
A primeira dessas mostras re�ne 721 objetos arqueol�gicos de arte produzidos por povos amer�ndios entre os s�culos 2 a.C. e 16. Chamada de Comodato Masp Landmann - cer�micas e metais pr�-colombianos, a exposi��o ocupa o segundo subsolo do museu e tem curadoria de Marcia Arcuri e assist�ncia de Leandro Muniz.
� a segunda exposi��o dedicada ao comodato da cole��o de Edith e Oscar Landmann, emprestada ao museu em 2016 por um per�odo de dez anos. A primeira mostra dessa cole��o apresentou um conjunto de tecidos que integrou a programa��o do museu em 2019, dedicada �s Hist�rias das mulheres, hist�rias feministas.
� Ag�ncia Brasil, a curadora informou que nesta segunda mostra do comodato estar�o em exibi��o objetos atribu�dos a 35 culturas arqueol�gicas do continente americano, entre elas, pe�as nasca, inca, mochica, inchu, paracas e at� marajoara, da Amaz�nia brasileira. Esses artefatos constituem um legado hist�rico e cient�fico e foram constru�dos pelas antigas popula��es de regi�es que hoje pertencem aos territ�rios do Equador, Peru, Col�mbia, Venezuela, Panam�, M�xico, Brasil e dos pa�ses caribenhos.
“Nesse tipo de trabalho sobre cole��es, partimos dos conjuntos de objetos para o que sabemos sobre a hist�ria do continente no per�odo que precedeu a invas�o europeia. Mas n�o podemos atribuir as pe�as a uma determinada etnia ou um povo. Ent�o trabalhamos com conceito de culturas arqueol�gicas. Nesse caso, a exposi��o re�ne pe�as de 35 culturas arqueol�gicas, que � o nome que a gente d� para esses conjuntos estil�sticos”, explicou Marcia Arcuri, curadora-adjunta de Arte Pr�-colombiana do Masp. “A cole��o realmente re�ne um repert�rio bastante significativo do que a gente conhece desse passado pr�-colombiano entre mais ou menos 1600 antes de Cristo at� o s�culo 16”.
De acordo com a curadora, a maior parte das pe�as s�o em cer�mica e prov�m de contextos funer�rios ou rituais de oferendas. “Mas h� tamb�m artefatos feitos em metais como ouro e cobre dourado. E tem alguns objetos em ossos, conchas e, claro, pe�as que integram mais de um material”.
A mostra, segundo Marcia Arcuri, acontece em um momento em que o museu se dedica �s hist�rias ind�genas e o pa�s discute o marco temporal, projeto que tramita no Congresso e impacta diretamente nos processos de demarca��o de territ�rios ind�genas. “� um movimento bastante amadurecido do museu, que vem apresentando uma s�rie de mostras relacionadas a essa diversidade de protagonistas, de componentes e de no��es a partir das quais temos que entender esse tecido social que � a cultura. Essa discuss�o vem em boa hora”, explicou. “Uma institui��o como o Masp, trazer para o p�blico brasileiro, que conhece muito pouco desse universo, a oportunidade de conhecer um pouco desse passado e o quanto ele fala de temas que est�o t�o presentes, � algo �mpar”, destacou.
A exposi��o Comodato Masp Landmann - cer�micas e metais pr�-colombianos fica em cartaz at� o dia 3 de setembro.
Sheroanawe Hakihiiwe
A segunda exposi��o aberta nesta sexta-feira apresenta obras do artista yanomami venezuelano Sheroanawe Hakihiiwe, entre desenhos, monotipos e pinturas produzidos sobre pap�is artesanais, fabricados por ele por meio do uso de fibras nativas.
A mostra, intitulada Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos n�s, ser� apresentada ao p�blico at� o dia 24 de setembro no primeiro subsolo do museu e tem curadoria de Andr� Mesquita e do assistente curatorial David Ribeiro. O subt�tulo da exposi��o Ihi hei komi thepe kamie yamaki [Tudo isso somos n�s] foi uma sugest�o do pr�prio artista para incorporar a diversidade de elementos que formam sua comunidade e seu entorno.
No total, a exposi��o apresenta um conjunto de 48 obras, muitas delas de grandes dimens�es. Uma dessas obras, por exemplo, chamada de Oni Komi Thepe ou Grupo de Desenhos, � composta por 62 monotipias, que foram dispostas lado a lado e ocupam a parede final da exposi��o. “Isso est� muito relacionado ao t�tulo que o pr�prio artista escolheu para dar nome � exposi��o, Tudo isso somos n�s, que � uma no��o de conjunto e de uma produ��o que est� toda articulada e que expressa tudo aquilo que faz parte da identidade yanomami, principalmente relacionada com o ambiente e o espa�o em que esse povo vive”, explicou David Ribeiro, � Ag�ncia Brasil.
“Hakihiiwe se expressa artisticamente desde a d�cada de 90, depois que ele fez uma oficina de produ��o de papel artesanal com uma artista mexicana chamada Laura Anderson Barbata. Nessa oficina, ele e outras pessoas da comunidade aprenderam a fazer pap�is de diversas fibras como cana, milho e algod�o e fibras nativas como amoreira e, com isso, eles come�aram a produzir materiais para divulgar coisas sobre a cultura yanomami”, informou o curador.
