
Foi publicado na ter�a-feira (14/11), o estudo “Pele alvo: a cor da viol�ncia policial” que reuniu dados de sete estados brasileiros e revela que, em todos eles, o grupo que mais morre em a��es policiais � a popula��o negra. Juntando todos os estados, uma m�dia de seis pessoas negras s�o mortas por policiais todos os dias.
O estudo foi realizado pela Rede de Observat�rios da Seguran�a, projeto do CESEC criado em 2019, com o objetivo de produzir dados a partir da sociedade civil organizada nos estados da Bahia, Cear�, Piau�, Pernambuco, Rio de Janeiro, S�o Paulo e Maranh�o, com dados do ano de 2020 via Lei de Acesso � Informa��o. O Maranh�o foi o �nico que Estado se negou a fornecer dados raciais das pessoas mortas pela pol�cia.
“A gente precisa de dados e de informa��es para que a gente consiga formular uma pol�tica p�blica eficiente e tamb�m para poder criticar caso ela n�o esteja sendo eficiente. Dados s�o centrais para que possamos ter uma boa gest�o das pol�ticas p�blicas e dos recursos do Estado”, declara Pedro Paulo da Silva, pesquisador do CESEC.
A COR DA VIOL�NCIA
Em 2020, foram 2.653 mortes, com a cor da pele registrada, provocadas pela pol�cia nos seis estados da Rede e 82,7% delas s�o pessoas negras. Em n�meros absolutos o Rio de Janeiro � o estado que possui o maior n�mero de pessoas negras mortas e SP, estado mais populoso do pa�s, aparece em segundo.
Por�m, o estudo mostra a propor��o de mortes de pessoas negras em rela��o � popula��o de mesma cor. Desse modo a Bahia apresenta a maior porcentagem de negros mortos por agentes, com 98%. Ao analisar as capitais, os dados de Salvador, Fortaleza e Recife mostram que 100% dos mortos em a��es policiais s�o negros. Tamb�m � revelado que, no Cear�, pessoas negras t�m sete vezes mais chances de morrer que n�o negros.
RACISMO, A BASE DO PROBLEMA
“Eu, Pedro, diria que o racismo �, em sua base, a desumaniza��o das pessoas negras”, afirma o pesquisador. “Quando a gente pontua que a letalidade policial no Brasil � predominante em rela��o as pessoas negras, isso significa dizer que a popula��o negra � desumanizada”, completa.
Pedro explica que a desumaniza��o vem desde a genealogia da palavra “negro”, que inicialmente diz respeito a um objeto ou a um corpo, n�o a um ser humano, at� a compara��o de negros com macacos, no sentido de animaliz�-las, como um n�o-humano por n�o ter a pele branca. Tal coloca��o possibilita que narrativas violentas e segregacionistas ganhem for�a, uma vez que os direitos b�sicos da popula��o negra n�o s�o plenamente garantidos.
“� uma conex�o entre as duas coisas, entre o inimigo e o desumano, porque ele � ao mesmo tempo o inimigo, ent�o ele deve ser morto, e um desumano, ent�o por isso ele pode ser morto. Ent�o a popula��o negra ela � ao mesmo tempo o que pode e o que deve ser exterminado para que a popula��o brasileira consiga sobreviver”, declara Pedro.
O PODER DA NARRATIVA
Uma vez que o racismo no Brasil n�o passou por uma pol�tica explicita de segrega��o como o Apartheid na �frica do Sul, h� uma ilus�o de um Brasil miscigenado e inclusivo, levando o racismo a ser suavizado e relegado a um problema de segundo plano.
A for�a que movimentos como o “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam, em portugu�s) ganhou em todo o mundo e a midiatiza��o de situa��es de racismo e viol�ncia policial no Brasil, s�o importantes avan�os pra a visibilidade e debate do problema.
“Quando a gente come�a a ter essa movimenta��o, a narrativa come�a a entrar em choque, a gente consegue avan�ar uma outra narrativa e um outro discurso de que sim, o problema de viol�ncia, ele � racial”, declara Pedro.
Para o pesquisador, o problema policial e a militariza��o da pol�cia s�o consequ�ncias do racismo, que ainda n�o � completamente compreendido pela popula��o brasileira. Sendo assim, o primeiro passo � o reconhecimento de que o racismo est� presente em todas as esferas da sociedade e sua total compreens�o, para ent�o encontrar uma solu��o.
*estagi�ria sob a supeervis�o de M�rcia Maria Cruz
