(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DIVERSIDADE

Se h� padr�es de beleza universais, por que evolu��o n�o fez todos bonitos?

Talvez a originalidade desempenhe um papel importante na atra��o, mostrando que h� vantagens em ser diferente


09/10/2021 10:56 - atualizado 10/10/2021 13:02


Uma modelo na Melbourne Fashion Week, na Austrália, em setembro de 2018
A originalidade e peculiaridade podem ser fatores de atra��o (foto: Getty Images)

Recostada na espregui�adeira, com um leque de penas de pav�o na m�o, a modelo lan�a um olhar por cima do ombro para o artista. � o in�cio do s�culo 19, e Jean Auguste Dominique Ingres est� pintando La Grande Odalisque , pintura a �leo de uma camareira turca nua.

O pintor capturou seu charme, mas algo n�o parece certo. Quando apresentada ao p�blico, a obra foi duramente criticada: a mulher tem as costas estranhamente longas, e seu corpo aponta em dire��es opostas.

Uma an�lise realizada em 2004 por m�dicos franceses, incluindo um especialista em dor vertebral, sugere que n�o apenas seria imposs�vel para a modelo contorcer o corpo dessa forma, como ela precisaria de cinco v�rtebras lombares extras para que suas costas parecessem t�o longas quanto no quadro.

A arte rom�ntica dessa �poca est� repleta de mulheres nuas, de costas para o observador, com cinturas min�sculas e quadris largos.

Um corpo em forma de ampulheta era considerado o �pice da beleza.

Se Ingres teve a inten��o de distorcer tanto as propor��es da modelo � tema de debate — embora ningu�m pudesse jamais posar assim.

Talvez ele quisesse exagerar suas costas esguias, cintura estreita e quadris mais largos para adicionar um pouco mais de sensualidade — e acabou errando a m�o.

Diferen�as sutis em nossa apar�ncia podem fazer uma grande diferen�a. Ligeiras mudan�as no vestu�rio fazem as mulheres parecerem mais confi�veis, competentes ou atraentes.

A psic�loga Miriam Liss, da Universidade Mary Washington, nos EUA, e seus colegas descobriram que, para parecer honesta e competente em um ambiente profissional ou at� mesmo eleg�vel a um cargo pol�tico, a mulher precisa se vestir de maneira conservadora — e n�o sexy.

Mas por que certas caracter�sticas, como o chamado "corpo ampulheta", parecem ser universalmente preferidas? Ser� que comunicam algo sobre nossa qualidade reprodutiva?

Se for assim, por que existe tanta diversidade na apar�ncia humana?

A silhueta em forma de ampulheta, argumentaram alguns bi�logos evolucionistas, � atraente para os homens porque est� ligada � qualidade reprodutiva da mulher.

Eles sugeriram que mulheres com n�veis de estrog�nio mais elevados e, portanto, mais f�rteis, tinham quadris largos e cintura fina.

Se sua maior fertilidade pudesse ser transmitida por meio dos genes, talvez um "corpo ampulheta" fosse um bom indicador de sucesso reprodutivo.


'La Grande Odalisque', de Jean Auguste Dominique Ingres
O pintor de 'La Grande Odalisque' pode ter exagerado nas propor��es de sua modelo para torn�-la mais atraente (foto: Getty Images)

"N�s pensamos em um dado momento que v�rias [das caracter�sticas consideradas tradicionalmente atraentes nas mulheres, como uma silhueta de ampulheta, rosto feminino e pele boa], estavam ligadas aos horm�nios sexuais, mas agora percebemos que temos poucas evid�ncias de que seja esse o caso", diz Jeanne Bovet, bi�loga evolucionista da Universidade de Northumbria, no Reino Unido.

Bovet usou obras de arte ao longo da hist�ria como um guia para estudar o corpo feminino idealizado.

Ela descobriu que, do ano 500 a.C. ao s�culo 15, a rela��o cintura-quadril das mulheres girava em grande parte em torno de 0,75 (o que significa que a cintura mede 75% da largura dos quadris) .

A partir do s�culo 15, as representa��es das mulheres na arte foram mudando — e as cinturas foram ficando mais finas, at� chegar a medir cerca de dois ter�os da largura dos quadris na �poca em que Ingres pintou sua obra.

No s�culo 20, parece que as prefer�ncias podem ter se invertido, embora Bovet tenha usado modelos da Playboy e vencedoras de concurso de beleza de "Miss" para completar a base de dados, o que n�o � uma compara��o perfeita.

Ent�o, a figura da ampulheta � atraente para os homens, mas parece que n�o est� ligada a nenhuma heran�a gen�tica que pudesse ser ben�fica, como demonstrar que as mulheres t�m n�veis de horm�nios evolutivamente �teis.

