Nova Lima: at� onde o Poder P�blico e a sociedade civil ficar�o calados?

Poucos lugares do Brasil retratam t�o bem nossas caracter�sticas socioecon�micas - e pol�ticas - como Nova Lima, munic�pio com cerca de 100 mil habitantes que faz “fronteira” com Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais.

Considerada a cidade mais rica do pa�s, segundo recente pesquisa divulgada pela Funda��o Get�lio Vargas, � tamb�m vitrine da precariedade dos servi�os p�blicos e graves problemas de infraestrutura urbana, como tratamento de �gua e esgoto.

Fundado h� 132 anos, o munic�pio vive dias de gl�ria, com os cofres abastecidos pelos setores de minera��o, servi�os e, principalmente, imobili�rio, que h� cerca de 15 anos adotou a regi�o (lim�trofe � BH) como alvo de grandes investimentos.

O maior IDH (�ndice de Desenvolvimento Humano) do estado convive com um dos piores �ndices de coleta e tratamento de esgoto do pa�s. Apenas 20% do que � gerado � coletado e, pasmem!!, deste n�mero, rid�culos 21% s�o devidamente tratados.

A falta de moradias e moradias em condi��es prec�rias, principalmente em �reas de risco, reproduzem o modelo cruel de distribui��o de renda do Brasil. Enquanto pr�dios de luxo n�o param de ser erguidos, barracos s�o destru�dos a cada temporada de chuvas.

Condom�nios de alt�ssimo padr�o abundam em todas as regi�es da cidade, uma vez que contam com regras construtivas extremamente ben�ficas, principalmente se comparadas com as de Belo Horizonte. E a� mora o grande perigo e motivo desta coluna.

Principal (e praticamente �nica) via de acesso � Belo Horizonte, a MG-30 transformou-se em avenida, com quebra-molas, sem�foros e outras interven��es comuns �s ruas, e n�o �s estradas. O tr�nsito � simplesmente infernal nos hor�rios de pico.

Em situa��es de emerg�ncia, n�o h� o que fazer diante dos quase di�rios “n�s” na regi�o. Ambul�ncias, viaturas policiais e do corpo de bombeiros, ou mesmo motoristas a caminho de compromissos ou atendimento hospitalar, desesperam-se impotentes.

N�o bastasse o fluxo atual - e crescente - de autom�veis, caminh�es e carretas, proibidos de trafegar pela via, estes desrespeitam as leis e contam com a precariedade da fiscaliza��o. Estamos literalmente falando de uma “terra de ningu�m”.

O adensamento do Vale do Sereno e do Vale dos Cristais (regi�o mais valorizada do munic�pio, com resid�ncias que chegam a valer 30 milh�es de reais) beira a crimes ambientais e, eu diria, sem exagero, contra a pr�pria vida humana.

A sanha arrecadat�ria da cidade n�o tem limite, como tamb�m, a fome de dinheiro das construtoras. O resultado � um processo descontrolado de adensamento demogr�fico, levando � destrui��o do meio ambiente e significativa piora na qualidade de vida.

Se a situa��o j� � insustent�vel - sem trocadilho algum - ficar� ainda pior, pois mega empreendimentos imobili�rios est�o em constru��o e/ou em fase adiantada de projetos. Um deles, no “quintal” do Vale dos Cristais, � simplesmente alarmante. Aten��o!

Uma �rea de inimagin�veis 7 milh�es de metros quadrados, equivalentes a quase mil campos de futebol, foi vendida pela Anglo Gold Ashanti, mineradora sul-africana que explora a regi�o, por cerca de 160 milh�es de reais, para investidores imobili�rios.

Presume-se que edifica��es residenciais e comerciais, em �reas hoje de servid�o ambiental, objetos de TACS e �reas preservadas, ser�o erguidas, rasgando a mata - de fora a fora!! -, desconfigurando irremediavelmente a trilha que d� acesso a Macacos.

O que � orgulho da regi�o metropolitana pela diversidade ambiental e belezas naturais, dar� lugar a empreendimentos calculados em 5 bilh�es de reais, alterando definitivamente o mapa local - sair� a natureza preservada, entrar� ruas, espig�es e shoppings.

O setor de minera��o j� rasgou nossas montanhas, inclusive, nosso ex-cart�o postal, a Serra do Curral. As construtoras j� devastaram o Vale do Sereno, outrora bols�o natural e importante fonte de equil�brio t�rmico de Belo Horizonte. Agora, querem mais.

Como far�o para sair de casa os moradores da regi�o, sobretudo os dos condom�nios do Vale dos Cristais? H� apenas uma m�sera mini ponte, um m�sera mini rotat�ria e nada mais. E onde ser� coletado e tratado todo o lixo e esgoto resultante?

N�o � poss�vel colocar Belo Horizonte dentro de Nova Lima, e � isso o que vem ocorrendo sob as vistas grossas do Poder P�blico e a complac�ncia da sociedade civil h� mais de uma d�cada. � hora de dar um basta nisso, pois depois n�o ser�, j� � tarde!

As autoridades ambientais do munic�pio e do estado ainda existem? Os �rg�os de controle, como o Minist�rio P�blico, ainda existem? A prefeitura de Nova Lima ainda existe, para al�m do prop�sito arrecadat�rio? O bom senso dos empreendedores, talvez?

Ao que parece, as respostas para as perguntas acima s�o n�o, n�o, n�o e tamb�m… n�o! Da� eu fa�o mais uma pergunta antes de me despedir? Cidad�os - moradores ou n�o da regi�o, mas que trafegam por l� - ainda existem ou j� se foram todos?

Tal empreendimento tem de ser questionado e, dentro das vias adequadas e legais, impedido imediatamente, sob risco de irreversibilidade posterior, algo a que assistimos todos os dias. Lembrem-se: depois de derramado, o leite j� era. N�o adiantar� chorar.