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John Edmonstone, o escravizado liberto que ensinou taxidermia a Darwin e abriu caminho para teoria da evolu��o

Charles Darwin andava desiludido com os estudos de medicina quando um ex-escravizado disse a ele maravilhas sobre a natureza nos tr�picos e o ensinou como preservar animais coletados.


12/11/2022 09:13 - atualizado 12/11/2022 12:55


Desenho con Waterton sobre um jacaré, indígenas e negros.
'Foi a primeira e �ltima vez que estive no lombo de um jacar�', diz a legenda desta ilustra��o de uma famosa aventura de Waterton durante sua viagem a Demerara, Guiana, em 1820. Ele est� acompanhado por ind�genas e negros... um deles era aquele homem n�o identificado (foto: Science Photo Library)

Em A origem do homem (1871), o segundo livro sobre a teoria da evolu��o de Charles Darwin, que � um dos textos mais estudados da hist�ria, cada detalhe foi examinado.

E h� um que, apesar de n�o ser relevante para a compreens�o de sua teoria revolucion�ria, intrigou os historiadores.

Ap�s afirmar que, embora as ra�as humanas difiram em alguns aspectos, como um todo "elas se assemelham em alto grau" fisicamente e "de maneira igual e ainda mais marcada" mentalmente, ele observa:

"...durante minha estada entre os nativos da Terra do Fogo, a bordo do Beagle, fiquei profundamente impressionado com a observa��o de um grande n�mero de tra�os caracter�sticos que evidenciavam como sua intelig�ncia era semelhante � nossa; o mesmo me aconteceu com um negro de sangue puro de quem eu j� fui pr�ximo."

Quem era aquele homem n�o identificado?

Uma pista estava nas notas autobiogr�ficas do fim da vida de Darwin, na se��o que descreve seus dias de estudante em Edimburgo (outubro de 1825 a abril de 1827), onde ele escreveu:

"Ali�s, morava em Edimburgo um negro que tinha viajado com Waterton e ganhava a vida dissecando p�ssaros, o que fazia com excel�ncia: ele me dava aulas em troca de um pagamento, e eu costumava sentar com ele muitas vezes, porque ele era um homem muito legal e inteligente."

Era algu�m que Darwin n�o tinha esquecido apesar de sua idade avan�ada, embora novamente n�o tenha citado seu nome... mas ele citou outro, Waterton, e esse era conhecido.

O exc�ntrico naturalista, conservacionista e explorador Charles Waterton (1782-1865) ficou famoso por suas expedi��es ao continente americano, de onde levou para a Europa o curare, o extrato vegetal paralisante que mais tarde foi usado como anest�sico em opera��es cir�rgicas.

Waterton registrou suas experi�ncias no livro Andan�as pela Am�rica do Sul, o noroeste dos Estados Unidos e as �ndias Ocidentais nos anos de 1812, 1816, 1820 e 1824, com Instru��es Originais para a Perfeita Preserva��o das aves, &c. para arm�rios de hist�ria natural, publicado em 1825.

A obra apresentou muitos brit�nicos, incluindo o pr�prio Darwin e seu colega pioneiro da teoria da evolu��o Alfred Russel Wallace, �s maravilhas naturais dos tr�picos.

E foi em uma dessas viagens, durante uma visita � planta��o de seu amigo e mais tarde sogro Charles Edmonstone por volta de 1812, que Waterton come�ou a estudar e coletar esp�cimes da selva circundante.

Mas havia tantos exemplos de p�ssaros ex�ticos que ele queria preservar que n�o deu conta. Assim, como conta em seu terceiro di�rio, iniciado em 1820, ele procurou ajuda.

"Foi nesta colina, dias antes, que tentei ensinar John, o negro escravizado do meu amigo Sr. Edmonstone, a maneira correta de fazer p�ssaros."

"Mas John tinha poucas habilidades, e levou muito tempo e paci�ncia para incutir algo nele."

"Alguns anos depois, seu senhor o levou para a Esc�cia, onde, sendo liberto, John o deixou e conseguiu um emprego no museu de Glasgow e depois no de Edimburgo."

