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Diretora exp�e 'barreira no cora��o dos japoneses' em longa sens�vel

'Minha pequena terra', de Emma Kawawada, mostra resist�ncia do pa�s asi�tico a receber refugiados e drama dos que t�m a autoriza��o de perman�ncia negada


03/10/2022 04:00 - atualizado 02/10/2022 16:29

casal de atores sentado na grama lado a lado em cena de minha pequena terra
Resist�ncia japonesa a receber refugiados e drama dos que t�m a autoriza��o de perman�ncia no pa�s asi�tico negada s�o tema do sens�vel longa 'Minha pequena terra', de Emma Kawawada (foto: Belas Artes � La Carte/Divulga��o)

O Jap�o recebe milhares de pedidos de asilo pol�tico todos os anos, mas � dif�cil encontrar um lugar em que o n�mero de refugiados aceitos pela imigra��o passe de algumas dezenas.

Se o pa�s, por um lado, recebeu mais de 300 fugitivos da Ucr�nia no in�cio deste ano, gra�as a uma aproxima��o com os Estados Unidos, s� 74 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no ano passado, de um total de 2.413 pedidos.

O montante � bem menor do que na compara��o com 2018, antes da pandemia, quando 10.493 pessoas tentaram, mas s� 42 receberam esse status. Foi nesse mesmo ano que a cineasta Emma Kawawada come�ou a ver de perto a situa��o preocupante dos mais de 2 mil curdos que vivem hoje no seu pa�s � espera de um visto.

"Fui entrevistar v�rias fam�lias e conversei principalmente com jovens entre 10 e 20 anos, e eles se perguntavam: 'A que lugar eu perten�o?'", diz a diretora, que dedicou dois anos de pesquisa para fazer o singelo "Minha pequena terra", premiado no Festival de Berlim e agora dispon�vel no streaming Belas Artes � La Carte.

A jovem curda Sarya, vivida pela iniciante Lina Arashi – de ascend�ncia alem�, iraniana, russa e japonesa –, � o vetor dessas ang�stias.

Barreira 

Ela, de 17 anos, e sua fam�lia vivem com razo�vel tranquilidade no pa�s com uma licen�a provis�ria, at� que ap�s anos de espera – com a garota j� fluente em japon�s, prestes a tentar uma universidade e com os horm�nios � flor da pele – o Jap�o nega o pedido de asilo de seu pai, perseguido na Turquia.

"Existe uma barreira no cora��o dos japoneses que os impede de aceitar outras etnias no seu pr�prio pa�s, e isso se reflete na pol�tica", afirma Kawawada, numa resposta branda demais frente � dureza do seu pr�prio filme. � uma rela��o, diz ela, bem diferente do "omotenashi" – o �mpeto de hospitalidade – que os japoneses demonstram com turistas, por exemplo.

Afinal, com o visto negado, o pai de Sarya � impedido de trabalhar e a fam�lia n�o tem permiss�o nem para transitar para outro distrito. A recomenda��o do advogado que os acompanha � n�o sair de casa at� que o governo revise a decis�o – o que pode demorar indefinidamente. O resultado n�o poderia ser outro: o homem acaba preso tentando buscar o sustento para os tr�s filhos.

Sem o pai, Sarya, sua irm� adolescente e o irm�o ainda pequeno t�m de se virar como podem, morando de aluguel nos fundos de uma lavanderia. Da� a jovem ter� de assumir as r�deas da casa, ao mesmo tempo em que se sobrecarrega ajudando seus conterr�neos e se apaixona por um colega do mercadinho onde trabalha, papel de Daiken Okudaira, que vai inspirar nela sonhos imposs�veis.

Influ�ncia 

O longa deve agradar a quem aprecia o estilo delicado, e �s vezes acad�mico, de Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro por "Assunto de fam�lia", de 2019. N�o � uma compara��o infundada – Kawawada foi assistente dele nas filmagens de "O terceiro assassinato", um fren�tico filme de tribunal, um pouco diferente das cr�nicas da vida em fam�lia que est� acostumado a fazer.

"O Kore-eda fez entrevistas minuciosas e refletia muito sobre como conduzir o filme, isso me influenciou muito", diz a diretora, que preferiu apostar numa fic��o a fazer um document�rio que poderia passar despercebido, mesmo com um assunto que alfineta o Jap�o. Afinal, o alcance do drama serviu de alerta para a popula��o desavisada.

A diretora at� cogitou chamar imigrantes para viver os personagens reais, mas ficou com medo de que a exposi��o prejudicasse a perman�ncia deles no pa�s. Em vez disso, escalou Arashi e seus parentes de verdade, todos n�o atores, para dar um tom mais natural � fam�lia.

� uma t�cnica que n�o costuma decepcionar, e aqui n�o � diferente, j� que o filme aposta todas as suas fichas no carisma desses personagens unidos pelo sangue.

Os curdos, como se sabe, s�o ap�tridas por natureza, mesmo somando uma popula��o de 40 milh�es de pessoas espalhadas pelo mundo. Mas Sarya, mesmo respeitando seu pai, n�o concorda com a tradi��o de casamentos arranjados, comuns na sua cultura, e tem de se esquivar como pode para se sentir japonesa.

"H� uma tradi��o curda de pintar um c�rculo vermelho na m�o das mulheres em casamentos. Por coincid�ncia, remete � bandeira do Jap�o, mas, antes, refor�a que � algo do qual ela n�o consegue fugir", afirma a cineasta, que d� novos sentidos � cor ao longo do filme.

Por outro lado, o crach� que usa no trabalho, com seu nome escrito em "katakana", o alfabeto para palavras estrangeiras, e os tra�os f�sicos denotam para os japoneses que ela � uma estranha. J� quando ela se sujeita a ser acompanhante de um homem mais velho num karaok�, Sarya v� com nojo como esse exotismo se reverte em fetiche.

Apesar disso, o final �, de alguma forma, feliz – bem diferente da realidade que Kawawada viu. "Nenhuma das pessoas que entrevistei conseguiu ser admitida e permanece na libera��o provis�ria. O problema � que muitas pessoas nem sequer podem voltar para seu pa�s, � muito perigoso. E eles continuam tentando e tentando conseguir essa permiss�o."

“MINHA PEQUENA TERRA”

(Jap�o, 2022) Dire��o: Emma Kawawada. Dispon�vel no Belas Artes � La Carte





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