
Desde a composi��o do corpo humano at� a constru��o de grandes civiliza��es, devemos nossa exist�ncia e nossa evolu��o �s estrelas e � observa��o do c�u. Os astros, ent�o, t�m uma influ�ncia enorme na nossa vida.
Curiosamente, por�m, � comum que as pessoas atribuam � posi��o de planetas, Lua e estrelas outros "poderes" que, do ponto de vista cient�fico, eles n�o t�m - como moldar nossa personalidade ou comportamento.
Quem explica isso � Marcelo Girardi Schappo, doutor em F�sica At�mica e Molecular, professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e autor de Astronomia - Os astros, a ci�ncia, a vida cotidiana (ed. Contexto), livro rec�m-lan�ado que aborda a import�ncia dos c�us no nosso dia-a-dia.
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Em entrevista � BBC News Brasil, Schappo explica quatro influ�ncias determinantes dos astros na exist�ncia humana, e duas que, apesar de bastante populares, n�o t�m respaldo cient�fico.
Somos 'poeira das estrelas'
A maioria dos elementos que comp�em o corpo humano foi formada em estrelas, ao longo de bilh�es de anos.
Estamos falando de elementos como carbono, oxig�nio, enxofre, magn�sio e a maior parte dos nomes que vemos na tabela peri�dica, existentes em estrelas que viveram bilh�es de anos atr�s e foram continuamente explodindo e se reconstituindo.
Nesse processo, explica Schappo, as estrelas formaram uma "nuvem inicial", que deu origem ao Sol - a principal estrela do nosso Sistema Solar -, aos planetas como a Terra e � combina��o de elementos que permitiu que gases, minerais, �gua e a vida surgissem e evolu�ssem por aqui.

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� um processo que se estende por cerca de 13 bilh�es de anos e que permitiu a riqueza de elementos qu�micos da Terra.
Por isso, estudiosos de astronomia costumam dizer que n�s, seres vivos, somos feitos de "poeira das estrelas".
As estrelas, explica Schappo, "fazem um processo de fus�o nuclear e v�o juntando esses elementos pequenos, que viram elementos mais pesados. Esses tijolinhos (elementos) fundamentais � nossa vida aqui vieram do interior de estrelas, que explodiram ou expandiram as suas camadas externas e enriqueceram quimicamente o ambiente interestelar. � esse material que vai acabar se aglomerando e dar origem a novas estrelas, planetas e novos sistemas onde eventualmente a vida pode florescer."
Constru��o das civiliza��es
Para al�m da base fundamental da vida, foi gra�as aos c�us - mais especificamente, � capacidade de nossos antepassados em observar os c�us - que pudemos construir as civiliza��es humanas, afirma Schappo.
Ele se refere especificamente �s esta��es do ano.
As diferentes esta��es existem - e se op�em nos hemisf�rios Norte e Sul - por causa da inclina��o da Terra em rela��o ao Sol, enquanto d� a volta em torno do Sol.
Como a Terra � inclinada em seu eixo, os raios solares incidem de forma diferente em diferentes partes do mundo, a depender do momento do ano - assim, a energia do Sol incide com mais intensidade nos meses de ver�o e menos intensidade nos de inverno.
Muito antes de adquirirem esse conhecimento cient�fico, nossos antepassados aprenderam sobre os padr�es clim�ticos observando o c�u. H� constela��es de estrelas que s� aparecem no c�u noturno nos meses de ver�o, enquanto outras s�o vis�veis no inverno, detalha Schappo. V�rias civiliza��es tamb�m identificaram as datas de solst�cios e equin�cios (dias com mais ou menos luz diurna no ano), o que lhes permitiu identificar a troca de esta��es.
Com esses padr�es astron�micos, foi poss�vel se antecipar a per�odos de secas ou chuvas, e perceber os melhores momentos de plantar e colher.
"Se antever a isso ajudou na transi��o de um sistema n�made para um sedent�rio", em que sociedades puderam se desenvolver e prosperar, argumenta o f�sico. "� obrigat�rio conhecer esse ambiente e esses padr�es da Terra."

