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Insetos: o alimento supernutritivo desprezado pelo mundo ocidental

Os insetos, consumidos em grande parte do mundo, podem ajudar a resolver dois grandes problemas ao mesmo tempo: a inseguran�a alimentar e a crise clim�tica.


14/06/2021 19:59 - atualizado 15/06/2021 09:48


A criação de insetos é muito mais eficiente do que a pecuária, exigindo menos terra e tempo para produzir a mesma quantidade de alimento
A cria��o de insetos � muito mais eficiente do que a pecu�ria, exigindo menos terra e tempo para produzir a mesma quantidade de alimento (foto: Getty Images)

A ideia de morder um hamb�rguer feito de grilo mo�do ou misturar larvas no arroz pode demorar um pouco para ser digerida.

Mas mesmo que o simples pensamento de comer insetos revire seu est�mago agora, eles podem — e alguns pesquisadores dizem que devem — constituir uma  parte importante de nossa alimenta��o .

Embora o Ocidente possa ser excepcionalmente melindroso em rela��o aos insetos, eles s�o consumidos h� milhares de anos. Em muitas partes do mundo, � uma pr�tica comum.

Cerca de 2 mil esp�cies de insetos s�o consumidas em pa�ses da �sia, Am�rica do Sul e �frica. Na Tail�ndia, bandejas de gafanhotos fritos s�o vendidas nos mercados, e, no Jap�o, as larvas de vespa — comidas vivas — s�o uma iguaria.

Ainda assim, na Europa, apenas 10% das pessoas estariam dispostas a substituir a carne por insetos, de acordo com uma pesquisa da Organiza��o Europeia de Consumidores.

Para alguns, essa relut�ncia � uma oportunidade perdida. "Os insetos s�o uma pe�a realmente importante que faltava no sistema alimentar", diz Virginia Emery, presidente da Beta Hatch, uma startup americana que cria ra��o animal a partir de larvas. "S�o definitivamente um  superalimento. Um monte de nutrientes em um pacote bem pequeno ."

Por causa disso, o cultivo de insetos pode ajudar a resolver dois dos maiores problemas do mundo ao mesmo tempo: a inseguran�a alimentar e a crise clim�tica.

A agricultura � o maior causador da perda de biodiversidade global e um dos principais respons�veis pelas emiss�es de gases de efeito estufa.

A cria��o de gado responde por 14,5% das emiss�es globais de gases de efeito estufa, de acordo com a Organiza��o das Na��es Unidas para a Alimenta��o e Agricultura (FAO, na sigla em ingl�s).


Nas instalações de sua empresa, Virginia Emery cria milhares de larvas para serem usadas na alimentação de animais
Nas instala��es de sua empresa, Virginia Emery cria milhares de larvas para serem usadas na alimenta��o de animais (foto: BBC)

"Estamos no meio de uma extin��o em massa da biodiversidade, estamos no meio de uma crise clim�tica, mas de alguma forma precisamos ao mesmo tempo alimentar uma popula��o crescente", diz a entomologista Sarah Beynon, que desenvolve alimentos � base de insetos na Bug Farm em Pembrokeshire, no Pa�s de Gales.

"Temos que fazer uma mudan�a e temos que fazer uma grande mudan�a."

O cultivo de insetos utiliza uma fra��o da terra, energia e �gua necess�rias para a agricultura tradicional e tem uma pegada de carbono significativamente menor.

Os grilos produzem at� 80% menos metano do que as vacas e de 8 a 12 vezes menos am�nia do que os porcos, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda.

O metano � um g�s de efeito estufa altamente potente que, embora tenha vida curta na atmosfera, tem um impacto no aquecimento global 84 vezes maior do que o CO² em um per�odo de 20 anos.

J� a am�nia � um g�s pungente e poluente atmosf�rico que causa acidifica��o do solo, afeta as �guas subterr�neas e provoca danos ao ecossistema.

O cultivo de insetos em todo o mundo liberaria vastas extens�es de terra que atualmente s�o usadas para a cria��o de animais e tamb�m para a produ��o de ra��o para o gado.

Substituir metade da carne consumida em todo o mundo por larvas e grilos tem o potencial de reduzir o uso de terras agr�colas em um ter�o, liberando 1.680 milh�es de hectares de terra, o equivalente a cerca de 70 vezes a �rea do Reino Unido.

Isso poderia reduzir as emiss�es globais, de acordo com um estudo da Universidade de Edimburgo, na Esc�cia.


Em muitas partes do mundo, comer insetos é um hábito comum
Em muitas partes do mundo, comer insetos � um h�bito comum (foto: Getty Images)

"Olhando para a produ��o de prote�na por �rea, a cria��o de insetos usa cerca de um oitavo da terra em compara��o com a carne bovina", diz Peter Alexander, principal autor do estudo e pesquisador s�nior em seguran�a alimentar da Universidade de Edimburgo.

