(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Dificuldades para pequenas fazendas produtoras do queijo canastra


postado em 19/06/2011 07:26

Buracas era o nome dado pelos moradores da regi�o da Serra da Canastra a um artefato improvisado de couro e madeira usado para transportar o queijo. Buracas tamb�m � o nome de um povoado de S�o Roque de Minas onde fica a Fazenda Taquaril, de Maria Jos� Cruvinel. Ela e a filha, Aparecida Sebastiana Cruvinel, executam todo o trabalho da propriedade e fazem entre quatro e cinco queijos por dia, 30 por semana, que vendem para o queijeiro. O pagamento � feito � vista: R$ 210 ou R$ 7 por queijo. “Meu marido morreu h� 26 anos. Meus filhos se casaram e sa�ram de casa. Para poder conseguir o sustento, preciso fazer o queijo”, explica Maria Jos�.

M�e e filha acordam cedo para tirar o leite da maneira tradicional, sem ordenha mec�nica. Amarram as patas e o rabo da vaca e prendem o bezerro.

�s 10h, Aparecida vai trabalhar em uma escola, como servente, e Maria Jos�, de 63 anos, prepara o queijo durante o restante do dia. Receosa por n�o ter conseguido arcar com as despesas para seguir o padr�o estabelecido pelo IMA, Maria Jos� justifica a apar�ncia simples da propriedade. “ � s� eu e minha filha. Se fosse fazer a casinha do IMA (a queijaria), eu teria primeiro que reformar minha casa, que est� muito velha”, afirma.

Maria Jos� faz quest�o de dizer que todo o trabalho � executado com muito capricho e limpeza. “Coloco uma touca para n�o ter perigo de cair cabelo no queijo. Minha filha colocou redes na janela da casinha. Fa�o queijo desde crian�a e nunca tive problema”, refor�a Maria Jos�. As exig�ncias para a produ��o do queijo de minas artesanal podem gerar um drama social. Quem faz o alerta � o presidente da Associa��o dos Produtores da Canastra (Aprocan), Luciano Carvalho.

“Se eu trabalhasse com leite, e n�o com o queijo, n�o teria servi�o para minha esposa e meus filhos. Somente eu tiraria o leite e venderia para a cooperativa”, diz Luciano. Ele sustenta que a produ��o do queijo na regi�o da Canastra � uma maneira de fixar as fam�lias no campo. “Se o produtor tiver que parar de fazer queijo vai aumentar o n�mero de pessoas nas favelas em Belo Horizonte”, prev�.

Luciano � um dos poucos produtores da regi�o da Canastra que segue os preceitos do IMA. H� seis anos investiu cerca de R$ 20 mil na Fazenda Esperan�a, em Medeiros. Passou a ter a ordenha mec�nica, construiu uma queijaria, pavimentou o curral e cumpriu as dezenas de crit�rios para conseguir o cadastro. “N�o houve uma valoriza��o do produto certificado. A m�dia do pre�o paga pelos queijeiros � R$ 7 e quem investiu consegue vender por R$ 9”, lamenta.

A ONG Sert�obras defende a legaliza��o do queijo de leite cru. Consultor da ONG, Alu�sio Marques destaca que a prefer�ncia do mercado pelo queijo fresco tem que ser aceita pelos produtores – mesmo aqueles que reconhecem que o tradicional da Canastra � o queijo curado –, pois eles n�o t�m capital de giro e acabam fazendo neg�cios com os queijeiros, j� que recebem o pagamento � vista. “Sem o produtor n�o existe o queijo. A coloca��o deles no mercado precisa ser trabalhada de forma mais profissional pelos �rg�os governamentais”, entende Marques. A ONG apoiou a produ��o de um document�rio, dirigido por Helv�cio Ratton, chamado O mineiro e o queijo.

Entraves

Outra dificuldade � o acesso a algumas propriedades. Os pequenos produtores, isolados pelas prec�rias estradas de terra e tamb�m pela pr�pria condi��o geogr�fica da Serra da Canastra, dependem do queijeiro para receber produtos do supermercado da cidade ou mesmo enviar encomendas para outras fazendas. Na quarta-feira, Maria Jos� enviou um saco de caf� por meio de um atravessador para outra fazenda, que tamb�m faz parte da “linha do queijo”, como � chamado o trajeto dos queijeiros.

Chegar na fazenda de Otusseviano Freitas, o Otinho, � dific�limo. Na parte alta da Cachoeira da Matinha a paisagem � uma das mais belas da Serra da Canastra, mas impede que ele tente vender outro produto que n�o seja o queijo. “N�o pode vender leite no lat�o e o caminh�o com o tanque n�o chega aqui. Eu n�o tenho op��o. Preciso fazer queijo”, afirma.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)