
Os impactos sobre as emo��es nem sempre s�o percebidos de forma consciente. A arquiteta Juliana Maioli cita como exemplo o fato de “nos sentirmos inseguros ao andar por ru�nas ou nos emocionarmos ao visitar igrejas barrocas, ou o Coliseu, ou ainda a sensa��o de aconchego e tranquilidade de certos lugares”.
A arquiteta conta que, de certa forma, a boa arquitetura sempre buscou desenvolver projetos com qualidade de espa�os, aliando-se forma e fun��o com experi�ncias agrad�veis aos usu�rios. “Mas, por meio dos estudos t�cnicos da neuroci�ncia, � poss�vel medir e parametrizar os impactos no c�rebro e as respostas humanas aos ambientes constru�dos.
Assim, esses dados e conceitos passaram a ser difundidos nas escolas de arquitetura para que, conscientemente, os arquitetos tenham atitudes de projeto que afetam os comportamentos, emo��es e tomadas de decis�o na camada inconsciente da rela��o c�rebro/espa�o.”
BEM-ESTAR De acordo com Juliana Maioli, n�o existem regras na cria��o de projetos sustentados pela neuroarquitetura. Existem conceitos que podem e devem ser usados pelos arquitetos na concep��o de ambientes e lugares que incrementem a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. “� importante entender as necessidades das atividades a serem desenvolvidas no local quanto ao ru�do, ao p�-direito, o tipo e a quantidade de luz necess�ria, as cores, o leiaute, a ergonomia, o projeto de mobili�rio, e claro, a aplica��o dos conceitos de biofilia, que significa, de forma bem simples, trazer a natureza para perto de si”, comenta.

“Por exemplo, um ambiente que exige concentra��o, como uma sala de cirurgia, deve ter luz mais fria e forte, ass�ptico e sem elementos que causem distra��es. J� em um ambiente de relaxamento, as luzes s�o mais quentes, amareladas. E em escolas infantis, o mobili�rio arredondado d� maior sensa��o de seguran�a. H� tamb�m que se dosar os est�mulos aos cinco sentidos b�sicos: tato, olfato, vis�o, audi��o e paladar, buscando o equil�brio. E podemos traduzir como conforto t�rmico, ac�stico e lum�nico, olfativo, jardins sensoriais e ambientes que tragam boas mem�rias.”
O bacana � que � poss�vel aplicar o conceito da neuroarquitetura mesmo em um projeto j� conclu�do: “Sim, � poss�vel, mas primeiramente identificando as dificuldades, restri��es e potencialidades do ambiente, das atividades desenvolvidas nele e tamb�m quanto tempo se passa no local. As mudan�as podem passar por troca da ilumina��o por uma mais adequada, podendo at� mesmo ser necess�ria a redu��o da quantidade de luz natural, no caso de ofuscamento e excesso de claridade.
A arquitetura destaca situa��es como ambientes muito quentes, em que o ideal � incluir brises ou outros dispositivos, ou ainda vegeta��o que proteja a incid�ncia da luz solar em excesso, promovendo aberturas e eliminando obst�culos para ventila��o cruzada.
DORES DE CABE�A Os cheiros que marcam a identidade do local podem trazer tamb�m boas mem�rias e conforto, mas tamb�m podem causar dores de cabe�a e enjoo. “O mesmo vale para a quantidade de ru�do local, que pode gerar irrita��o, estresse ou calma e concentra��o. Trazer vegeta��o, madeiras e �gua para os ambientes.” Enfim, a arquiteta avisa que cada caso � espec�fico e deve ser tratado com suas especificidades, diante das in�meras possibilidades.
Poder de direcionar comportamentos
J� a arquiteta Cl�udia Roxo, da comunidade Archademy, destaca que a arquitetura tem o poder de comunicar e direcionar comportamentos. “Podemos pensar nas catedrais cat�licas, que, por meio de sua arquitetura, criaram uma atmosfera sagrada, motivando seus frequentadores”, ressalta.
“Hoje, a neuroarquitetura traz evid�ncias concretas e mensur�veis de que a qualidade do ambiente interfere de forma dr�stica nas nossas vidas, mesmo quando n�o percebemos de forma consciente. Um ambiente bem elaborado, focado nos habitantes, n�o modifica apenas um comportamento, mas a estrutura do c�rebro, produzindo mudan�as comportamentais.”
