
O Instituto Butantan divulgou, nesta ter�a-feira (12/01), a taxa de efic�cia geral da Coronavac, vacina contra a COVID-19 que desenvolve em parceria com a farmac�utica chinesa Sinovac. O �ndice agora anunciado, junto ao governo de S�o Paulo, � de 50,38%, considerando todos os volunt�rios infectados pelo coronav�rus relacionados no estudo.
O dado � diferente do que havia sido informado na �ltima semana, j� que na ocasi�o a an�lise se tratava de um recorte da pesquisa: 78% de efic�cia se levadas em conta manifesta��es leves, moderadas e graves da doen�a, ainda com necessidade de assist�ncia m�dica, e 100% em rela��o a casos graves e moderados.
Na sequ�ncia, a efic�cia de 78% foi avaliada por m�dicos como "boa" ou "excelente", capaz de fazer da COVID-19 uma "gripezinha", termo utilizado por Jair Bolsonaro logo no in�cio da pandemia, que at� agora vitimou mais de 200 mil brasileiros.
A informa��o � levada a p�blico ap�s press�o de cientistas e jornalistas. Conforme os protocolos da pesquisa, a taxa geral de efic�cia � o indicador central mensurado pelo estudo (que considera toda a amostra de volunt�rios) e, mesmo que em patamar inferior ao que foi primeiro divulgado, a perspectiva � que n�o influa negativamente na aprova��o da vacina pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), que determina efic�cia de, no m�nimo, 50%.
"Essa vacina tem seguran�a, tem efic�cia, e todos os requisitos que justificam o uso emergencial", disse no an�ncio Dimas Covas, diretor do Butantan.

"O objetivo inicial � ter todas as pessoas vacinadas, mas principalmente prevenir as formas mais graves da doen�a", avalia a infectologista do Hospital das Cl�nicas da UFMG, Helena Duani.
Para ela, era um resultado esperado, e pode representar impacto nos sistemas de sa�de p�blica, diminuindo a necessidade de interna��es. Como j� acontece para outras vacinas, como da gripe, pneumonia e BCG, cita Helena, com �ndice de efic�cia comprovada equiparado, n�o t�o alto assim, � suficiente, j� que o foco s�o manifesta��es severas das doen�as, que muitas vezes acarretam a mortalidade. "S�o vacinas j� usadas neste patamar de prote��o. J� existe, n�o � novidade", conta.
No caso de infec��es leves, na opini�o de Helena, a Coronavac, por exemplo, pode ser um bom instrumento para barrar a cadeia de transmiss�o, j� que muitas pessoas transmitem a doen�a sem nem ao menos saber que est�o doentes, como acontece com os assintom�ticos.
"S�o resultados interessantes, e � o que temos at� agora. Ainda com a efic�cia nessa taxa, n�o � motivo para n�o tomar a vacina, principalmente considerando a gravidade da situa��o. Os hospitais est�o praticamente saturados", pondera a infectologista.
Ela diz que, de imediato, � preciso assegurar a vacina��o da popula��o de risco e, assim, continuar o processo de imuniza��o seguindo a ordem correta, a partir das classifica��es de prioridade. "O importante � garantir o m�ximo de prote��o poss�vel, mesmo com a efic�cia pequena", afirma.
"Se essa vacina conseguir poupar, no futuro, metade das mortes causadas por COVID-19 no Brasil, j� seria um ganho", diz o m�dico infectologista do Biocor Instituto Guenael Freire. "Mas n�o posso dizer que n�o fico um pouco decepcionado. Vejo o copo meio cheio e meio vazio", acrescenta.
Ele lembra que a Coronavac, considerando a taxa total de efic�cia, consegue redu��o de casos moderados da COVID-19, que precisam de atendimento m�dico, perto de 80%. "J� seria uma forma de n�o pressionar tanto o sistema de sa�de. E tem como diferencial tamb�m evitar inclusive os quadros sem sintomas", avalia o m�dico.
Ainda que o tempo para proteger todos os brasileiros seja algo dif�cil de prever, Guenael considera que, ao longo de 2021, ser� poss�vel vacinar metade da popula��o do pa�s - e para isso s�o necess�rias cerca de 200 milh�es de doses, j� que a vacina deve ser aplicada em duas doses.
