
Alguns de seus filmes estar�o em cartaz em uma mostra retrospectiva, que inclui o curta “Cosmococa”(1973), dirigido com H�lio Oiticica; seu primeiro longa,“Jardim de guerra”, gravado em 1968, mas censurado durante anos pela ditadura militar; al�m dos mais cultuados “Rio Babil�nia” (1982) e “Matou a fam�lia e foi ao cinema” (1991).
Prestes a se tornar octogen�rio, o mineiro fica feliz com a homenagem e referenda a avalia��o de que sua obra n�o se enquadra em um �nico estilo.
'Estamos num retrocesso tr�gico, brutal. O pa�s est� destruindo todos os movimentos ligados � arte. Temos um presidente contra a m�sica, contra a literatura, contra a liberdade, contra o meio ambiente, contra o conv�vio social, contra a educa��o, e a favor do que h� de pior'
Neville D'Almeida, diretor
“O que fa�o � sobrepor g�neros. Essa � a coisa mais importante do artista: tentar sobrepor g�neros, n�o s� como atitude, mas como conceito, como desenvolvimento de uma obra com profundidade. Vejo essa homenagem muito justa, por ser um festival que busca isso: inova��o, inven��o e criatividade na linguagem cinematogr�fica”, afirma Neville.
Muito atacado pela censura do regime militar pela proposta socialmente disruptiva de seus t�tulos, o cineasta celebra que seus filmes tenham mais essa janela para serem vistos. “Meus filmes dialogam com o presente e com o futuro. � sempre importante o p�blico ter acesso. Meu cinema foi censurado, escondido e proibido”, cita. “‘Jardim de guerra’ foi feito em 68 e nunca exibido comercialmente, isso � uma trag�dia, n�o s� pessoal, mas social, de um pa�s como o nosso ter essa censura.”
O diretor se define como “diferente de tudo e de todos”. E diz: “Quando se chega na minha idade, o neg�cio n�o � vaidade, � verdade. Ent�o as pessoas v�o ter oportunidade de ver a minha obra, de tomar conhecimento. Sou o cineasta mais censurado na Am�rica Latina. Fiz meu primeiro filme em 68 e s� fui ter um filme exibido 10 anos depois e consegui ter um dos filmes mais vistos da hist�ria . Ent�o foi uma vida de resist�ncia. O mineiro sabe resistir. Nada foi por acaso. N�o aceitei ter meus filmes proibidos, n�o aceitei ser o maldito. Sou bem-aventurado”, diz o diretor, preocupado com os sinais de retrocesso que enxerga hoje na democracia brasileira.
“Estamos num retrocesso tr�gico, brutal. O pa�s est� destruindo todos os movimentos ligados � arte. Temos um presidente contra a m�sica, contra a literatura, contra a liberdade, contra o meio ambiente, contra o conv�vio social, contra a educa��o, e a favor do que h� de pior. Estamos economicamente falidos, culturalmente falidos e politicamente comprometidos com um presidente que diariamente faz amea�as � Suprema Corte. Fala que vai ‘ouvir a voz da rua’. A voz da rua n�o � a daquele grupo que d� para contar que fica na porta do pal�cio puxando o saco dele”, opina.
Segundo o diretor, “mais que nunca, � hora de reagir, de fazer, de criar novas formas”. Ele lembra que, nos anos 1960, vivia em Nova York, e uma de suas inspira��es para retornar ao Brasil foi o Cinema Novo.
“O meu caminho vai para o futuro, para o cinema moderno, de liberdade, de acabar com a mis�ria sexual do cinema, com essa coisa do cinema ser uma arte controlada por moralistas, por censura, por m� interpreta��o religiosa. Nunca aceitei isso, fa�o outro cinema, fa�o ‘A dama do lota��o’, fa�o ‘Mangue bangue', a liberdade � a ferramenta do artista e o cinema � diverso, permite v�rias linguagens, v�rias possibilidades", afirma.
Apesar da pandemia, Neville diz estar em constante processo de cria��o. Ele lista pelo menos tr�s projetos de novos filmes em que trabalha atualmente para tomarem forma no futuro. Um deles se chama “Minas Babil�nia”, em parceria com o diretor Eder Santos e a roteirista M�nica Cerqueira. Sem poder dar mais detalhes, ele diz que a ideia � gravar em Belo Horizonte, quando poss�vel.