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Estado de Minas LGBTFOBIA

Quem foi o ind�gena Tibira, o 1� assassinado pela LGBTfobia no Brasil

Ele foi morto entre 1613 e 1614, diz o antrop�logo Luiz Mott


23/05/2023 13:02
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LGBT
O crime foi registrado no livro Hist�ria das coisas mais memor�veis acontecidas no Maranh�o nos anos de 1613-1614 (foto: T�nia R�go/Ag�ncia Brasil)
Uma pessoa amarrada � boca de um canh�o como pena de morte por ser homossexual. A execu��o dividiu o corpo em duas partes. Essa hist�ria de terror, invisibilizada ao longo dos s�culos, ocorreu no Maranh�o, em 1613 ou 1614, nesse que pode ser o primeiro caso de assassinato por causa da homofobia no pa�s. Segundo o antrop�logo Luiz Mott, recuperar os detalhes do que ocorreu e garantir divulga��o ao caso � importante n�o apenas para reconhecer o esquecimento do passado, mas tamb�m para se indignar com a atualidade. 

“Vivemos numa �poca ainda de intoler�ncia, de machismo, de feminic�dio. A homofobia � fruto da mesma mentalidade autorit�ria, patriarcal que queremos modificar por meio da educa��o sexual e de legisla��o, que garanta a cidadania plena dos homossexuais iguais, nem menos nem mais”, disse o professor e fundador do Grupo Gay da Bahia, em entrevista � Ag�ncia Brasil.
O assassinato, ocorrido no s�culo 17, � um caso, portanto, que estaria pr�ximo de completar 410 anos. A v�tima foi um ind�gena Tibira (termo gen�rico tupinamb� alusivo � homossexualidade). Ele foi acusado de “sodomia”, um pecado aos olhos do  fundamentalismo e da intoler�ncia homof�bica por parte dos mission�rios franceses no Maranh�o.
 
 
Luiz Mott
Luiz Mott, que � um antrop�logo, historiador e pesquisador, e tamb�m um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis LGBT (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)
 
O crime foi registrado no livro Hist�ria das coisas mais memor�veis acontecidas no Maranh�o nos anos de 1613-1614. Segundo Mott, o capuchinho Frei Yves D’�vreux (1577-1632) , superior dos mission�rios, teve a responsabilidade dessa execu��o, assim como a descri��o minuciosa desse mart�rio. “Embora o livro tenha sido traduzido no s�culo 19 e reimpresso no Brasil pela biblioteca do Senado, de fato � uma hist�ria pouco conhecida em estudos e livros sobre diversos aspectos da presen�a dos capuchinhos e dos franceses.

Homofobia institucionalizada

Mott explica que a data exata da execu��o do �ndio Tibira do Maranh�o ainda n�o � poss�vel definir (1613 ou 1614). Os portugueses e brasileiros conseguiram expulsar os franceses do Maranh�o em 1615. No entanto, o pesquisador analisa que a homofobia no Brasil foi oficialmente institucionalizada em 1534, com a cria��o das primeiras capitanias heredit�rias. 

“O rei, no decreto de entrega das capitanias aos donat�rios, estabeleceu, entre outros poderes, o de condenar, sem ter que consultar o rei, � pena de morte os sodomitas, os que falsificavam moedas e os que se uniam aos invasores”.
 
Tibira do Maranhão
Gravura de livro de Claude Abbeville (foto: Desenho do mission�rio capuchinho franc�s Claude Abbeville, que participou da invas�o � col�nia portuguesa que executou Tibira do Maranh�o)
 
No entanto, o pesquisador aponta que n�o h� registro de que houve alguma execu��o. Mott alerta que, desde o primeiro C�digo Penal Brasileiro, de 1830, assinado por Dom Pedro I, o crime de sodomia deixou de ser mencionado. “Mas o que n�o implicou a erradica��o que j� estava enraizado na mentalidade das pessoas”. 

O pesquisador lamenta que a Igreja Cat�lica do Brasil ou do Vaticano nunca se manifestou a respeito da possibilidade de pedir desculpas pela persegui��o aos homossexuais. 

“Mas n�s vamos continuar pedindo � CNBB [Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil] e � comiss�o de canoniza��o do Vaticano”. Mott considera que � muito importante a divulga��o oficial do assassinato. Ele cita outro caso, tamb�m no s�culo 17, em que teria havido a execu��o de um escravo jovem em Sergipe, em que o senhor de engenho mandou a�oitar at� a morte porque o escravo teria mantido rela��es com um homem branco.
“� importante divulgar para mostrar a crueldade do preconceito e da homofobia. H� documentos inquestion�veis de que a pena de morte foi praticada pelos ocupantes franceses, que seguiram a mesma legisla��o da Fran�a que condenava � morte os sodomitas ou pela execu��o arbitr�ria de um propriet�rio de escravos”. 

“� preciso lutar”
Luiz Mott defende que � necess�rio lutar contra a homofobia e � poss�vel erradicar esse tipo de viol�ncia. Para ele, � preciso colocar medidas em pr�tica. A primeira seria a educa��o sexual obrigat�ria em todos os n�veis escolares, a fim de ensinar orienta��o sexual e identidade de g�nero para que respeitem os LGBTQI . 

Outra medida seria tirar do papel a legisla��o que j� foi aprovada, como a equipara��o da homofobia ao racismo, com previs�o de pris�o inafian��vel, incluindo inj�ria. “Devem ser garantidas pol�ticas p�blicas que garantam a cidadania das pessoas LGBT”.

Assassinatos em s�rie

Imagem Tibira do Maranhão
Reprodu�%u0101o da imagem do �ndio Tibira do Maranh�o (foto: Divulga��o)
Mais de quatro s�culos e uma d�cada depois, um dossi� divulgado neste m�s de maio, no site do Observat�rio de Mortes e Viol�ncias contra LGBTQI no Brasil, pelo menos 273 dessas pessoas morreram de forma violenta no pa�s em 2022, em fun��o de homofobia. Os n�meros revelam que houve uma morte a cada 32 horas. Os dados foram divulgados na v�spera do 17 de maio, Dia Internacional da Luta contra LGBTFobia. 

 

O mesmo relat�rio mostrou que, nos primeiros quatro meses deste ano, foram assassinadas 80 pessoas LGBTQI . A popula��o de travestis e mulheres trans representa 62,50% do total de mortes.


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