Uma t�cnica indiana tem confortado beb�s e ajudado m�es adolescentes de um col�gio do interior de Sergipe a aumentar a conex�o com os filhos. Na terceira reportagem da s�rie especial “Antes da Hora”, do Estado de Minas, acompanhamos a rotina de estudantes do Centro de Excel�ncia Dr. Ed�lzio Vieira de Melo, lar do projeto Beb� a Bordo, e participamos da primeira sess�o de massagem shantala entre uma aluna e seu filho.
A t�cnica ancestral deu origem, em 2019, � iniciativa de acolhimento de jovens m�es em Santa Rosa de Lima (SE). Al�m dos benef�cios para o bem-estar das crian�as, a shantala tem contribu�do para a redu��o da evas�o escolar entre as estudantes gr�vidas ou que est�o com rec�m-nascidos.
Joana Santos, de 19 anos, aprendeu a massagem shantala no Dr. Edelzio. No segundo ano do ensino m�dio, a estudante participou da sess�o com o filho, Murilo, de 1 ano. Sem o apoio do pai da crian�a, a jovem conta com o projeto Beb� a Bordo, que permite a presen�a de rec�m-nascidos na escola e promove iniciativas para m�e e filho, para n�o abandonar os estudos e se formar.

“Saio da escola por volta de meio-dia, levo ele na creche e volto para estudar. Se tivesse um pai que ajudasse, ia ser muito bom, mas o pai dele, n�o ajuda em nada”, afirma Joana. Entre janeiro de 2020 e agosto de 2022, 7% dos beb�s nascidos em estados da Regi�o Nordeste n�o tiveram o nome paterno na certid�o. Em Santa Rosa de Lima, a taxa foi de 10% dos rec�m-nascidos, segundo dados de registros civis do Portal da Transpar�ncia.
N�o � uma creche
O trabalho do Beb� a Bordo � bem diferente do realizado por creches, que s�o disponibilizadas pelo governo federal, estadual ou municipal. No primeiro, as crian�as participam das aulas com as m�es e tamb�m t�m seu pr�prio espa�o e “disciplinas”, como a massagem shantala. Nas creches, os rec�m-nascidos ficam com professores e cuidadores no per�odo em que a m�e precisa fazer outra atividade, como estudar ou trabalhar.

O Estatuto da Crian�a e do Adolesc�nte (ECA) e o Estatuto da primeira inf�ncia garantem que as m�es adolescentes possam levar os filhos para as escolas, faculdades e universidades. Mas isso n�o ocorre na pr�tica por “falta de regulamenta��o e programas espec�ficos”, segundo o advogado Ariel de Castro Alves, refer�ncia nacional quando o assunto s�o os direitos de crian�as e adolescentes.
Pend�ncias em rela��o ao ECA
“Temos alguns estados que t�m programas espec�ficos, outros n�o. � inaceit�vel que, ap�s 32 anos no ECA e v�rios anos do Estatuto da Primeira Inf�ncia, isso n�o tenha sido colocado em pr�tica em todo o Brasil. Acaba gerando uma grande evas�o escolar das m�es, meninas, tanto adolescentes, quanto das universit�rias”, afirma.
Na Am�rica Latina, 36% dos casos de evas�o escolar de garotas est�o relacionados � maternidade ou a gravidez na adolesc�ncia, segundo estudo da Corporaci�n Andina de Fomento (CAF), institui��o que investe em pesquisas e projetos para desenvolver a regi�o.

Segundo Ariel, o local que vai receber as crian�as precisam ter algumas caracter�sticas, como serem l�dicos e estimularem a recrea��o. Al�m disso, � essencial a presen�a de profissionais especializados.
Falta de espa�os adequados
Para ele, as escolas deveriam se adaptar �s necessidades das m�es adolescentes, como � o caso do col�gio de Santa Rosa de Lima. “Muitas vezes, as m�es precisam faltar para levar a crian�a para vacinar ou ao m�dico. Elas podem acabar se atrasando e, muitas vezes, s�o impedidas de entrar ou s�o reprovadas, t�m dificuldades em provas e trabalhos”, comenta o advogado.
No Centro de Excel�ncia Dr. Edelzio, os professores ajudam as alunas que t�m filhos com apoio para levar o beb� para o m�dico e, at� mesmo, mudando o planejamento de algumas aulas para facilitar a inser��o da m�e na disciplina.
Um momento para m�e e filho
Em Santa Rosa de Lima, n�s acompanhamos um dia de aula com Joana Santos e o filho, Murilo, no Centro de Excel�ncia Dr. Ed�lzio. Com o apoio dos professores e colegas de classe, que pegam o beb� no colo para que ela consiga concluir trabalhos e outras atividades normais da rotina escolar, Joana se esfor�a para n�o ficar para tr�s na turma.
A massagem shantala, que faz parte do Beb� a Bordo e se tornou uma disciplina fixa na escola, � oferecida �s alunas que s�o m�es no intervalo entre o turno da manh� e o da tarde. O Dr. Ed�lzio funciona com o sistema de Ensino M�dio em tempo integral.
Segundo a professora Gleide Leandro, criadora do projeto, outras iniciativas, como aulas de primeiros-socorros e cuidados b�sicos com beb�s foram inclu�das desde o in�cio dos trabalhos voltados para as m�es.
A hist�ria da massagem shantala
A shantala foi descoberta na �ndia, mas sua origem � incerta, segundo pesquisadores da terapia. A t�cnica � usada pelas mulheres em seus beb�s h� mais de mil anos, mas a pr�tica ficou conhecida mundialmente s� a partir de 1976, ap�s o escritor e m�dico obstetra franc�s Fr�d�rick Leboyer come�ar a divulg�-la na Europa.

Ele lan�ou um livro, intitulado “Shantala”, no qual explicava todo o procedimento da massagem. O nome foi uma homenagem � m�e que o ensinou a t�cnica e que autorizou o uso de sua imagem para divulgar a publica��o.
Entre os principais benef�cios prometidos pela shantala est�o o aumento da conex�o entre m�e e filho, a estimula��o da resist�ncia imunol�gica, a melhoria da digest�o e o relaxamento do beb�.
Conhe�a o "Antes da Hora"
A s�rie “Antes da Hora” para o podcast DiversEM conta com o apoio do programa Early Childhood Reporting Fellowship: Desigualdade no Brasil e no restante da Am�rica do Sul, do Dart Center for Journalism and Trauma, da Universidade de Columbia (EUA) e da Funda��o Maria Cecilia Souto Vidigal.
O especial com cinco epis�dios � publicado semanalmente nas vers�es impressa e digital do Estado de Minas. Os dois primeiros j� est�o dispon�veis.
O podcast DiversEM � uma produ��o quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar al�m do convencional. Cada epis�dio � uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar �nico e apurado de nossos convidados.
Ou�a e acompanhe as edi��es do podcast DiversEM
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