
Eles gostam de sair para comer e beber. Frequentam bares e restaurantes em todos os lugares. Est�o sempre por dentro das novidades da cidade, muito antes da inaugura��o. N�o, eles n�o s�o chefs ou empres�rios. Estamos falando dos arquitetos que desenvolvem projetos para estabelecimentos gastron�micos.
Esses profissionais pensam em solu��es que otimizam o trabalho da equipe e proporcionam experi�ncias agrad�veis aos clientes.
Sarah Floresta e Paulo Augusto s�o os fundadores da Balsa Arquitetura, escrit�rio que direciona sua atua��o para estabelecimentos de alimentos e bebidas.
“Isso tem rela��o com o nosso estilo de vida, porque somos festivos e gostamos de sair, mas tamb�m vem da nossa vontade de oferecer diferentes experi�ncias para as pessoas”, justifica Sarah.
O nome do escrit�rio tem um significado interessante. “A balsa nos transporta para lugares aonde n�o conseguimos ir sozinhos e o nosso trabalho � levar o cliente para onde ele quer chegar”, explica Paulo. Em quatro anos, a dupla j� assinou 49 projetos gastron�micos e h� outros tantos por vir, dos quais ainda n�o podemos saber detalhes.
A travessia se inicia com dois estudos, sendo um deles sobre o im�vel e a vizinhan�a. Os arquitetos fazem uma visita para avaliar onde o bar ou o restaurante est� inserido e como ele se relaciona com o entorno. A compreens�o de que o novo projeto tem que estar sintonizado com o lugar vem muito da experi�ncia de Sarah com o patrim�nio cultural.

O outro estudo envolve o perfil do neg�cio e as expectativas do cliente. Para que consiga chegar ao objetivo, o escrit�rio precisa saber informa��es b�sicas, como o tipo de comida, bebida e de servi�o, estrutura da cozinha e p�blico-alvo. Isso tudo se cruza com a conversa para entender, conceitualmente, como a marca quer se mostrar e interagir com as pessoas.
A ‘balsa’ dos arquitetos faz a ponte entre a est�tica e a fun��o. Diferentemente de projetos residenciais, que envolvem sonhos, os comerciais lidam com as estrat�gias do neg�cio. Por isso, Sarah e Paulo exploram o lado funcional da arquitetura. “Sempre vamos trabalhar com elementos que n�o sejam s� decorativos, mas que complementem a opera��o”, ela destaca.
Normalmente, o desenho come�a pela cozinha, depois parte para a copa, bar, sal�o e cal�ada. Nesse trajeto, � importante mapear o fluxo de comida e bebida, a circula��o de funcion�rios e clientes, a posi��o das mesas e dos postos de trabalho.
No fim, eles chegam a solu��es que sejam boas para os dois lados. “Fazemos projetos que sejam confort�veis e agrad�veis para os clientes e ergon�micos e pr�ticos para os funcion�rios”, define Paulo.
Tem que fazer sentido
Nada � aleat�rio. Os s�cios sempre pensam em preencher o ambiente com objetos funcionais e decorativos. Dessa forma, acreditam que a arquitetura passa a fazer sentido.

As lumin�rias, por exemplo, iluminam, d�o conforto e refor�am o conceito da casa. Enquanto os pendentes do Restaurante Hou Mei t�m um desenho moderno e minimalista de lanterna oriental, as l�mpadas da loja de donuts American Day s�o tubulares, coloridas, em refer�ncia ao granulado. Chamam muito a aten��o de quem passa na porta.
As estantes tamb�m mesclam utilidade e decora��o. No Cabernet Butiquim, as paredes s�o cheias de prateleiras que exp�em produtos e comp�em o ambiente. A estrutura do mezzanino funciona como estoque, ao mesmo tempo em que decora o sal�o. O balc�o do Garagem do Cab, todo vazado na parte de baixo, faz as vezes de vitrine, serve de apoio para os gar�ons e ainda d� charme ao projeto.
A caracter�stica mutante das estantes fica evidente na Choperia Do Terceiro, no Mercado Novo. Os barris de chope s�o armanezados em um m�vel aberto atr�s do amplo balc�o de atendimento. Com isso, o visual do espa�o se transforma de acordo com o ritmo de consumo das bebidas. Ao longo da opera��o, barris cheios se misturam aos vazios e criam novas combina��es.
Mais que atrair novos clientes, Sarah e Paulo acham importante que os clientes voltem. Pelo ponto de vista da arquitetura, isso significa garantir conforto e acolhimento. Al�m de ilumina��o e ac�stica, uma estrat�gia da dupla � trabalhar com diferentes tipos de assentos.
O mesmo lugar pode ter sof� com mesa de centro, mesas grandes com cadeiras com bra�o e mesas altas com banquetas. “Buscamos proporcionar aos clientes diferentes experi�ncias em diferentes momentos. Isso faz ele querer voltar”, ela aponta.

