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Estado de Minas

Tudo pelo conforto: brasileiros se aproximam de pratos t�picos na pandemia

Pesquisa mostra que o consumo de receitas tradicionais (como tropeiro e frango com quiabo em Minas) aumentou nos primeiros meses do ano


15/08/2021 04:00 - atualizado 16/08/2021 17:33

Carne de panela com arroz branco, angu e couve rasgada (Talher e Cia)(foto: 99Food/Divulgação)
Carne de panela com arroz branco, angu e couve rasgada (Talher e Cia) (foto: 99Food/Divulga��o)

Tropeiro, frango com quiabo, tutu de feij�o, leitoa � pururuca. Pratos que fazem parte da cultura dos mineiros e ganham cada vez mais espa�o no card�pio do dia a dia. � o que aponta pesquisa do Instituto Brasil a Gosto e da plataforma de delivery 99Food sobre o consumo de comida t�pica pelos brasileiros nos primeiros meses do ano. Pelo menos metade dos entrevistados optaram por comer receitas tradicionais da sua regi�o. A pandemia influenciou diretamente o resultado.
 
A pesquisa ouviu 1515 pessoas entre janeiro e maio. De acordo com os dados coletados, 41% dos brasileiros entendem que consumir pratos t�picos est� ligado principalmente � valoriza��o da cultura, enquanto 28% acreditam que � uma forma de manter a tradi��o.

O resultado foi uma grata surpresa para a diretora de conte�do do Ins
tituto Brasil a Gosto Bel Moherdaui. A ONG fundada em 2016 pela chef Ana Luiza Trajano, que trabalha pela valoriza��o de ingredientes e hist�rias ligados � nossa cozinha, quer justamente que o brasileiro olhe com orgulho para o seu prato. “Comida tem a ver como o nosso passado e nos aproximarmos dela � uma forma de conhecermos mais sobre n�s mesmos, sobre o nosso pa�s e as nossas origens”, observa.
 
Aos sete anos, Poliana Madureira preparou o primeiro almoço sozinha e nunca mais largou o fogão(foto: 99Food/Divulgação)
Aos sete anos, Poliana Madureira preparou o primeiro almo�o sozinha e nunca mais largou o fog�o (foto: 99Food/Divulga��o)
Outro dado interessante � que 29% dos entrevistados consomem receitas tradicionais para se conectar com os seus familiares. Aqui entram os efeitos da pandemia. “Num momento em que todo mundo precisa de carinho e conforto, a comida brasileira traz isso para dentro da nossa casa. � a comida do afeto, que lembra algu�m, que resgata alguma mem�ria”, analisa Bel.
 
A partir da pesquisa, o Instituto Brasil a Gosto e a 99Food lan�aram o projeto Cozinheira e Brasileira para contar a hist�ria de quem faz a comida do dia a dia. As mulheres, automaticamente, viraram protagonistas.
 

Cozinha feminina

Bel lembra que a cozinha brasileira � feminina, a come�ar pelas ind�genas, consideradas as primeiras cozinheiras do Brasil. Depois vieram as mulheres escravizadas e at� hoje as mulheres s�o associadas ao que se chama de comida caseira. “As cozinheiras do dia a dia s�o donas de casa, av�s e mulheres que empreendem a partir da comida.”
 
Neste primeiro momento, foram selecionadas tr�s mulheres, de seis cidades brasileiras, que comandam restaurantes parceiros da plataforma de delivery. “N�o s�o restaurantes estrelados, s�o restaurantes do dia a dia, que servem marmita. Em muitos casos, estas mulheres trabalham sozinhas.” O projeto come�ou por Belo Horizonte e Recife, depois vai para Manaus, Porto Alegre, Goi�nia e Salvador.
 
Leitoa à pururuca com arroz, farofa e salada (Macarrão das Meninas)(foto: 99Food/Divulgação)
Leitoa � pururuca com arroz, farofa e salada (Macarr�o das Meninas) (foto: 99Food/Divulga��o)
 
Cada uma das mulheres ensina dois pratos caracter�sticos da sua regi�o e que fazem sucesso no card�pio dos seus restaurantes. Todas as receitas foram testadas e est�o dispon�veis no site www.cozinheirabrasileira.com.br.
 
