Lelo Zaneti, Samuel Rosa, Henrique Portugal e Haroldo Ferretti, músicos do Skank, estão lado a lado gesticulando para a câmera

Lelo Zaneti, de 55 anos, Samuel Rosa, de 56, Henrique Portugal, de 58, e Haroldo Ferretti, de 53, encerram o ciclo do Skank para se dedicar a projetos solo

Weber P�dua/divulga��o

O Skank p�e o ponto final em sua trajet�ria neste domingo (26/3), no Mineir�o, onde encerra a “Turn� de despedida”. Um dos grupos mais importantes da m�sica brasileira nas �ltimas tr�s d�cadas, a banda apresenta sucessos que embalam passado e presente dos f�s que ajudaram a projetar os mineiros para o Brasil e para o mundo.

Desde o ano passado, Samuel Rosa (guitarra e vocal), Lelo Zaneti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria) percorrem o Brasil para brindar o p�blico com a saideira. Apenas em S�o Paulo, foram oito apresenta��es com ingressos esgotados.
 

Novos caminhos

Henrique Portugal enfileira os shows memor�veis da �ltima turn�: Goi�nia, para 15 mil pessoas; Salvador, no Est�dio Fonte Nova; Porto Alegre, no Teatro Ara�jo Viana, com cinco noites de ingressos esgotados; Manaus, na Arena Amaz�nia; e Recife, no Classic Hall “completamente lotado”.

“A turn� tem servido para a gente sentir o tanto que a nossa m�sica e tudo o que a gente fez t�m de significado na vida das pessoas. Isso nos d� sensa��o de dever cumprido”, diz o tecladista. Ele e os companheiros explicam que a decis�o de encerrar as atividades se deve � sensa��o de que o ciclo foi cumprido, e agora � necess�rio abrir caminho para as realiza��es individuais do quarteto.


“Quando come�amos em Belo Horizonte, de forma independente, definitivamente n�o imagin�vamos chegar onde chegamos: tocar em todo o Brasil com frequ�ncia, rodar o mundo, virar trilha de Copa do Mundo, ter m�sica em primeiro lugar nas paradas de outros pa�ses. A turn� de despedida � para a gente se encontrar com as pessoas que nos ajudaram a trilhar esse caminho”, aponta.
 
Haroldo Ferretti, Lelo Zanetti, Samuel Rosa e Henrique Portugal lado a lado, em imagem da banda Skank nos anos 1990

Haroldo Ferretti, Lelo Zaneti, Samuel Rosa e Henrique Portugal, nos anos 1990: os garotos mineiros que fizeram hist�ria no pop nacional

Weber P�dua/divulga��o
 

Em entrevista recente, Samuel Rosa disse que o Skank n�o pretende virar mero “cover de si mesmo”. Para ele, o auge criativo da banda ficou no passado – ainda que tenha durado bastante, com todos os �lbuns emplacando ao menos um hit, de “Macaco Prego”, do disco de estreia, de 1993, a “Esquecimento”, de “Velocia”, o �ltimo lan�amento de in�ditas, em 2014.

A abrang�ncia desta obra se reflete nos shows, que re�nem diferentes gera��es de f�s, segundo Portugal, de 58 anos. “Tem pessoas mais ou menos da nossa idade. Tem gente de uma gera��o posterior, que chegou ao Skank com ‘Vou deixar’, por exemplo, lan�ada quase 10 anos depois de ‘Garota nacional’. E tamb�m uma garotada, filhos daquela primeira gera��o. Isso, para n�s, � uma grande vit�ria”, comemora o tecladista.
 

Show para todas as gera��es

O repert�rio desta noite leva em considera��o a diversidade et�ria do p�blico, com foco nos hits. Em S�o Paulo, �ltima parada da turn� antes de BH, o longo roteiro, de cerca de duas horas e 30 minutos, incluiu “� uma partida de futebol”, “Pacato cidad�o”, “Saideira”, “Te ver”, “Garota nacional”, “Sutilmente” e “T�o seu”, entre outras.

“� um show de m�sicas conhecidas. As pessoas est�o indo para se despedir, querem cantar junto. Da primeira � �ltima, s�o m�sicas que marcaram a nossa carreira”, diz o tecladista. Ao longo da turn�, a banda tamb�m atendeu a pedidos do p�blico. “A gente mesmo sugeriu que as pessoas levassem cartazes indicando as m�sicas favoritas. Era uma forma de mudar um pouco o roteiro de uma cidade para outra.”

O arco temporal da trajet�ria do Skank foi marcado por profundas transforma��es na forma como se produz e se consome m�sica. Quando o grupo come�ou, o vinil era o suporte predominante, com o CD em est�gio embrion�rio. As grandes gravadoras multinacionais e as r�dios tinham o poder quase exclusivo de determinar o que as pessoas escutariam.

Quando come�amos em Belo Horizonte, de forma independente, definitivamente n�o imagin�vamos chegar onde chegamos: tocar em todo o Brasil com frequ�ncia, rodar o mundo, virar trilha de Copa do Mundo, ter m�sica em primeiro lugar nas paradas de outros pa�ses

Henrique Portugal, tecladista


Sempre de olho no futuro

Portugal avalia que a banda mineira conseguiu acompanhar o cen�rio de mudan�as e se manter atualizada, em termos criativos e de mercado, atenta �s evolu��es tecnol�gicas e aos padr�es de consumo. O disco de estreia, batizado apenas “Skank”, foi lan�ado de maneira independente j� em CD, em 1993, quando o formato era incipiente.

