O jud� ajudou Gabriel a ter mais foco e canalizar a a energia de forma positiva (foto: Arquivo pessoal)
O esporte traz benef�cios para quem o pratique e para as pessoas com Transtorno do Espectro Autista n�o seria diferente. O TEA tem neste s�bado, 2 de abril, uma refer�ncia, pois a data marca o Dia Mundial de Conscientiza��o do Autismo. Os irm�os g�meos Gabriel e Alice, de 6 anos, foram diagnosticados com autismo e, desde fevereiro, frequentam o Centro de Treinamento Amigos do Esporte, escola de Belo Horizonte especializada em gin�stica art�stica e jud�, e j� tiveram grandes avan�os em todos os aspectos da vida.
Alice foi diagnosticada aos 2 anos e Gabriel aos 4. Mesmo sendo g�meos e com TEA, eles apresentam comportamentos completamente diferentes. Alice � introspectiva, n�o fixava o olhar nas pessoas ao redor e brincava muito sozinha, j� seu irm�o apresenta um comportamento mais estressado e agressivo, com dificuldade de socializa��o.
Ap�s o diagn�stico de Alice, Raquel Helena Martins, m�e dos g�meos, precisou se adequar a condi��o de m�e solo. "Os dois tiveram uma regress�o em todas as quest�es, emocionais e f�sicas", conta a engenheira civil. Por meio de muita pesquisa, Raquel buscou ajuda de uma equipe de profissionais para garantir o desenvolvimento dos filhos.
A gin�stica ajudou Alice a melhorar sua coordena��o motora e melhorar o foco e concentra��o (foto: Arquivo pessoal)
"Apesar da situa��o, fui, sobretudo, muito receptiva e procurei a todo tempo buscar informa��es para saber o que e como fazer para ajud�-los. Eles s�o e sempre ser�o minha prioridade", afirma Raquel.
Junto com a equipe de psic�logo, terapeuta ocupacional, pedagogo e fonoaudi�logo, Raquel buscou o esporte como caminho para a inclus�o de Alice e Gabriel. Alice pratica gin�stica art�stica e Gabriel pratica jud�.
Melhora na coordena��o motora
"� impressionante, a gente n�o acredita. A mudan�a foi bem radical. O Gabriel est� compreendendo que a viol�ncia e a agressividade n�o ir�o lev�-lo a lugar nenhum. Agora ele usa a for�a a seu favor, para ter foco e disciplina no esporte. J� a Alice teve uma significativa melhora na coordena��o motora, postura e organiza��o", conta Raquel.
A equipe do CT Amigos do Esporte, que atende p�blico em geral, passou por curso de capacita��o para atender tamb�m crian�as com necessidades especiais e faz a separa��o das turmas por n�veis de habilidades, para que as crian�as n�o se sintam frustradas por n�o realizar um exerc�cio. Al�m disso, a escola tamb�m faz atendimentos individuais quando necess�rio, trabalhando a adapta��o da crian�a at� que se sinta confort�vel para socializar com os colegas.
Raquel buscou no esporte uma forma de melhorar o desenvolvimento dos filhos (foto: Arquivo pessoal)
"A nossa ideia � incluir essas crian�as dentro do grupo. A gente v� as crian�as vibrando com as vit�rias das outras. A gente instrui as crian�as que todo mundo tem diferen�as, que todo mundo tem necessidades a serem alcan�adas e n�o atrapalha o grupo. A gente cria relacionamento, conviv�ncia e tamb�m o entendimento que nem todo mundo � igual", conta Tiago Gusm�o, professor de Educa��o F�sica e propriet�rio do CT Amigos do Esporte.
Al�m disso, Tiago ressalta a import�ncia das crian�as autistas de realizarem atividades f�sicas tanto para a pr�pria sa�de f�sica, quanto porque a conviv�ncia entre crian�as dentro e fora do espectro autista ajuda a criar uma sociedade mais inclusiva e menos preconceituosa.
"Tinha tentado colocar eles em outras escolas, e n�o consegui obter resultado principalmente por essa quest�o de inclus�o, pela rejei��o eles n�o queriam ficar. Eu fui pesquisando na internet e achei interessante essa oportunidade de inclus�o que eles estavam dando e est� dando certo", aponta Raquel.
O que � o autismo?
O Dia Mundial da Conscientiza��o Sobre o Autismo levanta um debate necess�rio sobre um transtorno que afeta parte da popula��o mundial e ainda � cercada de preconceito, mitos e desinforma��o.