Uma das representantes de BH � Poliana Madureira, de 41 anos. “Minha vida se resume a comida”, diz a cozinheira, que cresceu vendo a m�e, costureira, fazer comida gostosa e cheirosa. Com sete anos, de tanto insistir, preparou o primeiro almo�o sozinha (carne de sol em tiras, arroz, feij�o e repolho refogado) e n�o largou mais o fog�o. Sempre fala que � o que mais gosta de fazer.
 
Depois de cozinhar por 12 anos para a diretoria de uma empresa, Poliana decidiu abrir o seu pr�prio neg�cio. Montou uma barraquinha de macarr�o na chapa na porta de casa, no Bairro C�u Azul, com a irm�. Da� o nome Macarr�o das Meninas, como elas ficaram conhecidas. “Macarr�o � muito procurado por ser um prato �nico, mas completo. Se voc� souber trabalhar com a massa, tudo o que colocar vai ficar maravilhoso”, observa.
 

Tropeiro: o campe�o de vendas

O card�pio do almo�o � bem diversificado. Poliana aprendeu a maioria das receitas com a m�e e com outras mulheres da fam�lia, sempre muito ligada � comida. O prato mais conhecido � o tropeiro, a base de feij�o-carioca, lingui�a, bacon, ovo e farinha de mandioca. Para acompanhar, arroz, couve, ovo frito, torresmo e uma carne do dia. Destaque tamb�m para o tutu de feij�o com arroz, espaguete, ovo cozido, couve, torresmo e carne.

Poliana arranca elogios dos clientes com uma comida “fresca e gostosa”. O segredo, ela explica, est� na dedica��o. “Quando voc� gosta do que faz, faz com tanto amor e carinho que o tempero fica perfeito. Acho que isso � a chave do meu neg�cio. Uso ingredientes que voc� encontra em todos os lugares, carnes, verduras, macarr�o, mas dedico a minha vida a eles.”
 
Tropeiro com arroz, couve refogada e torresmo (Macarrão das Meninas)(foto: 99Food/Divulgação)
Tropeiro com arroz, couve refogada e torresmo (Macarr�o das Meninas) (foto: 99Food/Divulga��o)
 
Na cozinha do restaurante, n�o tem nenhuma panela grande. Poliana prefere fazer pequenas por��es para servir sempre tudo bem fresco. “Se precisar, volto e fa�o 10 vezes a mesma coisa para o cliente encontrar sempre uma comida de qualidade.”
 
A cozinheira tem planos de abrir um self-service para servir todo o tipo de comida que aprendeu ao longo da vida. “O meu sonho � que pessoas de outros lugares venham comer a minha comida.” Enquanto junta dinheiro para conseguir fazer a expans�o, ela segue com uma certeza: continuar criando os cinco filhos com o que sabe e ama fazer, que � cozinhar.
 
Segundo Bel Moherdaui, do Instituto Brasil a Gosto, o objetivo do projeto vai al�m de aumentar o consumo nos restaurantes das participantes. “Queremos mostrar um pouco mais de Brasil para os brasileiros e ver cada vez mais gente comendo comida brasileira. Voc� s� vai comer a comida da Poliana se estiver em BH, mas pode fazer um prato dela na sua casa.” A pr�xima etapa ser� o lan�amento de uma webs�rie com a hist�ria de tr�s mulheres, incluindo Poliana.
 

Comida de m�e

De Goi�nia, a empreendedora Luciene Caetano dos Santos, de 48 anos, mais conhecida como Nena, sempre teve m�o boa para cozinha, mas n�o se imaginava dona de restaurante. Ela trabalhou como locutora de r�dio, cobradora de �nibus, telefonista, operadora de telemarketing e virou cozinheira por acaso, quando foi dar uma ajuda para o filho na padaria dele.
 
“Como ele tinha mais de cinco funcion�rios, me pediu para fazer o almo�o. Os vizinhos sentiam o cheiro e o meu filho come�ou a vender marmita dentro da padaria.”
 
