ao destino da justi�a, � bom n�o ver o mundo pelo lado da conduta de avers�o. Pessoas ou governos, por h�bito ou hipocrisia, gostam de escolher um lado e apostar nele como verdade. Quando a origem do v�cio aparece, j� � incorrig�vel. 2013 foi o in�cio de um padr�o de espionagem, usado em 2014 para criar a Lava-Jato e agora para enterr�-la.
 
Sem ter no horizonte nenhum projeto de progresso para seu povo, o governo fingiu ver virtude na democracia liberal, tornou inconsequente a democracia representativa e tirou do horizonte a democracia social. E agora a sociedade � informada pelo Supremo de que ju�zes n�o devem ser levados � s�rio.
 
Os cidad�os perderam a import�ncia como indiv�duos que merecem respeito. Lembra na��es ind�genas que sucumbiram diante da civiliza��o ocidental. No fundo, como um touro sentado, se misturaram � bela e melanc�lica hist�ria de siouxs e cheyennes retirada do pungente relato de Dee Brown sobre a destrui��o dos �ndios em “Enterrem meu cora��o na curva do rio”.
 
Os fatos e suas conex�es s�o implac�veis diante da hist�ria. Naquela �poca, aconteceu que um funcion�rio da CIA, arrependido, de posse de algum laptop surrupiado da ag�ncia de seguran�a dos EUA, foge para a China e aparece vagando num aeroporto em Moscou. Desde ent�o, h� um espi�o foragido que descortinou “segredos” de governantes “indignados”. O segredo nesse caso � a revela��o do segredo e a indigna��o � protocolar.
 
Como o Brasil adora grampear, vazar e enfiar conversa alheia como prova em processo, e fez disso um esporte jur�dico ilegal, a espionagem de fora ajudou o vendaval que criou a tempestade da Lava-Jato. Desde o in�cio, as ramifica��es mundiais do espi�o patriota que diz revelar abuso de autoridade nos EUA e do Judici�rio arbitr�rio que aceita provas ilegais por patriotismo no Brasil s�o as mesmas.
 
H� uma sociedade high-tech de espionagem e contraespionagem dando as cartas na pol�tica.
 
Qualquer pa�s que confunda democracia e direito a informa��o com atraso tecnol�gico est� sujeito a precisar de espi�es – hoje hackers – para fazer e desfazer o que tiver for�a e vontade para fazer. � chocante a vitalidade com que os diversos disfarces da espionagem se tornaram fato normal nos processos pol�ticos e judiciais no mundo. A democracia entra em colapso quando quem melhor organiza interesses n�o � mais a pol�tica, mas a manipula��o da justi�a, por patriotismos diversos.
 
Em 2013, quando Brasil e Alemanha souberam, pelo espi�o da CIA-NSA Edward Snowden, que suas comunica��es foram espionadas por Washington, a den�ncia estremeceu mais Rousseff do que Merkel.  A diferente qualidade da raiva das duas definiu seu destino: a brasileira caiu, a alem� est� no poder at� hoje.
 
Se voc� quiser saber a raz�o oficial, pergunte a Obama, que sabia de tudo que se falava em Bras�lia, como revelou o hacker foragido. Foram tantos os vazamentos de conversas e cruzamentos de opera��es financeiras que o presidente americano concordou com a suspeita de que o Brasil usava o Estado para alavancar um capitalismo de esquerda, tipo chin�s.
 
O gigante sul-americano estava formando um clube de suas grandes construtoras, apelidadas empreiteiras, aliadas de meia centena de pol�ticos com f�rum privilegiado, chamados corruptos e uma dezena de operadores financeiros, xingados como doleiros. Um cartel de campe�es, para avan�ar em obras em outros pa�ses, com dinheiro da coitadinha da Petrobras.
 
Assim, de esc�ndalo em esc�ndalo, pris�o em pris�o, montado no vol�til clamor nacional pela honestidade, procuradores imaturos, ju�zes de todas as cortes, continuaram a tarefa de desfigurar o sistema processual brasileiro. E o Estado, este recalcitrante hist�rico que n�o deixa nunca a sociedade adquirir maturidade, se meteu no processo eleitoral de forma escandalosa e vem passando ileso pelas suas consequ�ncias. Agora, quando a espera virou uma agonia, jogou a toalha e rasgou a fantasia.
 
H� uma fase da vida em que as opini�es s�o expressas com mais vivacidade do que em considera��o pela verdade. Costuma ser na adolesc�ncia. Dif�cil dizer que quem tem 521 anos de hist�ria n�o � adulto. Por isso, melhor preferir a explica��o de Shakespeare: a raiva � um veneno que bebemos esperando que os outros morram.
 
O Brasil n�o deve confundir espionagem com intelig�ncia. N�o adianta "saber" tudo sem intelig�ncia. Ouve-se tudo, sabe-se pouco. Quando o Executivo tem segredos e o Legislativo se cala, o Judici�rio perde o autocontrole. E desmoralizado o Estado, a sociedade fica sozinha como est�, enterrando seus corpos na curva do rio. (Com Henrique Delgado)

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