Bovet diz que essa prefer�ncia surgiu simplesmente porque quadris mais largos e cintura fina comunicam que a mulher est� em idade reprodutiva, mas n�o � velha, e que deu � luz menos vezes.

"Uma coisa que parece realmente valer � que as caracter�sticas atraentes nas mulheres costumam ser ind�cios da idade e tamb�m da paridade [o n�mero de vezes que ela deu � luz]

"Est�o intimamente relacionadas � atratividade."

Se esses "atrativos" nem sempre est�o ligadas aos genes das mulheres, ent�o as press�es sexualmente seletivas podem n�o se aplicar, o que significa que n�o haveria raz�o para o "corpo ampulheta" se tornar o tipo mais comum. � por isso que n�o somos todos iguais?


Mulher de costas em janela
O ideal da rela��o cintura-quadril mudou ao longo dos s�culos (foto: Getty Images)

Barnaby Dixson, psic�logo da Universidade de Queensland, na Austr�lia, e seus colegas pediram a homens e mulheres heterossexuais que avaliassem formas corporais do sexo oposto geradas por computador para ver se era poss�vel criar um corpo "ideal" por meio da sele��o.

Cada corpo diferia ligeiramente em 24 �reas, como comprimento da coxa, altura, largura dos ombros, rela��o cintura-quadril, tamanho dos seios e assim por diante.

As formas corporais mais bem avaliadas foram agrupadas em casais do mesmo sexo e cruzadas para criar dois filhos, cada um contendo uma mistura aleat�ria das caracter�sticas de suas m�es ou pais. Isso prosseguiu gera��o ap�s gera��o para ver quais caracter�sticas eram preferidas ou rejeitadas.

Para os homens, a massa corporal foi prioridade, com mulheres menores sendo selecionadas. Demorou muito, no entanto, para que caracter�sticas que normalmente consideramos relevantes, como o tamanho dos seios, tivessem alguma import�ncia. Da mesma forma, a rela��o cintura-quadril s� veio receber aten��o mais tarde.

Os avatares femininos da �ltima gera��o selecionada pelos homens ainda eram bastante diversos — com cada participante do estudo manifestando uma prefer�ncia ligeiramente diferente.

No caso das mulheres, no entanto, pareceu haver mais consist�ncia. Elas preferiam o formato do corpo de um "nadador" — alto, com ombros largos e atl�tico.

Portanto, embora haja tend�ncias gerais que s�o consistentes para a maioria das pessoas, o quanto cada uma � importante varia de indiv�duo para indiv�duo, diz Dixson.

Quando se trata de qualidades atraentes que est�o sob nosso controle, como estilo de roupa e cabelo, grupos est�veis %u200B%u200Bde anticonformistas podem existir em popula��es de conformistas.

Imagine uma fam�lia crescendo em uma cidade onde dois times de futebol rivais jogam: Time A e Time B. Na fam�lia, h� torcedores de ambos.

Uma crian�a que nasce nesta fam�lia pode escolher para qual time torcer (vamos ignorar por um segundo a op��o de n�o torcer ou odiar futebol). Uma op��o seria optar pelo mais popular, em conformidade, desapontando o menor n�mero de membros da fam�lia. Ou ela pode decidir ser anticonformista.


Homem com rosto tatuado e cabelo punk colorido
O n�o-conformista pode viver dentro de um grupo conformista e se tornar atraente (foto: Getty Images)

"Os indiv�duos pegam uma amostragem de uma s�rie de exemplos a seguir da gera��o anterior, contam o n�mero de As e Bs em sua amostra e, em seguida, adotam A ou B dependendo dessas contagens e do seu grau de conformidade ou inconformidade", diz Kaleda Krebs Denton, estudante de doutorado em biologia na Universidade de Stanford, nos EUA.

Se uma crian�a tem dois torcedores de A e um torcedor de B na fam�lia, e for conformista, muito provavelmente vai torcer pelo A. Se for inconformista, pode torcer pelo B.

Agora imagine que A e B representam algo que pode oferecer uma vantagem de sobreviv�ncia — a popula��o inteira seria conformista? N�o necessariamente.

Denton e seus colegas usaram modelos de computa��o para ver como fatores complicadores como a migra��o e sele��o sexual afetam a propor��o de conformistas em rela��o a anticonformistas. Eles descobriram que as pessoas podiam mudar — sendo conformistas quando algo era razoavelmente popular, mas se tornando inconformistas quando algo se tornava popular demais.

H� situa��es em que ser anticonformista tem suas vantagens?

"Se estamos falando sobre vantagens biol�gicas, espera-se que o anticonformismo seja vantajoso quando a variante que produz o maior benef�cio de aptid�o f�sica � rara", diz Denton.

Talvez em um novo ambiente, ou em um ambiente que tenha mudado drasticamente, apenas um pequeno n�mero de indiv�duos ter� a melhor caracter�stica.

