O crescimento econ�mico brasileiro vem estimulando a migra��o de empregadas dom�sticas para outros setores da economia, como empresas de telemarketing, supermercados ou cl�nicas hospitalares. Nas seis principais metr�poles do pa�s, onde mais de 1,6 milh�o desempenham servi�os dom�sticos, a tend�ncia tem sido de queda consecutiva no n�mero de empregados no setor desde setembro, aponta o economista Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) com a poss�vel migra��o para outros setores. Nos �ltimos 12 meses, ap�s alguns anos de sobe-desce, as estat�sticas mostram que a categoria perdeu 81 mil pessoas, a maioria em empregos sem carteira assinada.

Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Pol�ticas Sociais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), relaciona o fen�meno ao fato de o Brasil estar perto do pleno emprego e assistindo � amplia��o do chamado 'apag�o de m�o-de-obra', mas com caracter�sticas bem espec�ficas.
Enquanto a express�o costuma ser usada para designar a falta de m�o-de-obra qualificada, neste caso, diz Neri, � o mercado de trabalho das categorias de base que est� pressionado. "No fundo, temos um apag�o de m�o-de-obra n�o qualificada. Est� faltando pe�o de obra, agricultor, gar�om, empregada. N�o h� sinais na base de haver uma reserva de mercado e os sal�rios est�o sendo pressionados", diz.
Fuga da nova gera��o
Com maior escolaridade, renda e desejo de ingressar no mercado de trabalho formal, sobretudo mulheres mais novas t�m buscado empregos em outras �reas. � o que indica, por um lado, a redu��o do percentual de jovens entre empregadas dom�sticas, e, por outro, o aumento da idade m�dia das dom�sticas em atividade, hoje de 39 anos.
De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea), o contingente de mulheres jovens de 18 a 24 anos empregadas no setor caiu pela metade entre 1999 e 2009, passando de 21,7% para 11,1%. J� as mulheres de 30 a 44 anos passaram a representar 42,5% das trabalhadoras do setor, contra 37% em 1999.
“Estamos vendo um envelhecimento da categoria. As mais jovens, em fun��o do aumento da escolaridade, v�o se deslocar para outras ocupa��es”, diz Luana Pinheiro, pesquisadora do Ipea. “O trabalho dom�stico � um trabalho prec�rio, de baixa qualidade. Se a pessoa tem a possibilidade de se ocupar em outros lugares com a sua qualifica��o, � evidente que vai optar por isso.”
Renato Meirelles, s�cio-diretor do Data Popular - instituto de pesquisas e consultoria em S�o Paulo - diz que a categoria perde trabalhadoras de duas formas: h� tanto as dom�sticas que conseguem migrar para outras carreiras ap�s alguns anos na profiss�o quanto pessoas que, pelo perfil s�cio-econ�mico, seriam historicamente levadas ao trabalho dom�stico, mas que j� entram no mercado de trabalho por outros caminhos.
A hist�ria da carioca B�rbara Jos� Antunes Baptista, de 24 anos, � um exemplo bem-sucedido dessa mudan�a de rumo. O investimento da m�e, que trabalhou como dom�stica at� falecer em 2005, na educa��o da filha rendeu frutos. Formada em biotecnologia, a jovem faz hoje mestrado em imunologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Eu n�o segui a profiss�o da minha m�e, mas isso porque ela me deu muito apoio e uma dire��o para que eu buscasse uma profiss�o que pudesse me dar um retorno melhor na vida, e melhores condi��es financeiras", diz B�rbara.
“A nova gera��o foge do emprego dom�stico”, reitera Meirelles. “N�o � pelo sal�rio, � pela perspectiva de crescimento. Com o emprego formal, podem at� ganhar menos quando se conta na ponta do l�pis, mas passam a ter benef�cios, a seguran�a da carteira assinada e, principalmente, perspectiva de crescimento profissional.”
Para ele, a mudan�a se d�, sobretudo, pela democratiza��o do ensino. Entre 2002 e 2011, a pesquisa do Data Popular mostra que a propor��o de trabalhadoras com ensino m�dio completo quase dobrou (passando de 12,7% para 23,3%). “Com uma renda maior, elas est�o investindo em educa��o, e ao investir em educa��o elas deixam de ser dom�sticas”, diz Meirelles.
A renda da categoria teve aumento acima da m�dia entre 2002 e 2011. Enquanto o brasileiro m�dio teve aumento de 25% no per�odo, no caso das dom�sticas, o incremento foi de 43,5%. A categoria movimenta hoje R$ 43 bilh�es com o dinheiro do pr�prio sal�rio, um salto de 66% em rela��o a 2002 (quando a renda somava R$ 25,9 bilh�es).
A educa��o foi o caminho da carioca Leila Ramos Barbosa para deixar o servi�o dom�stico em busca de ascens�o profissional.
Filha de uma fam�lia destro�ada ap�s o abandono da m�e e o alcoolismo do pai na inf�ncia, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ela come�ou a trabalhar como empregada dom�stica aos 13 anos. Depois de j� ter sobrevivido de restos de feira livre catados nas ruas e rejeitado a escolha de amigas da adolesc�ncia que seguiram o caminho da prostitui��o, Leila voltou para a escola aos 17 anos para completar o ensino fundamental e m�dio. Hoje � t�cnica de enfermagem. "Eu n�o me envergonho de ter trabalhado em casa de fam�lia, mas eu tinha um sonho, o sonho de melhorar."
Servi�o de luxo
Para Rodrigo Leandro de Moura o Brasil pode estar caminhando para uma realidade mais pr�xima � dos pa�ses ricos. O servi�o dom�stico, outrora amplamente acess�vel � classe m�dia, pode vir a se tornar um "servi�o de luxo", considera.
Na semana passada, o ministro da Economia, Guido Mantega, afirmou em Londres que as empregadas dom�sticas s�o uma parte subutilizada do mercado de trabalho no Brasil, e come�am a preencher empregos gerados pelo aquecimento da economia no pa�s. “As empregadas dom�sticas s�o algo que quase n�o existe mais nos pa�ses avan�ados, e � uma reserva de trabalho que o Brasil tem”, disse.