Segundo o CDC (Center of Deseases Control and Prevention), �rg�o de controle e preven��o de doen�as dos Estados Unidos, estima-se a cada 110 pessoas no mundo, uma tenha autismo, ou seja, no Brasil, a popula��o autista seria cerca de 2 milh�es de pessoas. Esse dado sobre a sociedade brasileira ser� mais preciso quando for realizado o pr�ximo censo pelo IBGE, que, por lei, dever� incluir essa popula��o.
Izabella Reis, psic�loga especializada em atendimento de crian�as e adolescentes com TEA, explica que o autismo, diferente do que muitos acreditam, n�o � uma doen�a, e sim um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta como as pessoas do espectro autista compreendem o mundo que se manifestam com um d�ficit maior na comunica��o e intera��o social e tamb�m por padr�es de comportamento e interesses restritos e repetitivos. Por n�o se tratar de uma doen�a, o Transtorno do Espectro Autista n�o tem cura, sendo poss�vel apenas a diminui��o dos sintomas.
Sintomas do autismo variam
Os sintomas variam de pessoa para pessoa, n�o tendo um estere�tipo no qual todos os autistas se encaixem. Alguns ter�o maior dificuldade de socializa��o, e outros com est�mulos sensoriais, e alguns ter�o d�ficit severo nos dois aspectos. Quanto mias cedo � feito o diagnostico, mais cedo pode-se iniciar as interven��es e est�mulos, tendo maior chance de diminuir os sintomas e o autista se desenvolver.
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Izabella Reis, psic�loga especializada em TEA
O apoio e acolhimento dos pais � fundamental para crian�as autistas, criando um ambiente seguro para elas. A aceita��o do diagn�stico pode ser um processo dolorido, mas quanto antes acontecer, melhor para a crian�a com TEA. “tem fam�lias que a resist�ncia ao diagn�stico � t�o grande que n�o aceita buscar ajuda, ent�o a gente tem uma crian�a com atraso no desenvolvimento, precisando de interven��o, e que a fam�lia n�o corre atr�s disso. A� vai gerando cada vez mais preju�zo para a vida dessa crian�a e consequentemente para a fam�lia tamb�m”, explica Izabella.
Musicoterapia e equoterapia
Al�m do esporte e outras atividades f�sicas que ajudam na disciplina, socializa��o e coordena��o motora, outros m�todos tamb�m s�o bem-vindos no tratamento do autismo. Musicoterapia e equoterapia, psicomotricidade, s�o exemplos de atividades que ajudam no desenvolvimento das crian�as, dentro dos seus gostos e interesses pessoais.
"Nenhum autista vai ser igual ao outro, ent�o n�o tem uma receita de bolo que d� pra gente aplicar a toda crian�a autista"
Izabella Reis, psic�loga especializada em TEA
"Nenhum autista vai ser igual ao outro, ent�o n�o tem uma receita de bolo que d� pra gente aplicar a toda crian�a autista. Cada um a gente vai ter que olhar na sua individualidade, na sua singularidade para ver quais v�o ser os tipos de interven��o e atividades que v�o se adequar mais para aquilo que a crian�a precisa desenvolver", diz a psic�loga.
Dentro dos mitos sobre o autismo, Izabella destaca que pessoas no TEA "n�o tem cara", ou seja, n�o existe uma apar�ncia ou aspecto f�sico que distinga um neuro t�pico de um autista, e que nem todo autista vive em um "mundo paralelo" ou se balancem para frente e para tr�s: "n�o necessariamente, tem crian�as, sim, que v�o emitir esse comportamento, mas n�o significa que toda crian�a autista vai viver nesse mundinho particular". A psic�loga conta que muitas pessoas, inclusive, s� se descobrem autistas na idade adulta, casadas e com filhos, vivendo uma vida normal.
Afeto e aten��o
Outro ponto que � comum haver confus�o, � na quest�o dos sentimentos dos autistas. Muitos acreditam que s�o pessoas frias, sem empatia ou emo��o, mas na verdade elas apenas tem uma forma diferente de demonstrar carinho. Izabella explica que esses casos geralmente s�o de crian�as com autismo grave, que tem dificuldade com o toque, mas isso n�o significa que � uma crian�a que n�o gosta de afeto, e sim que � necess�rio achar uma outra via para demonstrar essa afetividade, que pode ser atrav�s de cartas, da fala, ou com pequenas a��es no dia a dia.
"O dia da conscientiza��o � muito importante para a comunidade porque � um dia que a gente tem condi��o de falar de uma forma bem clara e verdadeira do que � o autismo e conseguir quebrar esses mitos e estere�tipos. O falar sobre o autismo � essencial para trazer essa conscientiza��o e atrav�s dela ter mais oportunidade de inclus�o", ressalta Izabella.
O podcast DiversEM � uma produ��o quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar al�m do convencional. Cada epis�dio � uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar �nico e apurado de nossos convidados.