
Luany ainda era crian�a quando ofensas como essas a levaram a pedir ajuda da m�e para realizar alisamentos t�rmicos no cabelo, com secador e chapinha. "Antes dos 15 anos [eu] j� estava usando qu�mica", conta.
Mas depois de anos de alisamento, decidiu usar o cabelo natural. Em 2022, por�m, uma ocorr�ncia semelhante �quela que enfrentou na inf�ncia a motivou a retomar o uso de secador e chapinha de forma constante em seu cabelo, que estava cacheado.
"Comecei a me sentir mal quando passei a conviver em certos grupos em que as pessoas usavam termos como cabelo duro, cabelo ruim", conta Luany, que se mudou de Feira de Santana (BA) para Foz do Igua�u (PR) para dar aulas de portugu�s para refugiados. Para ela, o inc�modo maior n�o se deve � decis�o de alisar, mas ter feito a escolha em decorr�ncia dos julgamentos que ouviu. "Quero me permitir ter a liberdade de fazer o que eu quiser com o meu cabelo, considerando o que gosto e o que � melhor para mim, e n�o por causas externas."
A dificuldade de aceita��o � enfrentada por muitas mulheres negras que decidem manter a textura natural de seus cabelos. A recepcionista mineira Zaine Regina, 26, tamb�m passou a alisar o cabelo ap�s experi�ncias negativas na inf�ncia, em Belo Horizonte (MG). Seu cabelo crespo era associado a marcas de palha de a�o pelos colegas.
A decis�o por deixa de fazer o alisamento ocorreu em um momento em que estava desempregada e n�o queria mais gastar dinheiro com os procedimentos qu�micos. Durante o processo, aprendeu a apreciar seu cabelo natural e a buscar refer�ncias de beleza que se identificava.
Contudo, a satisfa��o pessoal n�o foi suficiente para blind�-la de situa��es dif�ceis. "Recentemente, fiz uma entrevista de emprego em que a ficha perguntava quantas vezes por semana eu estaria disposta a trabalhar com o cabelo preso ou liso. Como precisava do emprego, respondi 'todos'", afirma. "Apesar disso, n�o me vejo voltando � rotina de alisamento e ao constate p�nico que eu sentia de que vissem meu cabelo natural."
A dificuldade de lidar com a press�o est�tica, por�m, continua sendo um problema mesmo para mulheres que escolhem o cabelo liso. � o caso de Cinthya Santos, 26, moradora do bairro de Cidade Tiradentes, na capital paulista.
Desde crian�a, a proximidade com a m�e, que � cabeleireira, facilitou o acesso a produtos de relaxamento e alisamento. Quando lan�amentos chegavam ao sal�o de beleza, a matriarca oferecia para a filha, que realizava os procedimentos.
Ela relata que gostava de seu cabelo natural, mas se incomodava com o volume, al�m de ouvir cr�ticas dos colegas da escola.
Aos 12 anos come�ou a fazer escova progressiva e passou a gostar da textura lisa. Apesar do inc�modo com o processo qu�mico, que � demorado e, na �poca, inclu�a produtos com grandes quantidades de formol, Cinthya se acostumou com o cabelo liso e a nova apar�ncia.
A pandemia fez com que ela ficasse um longo per�odo sem fazer o alisamento, o que foi um est�mulo para lidar com os cachos completamente naturais. Chegou � conclus�o, por�m, que n�o tem paci�ncia para cuidar da forma que julga necess�ria para manter o cabelo cacheado da maneira que gosta. "Hoje, minha escolha pela progressiva � pela praticidade", afirma.
Cinthya, que trabalha com marketing, utiliza um produto que considera "mais fraco" e, com os intervalos longos entre os procedimentos qu�micos, consegue usar o cabelo com uma textura mais cacheada quando deseja. Para ela, por�m, voltar ao cabelo completamente natural n�o � uma op��o, mesmo que muitas vezes se sinta cobrada por isso. "O que me incomoda � o meu cabelo sempre ser colocado em pauta."
