
O pr�prio nome do Transtorno do Espectro Autista (TEA) mostra o qu�o variadas podem ser as carater�sticas e os graus de altera��o em algumas habilidades em pessoas assim diagnosticadas.
Acredita-se tamb�m que as causas do TEA sejam multifatoriais, envolvendo desde a gen�tica ao contexto social.
Por toda esta complexidade, qualquer pista sobre o autismo vindo da ci�ncia representa um passo que pode ajudar no diagn�stico e nos cuidados precoces de pessoas com autismo.
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No �ltimo dia 23, uma equipe da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, apresentou uma pesquisa in�dita no congresso anual da Sociedade de Radiologia da Am�rica do Norte (Radiological Society of North America) demonstrando altera��es significativas em uma parte do c�rebro fundamental para suas conex�es, o corpo caloso, em adolescentes e jovens adultos com esse diagn�stico.
O estudo analisou exames de resson�ncia magn�tica de 583 pessoas, cujas informa��es m�dicas fazem parte de um grande banco de dados para a pesquisa em autismo dos EUA, o National Database of Autism Research. Os autores defendem que uma das conquistas do estudo � considerar pessoas de diferentes faixas et�rias — de seis meses de idade a 50 anos —, enquanto muitas pesquisas sobre o autismo focam apenas nas crian�as.Embora os mais jovens tenham sido inclu�dos na an�lise, as altera��es no corpo caloso do c�rebro foram observadas conforme as idades aumentaram, a partir da adolesc�ncia. A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) trabalha com a estimativa de que, na m�dia mundial, cerca de uma em 160 crian�as t�m algum Transtorno do Espectro Autista (TEA).
"Uma vez que o TEA se torna aparente e � normalmente diagnosticado no in�cio da idade escolar, nossos resultados sugerem que altera��es comportamentais aparecem mais cedo do que mudan�as na subst�ncia branca do c�rebro", explicou por e-mail � BBC News Brasil a m�dica Clara Weber, pesquisadora na Universidade de Yale e l�der do estudo.
O corpo caloso � composto da subst�ncia branca — Weber esclarece que enquanto a subst�ncia cinzenta do c�rebro � como o computador, a branca � como os cabos. E o corpo caloso, particularmente, � respons�vel pela conex�o dos dois hemisf�rios cerebrais.
"N�o conseguimos detectar altera��es significativas nas crian�as mais novas, o que d� pistas de que mudan�as microestruturais (no c�rebro) come�am mais tarde", diz a pesquisadora.
Ela fala em uma microestrutura porque sua equipe analisou um mecanismo muito particular: o deslocamento de mol�culas de �gua dentro do corpo caloso, a chamada anisotropia fracionada. As resson�ncias magn�ticas mostraram que, em adolescentes e jovens adultos com TEA, este deslocamento era menor em compara��o com um grupo controle.
"Uma redu��o na anisotropia fracionada significa uma altera��o nas conex�es (cerebrais)", resume Clara Weber.
"Diferentes teorias sobre o TEA consideram que muitos fatores contribuem para a condi��o e t�m como hip�teses que tanto a pouca conectividade como a hiperconectividade das conex�es funcionais desempenham um papel."
"Nosso estudo basicamente adicionou outro aspecto a isso, confirmando que n�o s� as conex�es funcionais s�o alteradas, mas tamb�m a microestrutura do c�rebro."
Os resultados foram apresentados no congresso da Sociedade de Radiologia da Am�rica do Norte mas ainda n�o foram publicados em uma revista cient�fica com a chamada revis�o do pares — quando especialistas n�o envolvidos naquele trabalho analisam o conte�do de um artigo candidato a publica��o. Weber disse que ela e a equipe enviar�o o trabalho para publica��o em alguma revista cient�fica nas pr�ximas semanas.
Potencial para diagn�stico e tratamento

Weber diz esperar que sinais no c�rebro como os observados possam ajudar no diagn�stico precoce do TEA e no acompanhamento de tratamentos.
N�o envolvida na pesquisa, a neuropediatra brasileira Liubiana Arantes de Ara�jo analisou o trabalho apresentado no congresso e tamb�m apontou, � BBC News Brasil, o potencial que ele tem para contribuir com os cuidados de pessoas com autismo.
A m�dica explica que, hoje, o diagn�stico de TEA vem com a combina��o de v�rias an�lises, como o exame m�dico, a aplica��o de question�rios e, em alguns casos, exames de imagem (como a resson�ncia magn�tica e o eletroencefalograma).
"Cada vez mais, temos tamb�m estudos que ajudam a observar que altera��es gen�ticas t�m rela��o com o autismo. Se h� tamb�m exames de imagem mostrando que quanto mais altera��es no corpo caloso, maior o comprometimento, � muito interessante para o diagn�stico e para a reabilita��o" diz a neuropediatra, tamb�m presidente do Departamento Cient�fico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"Quanto mais forem descobertas altera��es que sejam evid�ncias do autismo, melhor."
A m�dica destaca, por�m, quem nem todas pessoas com TEA apresentar�o altera��es no c�rebro ou no corpo caloso — quando elas existem, costumam estar associados a quadros mais severos de TEA.
"Se voc� tem altera��o no corpo caloso, h� um quadro com sintomas mais evidentes do autismo, relacionados a habilidades cognitivas, de linguagem e de teoria da mente, que � a capacidade de se colocar no lugar do outro."
Ara�jo ressalva tamb�m que este n�o � o primeiro estudo a associar o TEA a altera��es no c�rebro, no corpo caloso e na difus�o da �gua, mas afirma que ele aprofunda o conhecimento sobre esses pontos e revela como as altera��es ocorrem ao longo do crescimento.
"Nas pessoas sem autismo, o corpo caloso vai se desenvolver at� por volta de 12 anos. Se voc� detecta que no autismo esse corpo caloso vai ter um desenvolvimento alterado e principalmente depois dessa idade, isso justifica diferen�as em rela��o a tratamento, �s modifica��es de comportamento ao longo do crescimento do paciente com autismo."
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