Seria ele aquele homem n�o identificado?

Numerosos historiadores conclu�ram que sim.

O nome do homem

Dos primeiros e �ltimos anos de sua vida, pouco se sabe.

Ele havia nascido escravizado na planta��o de madeira do escoc�s Edmonstone na regi�o de Demerara, no territ�rio que era ent�o conhecido como Guiana Brit�nica, no norte da Am�rica do Sul.


Plantação de Charles Edmonstone em Mibiri Creek, perto do Rio Demerara, na Guiana
Planta��o de Charles Edmonstone em Mibiri Creek, perto do Rio Demerara, na Guiana (foto: BBC)

Como era comum, John recebeu o sobrenome de seu propriet�rio e, em 1817, viajou para a Esc�cia com ele, onde, por lei, foi emancipado.

Embora Waterton observe que Edmonstone trabalhou em museus em Glasgow e Edimburgo, pesquisadores dos Registros Nacionais da Esc�cia (a ag�ncia de registros e arquivos da Esc�cia), consultando arquivos de correios, encontraram um John Edmonstone, "empalhador de p�ssaros", que em 1823 abriu uma loja no n�mero 37 da Lothian Street, perto da Universidade de Edimburgo.

De qualquer forma, tudo indica que ele vivia da arte da taxidermia que Waterton havia lhe ensinado — uma habilidade requisitada na �poca, n�o s� para fins cient�ficos, mas tamb�m para decora��o.

E era essa arte que o jovem Darwin queria aprender — aos 16 anos, ele chegou at� Edmonstone solicitando seus conhecimentos em troca de "um guin�u (moeda de ouro) por uma hora todos os dias durante dois meses", como contou em carta � irm� Susan.

P�ssaros empalhados

Para Adrian Desmond e James Moore, especialistas na obra de Darwin e autores de A causa sagrada de Darwin, Edmonstone deu mais do que palestras t�cnicas sobre como um ca�ador refinado como ele poderia conservar seus p�ssaros como trof�us.


Dois passarinhos de Galápagos (à direita), três espécies de tentilhões de Galápagos (canto superior esquerdo) e toutinegra amarela (dourado, abaixo e à esquerda), da coleção da Estação de Científica Charles Darwin em Galápagos.
Dois passarinhos de Gal�pagos (� direita), tr�s esp�cies de tentilh�es de Gal�pagos (canto superior esquerdo) e toutinegra amarela (dourada, abaixo � esquerda), da cole��o da Esta��o de Cient�fica Charles Darwin em Gal�pagos (foto: Science Photo Library)

Em suas conversas, provavelmente contou a ele sobre as emocionantes aventuras de Waterton, sobre interessantes buscas por esp�cimes raros e sobre aquele mundo ex�tico que ele s� descobriria se atravessasse o Atl�ntico.

Falou tamb�m sobre a terr�vel cultura escravista de Demarara, tema de particular interesse para algu�m que, como Darwin, vinha de uma fam�lia abolicionista, acreditava que todas as ra�as pertenciam � mesma fam�lia humana e condenava a escravid�o como pecado.

Na �poca, Darwin estava ficando desiludido com seus estudos de medicina, enquanto sua paix�o pela hist�ria natural crescia.

E acredita-se que os relatos de Edmonstone sobre a vida nas florestas tropicais da Am�rica do Sul ajudaram a consolidar seu interesse pelo naturalismo.

Isso � prov�vel, embora imposs�vel de comprovar.

O fato � que o que ele aprendeu sobre taxidermia foi essencial para preservar os esp�cimes que Darwin coletou em sua viagem de cinco anos a bordo do Beagle.

E esses esp�cimes perfeitamente preservados foram fundamentais para formular a teoria que mudou nossa vis�o do mundo e nosso lugar nele como nenhuma outra.

Sobre Edmonstone, depois de 1843 n�o h� vest�gios.

Mas, embora n�o possamos contar a hist�ria completa de sua vida, os vislumbres recuperados pelos historiadores pelo menos o resgataram do esquecimento.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63189447

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