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Estado de Minas CI�NCIA

Como nosso c�rebro pode nos deixar mais pobres - e o que fazer para evitar

Estudos t�m mostrado que tomamos decis�es irracionais que prejudicam nossa sa�de financeira com frequ�ncia. Entenda quais s�o os erros mais comuns e como evitar essas 'armadilhas' mentais.


03/10/2021 15:27 - atualizado 04/10/2021 09:55


Ilustração mostrando interior de uma cabeça com cifrão
Estudos t�m mostrado que tomamos decis�es irracionais que prejudicam nossa sa�de financeira com frequ�ncia (foto: Getty Images)

Voc� est� navegando em uma loja online e fica tentado a comprar um produto.

� um pouco mais caro do que a sua conta banc�ria permite, mas se torna a coisa mais urgente do mundo naquele momento. E se o pre�o aumentar e voc� perder a oportunidade? E se esgotar?

Tomado pelo impulso, voc� faz as contas de cabe�a e decide comprar. N�o precisa nem colocar o n�mero de cart�o, que j� est� salvo no navegador.

Dias depois, vem o arrependimento. Ou pior, o endividamento.

Nos �ltimos anos, estudos nas �reas de economia comportamental e neuroeconomia t�m mostrado que essas situa��es - em que tomamos decis�es irracionais que prejudicam nossa sa�de financeira - acontecem com frequ�ncia.

Mas quais s�o os nossos erros econ�micos mais comuns? E como n�o cair nas "armadilhas" do nosso c�rebro?

Uma boa maneira � entender o que essas �reas de estudo t�m descoberto e aplicar os ensinamentos no nosso dia a dia.

Voc� � racional?

Mulher diante de ilustração de lâmpadas
N�o fa�a nada por impulso sem antes avaliar se a culpa n�o vai estragar a festa, aconselha neurocientista (foto: Getty Images)

"A economia tradicional olhou por muito tempo para o indiv�duo como algu�m racional, frio e objetivo e que vai querer maximizar o seu bem-estar, seu lucro, seu ganho financeiro e interesse pr�prio", afirma a professora Renata Taveiros, coordenadora do Curso de extens�o em neuroci�ncia e neuroeconomia na FIA.

As tomadas de decis�o inconsistentes, que fogem da racionalidade, eram consideradas anomalias. Ou seja, n�o viravam objeto de estudos.

Mas no final dos anos 70, um grupo de pesquisadores revolucionou a economia ao olhar justamente para essas anomalias.

Surgia o campo da economia comportamental, cujo maior nome � o psic�logo - isso mesmo, um psic�logo - Daniel Kahneman, vencedor do pr�mio Nobel em 2002.

"Eles abrem esse espa�o de conversa para que a gente possa perceber que tem outras coisas que influenciam a tomada de decis�o, e n�o s� a ideia de maximiza��o da utilidade, do bem-estar e do lucro. Que coisas s�o essas? As emo��es", explica Renata.

No final dos anos 1980, outro campo de estudos vai ainda mais fundo.

Unindo as descobertas da economia comportamental e as t�cnicas da neuroci�ncia, a neuroeconomia tenta desvendar o que acontece no c�rebro dos indiv�duos na hora que ele decide fazer uma compra desnecess�ria, por exemplo.

"Agora a gente tem a possibilidade de abrir a caixa preta, que � como os economistas se referiam � mente das pessoas. Voc� consegue de fato olhar e entender o que vai acontecendo no processamento cerebral na hora que o indiv�duo vai tomar uma decis�o", diz Renata.

"Quando voc� estuda neuroeconomia, cai por terra a ideia de que podemos controlar o comportamento, a tomada de decis�o, tudo o que fazemos. Porque o motivador da tomada de decis�o n�o � o aspecto racional, cortical, l�gico e anal�tico. Ele est� muito mais ligado � emocionalidade."

Aprenda a dizer 'n�o' a si pr�prio

Antes de tudo, � bom deixar claro que os afetos e emo��es n�o s�o necessariamente ruins. Pelo contr�rio, s�o de suma import�ncia para nossa sobreviv�ncia.

