(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SEXO NO MEZOZ�ICO

Como dinossauros faziam sexo? O mist�rio que pesquisadores querem revelar

Detalhes s�rdidos de como dinossauros faziam sexo v�m intrigando cientistas h� muito tempo. Mas agora est� surgindo uma nova ideia: suas caracter�sticas mais exc�ntricas podem nos contar como isso acontecia?


05/07/2022 05:41 - atualizado 05/07/2022 14:50

Estou no escrit�rio de Jakob Vinther, tentando parar de pensar se os tiranossauros tinham — n�o h� uma forma f�cil de escrever isso — p�nis. "Neste caso, teria que haver..." - come�o a gaguejar, cada vez mais atrapalhada - "... penetra��o", completa meu entrevistado, de forma objetiva.

Estamos na Universidade de Bristol, no Reino Unido, onde Vinther � professor de macroevolu��o, especializado em registros f�sseis. Fico examinando a sala, mais para evitar o contato visual enquanto me recupero. E a sala � exatamente o que a crian�a dentro de voc� esperaria de um paleont�logo (quem estuda f�sseis).

As prateleiras est�o repletas de uma esp�cie de salada de f�sseis, com pap�is e trabalhos acad�micos entremeados com rel�quias de um mundo perdido. Chamam a aten��o um inseto antigo, com as delicadas veias das suas asas e colora��o manchada claramente vis�veis, os restos de uma lula-vampira-do-inferno, com suas bolsas de tinta preta t�o bem preservadas que ainda cont�m melanina, e estranhos vermes antigos, parentes dos que encontramos hoje nos recifes de coral.

No canto, encontra-se um velho ba� de madeira com gavetas que — espero — cont�m todo tipo de fascinantes restos petrificados. O lugar parece uma mistura de museu e biblioteca.

A poucos metros de dist�ncia, fica o astro do espet�culo: um psitacossauro (literalmente, um "lagarto-papagaio"). Acredita-se que esse simp�tico herb�voro com bico pequeno, parente pr�ximo do tricer�tops, tenha perambulado pelas florestas do que hoje � a �sia cerca de 120 a 133 milh�es de anos atr�s.

O esp�cime que vejo agora � mundialmente famoso — n�o s� pela sua pele, que est� t�o preservada que voc� ainda consegue distinguir os padr�es listrados no seu corpo, nem pela sua cauda, que inclui uma espinhosa franja de penas caracter�stica. N�o, esse dinossauro � mais conhecido por ter doado sua parte inferior para estudo pelas gera��es futuras. Mas vamos deixar os detalhes para mais tarde.

Volto minha aten��o para a conversa. Vinther est� contando sobre uma descoberta particularmente instigante em um conhecido s�tio arqueol�gico no nordeste da China — a forma��o Yixian, na prov�ncia de Liaoning.

Dois tiranossauros, completos e com penas, foram encontrados, um ao lado do outro, em um antigo lago. Pr�ximos demais, se voc� quer saber. O que ele quer mesmo descobrir �: eles estavam fazendo sexo?

Dif�cil de saber

Com m�todos cient�ficos modernos, os cientistas est�o revelando detalhes de tirar o f�lego sobre a vida dos dinossauros e em velocidade recorde. Muitos desses detalhes eram impens�veis d�cadas atr�s.

Esse trabalho de detetive molecular identificou gl�bulos vermelhos do sangue e col�geno de ter�podes de 76 milh�es de anos atr�s. Esse grupo inclui os maiores predadores que j� andaram sobre a Terra.

O estudo revelou assinaturas qu�micas que indicam que os tricer�tops e os estegossauros tinham sangue frio, o que era incomum entre os dinossauros. E que o nodossauro (um herb�voro cheio de espinhos com fortes defesas) era ruivo.

