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Estado de Minas VITALidade

Gratid�o, um estado de felicidade genu�no

A gratid�o � avessa ao ego�smo e traz em si tra�os de amor, de partilha, de dom e de generosidade


11/10/2021 07:27 - atualizado 11/10/2021 10:30
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(Por Jos� Milton Cardoso Junior e Juraciara Vieira Cardoso)

Homem abre os braços em direção ao céu e usa camisa que diz 'Ame mais, julgue menos'
A gratid�o pode n�o ser a virtude mais em voga e nem a mais elevada, mas consegue transformar nossas realidades de modo po�tico (foto: lucasvieirabr/Pixabay)

Hoje vamos falar sobre a gratid�o! Pode parecer descabido falar em gratid�o em um momento t�o conturbado e em uma coluna que, costumeiramente, a tem�tica s�o os idosos. Mas n�o poderia haver maior conex�o, pois � exatamente ao sermos gratos que poderemos alcan�ar um estado de felicidade genu�no. Com a idade, alguns de n�s tende a carregar para si fardos pesados que, durante os anos, foram se acumulando em nossos ombros e acabamos nos esquecendo das boas obras que recebemos, dos atos de generosidade dos quais fomos benefici�rios e, principalmente, das infinitas a��es de cuidado e amor que recebemos gratuitamente todos os dias por parte daqueles que nos amam. 

Em alguns momentos na velhice, o rancor e a raiva podem se somar e fazer com que o fardo que temos que carregar se mostre pesado demais. Ao inv�s de olharmos para o alto, nosso olhar pode se voltar para o ch�o, deixamos de olhar para a frente, para aquilo que o futuro nos reserva e nos contentamos com uma vida triste. Quando isto acontece, n�o � raro que o que nos falte seja a gratid�o: pela vida que vivemos e pelos aprendizados que amealhamos em nossa jornada.

A gratid�o pode n�o ser a virtude mais em voga e nem mesmo a mais elevada, entretanto, ela consegue transformar as nossas realidades de modo po�tico. Ela pode ser concebida como um prazer que prolonga o prazer, por uma alegria ou m�rito alcan�ado. Ela � uma felicidade gratuita em raz�o de termos experimentado algo que fez bem ao nosso esp�rito. A gratid�o nada tem a oferecer a n�o ser o prazer de ser recebida como algo valioso.

A gratid�o � o eco de uma alegria gratuita que nos convida a olhar o mundo com olhos de encanto e curiosidade. Ela � avessa ao ego�smo. Enquanto o ego�sta n�o consegue reconhecer que deve algo a uma outra pessoa, o grato n�o apenas reconhece tal conex�o, mas se regozija com ela. O ego�sta imagina que todos os seus feitos, obras e a��es s�o fruto �nico e exclusivamente de sua boa fortuna, enquanto o grato sabe-se vulner�vel e dependente dos outros.

O ingrato, ao inv�s de reconhecer a generosidade da d�diva recebida, atribui a si mesmo e aos seus talentos tudo o que alcan�ou. Com isto deixa de perceber que na gratid�o h� uma boa por��o de humildade. Ao reconhecer que n�o sou a origem da minha alegria, passo a ser grato a quem tanto me deu e pouco ou nada pediu. A humildade est� tanto em reconhecer o outro como causa da minha alegria, quanto em nos desvestirmos de n�s mesmos para aceitarmos a generosa presen�a do outro em nossas vidas. 

A gratid�o traz em si tra�os de amor, de partilha, de dom e de generosidade. O ingrato n�o sabe disto e por isto n�o se dedica a agradecer. Ele vive encerrado em si mesmo e em suas falsas concep��es sobre a sua pr�pria exist�ncia, dando a si uma import�ncia desmedida e aos outros quase nada. A ingratid�o � a incapacidade de retribuir aquilo que nos foi feito com generosidade e que nos causou grande alegria e satisfa��o. 

O amor e a gratid�o t�m profundas conex�es, pois a quem mais podemos agradecer que n�o ao outro, a Deus, a natureza ou ao universo pela generosidade de um ato gratuito? Sim, a gratid�o � gratuita, caso contr�rio haveria uma troca de favores, o que passa ao largo da virtude pretendida. Para Comte-Sponville, a gratid�o � o zelo de amor pelo qual nos esfor�amos para retribuir o bem que a n�s foi feito, em virtude de um amor gratuito que nos foi ofertado. H� aqui uma passagem da gratid�o afetiva para uma gratid�o ativa, que � aquela advinda da alegria retribu�da.

H� na gratid�o um convite para reconhecermos a import�ncia do outro em nossas vidas. Como dito, a gratid�o tamb�m � amor, mas n�o um amor por si mesmo, mas pelo outro. Ela � o reconhecimento de que sozinhos n�o temos qualquer sentido ou dire��o. 

Algo muito valioso pode ser percebido quando nos tornamos gratos pela vida que recebemos e desfrutamos: somos compelidos a revisitar nosso passado com um olhar mais generoso e amoroso. A gratid�o nos impulsiona a desviarmos o olhar daquilo que nos sufoca, nos aprisiona e nos impede de seguir adiante, para fitarmos nas gra�as que recebemos ao longo da exist�ncia. Ao mudar o foco para a gratid�o podemos experimentar uma nova forma de ser e estar no mundo, com mais compreens�o, amor, generosidade e afei��o por n�s mesmos e pelos outros. Ela nos convida ao reconhecimento daquilo que nos aconteceu, a revisitarmos nossa hist�ria de forma amorosa e nos reconciliarmos tamb�m com as nossas dores, pois elas tamb�m s�o o resultado de quem somos hoje. 

A vida fica mais doce e leve quando nos tornamos gratos: por nossa vida, sa�de, fam�lia, amigos, bens materiais e imateriais, enfim, pela vida partilhada com generosidade ao lado daqueles que amamos. A alegria de saber-se amado pelos atos de generosidade que recebemos � tamb�m o reconhecimento de que no outro est� uma das causas da minha alegria. 

Sejamos alegres! Sejamos leves! Sejamos gratos!

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