"A sele��o natural nos trouxe a combina��o do afeto com a raz�o. E n�o foi � toa. Isso maximiza nosso acoplamento com o mundo. Quando a gente tira emo��o, a gente tira empatia pelo outro. Nossas decis�es se tornam mais ego�stas, e a sociedade como um todo desfalece", diz o neurocientista �lvaro Machado Dias, professor da Unifesp e s�cio do Instituto Locomotiva.

Mas � fato que emo��es tamb�m podem nos levar a cometer erros graves, que levam ao sentimento de culpa e ao endividamento.

� nesse sentido que os ensinamentos economia comportamental e a neuroeconomia podem nos ser �teis: tornar nossa irracionalidade previs�vel e evitar decis�es ruins.

A primeira dica parece simples, mas na pr�tica � bem dif�cil. Voc� deve aprender a dizer n�o para si mesmo.

"N�o fa�a nada por impulso sem antes avaliar se a culpa n�o vai estragar a festa. Entenda melhor seu 'eu futuro', com suas agendas e cobran�as. Dizer n�o para si � como dizer n�o para um filho: � dif�cil, mas pode ser engrandecedor", aconselha �lvaro.

Segundo Renata Taveiros Saboia, um dos motivos que tornam t�o dif�cil essa nega��o dos pr�prios impulsos � a facilidade cada vez maior de fazer pagamentos. QR Codes, Pix, cart�es de cr�dito que ficam salvos em sites de compras s�o alguns exemplos.


Ilustração mostrando cifrão se desfazendo
Com as decis�es financeiras ruins, vem o endividamento (foto: Getty Images)

Al�m disso, o neurotransmissor chamado dopamina, que ativa o chamado "sistema de recompensa" do c�rebro, tamb�m pode atrapalhar.

"Quando a dopamina est� trabalhando, ela estimula o comportamento impulsivo. Como funciona? Voc� tem l� uma expectativa de ganhar algo. Pode ser dinheiro, bem-estar, prazer, uma imagem bacana diante dos outros, etc. E esse comportamento impulsivo te faz querer imediatamente aquela recompensa", explica.

Um exemplo de como esse sistema de recompensa � explorado atualmente � a gamifica��o do consumo. Ou seja, a transforma��o do ato de comprar em um jogo.

Aplicativos de supermercados e lojas online prometem recompensas (descontos, produtos gr�tis, etc.) ao se atingir um determinado n�mero de pontos, por exemplo.

No Brasil, esse tipo de decis�o ruim pode ser identificada nos nossos altos n�veis de endividamento, diz Renata.

Um estudo da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC), de agosto de 2021, aponta que um em cada quatro brasileiros (25,6%) n�o conseguia quitar as d�vidas no prazo naquele m�s.

"A gente tem problemas muito s�rios no Brasil, e todo esse est�mulo para consumo que estimula o comportamento impulsivo piora ainda mais essas condi��es", diz a neuroeconomista.

Por isso, uma dica de ouro para evitar esse tipo de decis�o impulsiva � sempre "dar uma volta a mais".

"Eu costumo colocar um adesivo no cart�o de cr�dito dos clientes dizendo 'd� mais uma volta, espere mais um pouco, respire'. Quando a pessoa vai fazer outra coisa e volta, a dopamina baixa, j� que � uma subst�ncia qu�mica que tem efeito por um tempo determinado. Logo, a sensa��o de 'quero, quero' vai passar e ela chegar� � conclus�o que pode usar esse dinheiro para outra coisa. Mas tem que ser depois, na hora n�o d�", explica.

N�o fa�a contas de cabe�a

S� que essas decis�es ruins podem ser evitadas antes mesmo da compra. Renata Taveiros explica que quando voc� tem a exata no��o de como anda a sua vida financeira, � mais dif�cil ficar endividado.

"� muito importante a pessoa ter coragem e saber que vai ser muito bom se aproximar da vida financeira e olhar as contas. Muitos dizem que � dif�cil, mas depois que voc� faz isso, vem uma sensa��o de al�vio. Se voc� tiver medo de olhar, vai cair em todo tipo de armadilhas mentais.", diz ela.