"A not�cia � boa, mas n�o d� para comparar com a efic�cia da vacina da Pfizer/BioNTech, por exemplo [95%]. Ainda assim � algo a comemorar, uma poderosa aliada no controle da pandemia. O Programa Nacional de Imuniza��o (PNI) deve incorporar outras vacinas. No Brasil, outra op��o deve ser a vacina Oxford/Astrazeneca", diz Guenael.
O mecanismo da Coronavac � a partir da inocula��o de v�rus inativados. No Brasil, 12.508 volunt�rios participaram do estudo do Butantan, em 16 centros de pesquisa, e s�o profissionais de sa�de que atuam diretamente na luta contra a doen�a.
Ainda com dados preliminares, testes de fase 3 na Indon�sia apontaram efic�cia de 65,3% para o imunizante, e o pa�s j� aprovou o uso emergencial. Na China, estudiosos afirmaram que a vacina n�o suscita "nenhuma preocupa��o com rela��o � seguran�a".
Ap�s coletiva de imprensa para elucidar as informa��es sobre o imunizante, representantes m�dicos e cientistas questionaram a falta de transpar�ncia do Butantan ao n�o divulgar antes a efic�cia geral e outros detalhes dos testes cl�nicos. O n�mero de casos de COVID-19 registrados em cada grupo do estudo (placebo e vacinado) s� foi divulgado ap�s questionamento de um jornalista.
Segundo o secret�rio estadual de Sa�de de S�o Paulo, Jean Gorinchteyn, os dados sobre efic�cia geral da Coronavac est�o em posse exclusiva do Butantan e da Anvisa. "As pessoas est�o cobrando mais transpar�ncia, mas nem eu nem o governador sabemos qual � esse n�mero."
Conforme classifica��o da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), a efic�cia de uma vacina, neste caso em espec�fico para preven��o da infec��o pelo coronav�rus, � observada segundo os quadros da doen�a entre as pessoas que participam dos testes. � uma tabela que elenca os volunt�rios entre os n�veis 0 e 10 - o que se relaciona a um paciente n�o infectado e um que morreu pelo v�rus, respectivamente, nos dois extremos.
A primeira taxa divulgada pelo Butantan, de 78%, refere-se a casos com pontua��o maior ou igual a 3. O outro dado, de 100% de efic�cia para quadros graves, que demandam interna��o, fica acima de 4 na escala da OMS. Mas, em rela��o � efic�cia de 100%, s�o dados insuficientes, j� que o n�mero de casos considerados neste �ndice � reduzido, observando todos os volunt�rios, apenas sete, que receberam placebo.
A informa��o de 50,38% de efic�cia, agora divulgado, considera tamb�m pessoas infectadas que manifestam sintomas leves, sem precisar de tratamento, no grau 2 da tabela da OMS. Volunt�rios que foram vacinados e tiveram a infec��o, mas s�o assintom�ticos (grau 1 da OMS), n�o aparecem no estudo do Butantan - a pesquisa n�o apresenta o c�lculo de efic�cia nesses casos.
"Esta � a forma que a OMS classifica os casos de COVID-19. Ele funciona como uma pir�mide na qual a gente tem uma base larga de pessoas que n�o apresentam sintoma nenhum. E aqui n�s t�nhamos que fazer uma escolha: onde colocar o limite", disse o diretor de pesquisa do Instituto Butantan, Ricardo Pal�cios.
"A gente tinha previsto que a vacina tinha que ter uma efic�cia menor em casos mais leves e uma efic�cia maior em casos moderados e graves. N�s conseguimos demonstrar esse efeito biol�gico esperado. Esta � uma vacina eficaz. Temos uma vacina que consegue controlar a pandemia atrav�s deste efeito esperado, que � a diminui��o da intensidade da doen�a cl�nica", complementou.
Depois de receber o pedido para uso emergencial no Brasil da Coronavac, protocolado pelo Butantan junto � Anvisa na �ltima sexta-feira (08/01), a ag�ncia cobrou do instituto dados mais detalhados para prosseguir com a avalia��o. Nesta segunda-feira (11/01), em coletiva, houve contradi��o quanto ao envio de dados. O Butantan veiculou que 48% do processo foi finalizado e que a Anvisa analisou 40% dos documentos enviados.
O instituto solicitou 6 milh�es de doses importadas da China, e pretende acertar outro pedido para doses envasadas em S�o Paulo.

