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Estado de Minas RAMIRO BATISTA

Bolsonarismo de Bolsonaro prejudica compara��o com Kalil na economia

Boa vontade com Kalil e seu desastre econ�mico em BH s� acentua como o bolsonarismo virou estigma que contamina a an�lise da mesma situa��o no pa�s


26/08/2021 06:00 - atualizado 26/08/2021 07:41

Bolsonaro teve um desempenho desastroso no combate epidemiológico à pandemia(foto: EVARISTO SA / AFP)
Bolsonaro teve um desempenho desastroso no combate epidemiol�gico � pandemia (foto: EVARISTO SA / AFP)
� t�o errado dizer que Jair Bolsonaro � o culpado absoluto pela situa��o da economia do pa�s quanto que Alexandre Kalil o � pela quebradeira de Belo Horizonte. 

Sua obsess�o pelo isolamento geral, antes da hora e numa sanfona de abre e fecha �s vezes contradit�ria com os �ndices da pandemia, arrebentou pelo menos mais da metade dos neg�cios promissores.

Pelo menos at� onde minha vista alcan�a na zona sul, onde eu e ele costum�vamos jantar em ambientes elegantes — e mesas separadas, claro — da regi�o reflexo dos potenciais da terceira capital do pa�s.

� injusto culp�-lo, entretanto. Naqueles primeiros dias de mar�o de 2020 em que compar�vamos nossa pandemia com a Peste Negra da Idade M�dia ou a Gripe Espanhola, e o governador Zema montava hospitais de campanha que nunca seriam usados, concord�vamos todos com ele.

— Ent�o, n�s temos que salvar o maior n�mero de vidas, porque a trag�dia econ�mica n�o � no Brasil, � no mundo.

Ao p� da letra, o pa�s de Bolsonaro passou pelo mesmo tsumani, nas mesmas datas e no mesmo n�vel de quebradeira, mesmo onde n�o houve lockdown. Seu desastre � o poss�vel por que passaram todos os pa�ses por onde a nova peste andou.

Os 38 indicadores positivos ou est�veis de seu governo dos 101 analisados nesta semana pela Folha de S. Paulo foram os menos abalados pela conjuntura, como exporta��es. Assim como boa parte dos 63 negativos deca�ram em consequ�ncia dela, como educa��o, sa�de e emprego.

Fora, � claro, os que Bolsonaro vinha piorando por conta pr�pria e de sua vis�o de mundo, como Meio Ambiente, ainda que, do seu ponto de vista, reduzir �reas de reforma agr�ria n�o deve ser considerado indicador negativo.

Mais ou menos como a faveliza��o das ruas da capital, que Kalil j� vinha agravando por um misto de leni�ncia e vis�o social um tanto quanto deturpada. A pandemia s� modernizou em barracas de nylon as moradias de papel�o, colch�o e panelas que se espalharam como cogumelos pelas principais ruas e pra�as. 

Entretanto, temos mais boa vontade com Kalil. Menos por sua capacidade administrativa, que na pandemia empatou em zero a zero com a de Zema ou a de Bolsonaro, do que por diferen�as de personalidade. 

N�o s� porque � mais bonito e aceito socialmente posar de esquerda como ele, mas tamb�m pela capacidade de n�o ser burro na hora errada e nem o que � o principal defeito de Bolsonaro � luz da opini�o influente nos meios de comunica��o e das m�dais sociais: ser bolsonarista, na pior acep��o da palavra. 

Bolsonaro n�o errou s� por fatalidade, como Kalil, mas ampliou o conceito por ter contestado tudo o que a maioria da popula��o precisava, queria ou acreditava, a respeito de isolamento, uso de m�scara e vacinas.

� ideia do conservadorismo apenas refrat�rio � mudan�a dos costumes, que define essa corrente, agregou o estigma de negacionismo, despreparo e trucul�ncia com os cr�ticos.

Acabou mais bolsonarista que os bolsonaristas mais radicais. E, como Zema e os poucos que ainda t�m coragem de defend�-lo, pagando um alto pre�o na opini�o publicada da m�dia monopolissta, que lhe faculta uma cobertura eivada de uma m� vontade ambulante, militante e incontest�vel. Tanto mais forte quanto mais parece inconsciente.

Ele apanha quando avan�a e quando recua. Tome-se o caso mais recente do aumento do fund�o eleitoral pelo Congresso, de R$ 2 bilh�es para R$ 5,7 bilh�es.

O grosso das an�lises garantia que ele n�o vetaria ou vetaria o aumento sob um arranjo para que os deputados dobrassem a verba para R$ 4 bilh�es. Tudo combinado. Na leitura de todo a avallia��o a respeito, os R$ 4 bilh�es tinham virado verba carimbada.