Cientistas descobriram ainda que os espinossauros, famosos pela grande "vela" que tinham nas costas, provavelmente usavam seus dentes de 15 cm e mand�bulas de crocodilo para ca�ar em �guas profundas. Tamb�m h� evid�ncias de que os iguanodontes podem ter sido surpreendentemente inteligentes e que os pterossauros (que, � claro, tecnicamente n�o s�o dinossauros — na verdade, s�o r�pteis com asas) muitas vezes caminhavam para encontrar suas presas.

Mas as pesquisas sobre a forma exata como os dinossauros acasalavam — ou, na verdade, tudo sobre como eles interagiam — n�o chegaram a nenhuma conclus�o. At� hoje, os cientistas n�o conseguem nem mesmo diferenciar machos de f�meas com precis�o, que dir� saber como eles cortejavam ou que tipo de genitais eles tinham.

Sem esse conhecimento fundamental, grande parte da sua biologia e comportamento permanece um total mist�rio. Apenas uma coisa � certa: eles faziam sexo.


fóssil de psitacossauro
Marcas nas pernas deste famoso f�ssil de psitacossauro indicam que ele viveu em uma densa floresta (foto: Wikimedia Commons/Ghedoghedo)

Mas, voltando aos f�sseis de tiranossauros encontrados na China, Vinther explica que uma indica��o sobre a sua comprometedora posi��o pode vir do s�tio de outro lago antigo, o Fosso de Messel, na Alemanha. Esse para�so de f�sseis transformado em pedreira � lend�rio pela sua flora e fauna imaculadamente preservada, que muitas vezes parece ter sido comprimida entre as p�ginas de um livro.

At� o momento, o local j� forneceu cavalos do tamanho de raposas, formigas gigantes, os primeiros primatas e diversos animais com est�mago cheio — um deles, um besouro dentro de um lagarto, dentro de uma cobra.

Tamb�m foram encontradas diversas tartarugas de �gua doce, incluindo pelo menos nove casais que pereceram em meio a um encontro rom�ntico. Em alguns casos, suas caudas ainda est�o se tocando, como ocorre durante a copula��o. E isso � fundamental para a sua teoria.

Acredita-se que o Fosso de Messel seja um cemit�rio pr�-hist�rico t�o rico devido a um segredo t�xico. No per�odo eoceno — 36 a 57 milh�es de anos atr�s — ele teria sido uma cratera vulc�nica cheia de �gua com encostas inclinadas, rodeada por uma vi�osa floresta subtropical.

Ningu�m sabe ao certo como ele matava suas v�timas, mas uma ideia � que o fosso tenha permanecido geologicamente ativo depois da sua forma��o e liberasse periodicamente nuvens de di�xido de carbono sufocantes no ambiente � sua volta.

� poss�vel que as infelizes tartarugas tenham sido capturadas em um desses eventos, afundando enquanto sua demonstra��o de sensualidade era preservada por mil�nios, em uma camada de sedimentos sem oxig�nio.

Mas essas tartarugas apaixonadas n�o est�o nas suas posi��es sexuais exatas em que estavam quando morreram. Em vez de estarem uma sobre a outra, como � habitual, elas est�o de costas uma para a outra, como se houvessem subitamente mudado de ideia.

Notando minha perplexidade, Vinther reclina-se na cadeira e, com um ar de quem acha que o sexo pr�-hist�rico � um tema de conversa perfeitamente normal, explica que, depois que as tartarugas morreram, elas teriam se separado, mas permanecido ligadas pelos seus genitais. Elas teriam ficado presas uma � outra todo esse tempo, digamos, pela anatomia reprodutora do parceiro macho.

E isso nos leva de volta aos tiranossauros fossilizados, pois existem paralelos indiscut�veis com essas tartarugas.

"Eles est�o de costas um para o outro, mas com suas caudas sobrepostas", afirma Vinther. "Acredito que eles tenham sido pegos no ato."

Sem ter outros exemplos dispon�veis, Vinther reconhece que essa teoria � muito especulativa e, por enquanto, � apenas uma ideia n�o publicada.

