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Estado de Minas MATO GROSSO

Pingentes feitos de ossos de pregui�a-gigante s�o encontrados no Brasil

A conclus�o vem de uma an�lise dos artefatos feita por paleont�logos e arque�logos e � uma das evid�ncias da intera��o entre seres humanos e mam�feros gigantes


03/07/2023 15:47 - atualizado 03/07/2023 15:47
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Imagem gráfica de uma preguiça-gigante pré-histórica
Concep��o art�stica de como teria sido o homem pr�-hist�rico fazendo adornos corporais de ossos de uma pregui�a-gigante, durante a Era do Gelo em Mato Grosso (foto: Divulga��o/J�lia D'Oliveira)
Alguns dos mais antigos habitantes do atual territ�rio brasileiro transformaram ossinhos de uma esp�cie de pregui�a-gigante em adornos corporais, provavelmente fabricando uma esp�cie de pingente.

 

A conclus�o vem de uma an�lise dos artefatos feita por paleont�logos e arque�logos e � uma das evid�ncias mais diretas da intera��o entre seres humanos e mam�feros gigantes da Era do Gelo j� encontradas no Brasil.

 

Os adornos corporais foram encontrados no abrigo rochoso de Santa Elina, em Mato Grosso. O local se destaca tamb�m pelas datas muito antigas obtidas a partir de fragmentos de carv�o e outros resqu�cios, com idade superior a quase todos os outros s�tios arqueol�gicos do pa�s.

Se as data��es estiverem corretas, os artefatos foram produzidos por volta de 25 mil anos atr�s, durante o chamado �ltimo M�ximo Glacial. Grosso modo, trata-se do mais recente pico de frio da Era do Gelo, quando as geleiras que recobriam grandes extens�es do hemisf�rio Norte alcan�aram seu auge pela derradeira vez.

 

As an�lises detalhadas conduzidas com os objetos est�o descritas em artigo rec�m-publicado na revista especializada brit�nica Proceedings of the Royal Society B. O trabalho � assinado pelas paleont�logas M�rian Pacheco e Tha�s Pansani, da UFSCar (Universidade Federal de S�o Carlos), e por �gueda Vialou e Denis Vialou, do Museu Nacional de Hist�ria Natural de Paris, entre outros pesquisadores.

 

No s�tio de Santa Elina, os pesquisadores encontraram milhares de osteodermes (estruturas �sseas da derme, uma das camadas da pele) de uma esp�cie de pregui�a-gigante, a Glossotherium phoenesis, que alcan�ava mais ou menos o tamanho de um boi atual.

As estruturas, que n�o aparecem nas pregui�as atuais, assemelham-se �s placas que recobrem os tatus (membros do mesmo grupo do qual as pregui�as fazem parte). Sua fun��o ainda n�o � bem conhecida, mas pode estar relacionada � regula��o da temperatura do corpo, diz Pansani. Tr�s dos osteodermes descobertos no s�tio est�o modificados de tal maneira que sugeria a interven��o humana.


"� primeira vista, eles apresentam uma forma bem sugestiva de pingentes, principalmente devido ao polimento, que em alguns casos muda at� a forma do osteoderme, e � localiza��o de orif�cios neles", explicou Pacheco � reportagem.

Os orif�cios indicavam que os ossinhos poderiam ter sido perfurados intencionalmente e colocados num cord�o, por exemplo. No novo estudo, a equipe usou uma s�rie de m�todos de an�lise da estrutura microsc�pica dos artefatos, inclusive com a ajuda de aceleradores de part�culas na Fran�a, para mapear como ocorreram essas modifica��es nos osteodermes.

A principal conclus�o � que eles foram cuidadosamente trabalhados com a ajuda de artefatos de pedra (v�rios dos quais foram encontrados em Santa Elina).

"Tamb�m encontramos ind�cios do uso desses artefatos como poss�veis adornos, tais como marcas que sugerem o contato constante dos artefatos com superf�cies —talvez a pele dos usu�rios", conta a paleont�loga.

Para validar esses dados, a equipe fez experimentos com outros osteodermes antigos do s�tio arqueol�gico e com osteodermes de tatus atuais, mostrando que o aspecto polido dos artefatos poderia ser produzido, de fato, pela a��o humana.

 

Al�m disso, o padr�o de altera��es nos ossinhos indica que eles foram modificados relativamente pouco tempo depois da morte das pregui�as, e n�o quando j� tinham se fossilizado. Trata-se, portanto, de uma pista em favor da ideia de que os seres humanos que viviam nas vizinhan�as do s�tio conviveram com a esp�cie de mam�fero gigante e podem ter abatido aquelas pregui�as.

 

Esse dado � importante porque, embora esteja claro que os brasileiros da Era do Gelo chegaram ao pa�s quando as esp�cies da chamada megafauna ainda estavam por aqui, s�o muito raros, por enquanto, os ind�cios de que eles tenham ca�ado esses animais.

 

V�rios fatores poderiam explicar isso, segundo Pacheco. "O primeiro � o intemperismo: o fato de ser uma regi�o tropical, a umidade e a vegeta��o, tudo isso pode prejudicar a preserva��o dos ossos. Os das pregui�as-gigantes de Santa Elina, por exemplo, est�o muito fri�veis [quebradi�os]. Eles chegam a esfarelar com o manuseio. Os osteodermes devem ter se preservado por serem mais resistentes", pondera ela.

 

Al�m disso, a relativa falta de pesquisadores da �rea no Brasil, bem como a complexidade das an�lises necess�rias para comprovar algo como a ca�a e o consumo por seres humanos, poderiam ser parte da explica��o para a relativa falta de casos confirmados.

 

Pansani diz que considera confi�veis as datas muito antigas do s�tio arqueol�gico. Nesse caso, a simples conviv�ncia dos seres humanos com pregui�as-gigantes e outros membros da megafauna da Era do Gelo n�o seria um sinal de que o Homo sapiens os exterminou rapidamente, uma vez que v�rias dessas esp�cies s� desaparecem de vez no Brasil por volta de 10 mil anos atr�s.

 

O estudo teve apoio da Capes (Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior), �rg�o do governo federal.


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