Essa ideia � bastante explorada no La Matta, que, segundo eles, entrega m�ltiplas experi�ncias. L� tem dois andares, varanda, �rea interna e bar com balc�o. Como o restaurante serve comida mediterr�nea com ingredientes locais, Sarah e Paulo levaram para a arquitetura a uni�o de mar e serra. Paredes escuras contrastam com forro de palha e vasos de plantas.
Outro projeto recente que se destaca � o Rokkon do Buritis. O sal�o do restaurante japon�s fica em uma varanda coberta com vista para a cozinha de produ��o de todo o grupo. O que mais chama a aten��o est� no teto: chapas de alum�nio retangulares formam escamas douradas. A dupla encontrou essa solu��o para remeter � cultura oriental sem ser �bvio, e isso d� identidade ao lugar.
Arquitetura convidativa
A hist�ria de Cristiano S� Motta com bares e restaurantes come�ou pelo Ben� da Flauta, em Ouro Preto, instalado em uma casa hist�rica onde Aleijadinho morou no per�odo da constru��o da igreja ao lado, a S�o Francisco de Assis. Dali em diante, ele n�o parou mais. Hoje, o arquiteto contabiliza mais de 70 projetos de lugares para comer e beber.
Em determinada �poca, 12 casas da Rua Pium-�, polo gastron�mico da cidade, haviam sido projetadas por dele. Mais tarde, depois de assinar a primeira reforma do Glouton, Cristiano passou a ser o arquiteto das casas de Leo Paix�o (Nicolau, Ninita, Nico e Mina). Recentemente, ele desenhou o Villeon, restaurante ambientado para ser uma charmosa vila italiana, e o Madame Geneva, bar para beber e dan�ar.
“Para projetar um ambiente onde as pessoas v�o se divertir, voc� tem que gostar de sair e eu passei a minha vida inteira frequentando lugares para comer e beber. Isso me deu um grande repert�rio.”

Cristiano conta que entra em todos os bares e restaurantes que existem, n�o s� em BH, tamb�m em S�o Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa e Porto, cidades para onde vai com frequ�ncia. Por isso, inclusive, n�o tem carro e gosta de andar a p�. Nem sempre ele se senta, mas rapidamente faz um raio-x do lugar e chega a at� imaginar um projeto na sua cabe�a.
As ideias surgem logo que Cristiano entra no lugar a ser ocupado. Com l�pis e papel em m�os, rapidamente desenha o que pensou. O arquiteto diz que seu trabalho � muito artesanal e que ele sempre segue a intui��o. “O comum j� existe, voc� vai � loja e compra. O que gosto de fazer n�o est� pronto.”
Para come�o de conversa, ele entende que o lugar deve ser convidativo. Quem est� do lado de fora tem que sentir vontade de se sentar. Cristiano j� ouviu do dono do Cais do Oriente, no Rio de Janeiro, que tem cliente que entra por causa das lumin�rias. No teto do restaurante, que funciona em um antigo armaz�m, est�o instaladas enormes pe�as azuis em formato de discos voadores.
Depois, o desafio � estender ao m�ximo o tempo de perman�ncia. Para isso, Cristiano acredita que o lugar tem que ser confort�vel e dar o que falar. O conforto est� no mobili�rio e na ilumina��o, � o que faz pessoa ficar relaxada e sentir bem-estar. “Se tem luz baixa, por exemplo, a pessoa fica mais tempo e consome muito mais. Tudo o que fazemos � para vender, n�o � s� para ficar bonito”, pontua.
Seus projetos sempre v�o ter cores, antiguidades e um pouco de bom humor. Quando pensa na ambienta��o, ele quer que os objetos atraiam olhares e virem assunto ao redor da mesa. “Entrar com algo velho ou estranho � essencial”, defende o arquiteto, que est� sempre garimpando (� um frequentador ass�duo de ferros-velhos) e gosta de restaurar m�veis descartados.

Um exemplo � o Nicolau Bar da Esquina. Segundo Cristiano, l� voc� tem para onde olhar, do ch�o ao teto. Al�m disso, a ambienta��o pode ficar diferente a cada dia. “O mobili�rio n�o � igual e h� muitas op��es de ilumina��o. Ent�o, o lugar n�o fica estagnado, as pessoas gostam de mudan�a.”
No Quina, temos a mesma sensa��o. O restaurante ocupa tr�s andares de um pr�dio e cada canto tem uma cara diferente, incluindo as escadas. O sal�o com luz baixa, onde fica o bar, chama a aten��o pelos sof�s de veludo. No piso de cima, o terra�o ao ar livre cria um clima mais descontra�do.
Cristiano tamb�m gosta de usar a cozinha como atrativo. Ent�o, sempre que poss�vel, ele opta por deix�-la aberta, ou pelo menos com uma janela de vidro.
Entende que observar o trabalho dos cozinheiros � uma distra��o e isso acaba estimulando o consumo. “Quando vou a restaurante japon�s e fico vendo o sushiman no balc�o, fico curioso com os pratos e tenho vontade de comer mais”, relata como cliente.
Me Gusta (Alexandre Loureiro - Garagem do Cab)
Ingredientes
50ml de gim; 20ml de licor de framboesa; 2 unidades de morango; 8 unidades de uva roxa; 100ml de soda de lim�o siciliano; 1 unidade de cereja negra; hortel�, casca de lim�o siciliano e gelo a gosto
Modo de fazer
Macere em um copo os morangos e as uvas roxas. Adicione gelo at� encher o copo. Adicione o gim e o licor de framboesa. Mexa bem para gelar e misture tudo. Coloque mais um pouco de gelo e complete com a soda de lim�o siciliano. Finalize com hortel�, casca de lim�o siciliano e cereja negra.
Servi�o
(31) 2551-9110
Cristiano S� Motta
(31) 99953-3221