Mas, se os animais realmente est�o presos em um abra�o milenar, eles nos contariam alguma coisa sobre um determinado �rg�o que, at� agora, ningu�m encontrou fossilizado. Isso mesmo, � simplesmente poss�vel que o tiranossauro — provavelmente incluindo o Tyrannosaurus rex — tivesse p�nis.

No fundo de um lago

Mas existe outra fonte, menos amb�gua, de informa��es sobre o sexo dos dinossauros: um f�ssil que chamou a aten��o do mundo pela hist�ria por tr�s dele. � o psitacossauro.

Vinther me leva at� o seu precioso pertence e conta sua hist�ria.

O per�odo era o cret�ceo inferior na biota de Jehol, um antigo ecossistema no nordeste da China. Digamos que fosse um belo dia de sol nessa terra temperada e o pequeno psitacossauro tenha decidido sair da densa floresta que forma o seu lar para ir beber �gua em um dos muitos lagos da regi�o.

Ele tem 91 cm de comprimento da cabe�a at� a cauda (parecido com um c�o labrador mais robusto que o normal) e � quase um adulto completo, mas ainda sem experi�ncia.

O psitacossauro se dirigia � borda da �gua andando em dois p�s — ele parava de andar em quatro patas quando se tornava adulto — e sobrev�m a trag�dia. Ao inclinar-se para beber �gua com seu bico parecido com o de um papagaio, ele escorrega, cai e afunda.

Enquanto afunda no lago, ele se abre de forma pouco elegante sobre suas costas, acidentalmente preservando seus genitais para que os primatas do futuro os estudassem.

O entusiasmo de Vinther para me mostrar os famosos genitais � evidente. Ele aponta para uma parte redonda e escura de pele logo abaixo da cauda — e l� est�o as partes �ntimas de um dinossauro, inesperadamente preservadas desde o cret�ceo inferior, uma �poca t�o distante que equivale a cerca de 1,6 milh�o de vidas m�dias humanas.

Infelizmente, o psitacossauro do escrit�rio de Vinther n�o � o f�ssil real. Na verdade, � um modelo em escala de como teria sido a apar�ncia do animal vivo, encomendado por ele pr�prio. Mas � um modelo impressionante, meticulosamente elaborado para ser o mais preciso poss�vel. At� suas marcas s�o baseadas nas listras exatas encontradas na pele fossilizada do animal original.

Mas o que o traseiro desse pequeno dinossauro nos ensina?

Em primeiro lugar, como os parentes mais pr�ximos dos dinossauros (as aves e os crocodilos), esse indiv�duo tem uma cloaca. Essas aberturas com m�ltiplas fun��es s�o comuns em todos os vertebrados terrestres, exceto nos mam�feros. Elas consistem em um �nico orif�cio para defecar, urinar, ter sexo e dar � luz.

Essa n�o era uma descoberta inesperada, mas � nova. Ningu�m ainda havia confirmado que os dinossauros tinham a mesma anatomia dos seus primos evolutivos.

"Voc� pode ent�o ver, se olhar aqui embaixo [ele aponta para a cloaca do psitacossauro, sob a sua cauda], que existem muitos pigmentos", explica Vinther. Segundo ele, trata-se de melanina, que pode ser parcialmente respons�vel pelo n�vel extraordin�rio de preserva��o desse esp�cime.


réplica do psitacossauro
Psitacossauros podem ter usado sua parte traseira para atrair parceiros para acasalar (foto: Zaira Gorvett)

Nossa tend�ncia � pensar na melamina como o composto escuro que fornece a cor da nossa pele, mas ela tem uma variedade enorme de usos no mundo natural, que v�o desde a sua aplica��o como pigmento na tinta das lulas at� sua fun��o de camada protetora no fundo dos nossos olhos.

