(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas RAUL VELLOSO

Aportar ativos � fundamental para o Brasil voltar a crescer

''Quanto menos os governos, que s�o os principais atores nesse filme, investem em infraestrutura, menos o pa�s cresce economicamente''


05/09/2023 04:00 - atualizado 05/09/2023 09:00
777

Todos os estados foram desobrigados pelo Congresso Nacional de aplicar as medidas de ajuste adotadas pela União
Todos os estados foram desobrigados pelo Congresso Nacional de aplicar as medidas de ajuste adotadas pela Uni�o (foto: ZECA RIBEIRO/C�MARA DOS DEPUTADOS)

Chama a aten��o do analista atento uma tend�ncia fortemente declinante das taxas de crescimento do PIB que se v� de 1980 para c�, em boa medida respondendo a id�ntico movimento de queda da raz�o entre o investimento p�blico em infraestrutura e o PIB, na presen�a de investimentos praticamente estagnados em termos reais do lado privado nessa mesma �rea h� muito tempo.  Assim, resultados que �s vezes animam no curto prazo podem n�o significar uma evolu��o favor�vel duradoura, enquanto os fatores centrais de causa��o dos problemas estiverem presentes.

O ponto central � que o crescimento do PIB partia de praticamente 9% a.a., quando medido em termos de m�dias m�veis anuais desde o in�cio dos 80, para chegar a apenas 1% a.a. no final de 2022. Chocante, n�o �? � bom lembrar que nossa taxa de longo prazo at� n�o muito longe era estimada ao redor de 7% a.a., e esse valor, passados cerca de 40 anos, parece ter desaparecido do mapa de discuss�es sobre o tema. Ou seja, quanto menos os governos, que s�o os principais atores nesse filme, investem em infraestrutura, menos o pa�s cresce economicamente.

Por outro lado, para os que desconhecem esse dado, os investimentos privados em infraestrutura est�o oscilando ao redor de 1,1% desde meados dos anos 80, o que mostra que h� muito o que mudar na gest�o econ�mica do Pa�s para eles se tornarem uma op��o real e vi�vel a curto prazo. O fator que aparece com maior peso na explica��o do que est� por tr�s de toda essa complexa situa��o � a expans�o desmedida dos gastos com previd�ncia, especialmente a p�blica, em todas as esferas de governo.

Isso sem sombra de d�vida reflete a enorme transforma��o que ocorreu na estrutura do gasto da Uni�o, por exemplo, desde 1987 – um ano antes da �ltima grande reforma constitucional –, em decorr�ncia de mudan�as relevantes nas prioridades da atua��o do nosso setor p�blico, que decidimos por em pr�tica, conforme bem mostram os dados relativos � execu��o financeira da Uni�o. Ali�s, no tocante a ela, se destaca exatamente o j� citado e forte crescimento real dos gastos em previd�ncia, que passaram de 19,2 para 51,8% do total, dali at� 2021, contemplando os gastos tanto do INSS como da previd�ncia p�blica.

E quando se observam com lupa os dados dos gastos previdenci�rios de todas as esferas de governo em um per�odo mais curto e recente, ganha grande destaque, em ordem decrescente, o maior crescimento real das despesas dos regimes pr�prios municipais em primeiro lugar, depois o dos estaduais e o da Uni�o, seguindo-se finalmente o do INSS.

Assim, no conjunto, e sem a ado��o das medidas certas, os dirigentes foram simplesmente empurrados a promover a desabada dos investimentos p�blicos em infraestrutura, por ser o item mais flex�vel entre os mais relevantes do restante da pauta. Da� � derrocada do crescimento do PIB no mesmo diapas�o foi s� um passo. Nesses termos, enquanto isso perdurar, poder-se-� esperar tudo menos um desempenho robusto do PIB, ainda que aqui e ali apare�am resultados favor�veis, embora pouco duradouros.

Ou seja, embora isso seja pouco reconhecido, foi o predom�nio de elevados d�ficits previdenci�rios na forma��o dos d�ficits prim�rios totais nos �ltimos tempos (e a decorrente  acumula��o de gigantescos passivos atuariais nesse mesmo processo), que, visto de hoje e olhando para tr�s, explica o forte crescimento da d�vida p�blica.

Assim, se olharmos para tr�s, o lado desfavor�vel dessa est�ria � que teremos chegado, em 2021, a uma d�vida p�blica consolidada l�quida (DCL) de R$ 5,7 trilh�es, por sua vez decorrente, em boa medida, de d�ficits prim�rios alimentados, sistematicamente, por d�ficits previdenci�rios expressivos. J� se olh�ssemos para a frente, ver�amos algo hoje ainda menos percebido, que � um passivo atuarial fortemente exig�vel (ou seja, que tem por tr�s a exig�ncia de pagamentos mensais em dia aos aposentados e pensionistas especialmente dos regimes pr�prios de previd�ncia), onde o valor presente dos d�ficits peri�dicos chega a algo da ordem de R$ 5,3 trilh�es, que precisaria ser equacionado (isto �, zerado), para permitir uma gest�o macroecon�mica que fa�a mais sentido. (Com efeito, um processo de zeragem dos d�ficits atuariais cujos resultados apare�am desde logo no in�cio do ajuste implicar� uma redu��o mais r�pida dos antigos d�ficits prim�rios anuais e uma c�lere retomada dos investimentos).

Conforme especialistas da �rea sugerem, al�m de uma s�rie de outras medidas de menor dimens�o, e � parte mais reformas de regras, dever�amos aportar ativos em montante relevante � previd�ncia p�blica. Penso, particularmente, no valor presente dos royalties do Petr�leo (algo ao redor de R$ 3,4 trilh�es), al�m de outros ativos menos conhecidos como os receb�veis relacionados com a extens�o da EC 103/19 a todos os entes que, na �ltima hora, foram desobrigados pelo Congresso de aplicar as medidas de ajuste adotadas pela Uni�o, algo que, se aprovado agora por emenda como a ora proposta pela CNM, poderia chegar ao valor presente de R$ 0,4 trilh�o em aporte adicional de recursos. Finalmente, cabe considerar a possibilidade de aportar tamb�m � previd�ncia receb�veis como os relacionados com a chamada “d�vida ativa”, algo que j� se tentou fazer, mas at� hoje n�o conseguiu funcionar a contento.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)