S�rie cient�fica mostra que o apocalipse n�o � (necessariamente) fic��o
Produ��o da Apple TV+ "Extrapolations: Um futuro inquietante" faz um cat�logo dos efeitos da mudan�a clim�tica e de seu potencial para devastar o planeta
Daveed Diggs interpreta o rabino Marshall Zucker, que deixa Israel para tentar salvar a Fl�rida, amea�ada pelo avan�o do oceano
Apple TV+/Divulga��o
"Extrapolations: Um futuro inquietante", s�rie de fic��o do Apple TV+ sobre a crise global do clima, tenta seguir � risca uma das premissas essenciais da maioria das narrativas de fic��o cient�fica.
A base de muitas dessas hist�rias, afinal de contas, pode ser resumida com a frase "Se isso continuar..." – ou seja, o que ser� que acontece com o mundo se determinada tend�ncia do presente for extrapolada (sem trocadilhos) para as pr�ximas d�cadas ou s�culos?
A import�ncia dessa f�rmula para o roteiro de "Extrapolations" talvez seja, ao mesmo tempo, a principal virtude e a maior fraqueza da s�rie. De um lado, as hist�rias criadas pelo roteirista Scott Z. Burns mostram um esfor�o ineg�vel de retratar a multiplicidade de riscos planet�rios previstos pela ci�ncia para este s�culo. J� est� claro que o monstro da mudan�a clim�tica � uma hidra de muitas cabe�as, nem um pouco f�cil de abater, e a narrativa reflete bem isso.
Por outro lado, por�m, �s vezes fica a impress�o de que os epis�dios est�o explorando essa variedade de cat�strofes como se ela fosse uma lista de compras, passando de um item para o pr�ximo sem que aquilo se encaixe propriamente num quadro mais amplo, que fa�a sentido.
O problema, ent�o, seria o excesso de didatismo? N�o exatamente. �s vezes, chega perto de acontecer o oposto.
Tenho minhas d�vidas, por exemplo, sobre o que os n�o iniciados v�o apreender do cen�rio do quarto epis�dio, estrelado por Edward Norton, que gira em torno da chamada geoengenharia — a ideia de que � poss�vel usar meios artificiais para manipular a atmosfera da Terra de forma relativamente controlada, minimizando assim os efeitos da emerg�ncia clim�tica.
Em geral, os di�logos est�o longe de lembrar um verbete da Wikip�dia, mesmo quando abordam temas cabeludos como esse.
As virtudes do roteiro e das atua��es - essas �ltimas, em geral, de alto n�vel - conseguem aparecer mais quando a s�rie deixa um pouco de lado a abordagem "lista de compras" e acha tempo para estudar as intera��es entre os personagens e o cen�rio pr�-apocal�ptico.
� o que acontece, por exemplo, no terceiro epis�dio, com os dilemas do rabino Marshall Zucker, vivido por Daveed Diggs – o Lafayette do musical "Hamilton"– , que deixou o ativismo em Tel Aviv para enfrentar uma Fl�rida cada vez mais submersa pelo oceano. Tamb�m � o �nico epis�dio que consegue injetar um pouco de humor absurdo em meio � desgra�a, sem transform�-la em algo trivial.
N�o � um equil�brio f�cil, e o epis�dio anterior, que gira em torno da bi�loga marinha Rebecca Shearer (Siena Miller) e sua tentativa de salvar as �ltimas baleias-jubartes acaba convencendo bem menos, apesar de alguns momentos tocantes e a presen�a de Meryl Streep na tela.
Sienna Miller, como a bi�loga marinha Rebecca Sheare, luta para salvar baleias e a humanidade
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Imaginar um "tradutor universal" capaz de, em tempo real, transformar "balei�s" em "ingl�s" e vice-versa � uma das ideias menos felizes da s�rie, ali�s. N�o h� raz�o nenhuma para achar que os cantos das jubartes funcionem como linguagem propriamente dita.
Se esses detalhes atrapalham um pouco o ritmo e a verossimilhan�a da s�rie, � preciso ressaltar que ela acerta na mosca – dolorosamente na mosca – quando aborda uma das caracter�sticas mais cruciais da crise clim�tica at� agora. Trata-se da lerdeza enlouquecedora com que as sociedades humanas est�o reagindo ao desafio.
Nesse ponto, est� tudo ali: as reuni�es internacionais intermin�veis com pouco ou nenhum efeito pr�tico sobre o problema, as in�meras desculpas esfarrapadas de governantes e multinacionais para n�o fazer a li��o de casa capaz de salvar esp�cies e vidas, as tentativas de faturar algum por meio de teatrinhos ambientalmente corretos.
Do ponto de vista dram�tico, poder�amos at� reclamar do fato de que os bilion�rios da s�rie se comportam como supervil�es – manique�smo demais, talvez, se Elon Musk n�o existisse no mundo real.
Essa aten��o aos mecanismos sociais e psicol�gicos por tr�s da nossa in�rcia coletiva, por si s�, faz com que valha a pena assistir a "Extrapolations".
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