A melamina � tamb�m um potente antimicrobiano. Em r�pteis e anf�bios, ela costuma ser encontrada em alta concentra��o no f�gado, onde impede o crescimento de micr�bios potencialmente prejudiciais. Mas, fundamentalmente, ela tamb�m est� presente em muitas outras situa��es nas quais suas propriedades s�o �teis.

"Os insetos, por exemplo... eles usam a melamina como um tipo de sistema imunol�gico de prote��o contra infec��es. Se voc� perfurar em uma tra�a com uma agulha, por exemplo [o que n�o recomendamos], haver� secre��o de melamina na �rea em volta do buraco", afirma Vinther.

Por este motivo, muitos animais — incluindo os seres humanos— possuem concentra��es mais altas de melanina (e, por isso, pele mais escura) em volta dos genitais. E isso tamb�m � verdadeiro para os dinossauros.

Observando o parente distante � minha frente — que (como indicou um dos meus colegas) est� congelado em uma posi��o como se estivesse tentando fugir de mim na ponta dos p�s —, parece estranho reconhecer uma similaridade t�o �ntima.

Mas existem outras descobertas fascinantes e aqui fica claro que todo o meu desconforto at� agora havia sido um mero aquecimento. Antes de saber o que estava acontecendo, Vinther come�a a explicar entusiasticamente muitas outras caracter�sticas das partes traseiras do psitacossauro, em detalhes surpreendentes.

"Podemos agora reconstruir a morfologia da cloaca e afirmar que ela tinha como que dois l�bios que se projetavam desta forma", demonstra Vinther, fazendo um "V" com os dedos.

"E, do lado de fora, eles eram pigmentados. Mas aqui est� o interessante, porque n�o era em volta da abertura, [como seria o l�gico] para combater infec��es microbianas. Era para chamar aten��o."

Se isso for verdade, ser� algo sem precedentes. Anunciar suas partes traseiras para poss�veis parceiros de acasalamento, como fazem os babu�nos, � extremamente incomum nos p�ssaros modernos, que s�o os descendentes das aves-dinossauros.

"Eles usam muita sinaliza��o visual", afirma Vinther. Ele explica que as aves t�m excelente vis�o colorida. Ao contr�rio da maioria dos mam�feros, que consegue ver apenas duas cores, as aves podem ver as tr�s cores b�sicas que os seres humanos enxergam, mais a luz ultravioleta.

"Mas n�o tem sentido mostrar sua cloaca porque ela est� coberta de penas". Da mesma forma, os crocodilos confiam mais no olfato.


réplica do espinossauro
Especialistas acham que espinossauros usavam sua vela apenas para ajud�-los a nadar, mas ela poder� tamb�m ter sido usada para cortejo (foto: Getty Images)

Vinther especula que, como as aves, os dinossauros podem tamb�m ter tido excelente vis�o colorida. Neste caso, faz sentido que as esp�cies sem penas tenham feito uso dessa oportunidade. Usando as palavras dele, "por que n�o exibir sua cloaca?"

Infelizmente, n�o � poss�vel dizer se o psitacossauro em quest�o � macho ou f�mea, nem exatamente qual tipo de �rg�os sexuais eles tinham, j� que suas partes do corpo correspondentes est�o ocultas no seu interior.

H�, ent�o, duas poss�veis estrat�gias de acasalamento para os dinossauros: o chamado (e surpreendente) "beijo cloacal", em que dois dinossauros alinhariam suas cloacas e o macho injetaria seu s�men diretamente na cloaca da f�mea (uma estrat�gia comum entre as aves), ou a vers�o mais familiar, que envolve um p�nis (como fazem os crocodilos).

Sem mais evid�ncias e sem nenhuma outra cloaca de dinossauro fossilizada para estudar, a quest�o permanece em aberto. Mas provavelmente j� temos o bastante sobre a genit�lia dos dinossauros.

E sobre os outros aspectos da sua reprodu��o? Eles tinham rituais de acasalamento, como lutas ou at� dan�as elaboradas? Os machos e as f�meas tinham apar�ncia diferente? E como sabemos quais caracter�sticas impressionavam o sexo oposto?