Uma dessas armadilhas � a "contabilidade mental" - aquela mania de fazer contas de cabe�a, na maioria das vezes erradas, sobre a nossa situa��o financeira.


Ilustração mostrando cérebro formado por cédulas de dinheiro
N�o fa�a as contas de cabe�a, coloque seus gastos na ponta do l�pis (foto: Getty Images)

"A gente faz contas de caixinha. 'Eu ganho 100, ent�o eu posso gastar 50 no supermercado, 20 no barzinho, s� 10 no lanche, tamb�m posso ter uma parcela mensal de 15...'. Voc� compara 15 com 100, 10 com 100, mas n�o soma tudo. Depois, leva um susto e v� que est� no vermelho", alerta a neuroeconomista.

Ou seja, coloque seus gastos na ponta do l�pis. Some todos os seus ganhos e os seus custos de vida. S� assim voc� ter� a real no��o de quanto dinheiro pode gastar.

Cuide do seu 'eu futuro'

Uma das decis�es mais importantes que precisamos tomar, pensando no nosso futuro, � a de guardar dinheiro.

� claro que o contexto da economia brasileira - com desemprego, informalidade e infla��o em alta - torna isso proibitivo para muita gente.

Mas por que � t�o dif�cil fazer isso mesmo quando h� condi��es?

Um efeito conhecido como "desconto intertemporal" na economia comportamental pode explicar:

"Imagina que voc� pega um bin�culo e vira ao contr�rio. O que acontece? O que t� l� longe fica pequenino. E o que est� perto ganha um valor, um tamanho gigante", explica Renata Taveiros.

"A gente quer a recompensa imediata, agora, j�, porque ela aparenta ser muito maior do que uma recompensa que � muito misteriosa, que voc� n�o sabe o que vai acontecer, l� no futuro."

Estudos neuroecon�micos mostram que algumas �reas do c�rebro acionadas quando voc� pensa em guardar dinheiro para o seu futuro s�o as mesmas de quando voc� pensa em dar dinheiro para um estranho.

O que pode significar que, para o nosso c�rebro, guardar dinheiro para o Eu futuro e dar a mesma quantia para outra pessoa � quase a mesma coisa.

Segundo Renata Taveiros de Saboia, uma solu��o pode ser criar um "nudge", ou seja, um empurr�ozinho para que voc� pense com mais carinho no seu futuro.

"Uma ideia que eu costumo aplicar � usar um desses aplicativos que te deixam mais velho em uma foto. Isso te faz se conectar com aquela imagem. A� voc� deve fazer o exerc�cio de pensar o que quer para a vida daquela outra pessoa. Assim, vai criar um circuito neural que conecta o seu eu do futuro com o seu eu de hoje", diz ela.

Aprenda tamb�m a dizer 'sim' a si pr�prio

Mas o neurocientista �lvaro Machado Dias faz um alerta. Ainda que seja importante guardar dinheiro, � necess�rio tamb�m saber se permitir.

"N�o assuma que se permitir � sempre ruim e nem caia na fal�cia de que devemos adiar continuamente o prazer para um dia poder usufruir do mesmo em intensidades maiores. Hoje, o que vemos � um mar de gente sem tes�o de viver. Saia deste mar", diz ele.

De acordo com �lvaro, nem todas as decis�es que tomamos na vida, sejam elas econ�micas ou n�o, podem ser realizadas de maneira puramente racional - e nem � desej�vel que isso aconte�a.

"�s vezes a gente � tomado por componentes emocionais, e de fato isso pode gerar desfechos ruins, inclusive arrependimento", diz ele.

"Mas a entrada em jogo desses componentes que n�o s�o formalistas, l�gicos, � o que no final das contas torna as nossas decis�es melhores para o grupo, esp�cie e cultura como um tudo", completa.

Por isso, a dica � saber alocar melhor as suas energias e preocupa��es:

"N�o d� tempo - nem faz qualquer sentido - tentar otimizar todas as decis�es. Escolha as suas batalhas. Foque nas escolhas que mais importam; s�o elas que, ao fim e ao cabo, definir�o quem voc� �".

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