“O suporte predominante ainda era a bolacha preta. As pessoas escutavam m�sica pelo r�dio, no vinil ou na fita cassete. J� fizemos o primeiro disco em CD porque ach�vamos que a inova��o tecnol�gica chamaria a aten��o dos cr�ticos e dos formadores de opini�o. Depois que a gente assinou contrato com a (gravadora) Sony, ela lan�ou o �lbum em vinil”, relembra.

O importante � sempre estar atento � forma como o p�blico ouve m�sica, acredita o tecladista. “A pessoa que gosta do seu trabalho tem de ter acesso �quilo que voc� est� fazendo, e isso depende muito do suporte ou da tecnologia dispon�vel no momento”, diz.

“Tinha o vinil, depois veio o CD, a� teve o momento de caos na ind�stria fonogr�fica, com a pirataria e o compartilhamento de MP3, no in�cio dos anos 2000. La por volta de 2010, come�aram a aparecer as plataformas de streaming, que s� se tornaram efetivas mesmo a partir de 2015”, aponta.
 
Samuel Rosa tem a guitarra acima da cabeça durante show do Skank no Rio de Janeiro

Samuel Rosa durante apresenta��o da banda no Rock in Rio, na capital fluminense, em setembro de 2017

Mauro Pimentel/AFP/16/9/17
 

Ao longo de mais de tr�s d�cadas, o Skank teve a capacidade de abra�ar novos modelos que lhe pareciam interessantes, afirma o m�sico. Exemplos disso s�o o �lbum “MTV ao vivo” (2001), gravado em Ouro Preto, cujo repert�rio foi escolhido por vota��o do p�blico no site do grupo, e “Skank play”, projeto conectado � expans�o das redes sociais, no qual os f�s podiam tocar virtualmente com a banda.

“Skank play” rendeu aos mineiros um Le�o de Ouro em Cannes – a principal premia��o da publicidade mundial –, na categoria m�dia social. “A gente foi entendendo como usar a tecnologia. Falo sempre isso: ela n�o � fim, ela � meio. Nosso grande acerto foi sacar isso, n�o ficar escravo das tecnologias e saber distinguir o que era legal, o que nos interessava, e o que n�o era, mesmo que estivesse na moda”, explica.
 
 

Do ponto de vista da cria��o, a banda soube se reinventar e se manter sintonizada com seu tempo, diz o tecladista. Ter est�dio pr�prio, a partir do in�cio dos anos 2000, contribuiu decisivamente para isso.

“O Skank � praticamente duas bandas, porque a gente come�ou com a refer�ncia jamaicana, e os tr�s primeiros �lbuns completamente imersos nessa est�tica. A partir do ‘Siderado’ (1998), a gente j� mostrou outro caminho, mais melodioso, que foi ganhando espa�o nos �lbuns seguintes”, aponta.


A chegada de novos parceiros influenciou essa trajet�ria. Se no in�cio Chico Amaral era o coautor mais frequente das can��es, com o tempo vieram Nando Reis, Rodrigo Le�o e Fausto Fawcett, entre outros. “A gente tamb�m foi criando mais habilidade, mais carinho e mais experi�ncia dentro do est�dio. O resultado de toda essa assimila��o de muitas coisas s�o os nossos �lbuns”, resume Henrique.

O legado do Skank para o pop rock brasileiro � o tempero de brasilidade adicionado � receita praticada pela “gera��o rock Brasil” dos anos 1980, muito alinhada com a m�sica brit�nica e norte-americana, diz Henrique Portugal. “O Skank e outros grupos surgidos na d�cada de 1990 ampliaram as refer�ncias internacionais e misturaram elementos da m�sica brasileira, todos com assinatura muito pr�pria, muito particular.”
 
Músicos da banda Skank sentados ao lado de Milton Nascimento

Encontro de gera��es: Skank participou do DVD 'A sede do peixe', de Milton Nascimento, lan�ado em 1997

EMI/reprodu��o
 

Rito de passagem no Expresso Canad�

Henrique Portugal considera dif�cil, “porque foram v�rios”, recapitular os shows inesquec�veis da banda. Mas cita o lan�amento do �lbum de estreia, em abril de 1993, no Expresso Canad�, casa de shows em Nova Lima.
 
“Foram 10 mil ingressos vendidos. A gente pedia pelas r�dios para que quem n�o tivesse ingresso n�o fosse, mas n�o adiantou. Tinha l� 10 mil pessoas com ingresso e outras 10 mil sem, querendo entrar”, recorda.

Deu tudo certo, “apesar de ter ca�do uma tromba d’�gua”, relembra o tecladista. “N�o teve problema nenhum, ningu�m se machucou, foi hist�rico. As pessoas deveriam comemorar mais os ritos de passagem da vida. Aquele foi um rito de passagem nosso.”

Outros shows inesquec�veis foram o realizado em Ouro Preto, que gerou o �lbum “MTV ao vivo”, em 2001, e a apresenta��o que resultou no primeiro DVD da banda, “Multishow ao vivo: Skank no Mineir�o”, em 2010.

A “Turn� de despedida” vai ganhar registros audiovisuais – provavelmente um document�rio e um �lbum ao vivo. Mas Henrique prefere n�o revelar as participa��es especiais. “Quem for vai saber”, avisa.

Assista a entrevista completa:

TURN� DE DESPEDIDA

�ltimo show do Skank. Neste domingo (26/3), no Mineir�o (Avenida Ant�nio Abrah�o Caram, 1.001, Pampulha). Abertura dos port�es �s 15h, com in�cio da apresenta��o �s 19h. A disponibilidade de ingressos pode ser conferida no perfil da banda no Instagram e no site ticket360.com.br

Chico Amaral sorri, segurando o saxofone. Ao fundo, vê-se Belo Horizonte

Letrista Chico Amaral, parceiro de primeira hora da banda, � chamado de 'o quinto skank'

Leandro Couri/EM/D.A Press