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Estado de Minas ROBERTO BRANT

Transi��o para a realidade

'Na vida real, as elei��es de fato s�o um teatro, recheado de fic��es e de m�scaras, que mais oculta e ilude do que esclarece'


05/12/2022 04:00 - atualizado 05/12/2022 10:19

arte com cadeado dentro de um círculo azul e silhuetas de pessoas ao fundo
'Toda a economia do entretenimento est� organizada para nos oferecer estes mundos imaginados, sem os quais o homem de hoje n�o saberia como viver' (foto: Freepik)
O ser humano tem uma necessidade imperiosa de sonhar e de transfigurar a realidade. Mesmo as pessoas maduras guardam em si um pouco de crian�a, n�o se satisfazem s� com os tons tristes da realidade e preenchem seu mundo com fatos e imagens desejadas. Toda a economia do entretenimento est� organizada para nos oferecer estes mundos imaginados, sem os quais o homem de hoje n�o saberia como viver. Mas s� o puro entretenimento n�o nos basta. Precisamos de emo��es mais fortes.

A pol�tica no tempo da internet, das imagens e dos sons eletr�nicos, tamb�m faz parte deste repert�rio, que nos ajuda a viver parte de nossas vidas num ambiente de emo��es virtuais. As teorias cl�ssicas da democracia imaginam a escolha dos governantes como campanhas em que se debatem ideias antag�nicas, conflitos abertos de interesses e tamb�m tornam transparentes as hist�rias pessoais dos candidatos. Na vida real, as elei��es de fato s�o um teatro, recheado de fic��es e de m�scaras, que mais oculta e ilude do que esclarece.

As duas for�as centrais nas elei��es democr�ticas do s�culo 21, aqui entre n�s e um pouco em toda a parte, s�o a ilus�o e o medo, duas for�as quase sempre distantes da raz�o. De um lado ficam as promessas de mudan�as que tornar�o a vida melhor e de outro as amea�as de mudan�as que tornar�o a vida muito pior ou mais perigosa. Nenhuma coisa nem outra provavelmente ocorrer�, pois nas democracias o Poder est� distribu�do em v�rias esferas institucionais, cuja clara inclina��o � a conserva��o das posi��es, dos interesses e da influ�ncia dos grupos e dos setores dominantes.

Mudan�as s� ocorrem na margem, em pequenos saltos cumulativos que n�o perturbam o equil�brio existente, seja ele justo ou injusto, progressista ou retr�grado.

Tudo isto ajuda a explicar o estranho clima que dominou as �ltimas elei��es. Cada uma das duas candidaturas que chegaram ao fim do processo conseguiu convencer a metade dos brasileiros que lhes entregaria um Brasil muito diferente do Brasil que realmente existe. A esperan�a deste Brasil imagin�rio, que surgiria do nada, acabou dando aos que n�o venceram um sentimento de perda existencial, dif�cil de suportar, al�m do medo de que o vencedor iria virar o pa�s de cabe�a para baixo, conforme o sentimento que lhes foi transmitido durante a luta eleitoral.


Em compensa��o, a esperan�a do outro Brasil imagin�rio que acalentou a alma dos que se viram vencedores, enfrenta j� agora as decep��es do encontro com a realidade. Embora a luta pela Presid�ncia da Rep�blica pare�a sempre uma luta de vida ou morte, os poderes do presidente s�o muito menores e mais limitados do que comumente se imagina.

Passado um breve per�odo de gra�a, o novo presidente j� tem que se haver com as estruturas de poder instalados no Congresso, nos partidos, na imprensa e nos mercados. Este � um mundo de baixa rotatividade, habitado por gente profissional, experimentada e com vastas conex�es. � um mundo que tem avers�o � mudan�a e �s altera��es no equil�brio de poder. Principalmente ao crescimento e � emerg�ncia de novos vencedores na economia.


O processo de transi��o � muito vistoso e repleto de boas inten��es, reunindo algumas centenas de brasileiros, muitos com capacidade e experi�ncia ineg�veis. Esta, por�m, � uma transi��o pr�-forma, porque a verdadeira s� vai come�ar quando os novos dirigentes forem escolhidos, suas pol�ticas se tornarem claras e forem encontrar o muro dos interesses consolidados e o jogo das conveni�ncias dos pol�ticos que s� se movem nas sombras.

Logo de in�cio, o novo governo compreendeu que s� a Presid�ncia da Rep�blica vai mudar, todas as outras estruturas de poder permanecer�o, como tem ocorrido nas �ltimas sucess�es. A C�mara e o Senado s�o o que sempre foram e, apesar de renovados pelas elei��es, manter�o a mesma dire��o, porque, ao contr�rio das apar�ncias e do choro dos vencidos, pouca coisa mudou realmente.
Para conforto dos vencidos e decep��o dos que venceram alguma coisa vai mudar, apenas para que tudo permane�a como �.

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