
“O caso � emblem�tico por muitas raz�es. Foi planejado durante o governo militar e impactaria um rio muito importante, o Xingu, que � rico em diversidade humana e ambiental”, diz � BBC Brasil o advogado Raul Silva Telles do Valle, integrante do Instituto Socioambiental (ISA), organiza��o contr�ria � obra.
Considerada a “joia da coroa” pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lob�o, a constru��o da usina � planejada desde os anos 1980. � �poca, ambientalistas e �ndios da Bacia do Xingu fizeram uma grande manifesta��o contra a obra, o que levou � apresenta��o de um novo projeto em 1994, com a previs�o de redu��o da �rea represada e, consequentemente, do impacto causado pela usina.
Mesmo assim, ativistas continuam contr�rios � constru��o, dizendo que as mudan�as n�o livrariam a regi�o de graves preju�zos. “Antes, a usina alagaria uma �rea muito grande. Agora, ser� uma �rea menor, mas em troca disso cerca de 100 km do rio ficar�o secos. Nessa regi�o, h� popula��es que ter�o suas vidas inviabilizadas”, afirma Telles.
O governo afirma que o rio pode ter a vaz�o reduzida em alguns trechos, mas que n�o secar� nem deixar� de ser naveg�vel. Ali�s, um estudo que embasa a obra diz que a constru��o de Belo Monte permitir� a expans�o de uma hidrovia no Xingu, j� que o lago da usina possibilitaria o desvio de um trecho de cerca de 100 km de rio com leito rochoso, atualmente um obst�culo � navega��o.
Desmatamento
Telles, do ISA, tamb�m critica o que considera “o processo atabalhoado pelo qual a obra vem sendo liberada”. Segundo o advogado, a Nesa (Norte Energia S.A.), empresa que re�ne os 18 investidores da hidrel�trica, desenvolveu um estudo de impacto ambiental insatisfat�rio, que teria sido aprovado pelo Ibama ap�s press�o do governo. “O impacto real tem que ser medido, e deve haver propostas para compens�-lo. Quando o governo atropela a opini�o t�cnica do Ibama, isso n�o ocorre”, diz.
Ao conceder a licen�a para a instala��o do canteiro de obras, no entanto, o Ibama afirmou que a decis�o ocorreu “com base nas recomenda��es t�cnicas registradas nos pareceres e notas t�cnicas” do �rg�o. O Ibama diz ainda ter realizado, antes de tomar a decis�o, mais de 20 reuni�es com representantes de variados �rg�os do governo, Minist�rio P�blico, ONGs, associa��es de moradores e prefeituras locais.
Produ��o energ�tica
Para o governo, uma das grandes vantagens de Belo Monte ser� o baixo pre�o da energia produzida pela usina. O cons�rcio Norte Energia venceu o preg�o ao oferecer o pre�o de R$ 78 pelo megawatt-hora (MWh), um des�gio de 6,02% em rela��o ao teto que havia sido estabelecido pelo governo.
Segundo o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energ�tica, Mauricio Tolmasquim, o teto j� representava pouco mais que a metade do pre�o da energia produzida numa usina termel�trica, com a vantagem de ser uma fonte de energia renov�vel. Mas grupos contr�rios � obra dizem que, com as mudan�as no �ltimo projeto, que reduziu a �rea alagada, a energia gerada em Belo Monte raramente atingir� a capacidade total anunciada.
A ex-senadora Marina Silva (PV), que deixou o cargo de ministra do Meio Ambiente em 2008 alegando dificuldades para impor sua agenda ambiental, afirmou em artigo que Belo Monte ter� como produ��o energ�tica m�dia 4.428 MW, e n�o os 11.223 MW anunciados e que a tornariam a terceira maior

Defensores de Belo Monte dizem, por�m, que a usina ser� capaz de suprir 26 milh�es de pessoas com perfil de consumo elevado e que sua implanta��o permitir� uma distribui��o mais eficiente da energia j� dispon�vel no pa�s, pois o sistema de distribui��o ser� ampliado.
Unidade de conserva��o
Enquanto ministra, Marina prop�s a cria��o de uma unidade de conserva��o na regi�o do M�dio Xingu. Ambientalistas afirmam que a cria��o da unidade foi vetada pelo governo porque poderia atrapalhar a constru��o de barragens adicionais � usina de Belo Monte.
O governo, no entanto, nega a inten��o de construir mais usinas no Xingu e diz que, por mais que a constru��o da hidrel�trica possa ter alguns efeitos indesej�veis, esses necessariamente ser�o inferiores �s alternativas vi�veis – erguer usinas termel�tricas ou nucleares.
Al�m disso, diz que a constru��o de Belo Monte deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos. O custo total de Belo Monte � estimado pela Nesa em R$ 26 bilh�es, o que torna o empreendimento o segundo mais caro do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC), atr�s apenas do trem-bala entre S�o Paulo e Rio de Janeiro, or�ado em R$ 34 bilh�es.
A previs�o � de que a usina comece a operar em fevereiro de 2015, mas as obras s� devem ser finalizadas em 2019.