Ribeiro destacou que essa produ��o artesanal do artista entende o papel “como algo vivo”, o que acaba dialogando com a forma como seu povo entende a arte. “N�o s� para os yanomami, mas para a popula��o ind�gena em geral, a arte sempre esteve relacionada ao corpo, nunca como algo externo”, explicou. “A ocupa��o dessa superf�cie do papel artesanal vivo tem rela��o com essa arte, que originalmente � transposta sobre a pele”, acrescentou.
Essa � uma das raz�es pela qual o artista opta por ocupar todos os espa�os da folha, disse o curador, “assim como se faz com a pintura corporal que ocupa toda a superf�cie da pele”.
Para compor seus trabalhos, Hakihiiwe fica cerca de seis meses na floresta, observando a fauna, a flora e comunidades ind�genas. “Ele vai desenhando isso em um caderno, faz estudos sobre essas formas e depois ele as transp�e para suportes materiais, em geral, pap�is artesanais. Ent�o, � um longo trabalho, bastante cont�nuo, que a gente entende como um verdadeiro invent�rio do patrim�nio imaterial yanomami”, disse Ribeiro.
A obra desse artista � marcada pela mem�ria oral e resgata as tradi��es ancestrais e os saberes cosmol�gicos de sua comunidade, localizada na cidade de Alto Orinoco, na Amaz�nia venezuelana. Por ser produzido sobre pap�is artesanais, o trabalho enfrenta o tempo e discute, ao mesmo tempo, o papel da preserva��o dos materiais e tamb�m da cultura ind�gena.
“Acho que a principal discuss�o que existe, a partir dessa materialidade do suporte que ele utiliza, est� relacionada a uma provoca��o para a sociedade n�o �ndigena em rela��o ao cuidado que se deve ter com aquilo que faz parte da identidade desse povo ind�gena e dos povos ind�genas em geral. � uma reflex�o bastante sofisticada sobre a perecibilidade”.
Sky Hopinka
J� na sala de v�deo do Masp s�o apresentados dois trabalhos de Sky Hopinka, que discutem sobre a identidade ind�gena contempor�nea nos Estados Unidos. A curadoria � de Mar�a In�s Rodr�guez, curadora adjunta de Arte Moderna e Contempor�nea do Masp.
Sky Hopinka � um artista visual que, por meio de seu trabalho de v�deo, foto e texto, expressa a sua opini�o sobre a paisagem e a terra ind�gena, utilizando de meios de comunica��o pessoais, documentais e n�o ficcionais.
“Sky Hopinka � um artista bastante jovem e que come�ou a fazer filmes. Para ele � muito importante falar sobre sua identidade, sobre a identidade ind�gena contempor�nea, sobre as tradi��es de sua comunidade e, ao mesmo tempo, sobre como essas tradi��es evolu�ram e mudaram com o tempo. Ent�o ele quer falar do mundo contempor�neo em que ele cresceu e em que ele vive e que se manifesta por meio de seus filmes”, explicou a curadora.
O primeiro v�deo � Kicking the clouds, onde o artista reflete sobre seus descendentes e ancestrais, guiado por uma grava��o de �udio de 50 anos atr�s de sua av� aprendendo a l�ngua pechanga com sua m�e.
J� o segundo v�deo � Mnemonics of Shape and Reason, que percorre a mem�ria de um lugar visitado pelo artista. Ele sobrep�e e remonta paisagens rochosas do deserto com uma trilha composta por textos e m�sicas, criando um relato r�tmico das implica��es espirituais da coloniza��o.
Segundo a curadora, ambos os trabalhos s�o baseados na paisagem, na m�sica e na linguagem, e traduzem as tradi��es e pr�ticas ancestrais que sobreviveram aos sistemas de opress�o. “Em seus filmes se nota como a presen�a da m�sica � importante e tamb�m como representa as lutas contempor�neas por territ�rio e pela defesa da natureza. A m�sica est� sempre presente n�o somente contando uma hist�ria particular, mas tamb�m acompanhando as hist�rias que Sky quer compartilhar com o p�blico”, disse.
Em seus v�deos, o cineasta conta hist�rias que remetem � sua identidade e aos modos de vida ind�genas, mergulhando profundamente em quest�es de sua origem por meio de narrativas autobiogr�ficas que se comunicam diretamente com o p�blico nativo, sem a obrigatoriedade de explicar o significado aos espectadores n�o nativos. A base de sua obra � a etnopo�tica, explicou a curadora.
“A etnopo�tica � uma refer�ncia tomada do escritor e tradutor Eliot Weinberger. Esse conceito evoca a ideia do sujeito que � filmado e decide tomar a c�mara para filmar, expressar e dizer o que ele quer que os outros saibam dele. Ou seja, o sujeito decide ser aquele que fala por si mesmo”, disse.
“Os dois filmes t�m uma est�tica muito especial para trabalhar a paisagem e a cor e combin�-las com o som e a m�sica. Isso me pareceu muito po�tico e por tr�s disso h� tamb�m um compromisso pol�tico importante porque ele conta sua hist�ria e a hist�ria da comunidade a que ele pertence e que se situa no contexto de opress�o e repress�o �s comunidades ind�genas nos Estados Unidos”, acrescentou.
A mostra Sala de v�deo: Sky Hopinka fica em cartaz at� o dia 13 de agosto, no segundo subsolo do museu.
O Masp tem entrada gratuita todas as ter�as-feiras e todas as primeiras quintas-feiras do m�s.
Outras informa��es sobre as exposi��es podem ser obtidas no site do museu.