De Goiânia, Luciene Caetano dos Santos conseguiu conquistar uma clientela fixa com comida caseira(foto: 99Food/Divulgação)
De Goi�nia, Luciene Caetano dos Santos conseguiu conquistar uma clientela fixa com comida caseira (foto: 99Food/Divulga��o)
 
Formada em gest�o de recursos humanos, Luciene sempre quis montar um neg�cio e, naquele momento, viu a oportunidade de abrir o Restaurante da Nena. Em quase tr�s anos, ela conseguiu conquistar uma clientela fixa (alguns de segunda a s�bado) com uma comida bem caseira. “Uma das frases que mais escuto �: me lembrei da comida da minha m�e”, conta.
 
Na sua cozinha, a regra � amassar o alho na hora de temperar a comida. Nada de comprar tempero pronto. Luciene prepara tudo sem experimentar, segue seu feeling e o sabor da comida n�o muda. “Tem aqueles dias em que n�o estou bem, lembrando das contas para pagar, mas, quando chego na cozinha, esque�o que tenho problemas”, comenta, feliz por receber elogios todos os dias.
 
Sexta-feira � o dia de vaca atolada. � bom chegar cedo, porque o prato acaba muito r�pido. Exigente desde as compras, Luciene escolhe a costela mais magra e, mesmo assim, tira o excesso de gordura. A carne, temperada com alho, sal, pimenta-do-reino e de cheiro e colorau, vai para para a panela de press�o sem nem uma gota de �gua para n�o perder sabor.
 
Tutu de feijão com linguiça, torresmo e couve refogada (Amigas Marmitaria)(foto: 99Food/Divulgação)
Tutu de feij�o com lingui�a, torresmo e couve refogada (Amigas Marmitaria) (foto: 99Food/Divulga��o)
 
Quando a costela est� se soltando do osso, ela mistura a mandioca, cozida em outra panela de press�o, e deixa o caldo engrossar. Depois � s� finalizar com cheiro verde e a vaca atolada est� pronta. Normalmente, � servida com arroz, feij�o, macarr�o, ab�bora caboti�, jil� e salada.
 
Quando abriu o restaurante, Luciene trabalhava sozinha. Fazia as compras, cozinhava e atendia os clientes. Depois percebeu que, com uma ajudante, poderia vender mais pratos e hoje chega a servir 50 por dia. Diz que n�o vende mais porque n�o d� conta, mas pretende ampliar o neg�cio. Planeja, no ano que vem, se mudar para um espa�o maior, contratar mais pessoas e montar um self-service.
 
“Achava que o meu talento era ser locutora de r�dio, mas hoje penso o meu futuro com comida. Quero continuar cozinhando com o tempero do amor.” 
 

Feij�o-tropeiro (Poliana Madureira)

Ingredientes
1 x�cara de ch� de feij�o-carioca; ½ colher de ch� de colorau; 1 folha de louro; 1 lingui�a para churrasco; 100g de bacon cortado em tiras; ½ gomo de lingui�a calabresa cortado em tiras; 6 dentes de alho picados; 1 cebola grande em cubos; 1 x�cara de ch� de salsinha e cebolinha picadas; 1 x�cara de ch� de farinha de mandioca; 1e ½ x�cara de ch� de torresmo; sal a gosto

Modo de fazer
Numa panela de press�o, cozinhe o feij�o com o colorau e o louro durante 13 minutos, contando a partir do momento que pegar press�o. Desligue o fogo e deixe esfriar. Enquanto o feij�o cozinha, aque�a uma panela com �gua e ferva a lingui�a durante 3 minutos. Escorra, corte em tiras e reserve. Aque�a a panela em que voc� far� o tropeiro e comece dourando o bacon. Retire o bacon e repita o processo primeiro com a calabresa e depois com a lingui�a. Reserve todas as carnes sobre uma peneira ou toalha de papel. Escorra o excesso de gordura da panela, volte para o fogo e frite o alho. Em seguida, adicione a cebola e deixe dar aquela “morenadinha”. Quando o refogado estiver bem frito, volte com o bacon e as lingui�as para a panela. Em seguida, adicione o feij�o cozido com um pouco de caldo e deixe apurar por 10 minutos, adicionando caldo aos poucos, se necess�rio. Depois de 10 minutos, quando o caldo secar, desligue o fogo, prove e corrija o sal. Com o feij�o ainda quente, adicione salsinha e cebolinha picadas, a farinha de mandioca e o torresmo. Mexa bem. Sirva com couve refogada e bisteca ou bife de lombo. 

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