Apesar dessas descobertas, Alexander diz que comer um hamb�rguer de feij�o � a op��o mais sustent�vel, j� que menos energia � usada para cultivar plantas do que para criar insetos.

No entanto, Tilly Collins, professora do Centro de Pol�tica Ambiental da universidade Imperial College London, no Reino Unido, argumenta que os insetos s�o capazes de satisfazer algumas necessidades que os alimentos de origem vegetal n�o conseguem.

"As dietas � base de plantas geralmente v�m com uma quilometragem substancial de carbono. Muitas das plantas que as pessoas querem comer t�m consequ�ncias ambientais desastrosas", diz ela.

"� prefer�vel cultivar insetos de maneira eficiente."

Collins afirma que os insetos podem ser uma fonte especialmente importante de nutrientes em pa�ses em desenvolvimento.

"Temos uma alimenta��o muito boa no Reino Unido. Raramente nos falta nutrientes. Mas, na �frica, n�o � esse o caso", adverte ela, observando que muitos pa�ses africanos est�o aumentando rapidamente a produ��o de insetos para alimentar tanto humanos quanto animais.

Em muitos aspectos, a cria��o de insetos � um exemplo de efici�ncia transformada em arte.

Em primeiro lugar, h� a velocidade com que os insetos crescem, atingindo a maturidade em dias, em vez de meses ou anos, no caso do gado, e s�o capazes de produzir milhares de descendentes.

Depois, h� o fato de que os insetos s�o de 12 a 25 vezes mais eficientes ao converter seus alimentos em prote�nas do que os animais, diz Beynon.

Os grilos precisam de seis vezes menos alimento do que o gado, quatro vezes menos do que as ovelhas e duas vezes menos do que os porcos, de acordo com a FAO.

Uma das principais raz�es por tr�s dessa efici�ncia � que os insetos t�m sangue frio e, portanto, desperdi�am menos energia mantendo o calor do corpo, diz Alexander, embora algumas esp�cies precisem ser criadas em um ambiente quente.


Outros alimentos que tiveram problema de imagem, incluindo a lagosta, superaram o desdém popular e entraram na moda
Outros alimentos que tiveram problema de imagem, incluindo a lagosta, superaram o desd�m popular e entraram na moda (foto: Getty Images)

A cria��o de insetos tamb�m produz muito menos res�duos. "No caso dos animais, grande parte da carne � desperdi�ada. No caso dos insetos, comer�amos tudo", diz Alexander.

E os insetos podem viver de alimentos e biomassa que, de outra forma, seriam jogados fora, acrescenta Collins, contribuindo para a economia circular, na qual os recursos s�o reciclados e reutilizados.

Os insetos podem ser alimentados com res�duos agr�colas, como caules e talos de plantas que as pessoas n�o comem, ou restos de comida.

Para completar a cadeia de reciclagem, seus excrementos podem ser usados %u200B%u200Bcomo fertilizantes nas lavouras.

Apesar das fortes credenciais de sustentabilidade e do  valor nutricional associado ao consumo de insetos , ainda h� um longo caminho pela frente at� que eles tenham um grande destaque na alimenta��o ocidental.

"Associamos os insetos a tudo, menos � comida", diz Giovanni Sagari, pesquisador do consumo de alimentos. "Quero dizer, com sujeira, perigo, com algo nojento, com algo que nos faz sentir mal."

Mas essa atitude est� come�ando a mudar. Em 2027, o mercado de insetos comest�veis dever� atingir US$ 4,63 bilh�es (R$ 23,3 bilh�es), e as empresas europeias est�o investindo em insetos comest�veis ap�s a aprova��o da Autoridade Europeia para a Seguran�a dos Alimentos.

"A percep��o das pessoas sobre a comida muda, mas lentamente", afirma Alexander.

Ele cita o exemplo da lagosta, que por muitos anos foi considerada um alimento altamente indesej�vel e muitas vezes servido em pris�es antes de se tornar uma iguaria de luxo.

"Era t�o abundante que havia uma lei proibindo as pessoas de alimentar prisioneiros com lagosta mais de duas vezes por semana."

Sagari afirma que a melhor proposta comercial � moer os insetos at� transforma-los em p� e inclu�-los em alimentos processados, em vez de servi-los inteiros como aperitivo.

O chef Andy Holcroft, que comanda o primeiro restaurante de insetos comest�veis do Reino Unido na Bug Farm, concorda com essa avalia��o.

"Em vez de espalhar insetos inteiros em uma salada, acho que, se quisermos que seja aceito na cultura alimentar tradicional, a melhor maneira � incorpora-los como uma porcentagem do produto como um todo", diz Holcroft.

"Afinal, voc� pode ter o produto mais saud�vel, nutritivo e sustent�vel, mas a menos que tenha um sabor agrad�vel e as pessoas estejam dispostas a aceita-lo, pode ser muito mais dif�cil conseguir isso."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future .

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