
Em um mundo que ainda nem saiu de uma pandemia, um outro v�rus tem disparado alarmes em diversos pa�ses.
A var�ola dos macacos, uma doen�a incomum que tem afetado habitantes do continente africano h� d�cadas, come�ou a ser identificada em pa�ses da Europa e da Am�rica do Norte.
Ainda que os surtos atuais da doen�a tenham sido contidos, o surgimento de cada vez mais casos em diferentes localidades tem gerado preocupa��o.
No entanto, embora as autoridades de sa�de apontem que ainda n�o h� muitas informa��es sobre os novos surtos e suas poss�veis vias de transmiss�o, elas garantem que atualmente n�o h� motivo para p�nico nem grandes riscos para a sociedade.
"� importante enfatizar que a var�ola n�o se espalha facilmente entre e o risco para as pessoas em geral � bastante baixo", disse Nick Phin, vice-diretor do Servi�o Nacional de Infec��o do departamento de Sa�de P�blica do Reino Unido.
Michael Head, pesquisador em sa�de global da Universidade de Southampton, diz que, apesar de lacunas sobre o que se sabe do surto atual, ele n�o acha que as pessoas precisem temer n�veis de infec��o como ocorreu na pandemia de coronav�rus.
"Seria muito raro vermos mais do que alguns casos em cada surto. E definitivamente n�o veremos n�veis de transmiss�o no estilo da covid-19", disse ele ao Science Media Center.
A principal diferen�a aqui �: quando os primeiros casos de coronav�rus surgiram, nada se sabia sobre a doen�a, mas a var�ola dos macacos � uma enfermidade j� conhecida, para a qual existem vacinas, tratamentos e informa��es sobre surtos anteriores.
� preciso ter em vista tamb�m que os mecanismos de monitoramento e vigil�ncia epidemiol�gica s�o atualmente mais modernos, o que torna mais f�cil detectar e identificar v�rus, novas variantes e doen�as infecciosas.
Autoridades de sa�de alertam, no entanto, que tudo isso n�o significa que n�o se deva vigiar e agir para conter a dissemina��o dos casos atuais de var�ola dos macacos: v�rus sofrem muta��o frequentemente e nada garante que um surto seja igual ao outro.

Entenda abaixo em mais detalhes por que especialistas em sa�de afirmam que os casos reportados at� o momento n�o representam uma amea�a grave para a popula��o em geral.
Dados apontam que ela mata no m�ximo 1 a cada 10 pessoas infectadas. A mortalidade � maior entre crian�as e adultos jovens, e indiv�duos imunocomprometidos est�o particularmente em risco de desenvolver a forma mais grave da doen�a.
Os sintomas da var�ola dos macacos geralmente incluem febre, dores de cabe�a, dores musculares, dores nas costas, calafrios, exaust�o, linfonodos inchados e les�es na pele, que podem chegar a milhares.
Situa��o do Brasil
O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Marcos Boulos disse em entrevista � BBC News Brasil que ainda � necess�rio entender qual o n�vel de dissemina��o da doen�a entre os humanos. Mas disse que � importante que o Brasil adote medidas para prevenir que pessoas infectadas entrem no pa�s.
"A doen�a precisa ter muta��o para se adaptar aos humanos e possibilitar uma transmiss�o via oral muito intensa. Mas a chance � real porque a pessoa infectada viaja e pode acabar chegando aqui. Por isso, � necess�ria uma r�gida vigil�ncia, principalmente nos aeroportos, monitorando sintomas respirat�rios e a febre", afirmou.
Questionado pela reportagem, ele disse que acha improv�vel que a doen�a se dissemine na mesma dimens�o que a covid-19, mas que uma muta��o humana poderia desencadear uma transmiss�o em massa.
"Eu n�o acredito nisso, mas nada � imposs�vel. Estamos num ambiente onde temos uma comunica��o �ntima com o meio ambiente, com uma invas�o cada vez maior de regi�es habitadas por animais. Mas h� o risco de haver uma transmiss�o importante, como a dos morcegos com o coronavirus", afirmou.
1. � um v�rus conhecido
Quando os primeiros casos de covid-19 come�aram a ser registrados ao redor do mundo, uma das grandes d�vidas era que tipo de pat�geno o causava e qual era sua origem.