Por isso, ele argumenta que entender astronomia foi uma "quest�o de sobreviv�ncia".
Esse conhecimento evoluiu para o calend�rio - o Gregoriano, que vigora atualmente, foi criado h� 440 anos para acompanhar os pouco mais de 365 dias que a Terra demora para dar sua volta em torno do Sol.
Agora que a humanidade est� diante de mudan�as nos padr�es clim�ticos da Terra por conta do aquecimento global, Marcelo Schappo argumenta que o conhecimento astron�mico tamb�m ser� fundamental - por conta de sua capacidade de analisar os padr�es do Sol e a forma como a nossa atmosfera absorve sua energia.
Das navega��es ao GPS
Al�m de ensinar nossos antepassados a entender os ciclos clim�ticos, a observa��o dos c�us foi crucial em outro ponto importante na hist�ria humana: as navega��es.
"Muitas navega��es e m�todos de navega��o importantes na hist�ria foram guiados pelas estrelas", afirma Schappo.
Uma das estrelas da constela��o do Cruzeiro do Sul, por exemplo, "aponta quase no polo Sul celeste - � um bom indicativo de onde est� o sul, e a partir da� sabe onde est�o os outros pontos cardeais", explica o f�sico.
No hemisf�rio Norte, a Estrela Polar, na constela��o da Ursa Menor, � usada como indicativo do norte.
Hoje, a nossa navega��o via sat�lite tamb�m se apoia no conhecimento astron�mico - tanto no envio de sat�lites ao espa�o quanto na utiliza��o desses sat�lites para voc� definir, no GPS do celular, o trajeto que vai fazer de casa para o trabalho.
"O sistema do GPS funciona com v�rios sat�lites, colocados em �rbita da Terra", explica Schappo.
"Quando quero usar meu celular para saber minha posi��o no planeta, o que ele (aparelho) faz � trocar informa��es com esses sat�lites - e o sinal leva um tempo para sair do celular, chegar no sat�lite e retornar. � com essa diferen�a de tempo de sinal que ele troca com pelo menos dois ou tr�s sat�lites que ele calcula exatamente a posi��o em que voc� est� no planeta em latitude, longitude e altitude. Portanto, � uma superferramenta para navega��o a�rea, mar�tima e explora��o terrestre."

Ciclos biol�gicos
Nossos ciclos biol�gicos tamb�m s�o obviamente ligados ao Sol: temos mais sono nos per�odos em que n�o estamos expostos � luz do Sol, e mais disposi��o durante o per�odo diurno, por exemplo.
As plantas tamb�m dependem da exposi��o ao Sol para fazer fotoss�ntese.
"Existem ciclos nos seres vivos, e a biologia estuda como o indiv�duo muda conforme a �poca do ano ou do m�s, o que pode ter a ver com a mudan�a na ilumina��o, com a varia��o entre o dia e a noite", afirma Schappo.
No entanto, essa influ�ncia biol�gica ligada a varia��es na exposi��o � luz do Sol n�o pode ser confundida com a influ�ncia comportamental geralmente atribu�da aos astros, afirma Schappo. "Isso n�o tem nada a ver com (a suposi��o de que) 'a Lua influencia o meu estado emocional'. A� a gente come�a a transitar por uma zona pseudocient�fica", diz ele.
� desses mitos que falaremos agora.
N�o � ci�ncia: Astrologia
'Quando voc� vai fazer um mapa astral, ler um hor�scopo, ou acha que est� agitado por causa da lua cheia, que tem que cortar o cabelo em tal lua, ou que beb� vai nascer na virada da lua, isso n�o � baseado em evid�ncias", explica o f�sico.
"Ou seja, que n�o pode ser corroborado. A gente acredita nas afirma��es de (Albert) Einstein sobre a relatividade porque � (uma teoria) muito corroborada. J� quanto a mapa astral, cabelo, nascimento dos beb�s - isso j� foi testado por experimentos cient�ficos que mostram que essas afirma��es n�o t�m fundamento. Por isso, chamamos de pseudoci�ncia - � algo que fala de planetas, usa dados astron�micos reais, mas leva a conclus�es que n�o t�m fundamento. Parece ci�ncia mas n�o �."

