
Trinta casais LGBTQIA celebraram o casamento em cerim�nia coletiva realizada pela Defensoria P�blica de Minas Gerais, na Sala Minas Gerais, no Bairro Preto, nesta segunda-feira (07/11). Por volta das 11h e ao som da Marcha Nupcial, os noivos entraram por um tapete vermelho estendido pelo palco, que j� recebeu as mais renomadas orquestras de todo o mundo.
De cabelo rosa, uma drag queen conduziu a cerim�nia testemunhada por pais, m�es, amigos e filhos dos casais que ocupavam o audit�rio. Muitos vivem juntos h� algum tempo e resolveram oficializar a uni�o no "casamento igualit�rio", realizado no dia seguinte � 23ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte.
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De m�os dadas, os noivos reafirmam, a cada passo dado na mesma dire��o, o direito de amar. Homem trans com homem cis; duas mulhers trans; duas mulheres cis com o beb� no colo; casais jovens e na maturidade provam que o mais nobre dos sentimentos n�o segue modelo ou padr�o.
O casamento igualit�rio � a celebra��o do amor e da pr�pria exist�ncia. "Existe um direito que eles querem negar de n�s a qualquer esquina por onde passamos, os lugares de trabalho que ocupamos, nas fam�lias: o nosso direito de amar, amar da forma como quisermos amar, do jeito que a gente quiser fazer", disse, emocionado, o presidente do Centro de Luta pela Livre Orienta��o Sexual de Minas Gerais (Celllos-MG), Maicon Chaves.
Com os primeiros acordes da Marcha Nupcial - o cl�ssico foi executado pela banda da Pol�cia Militar na Sala Minas Gerais -, ca�ram as primeiras l�grimas dos noivos e de quem os assistiam. As cores do arco-�ris estavam por todos os lados, prolongando o colorido de domingo em BH, que depois de dois anos devido � pandemia do COVID-19 recebeu cerca de 150 mil pessoas na Parada do Orgulho LGBT. � luz do dia e com muita irrever�ncia, o pedido de domingo foi exatamente por todas as formas de amor.
Nesta segunda, 30 casais participaram da cerim�nia do casamento igualit�rio, que foi realizado sem custos anteriormente para 35 casais. "� um evento festivo. Foram feitos os casamentos civis nos cart�rios como qualquer outro", afirma o defensor p�blico de Direitos Humanos, Socioambientais e Coletivos, Wladimir de Souza Rodrigues.
O vestido
Fernanda Pereira, de 28 anos, emocionou-se quando encontrou o vestido da cerim�nia no come�o de setembro depois de experimentar muitos modelos. "Quando olhei tive a certeza que era ele", afirma. Ela conheceu a auxiliar de laborat�rio Iara Junia, de 23 anos, em 2019. Foi paix�o � primeira vista. "Papo vai, papo vem, aconteceu. Foi muito de repente", recorda-se Fernanda.
Na cerim�nia, Iara usou um terno de cetim vinho. As duas est�o juntas h� 3 anos e meses, mas sonhavam oficializar a uni�o. "� um dia muito importante. � algo que a gente queria muito", afirmou Fernanda.
Marina Cardoso de Araujo escolheu o vermelho para o vestido. A companheira, Isabela Brito de Oliveira, vestiu um blazer amarelo. O vermelho e amarelo s�o cores que simbolizam a rivalidade na pol�tica brasileira. No entanto, a escolha foi uma coincid�ncia, cada uma escolheu a cor favorita, mas fez com que o casal se destacasse. "N�o escolhemos as cores por essa quest�o pol�tica [partid�ria], mas acabou sendo um momento pol�tico... sair dessa polariza��o, que � muito ruim para a nossa sociedade", diz Isabela.
O vermelho escolhido por Marina tem muito simbolismo. "A simbologia do branco traz a quest�o da virgindade. Por n�o precisarmos mais caber nesses padr�es, nesses moldes, escolhi a minha cor preferida, da paix�o, do amor. V�rias outras coisas que o vermelho representa. � a cor do povo", brinca.
Simone de Jesus Veiga, de 43, e Dan�bia Fonseca Vieira, de 42 anos, moram juntas h� sete anos. As duas tentaram se casar no ano passado, mas n�o deu certo. "No tempo de Deus, somos candomblecistas, veio o casamento igualit�rio da Defensoria P�blica, que est� conosco nesta luta. A gente d� o respeito para ser respeitado", afirma Simone. "Meu pai � um senhor fechado, ele n�o aceita, mas aprendeu a respeitar".
O casal tem um "filho", o papagaio Veiga Fonseca, batizado com os sobrenomes de cada uma delas. A madrinha do casal, C�lia Moreira de Oliveira, de 55 anos, caprichou no vestido, na maquiagem e no penteado. "Estou feliz. Na minha vis�o, o amor � a coisa mais linda que Deus deixou no mundo. Ent�o, n�o importa se � homem com homem ou se � mulher com mulher. O casal tem que se amar. Se eles est�o amando e est�o felizes, que os orix�s e Oxal� aben�oem a vida delas", afirma C�lia, que � ialorix� em uma casa de ax�.
Casamento igualit�rio
Do ponto de vista da lei, n�o h� mais distin��o entre pessoas homossexuais e heterossexuais no que se refere ao direito de se unir. O casamento � igualit�rio no Brasil desde 2010. "A principal import�ncia � a educa��o em direitos. A gente est� em um momento estressante na sociedade. O principal � demonstrar que essas fam�lias LGBTQIA s�o fam�lias como quaisquer outras. N�o h� qualquer tipo de distin��o para ter motivos de ter preconceitos", afirma o defensor p�blico Wladimir de Souza Rodrigues.
Rodrigues destaca que por muito tempo esse direito foi negado �s pessoas LGBTQIA. Portanto, a cerim�nia coletiva tem tamb�m o objetivo de mostrar que esse casamento � um direito, e n�o apenas por uma quest�o financeira. A celebra��o coletiva � gratuita, enquanto as custas no cart�rio para a uni�o podem custar at� R$ 800.
"As pessoas pensam que � mais democr�tico, que precisa entrar com uma a��o. Mas n�o precisa. Qualquer pessoa LGBTQIA pode registrar o casamento dela no cart�rio como qualquer casal. Por isso, a import�ncia desses eventos para divulgar essa informa��o. Para trabalhar a quest�o da educa��o em direito".

A festa
O bolo de v�rios andares nas cores do arco-�ris foi ofertado por um confeitaria, do mesmo modo que o bem-casado, doce tradicional das cerim�nias de casamento, foi oferecido aos noivos. A festa contou com convidadas ilustres, como as vereadoras de BH Bella Gon�alves (PSOL), eleita deputada estadual, e Duda Salabert (PDT), eleita deputada federal. Tamb�m n�o faltaram as tradicionais fotos. Ao fim da cerim�nia, os casais receberam presentes como di�rias em hot�is, eletrodom�sticos e ingressos de cinema.
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