
Albert Einstein enfrentou c�lculos extremamente complexos para resolver grandes enigmas do universo.
E, ao mesmo tempo, suportou o feroz ataque de cientistas nazistas que — movidos pela inveja, pela ansiedade de se sentirem atrasados %u200B%u200Bdiante de novas teorias e inspirados por ideias racistas — tentaram deter a revolu��o intelectual gerada por um dos mais brilhantes f�sicos de todo o tempo.
E eles n�o eram inimigos quaisquer.
- O enigm�tico sumi�o de cubos de ur�nio do programa nuclear nazista
- David Bohm, o 'comunista' rebelde da mec�nica qu�ntica que era amigo de Einstein e deu aula na USP
- Os s�mbolos nazistas que ainda est�o presentes no Jap�o
Durante anos, dois ganhadores do Nobel de f�sica, Philipp Lenard e Johannes Stark, lideraram uma campanha de descr�dito contra Einstein, baseada em uma ci�ncia influenciada pela ideologia nazista.
A estrat�gia deles era impor uma suposta "f�sica ariana", em oposi��o ao que consideravam uma f�sica sequestrada por um, tamb�m suposto, "esp�rito judeu".

Lenard e Stark recusaram-se a reconhecer as duas teorias mais audaciosas da �poca, ambas impulsionadas por judeus: a relatividade de Einstein e a mec�nica qu�ntica de Niels Bohr.
Tamanha era a raiva de Lenard e Stark, que historiadores afirmam que seus esfor�os eram compar�veis %u200B%u200Ba querer se tornar o "F�hrer da f�sica".
Como surgiu o �dio de Lenard e Stark contra Einstein, como foi sua campanha de persegui��o e at� onde eles foram em seu esfor�o para impor a "f�sica ariana"?
Um g�nio inc�modo
Einstein, de origem judaica e cada vez mais reconhecido mundialmente, era muito inc�modo para os nazistas.

Al�m disso, seu sucesso despertou ci�mes em Lenard — tamb�m um f�sico brilhante, mas sem muitos dos atributos que tornavam Einstein especial.
Lenard recebeu o Pr�mio Nobel de F�sica em 1905 por seu estudo dos raios cat�dicos.
No entanto, ele tinha "profundidade intelectual limitada e era emocional e imaginativamente atrofiado", conforme descri��o do escritor cient�fico e ex-editor da revista Nature Philip Ball em seu livro Serving the Reich: The Struggle for the Soul of Physics under Hitler ("Servindo ao Reich: a luta pela alma da f�sica sob Hitler", em tradu��o livre).
Lenard era um cientista amplamente experimental e, de acordo com Ball, suas habilidades matem�ticas n�o eram suficientes para ele entender ideias ousadas como a relatividade.

Sua incapacidade de entender a relatividade o levou a desqualific�-la como uma teoria,. O fato de ser apoiada pela comunidade acad�mica internacional o fez pensar que se tratava de uma conspira��o.
Lenard se agarrou � ideia de que o que agora conhecemos como espa�o-tempo era o chamado �ter — e qualificou a relatividade como uma "fraude judaica".
O caso de Stark era semelhante.
Em 1919, ele havia recebido o Pr�mio Nobel de F�sica por descobrir que um campo el�trico causa altera��es no espectro da luz, fen�meno conhecido hoje como Efeito Stark.
Stark tamb�m era um experimentalista que estava sobrecarregado com a complexidade matem�tica que a f�sica estava assumindo.
E, como Lenard, ele tamb�m era um nacionalista extremista cujas ideias se radicalizaram ap�s a Primeira Guerra Mundial.
Seu nacionalismo era tal que ele entrou em confronto com os oficiais nazistas porque, do seu ponto de vista, eles n�o eram "nazistas o suficiente".
Lenard e Stark se juntaram aos nazistas desde antes de o partido tomar o poder.
Ci�ncia racista
Lenard j� criticava a relatividade desde 1910, mas foi a partir de 1920 que come�ou a adicionar elementos racistas aos seus ataques, segundo Ball.
Seu discurso baseava-se no fato de que, enquanto os arianos se apegavam aos dados e ao trabalho experimental, os judeus estavam absortos em especula��es abstratas.

"O argumento de Lenard era que qualquer esfor�o humano, incluindo a ci�ncia, era definido pela ra�a", disse Alex Wellerstein, historiador da ci�ncia especializado em hist�ria da eugenia, � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC).
"Lenard argumentava que ra�as diferentes tinham uma f�sica diferente."
Visto que a relatividade e a mec�nica qu�ntica incluem fatores como incerteza e relativismo, Lenard viu nessas teorias uma amea�a para uma sociedade bem organizada e um caminho para o caos.
Em contraste, a "f�sica ariana", que inclu�a experimentos que estavam em ascens�o na Alemanha do s�culo 19, enfatizava verdades tang�veis, em ci�ncia que era aplicada a problemas reais e uma abordagem da realidade estritamente baseada no experimental.