Cl�udia Roxo explica que a neuroarquitetura busca estudar como o c�rebro reage a determinado est�mulo que um ambiente pode causar. “S�o estudos bem dif�ceis de serem realizados, pois a aplica��o desse conceito varia de pessoa para pessoa. O primeiro passo � estudar quest�es de neuroci�ncia e entender como o c�rebro funciona, como as emo��es s�o geradas.
Segundo a especialista, na neuroarquitetura n�o existem receitas de bolo. “Somos indiv�duos diferentes e a forma como vamos reagir a determinado est�mulo pode variar de acordo com as mem�rias pessoais, culturais e primitivas. Por isso, � importante um olhar atento para entender sobre quem � o usu�rio e buscar elementos que tragam conex�o e significado para ele.”
RELA��O COM O FENG SHUI? Para Cl�udia Roxo, a semelhan�a entre o feng shui e a neuroarquitetura � que os dois defendem o fato de que � preciso viver em ambientes saud�veis e harm�nicos, considerando que a aus�ncia dessas caracter�sticas interfere de forma negativa na sa�de, mas s�o coisas distintas.
“O feng shui � uma das cinco artes da metaf�sica chinesa, um conhecimento milenar. Estudos do feng shui trabalham com quest�es energ�ticas dos espa�os, ent�o em parte acho que eles t�m uma rela��o mais pr�xima com os estudos da geof�sica, que � uma �rea que lida com campos eletromagn�ticos e como eles interferem na nossa qualidade de vida. J� a neuroarquitetura tem como ponto de partida o ser humano, o funcionamento do c�rebro e como quest�es espaciais v�o gerar est�mulos positivos ou negativos.”
Quatro formas de aplicar a neuroarquitetura
De acordo com Danilo Duarte, CEO da Conecta Reforma, a procura por projetos arquitet�nicos para im�veis residenciais com aplica��o da neuroci�ncia se popularizou durante o isolamento provocado pela pandemia. “Depois do mercado corporativo, foi a vez de as pessoas entenderem a necessidade de um espa�o funcional que transmita conforto corporal e mental. H� impacto inclusive � noite, durante nosso sono.” Ele explica que essa sensa��o de conforto pode ser proporcionada por pr�ticas simples, como um p�-direito alto ou uma mudan�a na posi��o de um m�vel. “� um olhar mais humanizado que coloca como prioridade identificar quais s�o os elementos arquitet�nicos ou de decora��o que podem promover bem-estar para os moradores ou frequentadores de um determinado ambiente.”
1 – Natureza
A utiliza��o de plantas no espa�o interno � um dos maiores destaques da neuroarquitetura. A aproxima��o com a natureza proporciona uma grande sensa��o de bem-estar e relaxamento. Nesse sentido, os projetos utilizam estrat�gias como vasos suspensos e jardins verticais.
2 – Sil�ncio
Os ambientes com alto �ndice de decib�is causam irrita��o, alterando o humor dos moradores, e,
por isso, investir na qualidade ac�stica vai proporcionar um grande conforto e melhorar o foco. Esse aspecto � importante para os momentos de descanso e para a hora de dormir.
3 – Ilumina��o
Acompanhando este movimento, que une efici�ncia construtiva, design e bem-estar, o mercado tem projetado solu��es cada vez mais eficientes economicamente e ben�ficas para a sa�de. Em rela��o � luz para dormir, hoje sabe-se que ela � classificada como uma das principais influ�ncias na supress�o de melatonina, o horm�nio do sono. Logo, pensar em op��es que contribuam com o relaxamento � essencial.
4 – Cores
A neuroarquitetura, a exemplo do neuromarketing, tamb�m usa estrategicamente a psicologia das cores a seu favor, criando cen�rios capazes de intensificar emo��es nas pessoas. N�o se trata de est�tica ou gosto pessoal, mas de como o c�rebro � afetado pelas cores ao redor. Assim, uma parede areia ou verde ativa mais mem�rias relacionadas � natureza do que uma branca ou vermelha, por exemplo.