Embora o Sars-Cov-2 tenha sido identificado em pouco tempo e v�rias teorias sugiram que ele passou de animais para humanos, ainda n�o h� informa��es precisas sobre que animal era esse e como o v�rus saltou para as pessoas.
Mas o v�rus que causa a var�ola dos macacos � conhecido h� mais de meio s�culo, e, por consequ�ncia, sabe-se como funciona e como � transmitido.
Embora se acredite que o v�rus tenha afetado pessoas na �frica por muito mais tempo, ele foi identificado em 1958 em macacos mantidos em um laborat�rio para pesquisa. E da� seu nome.
Mas estudos posteriores mostraram que os principais vetores da doen�a s�o roedores e n�o macacos.
"A var�ola foi descoberta em macacos na d�cada de 1950, mas em 1970 j� havia se espalhado para humanos. Tamb�m � encontrada em outros animais selvagens, como alguns roedores. Ent�o, os macacos podem n�o ser o principal reservat�rio natural do v�rus. Transmiss�o para humanos sup�e-se que seja devido � ingest�o de animais infectados", disse Simon Clarke, professor de microbiologia celular da Universidade de Reading, ao Science Media Center.
Pesquisadores identificaram duas variantes do v�rus, uma da �frica Central, que causa uma doen�a com mais sintomas, e outra da �frica Ocidental, que causa uma doen�a mais branda e foi detectada nos casos relatados at� agora.

Embora nos casos do novo surto, as autoridades m�dicas tenham apontado que alguns pacientes t�m em comum serem homens que fazem sexo com outros homens, atualmente n�o h� evid�ncias de que o v�rus tenha sofrido muta��o para uma forma de transmiss�o sexual.
2. Existem vacinas e tratamentos dispon�veis
Por ser um v�rus conhecido e que tem afetado comunidades por d�cadas, foi poss�vel desenvolver vacinas e tratamentos.
Como o v�rus da var�ola do macaco est� intimamente relacionado ao que causa a var�ola, a vacina desenvolvida contra a var�ola se mostrou eficaz para ambas as doen�as.
O Centro para Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos explica em seu site que, embora atualmente n�o haja tratamentos espec�ficos dispon�veis para a infec��o por var�ola, os surtos podem ser controlados com medicamentos.
S�o rem�dios dispon�veis no mercado que foram aprovados e se mostraram eficazes contra a doen�a, como o cidofovir, o ST-246 e a imunoglobulina vaccinia.
Existe tamb�m uma vacina aprovada por v�rias na��es para a preven��o e tratamento da var�ola dos macacos, chamada JYNNEOSTM (tamb�m conhecida como Imvamune ou Imvanex) e � produzida pela empresa farmac�utica dinamarquesa Bavarian Nordic.
Dados oficiais apontam que a vacina � pelo menos 85% eficaz na preven��o da var�ola dos macacos.
H� uma segunda vacina contra a var�ola, ACAM2000, feita pela Emergent Product Development, que tamb�m pode oferecer alguma prote��o contra a var�ola — ela foi usada em um surto relatado em 2003 nos EUA.
A Organiza��o Mundial da Sa�de afirma que algumas pessoas que receberam vacinas contra a var�ola tamb�m podem ter certos n�veis de imunidade, embora em muitos pa�ses essa vacina��o tenha sido suspensa h� quase 40 anos, quando a doen�a foi considerada erradicada.
Atualmente, as vacinas, na maioria dos pa�ses, s�o autorizadas apenas para maiores de 18 anos considerados de alto risco de contrair a doen�a.
A Ag�ncia de Seguran�a da Sa�de do Reino Unido explica que a vacina��o contra a var�ola pode ser usada antes e depois da exposi��o.
Segundo a farmac�utica Bavarian Nordic, o governo dos EUA solicitou � empresa farmac�utica a fabrica��o de milh�es de doses ap�s a detec��o do primeiro caso no pa�s.
3. N�o � muito contagioso
A Ag�ncia de Seguran�a da Sa�de do Reino Unido diz que, diferentemente de outras doen�as contagiosas, a var�ola dos macacos n�o se espalha facilmente entre as pessoas.
