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Estado de Minas LITERATURA

Murilo Rubi�o ganha novo site dedicado � sua obra, mem�ria e legado

Escritor, considerado pai do realismo fant�stico no Brasil, ter� site com vasto material para pesquisadores e f�s do mineiro de Carmo de Minas


03/10/2022 04:00 - atualizado 02/10/2022 15:24

Print do site dedicado a Murilo Rubião
Novo site dedicado ao escritor vai ao ar na pr�xima quinta-feira (6/10) e poder� ser acessado em murilorubiao.com.br (foto: INTERNET/REPRODU��O )

Ainda em vida, o escritor Murilo Rubi�o (1916-1991) j� manifestava o desejo de deixar sua obra e acervo sob os cuidados da sobrinha S�lvia Rubi�o. Talvez na tentativa de reacender nela o interesse pela carreira de escritora, perdido na adolesc�ncia, ou mesmo porque encontrava na filha de seu �nico irm�o as caracter�sticas necess�rias de quem cumpre a desafiadora tarefa de preservar a mem�ria e o legado de artistas e escritores nacionais. Portanto, para que n�o houvesse d�vidas de sua vontade, Murilo deixou um documento escrito, que foi encontrado pela fam�lia ap�s sua morte, em setembro de 1991.

Assim, de uma hora para outra, S�lvia viu-se herdeira dos direitos sobre tudo que “Tio Murilo” escreveu e de uma infinidade de livros que compunham a biblioteca do pai do realismo fant�stico no Brasil.

Eram tantos exemplares que, ao fim da vida, Rubi�o morava em um pr�dio na esquina da Avenida Augusto de Lima com a Rua Esp�rito Santo, no Centro de Belo Horizonte, e alugava um apartamento a algumas quadras, no Edif�cio Maletta, somente para guardar os que n�o cabiam mais em casa.

A enorme biblioteca foi doada para o Acervo de Escritores Mineiros (AEM), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). J� as publica��es, correspond�ncias com autores contempor�neos, manuscritos e at� mesmo as anota��es que Rubi�o fez em uma “B�blia” – o Antigo Testamento era uma de suas maiores fontes de inspira��o – est�o reunidos em novo site do escritor, que vai ao ar na quinta-feira (6/10) e poder� ser acessado em murilorubiao.com.br.

A iniciativa � fruto da parceria entre S�lvia e Cleber Cabral, pesquisador do N�cleo de Estudos dos Acervos de Escritores Mineiros e professor da Uninter.

“Existia j� um site, criado h� cerca de 20 anos, em mem�ria dele (Murilo Rubi�o). Mas era uma p�gina que estava muito limitada, precisando de atualiza��o”, conta S�lvia. “N�s, ent�o, decidimos criar um novo site, mais completo e com mais informa��es a respeito do pr�prio legado do Murilo. Afinal, nesses �ltimos 20 anos, aconteceu muita coisa relacionada a ele”, acrescenta, referindo-se ao centen�rio do nascimento do escritor e das in�meras adapta��es que seus contos ganharam para o teatro, o cinema e a televis�o.

A nova p�gina conta com vasto material para pesquisadores e f�s do escritor, natural de Carmo de Minas. Al�m dos materiais que pertenceram a Rubi�o em vida, o site conta com podcast sobre o autor, biografia, cronologia de sua vida e obra, textos e depoimentos de escritores contempor�neos em homenagem a Murilo.

Murilo Rubião na esquina da Avenida Augusto de Lima com Rua Espirito Santo, onde morava no Centro de BH
Murilo Rubi�o na esquina da Avenida Augusto de Lima com Rua Espirito Santo, onde morava no Centro de BH (foto: Humberto B. Nicoline/Acervo Escritores Mineiros UFMG )

Maldi��o e gra�a

“O pirot�cnico Zacarias”, lan�ado em 1974, �, decerto, a obra mais conhecida de Rubi�o e a respons�vel por fazer o escritor mineiro ser conhecido como o precursor do realismo fant�stico no Brasil. No entanto, sua produ��o liter�ria come�ou muito antes, mais especificamente em 1947, com a publica��o de “O ex-m�gico”, recusado por grandes editoras e ignorado pela cr�tica quando publicado pela Editora Universal.

Depois, ele ainda lan�ou "A estrela vermelha" (1953), "Os drag�es e outros contos" (1965) e "O convidado" (1974). Todos igualmente ignorados pela cr�tica.

“Sempre aceitei a literatura como uma maldi��o. Poucos momentos de real satisfa��o ela me deu. Somente quando estou criando uma hist�ria sinto prazer. Depois � essa tremenda luta com a palavra, � revirar o texto, elaborar e reelaborar, ir para frente, voltar. Rasgar”, revelou Rubi�o a J. A. de Granville Ponce, em entrevista introdut�ria ao “O pirot�cnico Zacarias”.

