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Estado de Minas RA�A E ARTE

O pintor negro que foi escravizado por artista renomado e agora ganha exposi��o em NY

Juan Pareja, espanhol descendente de africanos, trabalhou escravizado no ateli� de Diego Vel�zquez, mas foi emancipado e iniciou uma carreira independente.


13/03/2023 14:19 - atualizado 14/03/2023 13:01


Retrato de Juan de Pareja, pintado por Diego Velázquez em 1650
Retrato de Juan de Pareja, pintado por Diego Vel�zquez em 1650 (foto: The Metropolitan Museum of Art)

Ele ficou conhecido como o homem retratado pelo renomado pintor espanhol Diego Vel�zquez (1599-1660) na tela que leva seu nome, Juan de Pareja, de 1650. Mas, durante muito tempo, os detalhes de sua trajet�ria permaneceram desconhecidos.

Quando a pintura foi conclu�da, Juan de Pareja, um espanhol descendente de africanos, tinha pouco mais de 40 anos e trabalhava no ateli� de Vel�zquez.

Durante mais de duas d�cadas ele foi assistente do pintor na condi��o de escravizado, em uma �poca em que o uso de trabalho escravo n�o era raro na produ��o art�stica da Espanha.

Pouco tempo depois do retrato, Pareja foi emancipado e iniciou uma carreira como pintor independente. Entre suas obras mais conhecidas est� A Voca��o de S�o Mateus, de 1661, que faz parte do acervo do Museu Nacional do Prado, em Madri.

Agora, sua vida e obra ser�o tema da exposi��o "Juan de Pareja, Pintor Afro-Hisp�nico", que ser� inaugurada em 3 de abril no Metropolitan Museum of Art (Met), em Nova York.

Segundo o museu, esta ser� a primeira grande mostra a se debru�ar sobre a trajet�ria pessoal e art�stica de Pareja, e a examinar o papel do trabalho artesanal de pessoas escravizadas no contexto da sociedade multirracial do chamado S�culo de Ouro da cultura espanhola.

O diretor do Met, Max Hollein, diz que, "ao reexaminar a narrativa em torno de uma das obras mais celebradas da hist�ria do retrato ocidental, essa exposi��o nos desafia a questionar as no��es existentes sobre arte e objetos hist�ricos".

Al�m disso, segundo Hollein, a exposi��o vai apresentar "um artista not�vel cujo nome pode ser familiar para muitos, mas cuja obra n�o foi explorada em profundidade".


'A Vocação de São Mateus', de 1661
Entre as obras mais conhecidas de Pareja est� A Voca��o de S�o Mateus, de 1661; o artista aparece em autorretrato no lado esquerdo da tela (foto: Photographic Archive Museo Nacional del Prado)

'Um tipo peculiar de celebridade'

H� poucos documentos que detalham a biografia de Pareja, mas acredita-se que ele nasceu em torno de 1608 na cidade espanhola de Antequera.

Sua m�e era uma mulher escravizada de descend�ncia africana, e seu pai um espanhol branco.

N�o se sabe a data exata de quando Pareja passou a trabalhar escravizado no ateli� de Vel�zquez, que era pintor da corte do rei Filipe 4°, mas a pr�tica era comum no mundo art�stico espanhol da �poca.

Segundo os organizadores da exposi��o, arquivos hist�ricos da Espanha do s�culo 17 "oferecem ampla evid�ncia de uma sociedade multirracial na qual artistas e artes�os usavam trabalho escravo".

"O trabalho escravo na Espanha do s�culo 17 era, na verdade, muito mais difundido na cultura visual – da pintura e escultura ao trabalho em metal e madeira – do que geralmente se reconhece", diz � BBC News Brasil um dos curadores da exposi��o, David Pullins.

"Conforme explorado na exposi��o, entre os principais artistas que usaram trabalho escravo estavam o professor e sogro de Vel�zquez, (Francisco) Pacheco, e o principal artista de Sevilha na gera��o subsequente, (Bartolom� Esteban) Murillo", afirma Pullins, que � curador associado do Departamento de Pinturas Europeias do Met.


Velázquez assinou os documentos de alforria de Pareja em 1650, quando ambos estavam na Itália, em uma viagem que durou dois anos
Vel�zquez assinou os documentos de alforria de Pareja em 1650, quando ambos estavam na It�lia, em uma viagem que durou dois anos (foto: Arquivo P�blico de Roma)

Quando seu retrato foi pintado, Pareja e Vel�zquez estavam na It�lia, em uma viagem iniciada um ano antes, em 1649, e que � um dos focos da mostra no Met.

Conclu�da em Roma, a pintura foi recebida com grande sucesso na �poca e, segundo os organizadores da exposi��o, "abriu caminho para que Vel�zquez criasse uma extraordin�ria s�rie de retratos", incluindo o do papa Inoc�ncio 10°.

"O retrato [de Pareja] ficou famoso desde o momento em que foi pintado e exposto em Roma, no Pante�o, em 1650", ressalta Pullins.