"A sele��o natural favorece a diversidade", explica o psic�logo. "Em sua ess�ncia, requer a capacidade de se ajustar e se adaptar a novos ambientes conforme eles s�o apresentados a voc�."

Veja o caso do peixe barrigudinho colorido macho. Suas nadadeiras longas e brilhantes atraem as f�meas, cada uma com sua pr�pria cor e prefer�ncia de padr�o particular. Sendo assim, n�o existe um Barrigudinho macho "ideal".

Tamb�m significa que ser "mediano" n�o � uma vantagem. � melhor ser um barrigudinho �nico e esperar ser o par ideal de algu�m. Em zoologia, isso � chamado de polimorfismo. O ineditismo oferece uma vantagem reprodutiva para esses peixinhos.


Peixe Barrigudinho
N�o existe nenhum Barrigudinho macho com barbatanas ideais (foto: Getty Images)

Em cen�rios em que a "novidade" n�o � favorecida sexualmente, em que, em vez disso, uma caracter�stica espec�fica � considerada ideal, h� oportunidades para os organismos explorarem esse vi�s fingindo.

Por exemplo, os caranguejos-violinistas machos t�m uma garra enorme com a qual se defendem de machos rivais. As f�meas s�o atra�das pelos machos com as garras maiores, pois s�o mais h�beis em combate.

Se um caranguejo-violinista macho perde sua garra em uma luta, ele � capaz de regenerar uma quase id�ntica. Esta nova garra tem o mesmo comprimento, mas uma massa menor — � uma arma menos eficaz que a original.

As f�meas escolhem seu parceiro apenas com base no comprimento, e n�o na massa, da garra do macho. Portanto, s�o incapazes de saber realmente quais s�o os melhores lutadores.

Se o macho perdeu sua garra, � prov�vel que haja combatentes melhores por a� — mas ela n�o saberia dizer.

O comprimento da garra � o principal atributo que importa para um caranguejo-violinista f�mea, ent�o � um pouco como os homens que procuram apenas uma certa rela��o cintura-quadril, ou mulheres que se concentram apenas na estatura.

Assim, alguns caranguejos-violinistas machos sorrateiros est�o manipulando essa aten��o focada das f�meas para disfar�ar o fato de que s�o perdedores. Quando h� tanta depend�ncia em uma pista para determinar a qualidade, se abre a possibilidade de agir de maneira desonesta. Onde a novidade � valorizada, � muito mais dif�cil ser desonesto, diz Dixson.


Caranguejo-violinista
O caranguejo-violinista macho pode enganar a f�mea regenerando uma garra grande, mas menos poderosa (foto: Getty Images)

Como a novidade � apreciada em humanos? Nos homens, sobrancelhas grossas, pelos faciais e mand�bulas quadradas s�o um exemplo de fen�tipo que sinaliza n�veis elevados de testosterona. Em um sentido evolutivo, � uma vantagem para as mulheres, como para os caranguejos-violinistas f�meas, acasalar com os homens mais fortes e capazes.

A recente popularidade da barba entre os homens tem sido usada para cunhar o termo "peak beard" ("pico da barba"), o que sugere que os pelos faciais podem estar com os dias contados. Ser� que o vi�s anticonformista est� por tr�s do "pico da barba"?

Um estudo de 2014 mostrou que, depois de ver muitos rostos de barba, as mulheres v�o achar os homens sem barba mais atraentes e vice-versa.

"Voc� obt�m esse efeito de ineditismo, como quem diz: 'Est�o me mostrado algo diferente, e � atraente'", explica Dixson.

"Se considerarmos as vantagens em termos culturais, ent�o o anticonformismo pode ser vantajoso em �reas como a m�sica, literatura, moda ou artes visuais", acrescenta Denton.

"Aqui, n�o � necess�rio que uma variante rara seja melhor de alguma forma; ao contr�rio, a singularidade em si pode ser intrinsecamente valorizada."

Isso foi observado na rotatividade de nomes populares de beb�s. Enquanto nossos ancestrais podem ter escolhido nomes comuns por sua universalidade, os nomes populares modernos de beb�s saem rapidamente de moda — como se a popularidade de um nome o tornasse impopular novamente.

Quando se trata de dar nomes aos nossos filhos, temos um vi�s anticonformista.

Pode ser cedo demais para dizer que atingimos o "pico da barba", ou talvez, como no caso da rela��o cintura-quadril, simplesmente haja algo atraente na barba que n�o podemos explicar em termos gen�ticos.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future .

*Este artigo faz parte da s�rie Laws of Attraction ("Leis da Atra��o", em tradu��o literal), coproduzida pela BBC Future e BBC Real. Assista � vers�o em v�deo aqui (em ingl�s), com texto de William Park, anima��o de Michal Bialozej e produ��o de Dan John.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube ? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)