Navega��o sexy

� primeira vista, pode parecer que decifrar os comportamentos de acasalamento de animais h� muito tempo extintos � quase imposs�vel quanto procurar suas partes �ntimas. Mas Rob Knell, ecologista evolutivo da Universidade Queen Mary, em Londres, garante que existem indica��es ocultas nos registros f�sseis.

"Uma das quest�es sobre os dinossauros � que existem muitas coisas estranhas — aquilo que algumas pessoas chamaram de 'estruturas bizarras'", segundo Knell. "� parte do carisma que nos atrai. As placas do estegossauro, a grande vela dos espinossauros, os adornos e chifres dos tricer�tops e de todos os outros ceratopsianos... a grande crista dos hadrossauros... todas essas caracter�sticas podem muito bem ter sido selecionadas sexualmente."

Em muitos casos, os cientistas v�m debatendo as fun��es dessas estruturas h� s�culos, como a extravagante teoria de que os hadrossauros eram animais aqu�ticos e usavam suas cristas como snorkels (tubos de respira��o) ou c�maras de ar.

Algumas dessas teorias eram estranhas demais para serem plaus�veis. Quando o Tiranossauro Rex foi descoberto em 1900, seus bra�os quase foram considerados pequenos demais para que pertencessem ao animal. Inicialmente, achava-se que eles fossem de outro esqueleto, de um animal diferente.

Mas Knell explica que, no passado, os paleont�logos relutavam em interpretar essas caracter�sticas como instrumentos para atrair ou competir por parceiros para acasalamento. Eles conseguiam imaginar que esse fosse o seu objetivo, mas n�o havia como comprovar essa especula��o, que n�o parecia algo cient�fico.

"Um exemplo seriam as placas nas costas do estegossauro", segundo Susannah Maidment, pesquisadora s�nior de paleobiologia do Museu de Hist�ria Natural de Londres. "[Ou] temos essa esp�cie de crista tubular na cabe�a dos hadrossauros... n�o sabemos para que elas serviam."

A� entra a ci�ncia moderna. Em 2012, Knell decidiu observar o problema mais de perto. Seu interesse espec�fico era pelo estudo das caracter�sticas exc�ntricas que relembram particularmente as exibi��es de acasalamento dos animais vivos, ou as que desafiam outras formas de explica��o.

Entre elas, incluem-se os chifres e adornos faciais dos tricer�tops e seus parentes, como os psitacossauros, com seus espinhos laterais incomuns nas duas bochechas. H� tamb�m as cristas de predadores como o dilofossauro, que tinha duas sali�ncias proeminentes sobre cada um dos olhos, os longos pesco�os de gigantes como o diplodoco e as penas dos ancestrais das aves.

Embora n�o exista uma forma definitiva de determinar qual a finalidade de uso desses floreios anat�micos estranhos, Knell e uma equipe internacional de cientistas rapidamente perceberam que existem fortes indica��es entre os animais vivos, se voc� souber onde procurar.

Uma delas � o dimorfismo sexual — as caracter�sticas diferentes entre machos e f�meas de uma mesma esp�cie. � raro que ambos os sexos tenham estilos de vida e estrat�gias de sobreviv�ncia totalmente diferentes. Por isso, quando t�m caracter�sticas distintas, normalmente os machos podem us�-las para atrair diretamente as f�meas (como os mantos de penas coloridas dos pav�es machos) ou para concorrer entre si pelo direito de acasalar (como os chifres dos veados).

Infelizmente, essa indica��o espec�fica n�o � t�o �til para compreender os dinossauros, pois os cientistas ainda n�o conseguem diferenciar machos e f�meas. Mesmo quando descobrem discrep�ncias entre os indiv�duos fossilizados, eles n�o t�m como saber se est�o observando sexos diferentes ou diferentes esp�cies.

