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Estado de Minas M�DIA E PODER

Avassalador, movimento LGBTQIA+ s� n�o pode querer arrombar a porta

O terceiro ou mais sexos � uma realidade de impactos culturais profundos, que n�o precisa afrontar a maioria conservadora, como �s vezes tenta seu movimento


01/07/2021 06:00 - atualizado 01/07/2021 08:24

'Defendo até a morte o direito de as pessoas serem o que quiserem, do nascimento à morte'
"Defendo at� a morte o direito de as pessoas serem o que quiserem, do nascimento � morte" (foto: Ted Eytan )


O movimento LGBTQIA+ re�ne as varia��es de g�nero contempladas em cada uma das iniciais — L�sbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queers, Interessexuais, Assexuais — e outras afins que possam ser encampadas no s�mbolo Mais. Ou Plus, para ser mais moderno.

Algum l�der previdente deve ter sugerido o s�mbolo para estancar a press�o, comum em todo movimento pol�tico e social, para contemplar outros tantos g�neros, prefer�ncias e interesses que resultaria num abeced�rio de pron�ncia complicada.

Do jeito que est�, apesar de tantas consoantes inconcili�veis, ainda produziu alguma sonoridade de certo gosto: elegebetequiamais. Com Plus, se preferir: elegebetequiaplus.

Minhas restri��es iniciais de comunicador heterossexual cat�lico eurodescendente ao movimento, at� onde pode garantir meu consciente, se devia � ignor�ncia sobre certas classifica��es ou o que eu julgava superposi��o de g�neros e interesses.

Bissexuais e Interssexuais me pareciam redund�ncia, at� descobrir que o Inter est� relacionado a pessoas que desenvolveram caracter�sticas hormonais ou f�sicas — um p�nis mais atrofiado ou um clit�ris mais pronunciado — que n�o se enquadrariam no que o movimento chama de "norma bin�ria" masculino e feminino.

Ainda que, convenhamos, n�o haveria problema algum, sem�ntico ou pol�tico, se fosse tamb�m considerado "bissexual".

Tamb�m achava que Transexuais, referente �s pessoas transformadas por cirurgia, pudessem estar na mesma categoria de Queers, relacionadas �s que se transformam em outro sexo apenas com adere�os, como travestis ou drag queens, "transitam entre as no��es de g�nero", como dizem.

Por comunicador, ainda especulava que deveriam tentar uma sigla assexuada que abarcasse todos os g�neros e prefer�ncias, liberta do torniquete das letras de cada g�nero da sigla meio infeliz. At� para servir de guarda-chuva a todos eles, atuais e futuros, sem precisar do + no final. Generologia? Genorotopia? Bi-Too? Sei l�. � s� sugest�o.

Tendo superado a ignor�ncia de todas designa��es, minha restri��o trombou nos Assexuais, n�o por incompreens�o, mas por diverg�ncia pol�tica. 

Como algu�m pode tomar como bandeira algo que n�o tem bandeira, que � a nega��o acerca de algo sobre o qual n�o foi perguntado ou pressionado ou molestado?

Assexuais dizem respeito aos que n�o gostam de sexo de forma alguma. Seus representantes advogam o direito, que acham justo, de que n�o quererem sexo com ningu�m e de nem serem cobrados por isso.

Mas n�o consigo imaginar como algu�m pode subir um palanque para fazer um discurso a favor do direito de n�o querer nada.

— Companheiros, a luta continua. Temos que mobilizar nossas for�as, no Congresso, no STF, nas igrejas, nos sindicatos, nas escolas, nas ruas, para garantir que ningu�m seja obrigado a fazer sexo com quem quer que seja.

N�o contemplo l�gica, com o todo perd�o por minha ignor�ncia.
 
Tento associar aos ateus, de uma larga e antiga faixa da sociedade, que advogam o direito de n�o ter religi�o, nem Deus, e nem de serem cobrados por isso. N�o consta que tenham feito ou pretendido fazer movimentos para ir �s ruas contestar quem n�o lhes est� contestando.

Superados os problemas de interpreta��o e diverg�ncia pol�tica, meu ponto � que defendo at� a morte o direito de as pessoas serem o que quiserem, do nascimento � morte. E de movimentos que se proponham a defend�-las contra qualquer tipo de opress�o.
 
