(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas GEOPOL�TICA

Inc�ndios na Europa: trag�dias anunciadas?

Aquecimento global favorece ondas de calor; inc�ndios recentes ocorridos na Europa, que j� destru�ram, em 2022, �rea superior � registrada em todo o ano de 2021


25/07/2022 06:57

Avião derrama água sobre área atingida por incêndio na França
Avi�o dos Bombeiros derrama �gua sobre �rea atingida por inc�ndio na Fran�a (foto: LOIC VENANCE / AFP)

As temperaturas extremas registradas na Europa nos �ltimos meses est�o acompanhadas de grandes infort�nios, com destaque para os inc�ndios que afetam boa parte do continente, principalmente, na por��o meridional (sul). Os recordes t�rmicos sucessivos favorecem a ocorr�ncia desses eventos. 

A regi�o sul europeia � caracterizada pelo clima mediterr�neo, com �ndices pluviom�tricos m�dios em torno de 750 mm, precipitados, normalmente, durante o inverno. Os ver�es s�o secos e quentes.

Al�m das caracter�sticas clim�ticas at�picas, pois espera-se ver�es �midos, a vegeta��o Mediterr�nea ou o Chaparral (como � chamada na Calif�rnia/Estados Unidos), tem a cobertura original profundamente alterada pelas atividades humanas ao longo do tempo. 

Essa vegeta��o � de porte herb�ceo-arbustivo predominante, com �reas florestadas secund�rias (a vegeta��o primitiva foi totalmente modificada pelo homem), um pouco mais densas, denominadas Maquis, em contraposi��o aos Garrigues, formados por vegeta��o mais aberta, arbustiva, relativamente espa�ada entre si. Ambas s�o bastante inflam�veis. 

Para uma cobertura vegetal incendiar, � necess�ria a conjun��o de tr�s fatores principais:

- um clima mais quente e de baixa umidade;
- uma vegeta��o com componentes ricos em elementos que favorecem a combust�o (como cip�s, ciprestes, folhas, galhos abundantes sobre o solo);
- al�m de uma densidade demogr�fica mais expressiva, como explicam os analistas.

De modo geral, as causas antr�picas s�o respons�veis em 90% pelo in�cio dos inc�ndios (cigarros jogados descuidadamente, churrasqueiras mal apagadas, fragmentos de vidro espalhados etc.). As causas naturais ocorrem em torno de 10% dos casos. 

Todavia, os inc�ndios mais devastadores (que correspondem a 5% do total, mas que representam 75% da �rea queimada), est�o associados aos per�odos mais quentes, que formam, na maioria dos casos, centros de baixa press�o atmosf�rica, no sul europeu, e atraem os anticiclones do norte, marcados por ventos mais frios e secos (como o famoso vento Mistral), prop�cios aos inc�ndios catastr�ficos. 

A urbaniza��o tamb�m exerce papel importante na intensifica��o desses fen�menos, cada vez mais destruidores. As constru��es, com amplos jardins ornamentais, espalham-se de forma difusa pelas matas, favorecendo a r�pida propaga��o do fogo.

A redu��o da popula��o rural, com a migra��o para as cidades, tamb�m � preocupante. H� menos pessoas no campo para combater os focos de inc�ndios, que se alastram rapidamente, tornando-se quase incontrol�veis. 

Os campos de outrora foram ocupados pela agricultura e muitos foram substitu�dos por outras atividades. Conjugados, esses elementos desempenham um papel fundamental na propaga��o do fogo. 

As mudan�as clim�ticas, definidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC), �rg�o da ONU, em seu artigo 1º como "mudan�as no clima que s�o atribu�das direta ou indiretamente � atividade humana, que altera a composi��o da atmosfera global e que se somam a variabilidade clim�tica natural observada em per�odos de tempo compar�veis", exercem papel bastante singular em todos esses eventos. 

Os anos anteriores (2017, 2019, 2020, 2021) registraram recordes sucessivos de altas temperaturas globais. Os inc�ndios devastaram vasta extens�es de outras �reas do mundo, como a Sib�ria Russa, Austr�lia e Calif�rnia, nos EUA. Com as m�dias t�rmicas mais elevadas e aridez mais severa, a vegeta��o seca prontamente, pois h� menos reservas de �gua no subsolo, colaborando para esses cen�rios de terras ardidas pelo fogo. 

Os cientistas percebem desde 1980 epis�dios de altas temperaturas cada vez mais frequentes e mais duradouros. � importante n�o esquecer a onda de calor europeu de 2003 e as trag�dias causadas (somente na Fran�a mais de 14.800 pessoas morreram, a maioria idosos; na It�lia, foram mais de 20 mil!), que chocaram o mundo. No ano anterior (2002), a �frica Subsaariana registrou �ndices assustadores; mas, como esperado, o mundo ficou menos sensibilizado. Para muitos, era s� mais do mesmo. 

O aquecimento clim�tico aumenta a probabilidade de ondas de calor e secas e, por extens�o, de inc�ndios. Essas temperaturas mais elevadas acentuam a evapotranspira��o das plantas. � medida que a vegeta��o fica mais seca, torna-se mais suscet�vel ao desenvolvimento das queimadas. 

Dados preliminares, divulgados em 2021 pelo IPCC, s�o desanimadores. Segundo o �rg�o, o Mediterr�neo � um dos pontos quentes da Terra. Espera-se um aumento cont�nuo das temperaturas na regi�o, mais acentuadamente do que em outras �reas do mundo. Os efeitos sobre a agricultura, a pesca e o turismo ser�o not�veis. A escassez de �gua e o perigo de inunda��es e ondas de calor, com risco de vida, afetar�o milh�es de habitantes nas pr�ximas d�cadas. Os dados s�o quase apocal�pticos. 

Os megainc�ndios pareciam incomuns para o seleto grupo de pa�ses desenvolvidos. N�o mais! Est�o tornando-se cada vez mais regulares. At� algum tempo atr�s, o imagin�rio dos inc�ndios devastadores era habitual nos pa�ses mais pobres, sem os recursos necess�rios para combat�-los. Ledo engano! Esses eventos est�o cada vez mais no cotidiano das na��es mais abastadas do planeta, com efeitos semelhantes ou at� mais dr�sticos. 

De acordo com o jornal franc�s Le Monde, na Europa, desde a cria��o, em 2000, do Sistema de Informa��o sobre Inc�ndios, o ano de 2021 foi o mais arrasador, com mais de um milh�o de hectares consumidos pelas labaredas colossais. 2017 havia sido o pior ano, desde ent�o, com 500 mil hectares de �rea consumida pelas chamas somente em Portugal, onde 118 vidas foram perdidas. 

Os europeus buscam meios cient�ficos de controlar os efeitos do fogo. Sabem que esses cen�rios se repetir�o nos anos a seguir. Os alertas s�o globais, n�o exclusivos do velho continente, que precisa se adaptar �s novas realidades, por mais duras que sejam. Ignor�-las n�o mais!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)