De acordo com os organizadores da mostra no Met, ter seu retrato pintado por Vel�zquez garantiu a Pareja "um tipo peculiar de notoriedada" e "levanta quest�es importantes sobre a rela��o entre artista e modelo quando um � legalmente propriedade do outro".

Na apresenta��o da mostra, os organizadores observam que a viagem � It�lia foi um marco na trajet�ria pessoal e profissional de Pareja.

"Sua condi��o de escravizado perversamente permitiu-lhe um raro acesso a monumentos da arte europeia que dariam forma � sua voz art�stica", afirmam.

Foi tamb�m nessa viagem que Vel�zquez assinou os documentos de alforria de Pareja, que previam que ele seria libertado quatro anos depois.

Estilo pr�prio

Em 1654, Pareja finalmente conquistou a liberdade. Ele passou a se dedicar � sua carreira art�stica em Madri, onde desenvolveu um estilo pr�prio, independente do de Vel�zquez.

"Ao se colocar em di�logo com um grupo de artistas hoje conhecido como a Escola de Madri, cujas paletas e composi��es vivas contrastavam com a sobriedade de Vel�zquez, Pareja tra�ou seu pr�prio caminho art�stico em vez de seguir o estilo de seu antigo escravizador", diz o Met na apresenta��o da mostra.

Al�m de A Voca��o de S�o Mateus, que inclui um autorretrato no lado esquerdo da tela, a mostra traz tamb�m outras obras importantes produzidas por Pareja ao longo de sua carreira, como A Fuga para o Egito (1658), do acervo do John and Mable Ringling Museum of Art, na Fl�rida, Retrato do Arquiteto Jos� Rat�s Dalmau (1660-1670), do Museu de Belas Artes de Val�ncia, e O Batismo de Cristo (1667), do Museu Nacional do Prado.

"A reuni�o dessas obras marca um novo cap�tulo na recupera��o cont�nua da arte de Pareja", dizem os organizadores da exposi��o no Met.

Pareja morreu em 1670, em Madri. Mais de 300 anos depois, seu retrato pintado por Vel�zquez foi adquirido pelo Met, em 1971, por quase US$ 5,5 milh�es, no que foi considerada uma das mais importantes aquisi��es do museu.

David Pullins lembra que a aquisi��o da obra de Vel�zquez pelo museu "ganhou as manchetes na �poca", mas observa que "os estudiosos e a imprensa n�o disseram praticamente nada sobre o homem retratado".

"Esta exposi��o n�o apenas lan�a mais luz sobre a vida de Pareja, mas tamb�m coloca �nfase em sua ag�ncia como uma for�a criativa, por meio de suas obras negligenciadas por tanto tempo", diz Pullins.


Retrato do Arquiteto José Ratés Dalmau, de Juan Pareja
Uma das obras de Pareja na exposi��o do Met � o Retrato do Arquiteto Jos� Rat�s Dalmau, pintado na d�cada de 1660 (foto: Cortesia do Museo de Bellas Artes de Val�ncia, foto de Paco Alc�ntara Benavent)

Detalhes da exposi��o

A mostra em Nova York fica aberta at� 16 de julho e vai reunir cerca de 40 pinturas, esculturas e objetos de arte decorativa. Tamb�m inclui livros e documentos hist�ricos do acervo do Met e de outras cole��es nos Estados Unidos e na Europa.

Al�m das obras de Pareja e Vel�zquez, h� pinturas de outros artistas espanh�is do s�culo 17, como Francisco de Zurbar�n e Bartolom� Esteb�n Murillo, que trazem raras representa��es das popula��es negra e mourisca da �poca.

Tamb�m est�o em exposi��o pe�as em madeira, prata e cer�mica que mostram os vest�gios do trabalho escravo empregado na produ��o art�stica do per�odo.

A mostra retrata ainda os esfor�os do escritor e historiador negro Arturo Schomburg pelo reconhecimento da obra de Pareja.

Schomburg nasceu em Porto Rico e foi figura importante no movimento cultural de Renascimento do Harlem, que reuniu artistas e intelectuais negros no bairro nova-iorquino no in�cio do s�culo 20.

Na d�cada de 1910, Schomburg viajou � Espanha para pesquisar o papel dos descendentes de africanos na sociedade espanhola do s�culo 17. Seus esfor�os levaram a um novo entendimento da obra e da vida de Pareja.

Segundo os organizadores, as fotografias de viagens e escritos de Schomburg, cedidas para a mostra pela Biblioteca P�blica de Nova York, "servem como um fio condutor que liga a Espanha do s�culo 17 � Nova York do s�culo 20".

Para uma das curadoras da mostra, Vanessa K. Vald�s, que � reitora associada para Engajamento Comunit�rio e professora de espanhol e portugu�s na universidade City College, de Nova York, a exposi��o "se une aos esfor�os de estudiosos que continuam a recuperar contribui��es de todos os povos de ascend�ncia africana, incluindo os de heran�a afro-hisp�nica, como Pareja, a fim de entender melhor toda a complexidade e riqueza da experi�ncia negra global".

-Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51eyzq9r36o


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