Quando ele vetou o aumento, n�o foi s� a m� vontade do destaque, segundo a regra universal jornal�stica de que o desmentido nunca � maior do que a den�ncia. Mas uma nova onda de cr�ticas de que continua camuflando manobras e inten��o de deixar o centr�o chegar a pelo menos R$ 3,4 bilh�es, num novo projeto de reajuste do que foi gasto na elei��o de 2018.

Num tipo de histerismo mesmo em analistas respeit�veis, o novo ministro da Sa�de Marcelo Queiroga foi classificado como um "novo Pazuello", em refer�ncia � subservi�ncia do antecessor, menos de 12 horas depois de indicado.

Fosse ou seria, n�o havia elementos suficientes para julg�-lo em t�o curto prazo, a n�o ser pelo fato de ser... bolsonarista e por certo incorporar seus estigmas.

A ideia de que havia um bolsonarista no Planalto contaminou os destaques da CPI da Pandemia no notici�rio. A cobertura mimetizou o padr�o de inquiri��o Renan Calheiros de amplificar as falas dos inimigos do governo e relativizar o depoimento dos seus defensores. Tremendos bolsonaristas, claro.

E a de que tamb�m havia um bolsonarista no combate � pandemia, contaminou o vi�s da cobertura dos �ndices de vacina��o, cujos crit�rios mudavam para real�ar o fato de que h� s� um bolsonarista insens�vel no poder seria capaz de tais resultados.

Por essa r�gua, em cima de n�meros absolutos, o Brasil foi por bom tempo o pa�s que mais mata e menos vacina. A r�gua proporcional de morte ou vacinado por milh�o, que coloca o pa�s em situa��o melhor que muitos pa�ses da Europa e do G20, n�o � e nunca foi o destaque.

Por um bom tempo, Chile e Israel foram colocados como refer�ncia de compet�ncia no ritmo da vacina��o, comparando-se, a� sim, rela��o entre vacinados e popula��o. 

"Quase metade do Chile j� foi vacinado" ou "Israel j� tem quase 100% da popula��o vacinada", por exemplo. Sem o registro de que haviam vacinado menos que o Brasil em n�meros absolutos e a compara��o de que se tratam de pa�ses menores que Minas Gerais.


No cacoete de atribuir a Bolsonaro tenta��es seguidas de golpe, que s� pode ser coisa de um bolsonarista como ele, circulou sem contesta��o nos �ltimos dias uma entrevista do ex-ministro da Defesa Raul Jungmann, de que Bolsonaro havia autorizado a Aeron�utica espatifar os vidros da sede do STF em voos rasantes dos ca�as Gripen.

Como n�o � poss�vel duvidar de que um bolsonarista como esse seria capaz de tanto, ningu�m foi apurar o que s� Leonardo Coutinho, um jornalista sofisticado da Gazeta do Povo, de Curitiba, ex-Veja, tuitou. Que o Brasil sequer tinha ca�as Gripen na �poca dos atos, abril de 2019. O primeiro dos 36 comprados por Dilma Rousseff em 2014 chegaria para testes cinco meses depois, em setembro.

A certeza de tanto bolsonarismo numa pessoa s� � frente dos destinos do pa�s ajudou a abater quase tudo o que ele prop�s em campanha, da pauta de costumes �s reformas econ�micas. E � natural que chegasse � cr�tica de seu desempenho econ�mico. Independente do estrago conjuntural da pandemia.

"Mito destr�i a economia", bradou no t�tulo de um de seus coment�rios na r�dio Band, Reinaldo Azevedo, um de seus oposicionistas mais brilhantes e n�o menos t�picos. Carlos Andreazza, na CBN, espumava nesta quarta-feira contra os �ndices horrorosos de desemprego e sal�rios.

Queriam o qu�? Que fosse diferente a essa altura? � razo�vel, adianta agora, dizer que Bolsonaro destruiu o pa�s assim como Kalil acabou com Belo Horizonte? Excetuando-se, se fosse poss�vel, o que h� de bolsonarismo  na an�lise das a��es do governo, ele seria melhor? � poss�vel dizer algo que valha � pena?

H� razo�vel consenso, at� entre bolsonaristas sensatos de fato, de que Bolsonaro teve um desempenho desastroso no combate epidemiol�gico � pandemia. Mas uma boa vontade sem contamina��o bolsonarista apontaria para o fato, incontest�vel, de que as escolhas de Paulo Guedes fizeram com que a travessia econ�mica de nossa maior trag�dia fosse menos traum�ticas do que se esperava.
 
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