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Estado de Minas COLUNA

Fernando Henrique Cardoso e o liberalismo integrado

Aos 90 anos, completados anteontem, o ex-presidente FHC continua intelectual exemplar, inesgot�vel fonte de ideias


20/06/2021 04:00 - atualizado 20/06/2021 08:28

FHC tem uma visão afetuosa da nossa cultura e pouco otimista que grandes contradições da vida social possam ser resolvidas(foto: Jordi Miro/AFP)
FHC tem uma vis�o afetuosa da nossa cultura e pouco otimista que grandes contradi��es da vida social possam ser resolvidas (foto: Jordi Miro/AFP)

Veja que uma das principais preocupa��es atuais � com a renegocia��o da d�vida em pa�ses de crescimento fraco e diante da alta da infla��o nos EUA. Na avalia��o do secret�rio-geral da ONU, Ant�nio Guterres, a situa��o � grave para al�m da percep��o de muitos.

Quest�o que j� foi central para o Brasil e foi resolvida em 1993, ano em que FHC transitou entre os dois minist�rios – Rela��es Exteriores e Fazenda – envolvidos com o problema de como renegociar uma posi��o vi�vel e digna para o Brasil no mundo. M�rito e sorte.

De modo geral, uma das chaves para interpretar o sucesso de FHC � justamente sua capacidade de captar as principais difus�es normativas internacionais e as adaptar � realidade brasileira.

Algumas dessas difus�es principais o fazem o mais antenado intelectual pr�tico e pol�tico brasileiro. Em seu governo, conseguiu a estabilidade econ�mica adaptando com qualidade e autonomia as normativas do criticado Consenso de Washington.

Com uma Am�rica Latina sofrendo as consequ�ncias da mistura de alto endividamento com baixo crescimento, formou-se um consenso controverso entre as principais institui��es implicadas com a quest�o em Washington.

FMI, Banco Mundial e governo dos EUA passaram a pregar que a sa�da para a crise passava pela privatiza��o, pela liberaliza��o das trocas financeiras e comerciais internacionais, entre outros quesitos que buscavam separar o funcionamento da economia da pol�tica e da sociedade. Coisa que Guedes, atrasado, faz sem pensar, FHC adiantado, pensou e fez diferente.

O Brasil de FHC foi o que melhor implementou o ajuste ao entender que n�o dava para desacoplar a economia das quest�es sociais. Elas teriam que andar juntas. Em oportunidade gerada pelo governo Itamar, a autodefesa da sociedade se organizou.

Dali at� a transi��o de estrat�gia que ocorreu entre 2006 e 2008 – em parte gerada pelas ilus�es do pr�-sal, em parte pelo entendimento errado da crise de 2008 –, o Brasil viveu sob um acordo de integrar o liberalismo na sociedade. Atualmente, voltamos ao pior, temos um liberalismo irrespons�vel e desintegrado – a economia finge desconhecer quest�es sociais para agravar a ruptura pol�tica, social e intelectual em curso.

John Ruggie – que � um acad�mico em Harvard com longa hist�ria de servi�os prestados � ONU – diz que o liberalismo integrado � o acordo que viabilizou a recupera��o para os pa�ses do primeiro mundo. Reconhece ainda que o acordo de um liberalismo integrado “nunca foi totalmente estendido aos pa�ses em desenvolvimento”. De fato, a pr�tica do liberalismo integrado talvez seja o caminho para ascens�o real dos emergentes.

Por isso � melanc�lico ver o Brasil se distanciar de um liberalismo integrado � la John Ruggie e sumir do mapa dos movimentos atuais nas tr�s grandes pra�as do mundo: EUA, Europa e Leste Asi�tica. Se os vislumbres da teoria e pr�tica de FHC e sua equipe ecoassem, o Brasil seria outro. Pois ele continua a ser uma das figuras que mais entendem de mudan�as de larga escala levando em conta restri��es objetivas.

Com uma vis�o afetuosa da nossa cultura e pouco otimista que grandes contradi��es da vida social possam ser resolvidas, FHC enxerga em seus mestres Ant�nio Candido e Florestan Fernandes a busca da compreens�o de qual � “a capacidade de exist�ncia de grupos sociais postos em xeque pelo contato com culturas e civiliza��es expansivas e dominadoras”.

Do contato com as difus�es normativas e a percep��o das estruturas colocadas no mundo vem sua ideia de depend�ncia. Que � diferente de outras ideias que v�em a depend�ncia como algo negativo a ser superado. Para FHC � uma condi��o que conforma a capacidade de exist�ncia de grupos sociais.

Como Chanceler, soube fazer a defesa do interesse brasileiro pela constante (re)negocia��o de sua posi��o no mundo. Sabendo que a busca de melhorias absolutas e relativas em tempos de paz s� se faz com muita criatividade e convencimento. Algo que depende de constante engajamento com quem tra�a os rumos do mundo.

Ficou por exemplo marcado quando formou uma delega��o pluripartid�ria para se reunir em Floren�a, na It�lia, como �nico representante de pa�ses em desenvolvimento, com os cinco maiores l�deres da social-democracia do mundo – D’Alema, Blair, Clinton, Jospin e Schroeder – em confer�ncia sobre desafio dos governos progressistas para resolver a equa��o entre sociedade, economia e pol�tica, no horizonte de uma esquerda democr�tica.

A hist�ria n�o � nem conspira��o, nem correnteza. H� fatos e processos. E governantes, que hoje n�o temos. (Com Henrique Delgado)

PAULO DELGADO, Soci�logo.

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