Um dos experimentos que testaram cientificamente a astrologia foi descrito pela astrof�sica Sabrina Stierwalt no podcast Everyday Einstein.
No experimento, publicado no peri�dico Nature, foi conduzido um teste duplo-cego para averiguar se mapas astrais poderiam descrever nossa personalidade com precis�o. O f�sico Shawn Carlson pediu a 30 astr�logos que revisassem o mapa astral de 116 pessoas que n�o conheciam pessoalmente.
Carlson deu aos astr�logos tr�s descri��es para cada uma das 116 pessoas: uma descri��o correta e duas descri��es erradas (ou melhor, que descreviam outras pessoas que n�o aquelas). E pediu aos astr�logos que identificassem qual das tr�s era a descri��o correta, segundo o mapa astral.
O resultado � que os astr�logos do experimento fizeram a identifica��o correta em um ter�o dos casos. "Se voc� recebesse tr�s descri��es de personalidade, (tamb�m) teria uma entre tr�s chances de selecionar a correta", diz Stierwalt. Portanto, conclui ela, os astr�logos do estudo n�o se sa�ram melhor do que se tivessem escolhido os perfis ao acaso.
"A astrologia tamb�m n�o � capaz de oferecer um mecanismo que explique como ela poderia funcionar. Qual � exatamente a conex�o entre as estrelas sobre a sua cabe�a quando voc� nasceu e se voc� deve ou n�o tomar grandes decis�es durante o ver�o?", questiona a cientista.
Muitos entusiastas da astrologia, por sua vez, argumentam que as descri��es de personalidade ligadas ao zod�aco fazem sentido para si e acham reconfortante acompanhar seu hor�scopo. O importante aqui � destacar que n�o h� nenhum embasamento cient�fico nele.
N�o � ci�ncia: influ�ncia da Lua
E quanto � influ�ncia da Lua na nossa vida - desde nosso comportamento at� corte de cabelo e nascimento de beb�s? Mais um mito, argumenta Marcelo Schappo.
A princ�pio, argumentar que a Lua nos influencia diretamente pode at� soar fact�vel. Afinal, a Lua influencia diretamente as mar�s dos oceanos da Terra. Se nosso corpo � composto majoritariamente de �gua, por que n�o seria igualmente influenciado pela Lua?

Para rebater, isso � preciso entender como funciona a gravidade.
Estamos falando de uma for�a que interage entre dois corpos com massa. Quaisquer corpos. Mas a for�a da gravidade � mais forte quanto maior for a massa dos corpos, e quanto menor for a dist�ncia entre eles.
"Seguindo esse racioc�nio, uma pessoa atrai uma cadeira em uma sala vazia? Sim! Mas a for�a de atra��o desse par � muito pequena, pois as massas da pessoa e da cadeira s�o pequenas, de modo que elas n�o geram efeitos pr�ticos significativos", escreve Schappo.
No caso da Lua e das mar�s, a influ�ncia gravitacional � grande porque os oceanos formam uma massa gigantesca em nosso planeta.
J� nossos corpos s�o muito pequeninos em compara��o, e a Lua est� muito distante de n�s para exercer um efeito gravitacional significativo, diz o f�sico.
"Tanto que uma piscina ol�mpica, que tem muito mais �gua que o nosso corpo, n�o tem mar�", detalha. "Ent�o, na vida cotidiana, o que vai influenciar o comportamento do meu corpo � a gravidade da Terra."
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