Em geral, os argumentos de Lenard e Stark n�o continham "cr�ticas substanciais" �s ideias de Einstein, explica Wellerstein. Do ponto de vista cient�fico, eram fracas.
O mais generoso que se poderia dizer sobre os argumentos anti-Einstein, diz Wellerstein, � que naquela �poca v�rios aspectos de suas teorias n�o haviam sido conclu�dos, o que abriu a porta para personagens como Lenard ou Stark oferecerem explica��es alternativas, ignorando os aspectos robustos das ideias de Einstein.
Alcance limitado
Em 1931, centenas de fil�sofos e cientistas participaram de uma publica��o contra as ideias de Einstein.
Wellerstein, entretanto, aponta que a "f�sica ariana" realmente n�o gozava de muita popularidade.
"N�o sei de um n�mero exato (de seguidores), mas os relatos que li fazem parecer que era relativamente pequeno", diz o especialista.
"Voc� tem que ter em mente que as ideias que Lenard e Stark estavam promovendo n�o eram muito interessantes do ponto de vista da f�sica funcional. Era a f�sica do passado, n�o do futuro."
O que Hitler pensava de tudo isso?
O principal l�der nazista estava obviamente ciente sobre Einstein, mundialmente famoso por seu Nobel de 1921 e por ser um dissidente que se recusou a retornar � Alemanha ap�s a ascens�o dos nazistas.

Wellerstein, no entanto, diz que n�o viu muitas evid�ncias de que Hitler considerava a campanha de Lenard e Stark digna de sua aten��o pessoal.
"Hitler n�o precisava de motivos sofisticados para odiar os judeus e suas cria��es", diz o historiador.
Como Einstein reagiu?
Em geral, Einstein n�o estava muito envolvido nos ataques de seus detratores.
Em 1920, entretanto, ele publicou uma carta em resposta a um dos ataques orquestrados de Lenard � relatividade.
"Admiro Lenard como professor de f�sica experimental", escreveu Einstein. "No entanto, ele ainda n�o alcan�ou algo na f�sica te�rica, e suas obje��es � teoria da relatividade geral s�o t�o superficiais que eu n�o havia considerado necess�rio, at� agora, respond�-las em detalhes."
De acordo com Wellerstein, Einstein se afastou dos debates p�blicos sobre suas teorias e deixou que outros f�sicos as discutissem.
"Que eu saiba, ele n�o tentou influenciar os debates dentro da Alemanha nazista, talvez sabendo que a �nica coisa que faria seria agit�-los", disse Wellerstein.
O fracasso da "f�sica ariana"
Com o tempo, as ideias de Lenard e Stark foram perdendo for�a diante do pragmatismo dos oficiais nazistas.
No meio da guerra, esses l�deres estavam mais interessados %u200B%u200Bem obter resultados, desenvolver armas e tecnologia, do que em discutir interpreta��o da f�sica.
"Os nazistas nunca adotaram a 'f�sica ariana' como parte de sua ideologia oficial", diz Wellerstein.
"A 'f�sica ariana' falhou espetacularmente, porque at� mesmo os nazistas tiveram dificuldade em lev�-la a s�rio, especialmente durante a guerra."
Ball, por sua vez, explica que estava claro para os nazistas que os judeus que propuseram a teoria qu�ntica e a relatividade eram os que realmente conheciam os segredos dos �tomos, e que somente eles foram capazes de transformar suas descobertas em aplica��es pr�ticas.
Ap�s o fim da guerra, vieram os julgamentos de Nuremberg, em 1945.
Nessa �poca, Lenard tinha 82 anos e, embora tenha sido brevemente preso e destitu�do de seu t�tulo de professor em�rito da Universidade de Heidelberg, ele nunca foi condenado e morreu em 1947, como Ball explica em seu livro.

Stark tamb�m foi poupado de uma senten�a severa.
Em 1947, foi condenado a quatro anos de trabalho no campo, mas a pena foi suspensa duas vezes e ele morreu sem cumprir a condena��o em 1957, aos 83 anos.
Em 2020, a Uni�o Astron�mica Internacional decidiu que duas crateras na Lua que haviam sido chamadas de Lenard e Stark em homenagem a esses cientistas deveriam deixar de ser chamadas dessa forma.
H� vozes que v�o mais longe e pedem que seus respectivos pr�mios Nobel sejam retirados.
Enquanto isso, a relatividade geral de Einstein se destaca como uma das teorias mais importantes da f�sica moderna, esperando que algu�m a supere com argumentos realmente s�lidos.
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