Em surtos anteriores, uma pessoa infectada transmitia o v�rus, em m�dia, para no m�ximo uma pessoa, de modo que os n�veis de cont�gio eram muito baixos.
“Na maioria dos casos, uma pessoa doente n�o transmite o v�rus a mais ningu�m”, disse Jay Hooper, do Instituto de Pesquisa M�dica do Ex�rcito dos EUA para Doen�as Infecciosas, � NPR em um relat�rio sobre a doen�a.

Head, da Universidade de Southampton, explica que isso ocorre porque o v�rus, para ser transmitido, precisa de contato muito pr�ximo, �s vezes pele a pele, com um indiv�duo infectado.
De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de, a taxa de mortalidade por var�ola s�mia variou de 0 a 11% na popula��o em geral e tem sido maior entre crian�as pequenas.
A dissemina��o da var�ola pode ocorrer quando uma pessoa entra em contato pr�ximo com um animal, humano ou material contaminado com o v�rus, que entra no corpo atrav�s da pele quebrada (mesmo que n�o vis�vel), do trato respirat�rio ou das membranas mucosas (olhos , nariz ou boca).
A Ag�ncia de Seguran�a da Sa�de do Reino Unido explica que a dissemina��o de pessoa para pessoa "� rara", mas pode ocorrer por meio de:
- contato com roupas usadas por uma pessoa infectada (incluindo roupas de cama ou toalhas)
- contato direto com les�es ou crostas na pele do paciente
- tosse ou espirro de uma pessoa infectada
4. Var�ola dos macacos j� causou diversos surtos antes
O primeiro caso humano de var�ola dos macacos foi registrado em 1970 na Rep�blica Democr�tica do Congo, e surtos ou casos da infec��o foram relatados em v�rios pa�ses da �frica Central e Ocidental ao longo das d�cadas seguintes.
Embora os casos humanos de var�ola fora da �frica sejam raros, nos �ltimos anos eles foram relatados nos Estados Unidos, Reino Unido, Israel e Cingapura.
De fato, no Reino Unido, onde foi detectado o primeiro caso do atual surto, tamb�m foram registrados pacientes com a doen�a em 2018, 2019 e 2021.
Todos esses surtos que foram detectados anteriormente fora da �frica foram muito pequenos, com poucas pessoas infectadas.
Em um surto nos EUA em 2003, por exemplo, 47 pessoas ficaram doentes.
A exist�ncia de surtos anteriores d� �s autoridades de sa�de n�o s� conhecimento sobre as formas de transmiss�o do v�rus, mas tamb�m experi�ncia em como cont�-lo, como tratar pacientes e como propor formas de reduzir o cont�gio.

No entanto, as ag�ncias de sa�de de v�rios pa�ses anunciaram que v�o acompanhar de perto a evolu��o de novos casos, uma vez que at� que haja dados suficientes, n�o se pode afirmar categoricamente que ser� o mesmo agora.
De fato, nunca antes tantos casos de var�ola dos macacos foram registrados simultaneamente em v�rios pa�ses e sem que se estabele�a uma potencial liga��o entre pessoas infectadas com viagens para a �frica, como � o caso agora.
Quais s�o os sintomas?
A var�ola dos macacos � uma parente da var�ola, doen�a que foi erradicada em 1980, mas � menos transmiss�vel, causa sintomas mais leves e � menos mortal.
Ela geralmente dura de duas a quatro semanas e os sintomas podem aparecer de cinco a 21 dias ap�s a infec��o.
Os sintomas da var�ola dos macacos geralmente come�am com uma mistura de febre, dores de cabe�a, dores musculares, dores nas costas, calafrios, exaust�o e linfonodos inchados.
Este �ltimo sintoma � normalmente o que ajuda os m�dicos a distinguir a var�ola dos macacos da catapora ou da var�ola, segundo a OMS.
Passada a febre, pode surgir uma erup��o cut�nea, que tende a se desenvolver de um a tr�s dias depois, geralmente come�ando no rosto e depois se espalhando para outras partes do corpo, incluindo os �rg�os genitais.
O n�mero de les�es pode variar de algumas a milhares.
A erup��o muda e passa por diferentes est�gios, e pode parecer catapora ou s�filis, antes de finalmente formar uma crosta, que depois cai.
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