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Estado de Minas DIVERSIDADE

Mulheres negras voltam a alisar cabelos ap�s cr�ticas e relatam press�o sobre a pr�pria imagem

Desconforto pessoal ou coment�rios alheios t�m feito com que muitas mulheres negras recuem no ato afirmativo de usar cabelos naturalmente crespos


08/03/2023 03:35 - atualizado 08/03/2023 08:46

Mulher negra de cabelos lisos
(foto: Depositphotos)
Aos 25 anos, Luany Air�o n�o lembra exatamente quando come�ou a alisar o cabelo. Ela se recorda perfeitamente, por�m, da situa��o que a levou a tomar essa decis�o. "Estava descendo as escadas da escola com alguns colegas quando um menino da minha sala puxou meu cabelo e chamou de cabelo duro."

Luany ainda era crian�a quando ofensas como essas a levaram a pedir ajuda da m�e para realizar alisamentos t�rmicos no cabelo, com secador e chapinha. "Antes dos 15 anos [eu] j� estava usando qu�mica", conta.

Mas depois de anos de alisamento, decidiu usar o cabelo natural. Em 2022, por�m, uma ocorr�ncia semelhante �quela que enfrentou na inf�ncia a motivou a retomar o uso de secador e chapinha de forma constante em seu cabelo, que estava cacheado.

"Comecei a me sentir mal quando passei a conviver em certos grupos em que as pessoas usavam termos como cabelo duro, cabelo ruim", conta Luany, que se mudou de Feira de Santana (BA) para Foz do Igua�u (PR) para dar aulas de portugu�s para refugiados. Para ela, o inc�modo maior n�o se deve � decis�o de alisar, mas ter feito a escolha em decorr�ncia dos julgamentos que ouviu. "Quero me permitir ter a liberdade de fazer o que eu quiser com o meu cabelo, considerando o que gosto e o que � melhor para mim, e n�o por causas externas."

Luany � uma das mulheres que, ap�s anos usando o cabelo natural, decidiram voltar a usar t�cnicas de alisamento por desconforto pessoal ou coment�rios alheios. O movimento � relatado por internautas e foi percebido em sal�es de beleza consultados pela reportagem. Embora n�o seja uma tend�ncia generalizada, aquelas que abrem m�o dos crespos e cacheados alegam praticidade e busca por aceita��o, al�m de afirmar seu direito em escolher a textura que preferem -e reclamam de seus cabelos e suas decis�es sobre a pr�pria imagem estarem sempre em pauta.

A dificuldade de aceita��o � enfrentada por muitas mulheres negras que decidem manter a textura natural de seus cabelos. A recepcionista mineira Zaine Regina, 26, tamb�m passou a alisar o cabelo ap�s experi�ncias negativas na inf�ncia, em Belo Horizonte (MG). Seu cabelo crespo era associado a marcas de palha de a�o pelos colegas.

A decis�o por deixa de fazer o alisamento ocorreu em um momento em que estava desempregada e n�o queria mais gastar dinheiro com os procedimentos qu�micos. Durante o processo, aprendeu a apreciar seu cabelo natural e a buscar refer�ncias de beleza que se identificava.

Contudo, a satisfa��o pessoal n�o foi suficiente para blind�-la de situa��es dif�ceis. "Recentemente, fiz uma entrevista de emprego em que a ficha perguntava quantas vezes por semana eu estaria disposta a trabalhar com o cabelo preso ou liso. Como precisava do emprego, respondi 'todos'", afirma. "Apesar disso, n�o me vejo voltando � rotina de alisamento e ao constate p�nico que eu sentia de que vissem meu cabelo natural."

A dificuldade de lidar com a press�o est�tica, por�m, continua sendo um problema mesmo para mulheres que escolhem o cabelo liso. � o caso de Cinthya Santos, 26, moradora do bairro de Cidade Tiradentes, na capital paulista.

Desde crian�a, a proximidade com a m�e, que � cabeleireira, facilitou o acesso a produtos de relaxamento e alisamento. Quando lan�amentos chegavam ao sal�o de beleza, a matriarca oferecia para a filha, que realizava os procedimentos.

Ela relata que gostava de seu cabelo natural, mas se incomodava com o volume, al�m de ouvir cr�ticas dos colegas da escola.

Aos 12 anos come�ou a fazer escova progressiva e passou a gostar da textura lisa. Apesar do inc�modo com o processo qu�mico, que � demorado e, na �poca, inclu�a produtos com grandes quantidades de formol, Cinthya se acostumou com o cabelo liso e a nova apar�ncia.

A pandemia fez com que ela ficasse um longo per�odo sem fazer o alisamento, o que foi um est�mulo para lidar com os cachos completamente naturais. Chegou � conclus�o, por�m, que n�o tem paci�ncia para cuidar da forma que julga necess�ria para manter o cabelo cacheado da maneira que gosta. "Hoje, minha escolha pela progressiva � pela praticidade", afirma.

Cinthya, que trabalha com marketing, utiliza um produto que considera "mais fraco" e, com os intervalos longos entre os procedimentos qu�micos, consegue usar o cabelo com uma textura mais cacheada quando deseja. Para ela, por�m, voltar ao cabelo completamente natural n�o � uma op��o, mesmo que muitas vezes se sinta cobrada por isso. "O que me incomoda � o meu cabelo sempre ser colocado em pauta."


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