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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Amaz�nia: at� 40% do que resta da floresta sofreu degrada��o, dizem estudos

Trabalhos com coautoria de cientistas brasileiros mostram que at� 40% das �reas remanescentes de florestas na regi�o j� sofreram algum tipo de degrada��o


26/01/2023 16:20 - atualizado 26/01/2023 19:55
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Apuí, no Amazonas
Floresta no munic�pio de Apu�, no Amazonas (foto: MICHAEL DANTAS / AFP)

Dois estudos que acabam de ser publicados apresentam um diagn�stico preocupante dos impactos humanos sobre a Amaz�nia. Os trabalhos, com coautoria de cientistas brasileiros, mostram que at� 40% das �reas remanescentes de florestas na regi�o j� sofreram algum tipo de degrada��o, e que a velocidade das altera��es ambientais ocorrendo agora pode ser milhares de vezes maior do que em qualquer momento do passado.

Os levantamentos, que buscam sintetizar os principais dados obtidos at� hoje sobre a sa�de dos ecossistemas amaz�nicos, est�o na mais recente edi��o do peri�dico especializado americano Science, um dos mais influentes do mundo.

"Conforme nos aproximamos de um ponto de virada irrevers�vel para a Amaz�nia, a comunidade global precisa agir agora. Abordagens capazes de impedir os resultados mais negativos j� foram identificadas com sucesso, mas implement�-las � uma quest�o de lideran�a e vontade pol�tica. Abandonar a Amaz�nia � abandonar a biosfera", escrevem os autores de um dos artigos, adotando uma ret�rica de advert�ncia severa que raramente aparece em relat�rios cient�ficos.

O estudo cuja conclus�o traz as frases acima busca estimar as taxas atuais de altera��o em dezenas de aspectos do ambiente amaz�nico. O trabalho foi coordenado por James Albert, da Universidade da Louisiana em Lafayette (EUA), e conta com a participa��o de pesquisadores de diversas institui��es brasileiras, entre eles o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avan�ados da USP (Universidade de S�o Paulo).

No segundo levantamento, uma equipe sob coordena��o de David Lapola, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), faz uma radiografia dos principais processos de degrada��o florestal na Amaz�nia. Florestas degradadas, embora n�o tenham sofrido "corte raso" -o desmatamento propriamente dito- enfrentam problemas s�rios, como danos causados pelo fogo, por secas intensas e pela extra��o de madeira.

LEIA - Desmatamento da Amaz�nia bate recorde no governo Bolsonaro

Al�m disso, o processo de desmatamento � capaz de degradar �reas de mata que continuam de p�, porque a tend�ncia � que elas fiquem reduzidas a fragmentos florestais -ilhas cercadas por atividades agr�colas, estradas ou mesmo �reas urbanas. Nesses fragmentos, passa a atuar o chamado efeito de borda. Nesses casos, as �reas de floresta adjacentes a trechos n�o florestados tendem a ser mais quentes, mais secas, com composi��o de esp�cies diferente e mais sujeitas ao fogo. Tudo isso faz com que as caracter�sticas originais da mata comecem a se perder naquele fragmento.

De acordo com os levantamentos, enquanto o corte raso j� atingiu cerca de 17% da �rea normalmente abrangida pelo bioma amaz�nico, os impactos da degrada��o florestal podem ser muito mais amplos. A �rea total degradada, nesse caso, chegaria a cerca de 2,5 milh�es de quil�metros quadrados, ou 38% das florestas remanescentes.

San Martin de Amacayacu, na Amazônia Colombiana
San Martin de Amacayacu, na Amaz�nia Colombiana (foto: Lina VANEGAS / AFP)

Eventos clim�ticos na Amaz�nia


Diversos processos potencializados pela a��o humana s�o relevantes para os problemas detectados em ambos os estudos. Um dos que mais t�m assustado os pesquisadores � o aumento de eventos clim�ticos extremos na regi�o, o qual tem rela��o direta com a emiss�o desenfreada de gases causadores do efeito estufa.