Isso nos traz ao pr�ximo sinal que serve de testemunha. Quando uma caracter�stica aparece apenas em animais adultos e n�o em filhotes ou jovens, normalmente ela ocorre por raz�es sexuais — como as jubas dos le�es machos, que se acredita sinalizarem sua aptid�o para o acasalamento. Mas isso tamb�m pode induzir a erros.

Em 1942, cientistas desenterraram um novo e surpreendente esqueleto em Montana, nos Estados Unidos. Ele claramente pertenceu a um predador formid�vel, mas era relativamente pequeno e delgado em compara��o com o maior dos predadores, o Tiranossauro Rex.

A equipe concluiu que seria um adulto de uma nova esp�cie que, depois de v�rias d�cadas de debates, acabou recebendo o nome de Nanotyrannus. Nos anos que se seguiram, diversos outros exemplos poss�veis foram identificados.

At� que, em 2020, uma equipe examinou o f�ssil mais de perto. Eles analisaram os ossos de dois poss�veis tiranossauros pigmeus e conclu�ram que eles provavelmente nunca foram uma esp�cie diferente, afinal. Eles eram esp�cimes de Tiranossauro Rex que haviam morrido na sua desengon�ada fase da adolesc�ncia.

Na verdade, agora se acredita que esses animais jovens menores teriam sido t�o diferentes dos adultos que quase pareciam n�o ter rela��o com eles, com cada um ocupando seu nicho distinto na cadeia alimentar da pr�-hist�ria.

E o Tiranossauro Rex n�o � o �nico dinossauro que pode ter sofrido mudan�as dram�ticas durante o seu desenvolvimento.

"Existe um enorme debate sobre os torossauros e os tricer�tops", segundo Maidment.

Embora essas duas esp�cies de dinossauros parecessem, em grande parte, similares, o esqueleto do torossauro era realmente gigantesco (o maior de qualquer animal terrestre), com um colar enorme em volta do pesco�o com buracos gigantes. J� o tricer�tops era muito menor, com um adorno proporcionalmente menor e sem buracos.

"Estas s�o duas esp�cies de dinossauros que viviam uma ao lado da outra, no final do cret�ceo, na Am�rica do Norte. E algumas pessoas acham que o torossauro � um tricer�tops muito antigo, outras que s�o duas esp�cies distintas", afirma Maidment. Ela relaciona outras variantes que algumas pessoas acreditam que s�o apenas etapas de vida diferentes do tricer�tops.

"E algumas pessoas defendem que s�o todas esp�cies diferentes, mas, na verdade, podem ser apenas est�gios ontogen�ticos [de desenvolvimento] do tricer�tops. E ningu�m na verdade chega a um acordo", explica ela.

Por isso, essa estrat�gia de identificar caracter�sticas sexuais nem sempre ir� funcionar. Mas, por sorte, existe outra forma, que � imaginar que outra fun��o poderia ter essa estrutura.

"O que podemos dizer � 'bem, isso � consistente com uma estrutura que evoluiu para este prop�sito — e n�o � consistente com uma estrutura que evoluiu para outro prop�sito qualquer'", afirma Knell.

Um exemplo s�o os adornos dos tricer�tops. Ao longo dos anos, sucessivas gera��es de cientistas assombraram-se com essa caracter�stica superdimensionada. Suas explica��es variam desde proteger o pesco�o de predadores at� regular sua temperatura, ou at� fornecer uma conex�o para os m�sculos que permitisse ao animal manejar seus chifres com mais for�a.

Mais recentemente, sugeriu-se que eles poderiam ser utilizados para ajudar a esp�cie a identificar os membros do seu pr�prio grupo. Knell e seus colegas investigaram mais a fundo e conclu�ram que essa teoria realmente n�o faz sentido, pois existe pouca varia��o entre os adornos de diferentes esp�cies de tricer�tops, o que a torna improv�vel.