A maldi��o para o escritor, no entanto, foi uma gra�a para a literatura brasileira. Afinal, a n�o ser Kafka na Rep�blica Tcheca, em 1915, com “A metamorfose”, n�o se tinham not�cias de autores que lan�avam m�o de elementos narrativos que, beirando ao absurdo, fugiam completamente da ordem natural.

H� quem diga que Joaquim Manuel de Macedo, em “A luneta m�gica” (1869), e Machado de Assis, em “Mem�rias p�stumas de Br�s Cubas” (1881), precederam o realismo fant�stico. No entanto, pelas caracter�sticas de seus romances, pode-se considerar que o que eles fizeram foi apontar para o que, de fato, viria a ser o realismo fant�stico por meio de tons figurativos.

Os elementos que fogem da ordem natural nas obras de Rubi�o est�o evidentes no conto “Teleco, o coelhinho”, de “O pirot�cnico Zacarias”. Na hist�ria, um pequeno coelho manso e delicado interrompe a contempla��o do mar pelo narrador, a fim de lhe pedir um cigarro. Ao longo do conto, Teleco vai se transmutando em diferentes animais, que v�o refletindo as personalidades que os seres humanos v�o assumindo � maneira que s�o corrompidos pelo pr�prio mundo at� virar “uma crian�a encardida, sem dentes. Morta”.

Outro conto que tamb�m beira o absurdo � “O ex-m�gico da Taberna Minhota”, no qual um m�gico deprimido n�o tem nenhum controle de seus “poderes sobrenaturais”.

“�s vezes, sentado em algum caf�, a olhar cismativamente o povo desfilando na cal�ada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imedia��es, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas”, narra o m�gico no conto de Rubi�o.

"Por tr�s da sisudez, de uma discreta gagueira e da economia de gestos,(Murilo Rubi�o) revelava-se um homem extremamente cordial, bom ouvinte, generoso e com sarc�stico senso de humor. Tinha um jeito afetuoso de p�r as m�os nos ombros do interlocutor, co�ar o queixo e perguntar com interesse como ia a vida"

S�lvia Rubi�o, sobrinha e herdeira da obra e acervo de Murilo Rubi�o


Figura humana

Ainda que Murilo Rubi�o apresentasse em suas obras humor e imagina��o singulares, na vida real, era t�mido – embora mantivesse uma vida bo�mia. Todos que o conheceram s�o un�nimes ao dizer que era mais retra�do na frente dos desconhecidos e um pouco a�reo.

“Por tr�s da sisudez, de uma discreta gagueira e da economia de gestos, revelava-se um homem extremamente cordial, bom ouvinte, generoso e com sarc�stico senso de humor. Tinha um jeito afetuoso de p�r as m�os nos ombros do interlocutor, co�ar o queixo e perguntar com interesse como ia a vida”, recorda S�lvia.

Ela ainda conta que “Tio Murilo” era amado, principalmente pelas crian�as, porque ele costumava andar com balas nos bolsos, que distribu�a aos pequenos que encontravam pelo caminho.

Com os jovens, sobretudo os aspirantes a escritores que tentavam emplacar algum texto no Suplemento Liter�rio, dirigido por Rubi�o, o escritor assumia um papel de mentor, dando conselhos, dicas de leitura e cr�ticas construtivas.

Adido cultural

J� no segmento cultural, assumiu um papel de extrema relev�ncia, mas que ainda n�o existia em sua �poca: secret�rio de Cultura. “N�o existia esse cargo, mas, levando em considera��o o que ele fez, seria o equivalente ao que um secret�rio de Cultura, tanto na esfera municipal  quanto na estadual, faz nos dias de hoje”, destaca S�lvia.

Embora tenha contos nos quais tece cr�ticas contundentes ao funcionalismo p�blico, Rubi�o fez carreira assessorando nomes importantes da pol�tica, como Juscelino Kubitschek e Jo�o Beraldo. Foi ainda chefe do Escrit�rio de Propaganda e Expans�o Comercial do Brasil, em Madri, e adido cultural junto � embaixada do Brasil na Espanha.

Como jornalista, iniciou como redator da Folha de Minas, tornou-se diretor da R�dio Inconfid�ncia e posteriormente do Suplemento Liter�rio de Minas Gerais, considerado at� hoje como um dos melhores �rg�os de imprensa cultural do pa�s.

Recebeu diversas homenagens ainda em vida, nas quais sempre fez quest�o de comparecer. S� faltou na primeira edi��o do Projeto Mem�ria Viva, que contou com a exposi��o “Murilo Rubi�o, construtor do absurdo”, no Pal�cio das Artes. Foi impedido de ir.  Havia morrido quatro dias antes, em “uma manh� sombria do dia 16 de setembro, dia do meu anivers�rio”, conforme recorda S�lvia.


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