A equipe coordenada por David Lapola calcula, por exemplo, que as duas grandes secas de 2005 e 2010 levaram � queima de uma �rea de mata com o dobro e o qu�druplo do tamanho m�dio anual dos inc�ndios florestais desde o come�o deste s�culo. J� segundo o time capitaneado por Albert, tanto secas quanto enchentes extremas atingiram a regi�o em nove dos �ltimos 15 anos. No s�culo passado inteiro, por outro lado, houve apenas sete desses eventos.

O grande problema, portanto, � que esses impactos n�o apenas est�o ficando mais graves como tamb�m est�o se acelerando e ficando mais comuns, em n�veis que n�o se comparam a nada que a Amaz�nia enfrentou ao longo de dezenas de milh�es de anos de hist�ria evolutiva.

Isso tem consequ�ncias j� vis�veis no curto prazo. Al�m da perda de biodiversidade e do assoreamento de rios, em muitos locais degradados a mata est� deixando de ser o que os pesquisadores chamam de um sumidouro de carbono para se tornar uma fonte de carbono. Trocando em mi�dos: enquanto o normal � a floresta retirar g�s carb�nico da atmosfera por meio do crescimento das plantas, mitigando, assim, o aquecimento causado por esse g�s do efeito estufa, a mata sob estresse pode acabar lan�ando mais g�s carb�nico na atmosfera, ajudando a piorar seus pr�prios problemas.

Al�m disso, j� est� demonstrado que as chuvas amaz�nicas dependem, em grande medida, da capacidade que a floresta tem de reciclar a pr�pria �gua que "transpira" -para ser mais exato, cerca de metade dos 14,1 trilh�es de metros c�bicos de �gua que despencam na regi�o todos os anos v�m da pr�pria mata. As secas extremas, o fogo e o desmate aumentam cada vez mais o risco de que essa torneira se feche, o que pode trazer consequ�ncias p�ssimas para o clima de toda a Am�rica do Sul. Em �ltima inst�ncia, a degrada��o florestal poderia acabar com as caracter�sticas t�picas da Amaz�nia, transformando-a numa esp�cie de savana empobrecida.

Grande parte desses problemas pode ser resolvida simplesmente cumprindo a lei, ao menos no caso do Brasil, mas abordagens mais ambiciosas ser�o necess�rias para minimizar significativamente o risco de um colapso do ecossistema, dizem os pesquisadores.

O investimento em energias limpas no Brasil e no mundo � indispens�vel para frear a mudan�a clim�tica em n�vel global. Al�m disso, em termos regionais, a Amaz�nia precisa iniciar sua transi��o para a bioeconomia, com produtos de alto valor agregado baseados na biodiversidade da regi�o e um freio � expans�o � agropecu�ria de exporta��o.

 

Combate � degrada��o depende da governan�a da floresta

 

Um dos autores do artigo, o professor Marcos Heil Costa, do Departamento de Engenharia Agr�cola da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), lembra que a pesquisa avaliou perspectivas para a degrada��o florestal em cen�rios com e sem governan�a at� 2050.

Os pesquisadores conclu�ram que, se n�o houver controle do desmatamento e de atividades predat�rias na Amaz�nia, em menos de 30 anos a emiss�o de carbono poder� ser sete vezes maior do que em um cen�rio de governan�a. Em ambas as situa��es, por�m, os quatro fatores de degrada��o continuar�o sendo as principais fontes de emiss�o de carbono na atmosfera, independentemente do crescimento ou interrup��o do desmatamento da floresta.

Para o professor Heil, o artigo evidencia que conter a degrada��o � t�o importante quanto frear o desmatamento, mas pode ser mais complicado. “Ela � menos vis�vel e pode ser esparsa e disfar�ada, uma vez que s�o muitas as suas causas. Pequenas extens�es de degrada��o e m�nimas queimadas dificultam a detec��o por sat�lite. Ainda n�o temos um sistema de monitoramento para degrada��o florestal, e ser� preciso atentar para isso. A pesquisa mostra que temos um grande desafio a enfrentar”.


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