Com essa hip�tese possivelmente descartada, fica mais razo�vel especular que eles fossem utilizados para impressionar outros tricer�tops ou afugentar outros machos, o que teria ajudado os animais a acasalar-se.

E existem algumas evid�ncias a respeito. Em um estudo de 2009, foram analisados os padr�es de les�es nos esqueletos de diversos tricer�tops e concluiu-se que eles s�o consistentes com lutas com outros indiv�duos da mesma esp�cie. Os pesquisadores podem ter encontrado os vest�gios de assinaturas de antigas rivalidades sexuais.

E sobre outros rituais de acasalamento? Os machos de Tiranossauro rex contorciam seus bra�os min�sculos para atrair as f�meas para acasalar-se?

Seria poss�vel que os paquicefalossauros dessem cabe�adas durante as batalhas por domina��o sexual? E os velociraptors machos, teriam constru�do caramanch�es elaborados e cuidadosamente projetados — talvez selecionando apenas as frutinhas mais azuis para enfeitar suas obras de arte?


tricerátops
Acreditou-se por muito tempo que tricer�tops utilizavam seus adornos para defender-se dos predadores, mas eles poderiam servir cortejar parceiros? (foto: Getty Images)

Knell est� certo que, de forma geral, a resposta � "sim". Ele indica as similaridades entre os dinossauros e as aves, e o fato de que estas s�o apenas progress�es com bicos e sem dentes dos seus antigos primos de penas.

Isso � particularmente v�lido para as aves-dinossauros, que evolu�ram para tornar-se os p�ssaros modernos — como os velociraptors, que eram mais parecidos com perus assassinos que com os elegantes predadores exibidos nos filmes Jurassic Park.

"Se voc� observar as aves atuais, elas fazem uma ampla variedade de exibi��es. Por que os dinossauros fariam algo diferente?", pergunta Knell. "N�o existe raz�o para pensar que havia algo de estranho no acasalamento dos dinossauros que n�o tivesse se transportado para as aves... sim, eu acho que eles faziam estranhas exibi��es para o acasalamento."

Surpreendentemente, pode at� haver evid�ncias f�sicas desses rituais antigos. Em 2016, cientistas estavam escavando no Colorado, nos Estados Unidos, quando descobriram cochos curiosos no leito rochoso, quase como po�as antigas. Mas uma inspe��o mais cuidadosa revelou detalhes de marcas raspadas e pegadas de tr�s dedos, que s�o caracter�sticas de predadores como o Tiranossauro rex, datadas do per�odo cret�ceo.

N�o se tratava de ondula��es acidentais na superf�cie da terra. Elas haviam sido feitas por dinossauros. E se parecem excepcionalmente com vers�es maiores das impress�es deixadas atualmente pelas avestruzes.

As f�meas de avestruzes s�o amantes exigentes. Os machos precisam realizar dan�as de cortejo elaboradas para ati��-las. Esse ritual inclui uma corrida, muita ondula��o das asas e uma "cerim�nia de raspagem" — uma demonstra��o dos seus conhecimentos de escava��o, necess�rios para construir os ninhos no solo. Os pesquisadores indicam que os autores dessas marcas podem ter feito o mesmo, 100 milh�es de anos atr�s.

Mas Knell argumenta que podemos nunca saber muito sobre os detalhes curiosos da maioria dos rituais de acasalamento dos dinossauros. Mesmo as aves mais pr�ximas que vivem hoje em dia, como as diversas esp�cies de aves-do-para�so, podem fazer exibi��es muito diferentes. "E, se voc� for tentar prever alguma coisa, n�o chegar� muito longe", afirma ele.

Ocorre que, nos �ltimos anos, conseguimos muitas indica��es antes inimagin�veis sobre a vida dos dinossauros. Quem sabe, talvez em algumas d�cadas, todos teremos o desconfort�vel conhecimento das formas pervertidas de cortejo desses animais — e, sim, qual tipo de genitais eles tinham.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62004422

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)