N�o tanto por quest�es de conceito, pr�-conceito ou por alguma camuflagem inconsciente, mas por pragmatismo antes de tudo. Porque desde cedo aprendi que nada posso/podemos contra a marcha inexor�vel da hist�ria.

O terceiro ou mais sexos � uma realidade acachapante, de impactos na economia, nos costumes, na cultura em geral e na configura��o da fam�lia, em particular. Vem superando as rea��es religiosas e aponta para a consolida��o de uma normalidade em que sexo � problema de decis�o pessoal e n�o de g�nero ou biologia.
 
Quem sou eu para interferir na decis�o pessoal de cada um?

Ainda h� cargas enormes de preconceito a superar, muita viol�ncia por enfrentar, mas eles ser�o varridos para o lixo da hist�ria como foram o macho provedor, a dona de casa, as mangas bufantes, o suti� de espuma e a cueca samba can��o.

Pergunte aos jovens. Nunca houve uma gera��o t�o desprovida de preconceito, em especial agora para essa variedade. Eles tocam essa revolu��o todos os dias na mesa da cozinha, contra pais que ainda n�o se acostumaram com as movimenta��es tect�nicas debaixo dos seus p�s.

Se n�s, velhos, homens brutos e mulheres acanhadas, n�o quisermos essa revolu��o, eles a far�o, no tempo deles. Ou daqui a pouco. Alguns estudos de boa consist�ncia indicam que, em 30 anos, os sexos tradicionais, ainda hoje chamados "homem" e "mulher", ser�o minoria.

Agora… eu recomendaria cautela e canja de galinha. N�o tentaria meter o p� na porta da sociedade altamente conservadora, como muitas vezes se tenta, em afronta a seus valores, seus costumes e suas leis, como se suas op��es devessem ser institu�das como valores morais de todos.

A pressa � inimiga da conspira��o. O movimento j� conquistou muito. N�o chegou at� aqui, sem estar vindo comendo pelas beiradas h� algumas d�cadas, nos livros, no cinema e nas novelas, sobretudo. Sua guerra � lenta e cultural.

(Se eu fosse marqueteiro da rede de fast-food Burger King, em respeito a essa sociedade, n�o teria colocado crian�as naturalizando os termos numa propaganda de TV. Ainda n�o. N�o acredito que algo desse tipo seja tentado mesmo em democracias consolidadas, como as dos EUA, Canad� ou Reino Unido, e nem em sua efic�cia para vender sandu�ches.)
 
� tentador dos movimentos pol�ticos que t�m pressa, mas ningu�m tem obriga��o de aceitar a op��o de quem quer que seja, como os LGBTQIA n�o se sentem obrigados a aceitar a dos diferentes. E nenhuma maioria est� obrigada a se dobrar �s vontades do que ela ainda entende por minoria.

Recentemente, participei de discuss�o acalorada sobre a express�o "cisg�nero", que o movimento criou para designar as pessoas que lhes parecem diferentes por se identificarem com o pr�prio sexo. 

Rejeitam o sentido que se d� ao que hoje se conhece como "homem", relativo a quem se identifica com seu p�nis, e "mulher", a quem se identifica com sua vagina. Novidade j� incorporada como verbete em algum material did�tico, como enuncia o site especializado em educa��o Brasil Escola:

"Cisg�nero � o indiv�duo que se identifica com o sexo biol�gico com o qual nasceu. Um exemplo de cisg�nero � uma pessoa que nasceu com genit�lia feminina e cresceu com caracter�sticas f�sicas de “mulher”, al�m disso adotou padr�es sociais ligados ao feminino, comumente expressados em roupas, gestos, tom de voz."
 
� um carimbo de claros objetivos pol�ticos, para anular diferen�as � for�a da sem�ntica e for�ar uma equaliza��o de interesses a partir de uma estigmatiza��o ao contr�rio. Num esfor�o e exemplo de dobrar a maioria � vontade da minoria, para que esta n�o se sinta desconfort�vel em suas op��es.
 
Ou, por outra, para que um indiv�duo se sinta �ntegro, pleno e confort�vel com sua op��o de vida, � preciso que tudo ao redor se modifique, valores, costumes e leis de alguns s�culos ou mil�nios.

N�o � assim que o mundo funciona. E h� outros valores maiores que ainda n�o foram modificados, como democracia, que pressup�e um consenso a partir da vontade da maioria. Ou � isso ou vira bagun�a.

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