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Estado de Minas GEOPOL�TICA

Pelosi e a "ajuda militar" indireta � China

A China aproveita a visita da presidente da C�mara dos EUA, Nancy Pelosi, para normalizar atividade militar no Estreito de Taiwan.


22/08/2022 06:00 - atualizado 21/08/2022 16:09

Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Nancy Pelosi parece ter feito exatamente o que a China queria (foto: SAUL LOEB / AFP)
A visita de Nancy Pelosi a Taiwan, no �ltimo dia 3 de agosto, pode ter sido o argumento necess�rio para que a China realizasse os testes militares planejados h� tempos, mas n�o havia uma justificativa para realiz�-los. Pelosi pode ter dado "um presente" ao pa�s. Se o objetivo era garantir uma Taiwan mais forte, esta certeza n�o foi alcan�ada.

A China deve regularizar a partir desse evento, as atividades militares ao longo do estreito que separa a ilha de Formosa da por��o continental. A agilidade das a��es militares chinesas indica que o pa�s estava aguardando o momento ideal para que os testes fossem iniciados. Precisavam apenas do momento certo, sem causar incompreens�es geoestrat�gicas externas. Foi o que Pelosi propiciou. 

A �ltima vez que ocorreu uma tentativa de intimida��o a Taiwan foi em 1995/96.  Nesse per�odo, a China realizou testes com misseis, em �guas circundantes � ilha, �s v�speras das primeiras elei��es presidenciais livres na regi�o, esta considerada uma prov�ncia rebelde chinesa.  Mas a r�pida resposta de Bill Clinton (presidente dos Estados Unidos) com o envio do porta-avi�es USS Nimitz para a regi�o, acabou por interromper os testes. Com menor capacidade de ataque, naquele momento, a China recuou. 

A humilha��o a que foi exposta nessa �poca deu o impulso necess�rio para os elevados investimentos do pa�s no seu sistema de defesa.  Atualmente, a capacidade b�lica chinesa � inquestionavelmente superior � do passado (em determinados setores acima da capacidade norte-americana). Mas n�o havia sido demonstrada em toda a sua pujan�a, apesar da presen�a chinesa mais regular e ostensiva nas �guas e na Zona de Identifica��o A�rea (ADIZ), que margeiam a ilha de Formosa (onde est� Taiwan), desde 2020. 

Os chineses precisavam de um cen�rio favor�vel � sua plena demonstra��o de for�a, sem grandes questionamentos internacionais. Pelosi garantiu esse cen�rio.  Os testes militares s�o valiosos e permitem � China aumentar a prepara��o e melhorar a atua��o das for�as mar�timas e a�reas em futuras opera��es que envolvam as duas regi�es. 

Isso amplia as chances chinesas de realizar incurs�es cada vez mais frequentes na ADIZ e aumentar as opera��es militares mar�timas, fazendo desaparecer pouco a pouco a linha mediana, uma esp�cie de zona neutra n�o oficial entre as duas regi�es, respeitada durante d�cadas, mas ignorada nas �ltimas semanas.

A pol�tica de Xi Jinping tamb�m foi beneficiada pela viagem da representante dos EUA � ilha. Xi busca seu terceiro mandato e apesar de as movimenta��es partid�rias estarem aquecidas, nada indicava que o partido se reuniria antes de novembro para esse fim. O l�der chin�s pode antecipar a convoca��o do congresso, ap�s o acirramento das tens�es com a ilha. 

A visita inesperada da representante norte-americana acelera a realiza��o desse congresso (previsto para setembro) e amplia vantagens do atual l�der, com as prov�veis nomea��es para o Comit� Permanente do Politburo, algo que certamente, Pelosi n�o pretendia.  

O maior argumento para a antecipa��o � o econ�mico, mas as quest�es geopol�ticas, sempre relevantes no atual governo, ser�o destaques.  Xi Jinping enfrentar� durante o congresso alguns questionamentos em rela��o � economia, mas a quest�o de Taiwan pode amenizar as discuss�es sobre a estagna��o econ�mica que o pa�s enfrenta e abrir espa�o para as quest�es militares, que o favorecem e o deixam mais livre para os desafios do terceiro mandato. 

As pol�ticas de Xi, desde que se tornou o l�der do Partido Comunista chin�s (PCC), em 2012, colocam em evid�ncia o "sonho chin�s" defendido pelo mandat�rio.   Esse sonho corresponde � ideia associada de restaurar a grandeza nacional, perdida nas dinastias anteriores e tem origens antigas na hist�ria liter�ria intelectual chinesa.

Isso implica uma China cada vez mais presente no cen�rio mundial. Um dos pilares desse projeto � o Belt and Road Iniciative (BRI), chamada de a nova Rota da Seda, que incomoda muito os poderosos ocidentais. 

O sonho chin�s, entretanto, n�o abdica das boas rela��es com os EUA e n�o pretende causar grandes altera��es na ordem internacional. A visita de Pelosi provocou um deslize nesse contexto e pode levar a um conflito entre dois gigantes, mesmo que nenhum dos envolvidos tenha manifestado, at� o momento, interesse imediato nesta possibilidade.  

Mas se Xi Jinping usar as tens�es com Taiwan para fortalecer seu poder pessoal, h� o risco de ele emergir   do pr�ximo Congresso do PCC endividado com as for�as internas que s�o favor�veis ao confronto.  Assim, esse congresso antecipado pode ser um sinal para aqueles que se encontram fora da China abordarem Taiwan com mais zelo e cuidado. 

Um artigo publicado, em maio de 2021, no The Economist, aponta Taiwan como o lugar mais perigoso da terra, devido ao risco de uma guerra que pode envolver duas grandes pot�ncias econ�micas e militares. 

A guerra seria uma cat�strofe, n�o apenas por causa do derramamento de sangue em Taiwan-China (pelo risco da escalada do conflito entre duas grandes for�as nucleares), mas tamb�m pelo terr�vel impacto econ�mico.  A ilha est� no cora��o da ind�stria de semicondutores, com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, a TSMC, a fabricante de chips mais valiosa do mundo, localizada na ilha.   Se a produ��o da TSMC parasse, isso tamb�m aconteceria com a ind�stria eletr�nica global, a um custo incalcul�vel!  

O ideal seria que fossem encontradas formas razo�veis de resolver as diferen�as, sem um enfrentamento armado direto. H� um antigo ditado segundo o qual  "quando dois grandes elefantes brigam, a formiga e a grama sofrem". Oxal�, isso n�o seja esquecido. 

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