O que � capaz de derrubar um governante? Nem esc�ndalos pol�ticos, nem impopularidade. A turbul�ncia financeira mundial desencadeada pelos Estados Unidos, em setembro de 2008, e intensificada pela crise nos pa�ses da Zona do Euro evidenciou que � a economia. Na ciranda mundial, ela abate um por um ao afetar diretamente o bolso e a vida do cidad�o, avalia Antonio Corr�a de Lacerda, professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP.
At� agora, sete j� ca�ram e o pr�ximo alvo � o primeiro-ministro espanhol Jos� Luiz Zapatero, que depois de sete anos de governo, apontam pesquisas, dever� ser derrotado por Mariano Rajoy, do Partido Popular, de centro-direita, nas elei��es que ocorrem hoje no pa�s. Como escreveu James Carville, estrategista eleitoral da campanha vitoriosa de Bill Clinton ao governo dos Estados Unidos em 1992: “� a economia, est�pido!”
Em meio � crise da d�vida da Espanha, que chega a 179% do Produto Interno Bruto (PIB), em 26 de setembro deste ano Zapatero convocou elei��es antecipadas. Al�m dele, outros tr�s est�o na linha de tiro: Nicolas Sarkozy (Fran�a), Angela Merkel (Alemanha) e Iveta Radicova (Eslov�quia).
“Na Europa h� claramente uma crise de lideran�a. Faltam carisma e capacidade de liderar grandes transforma��es. Isso tem atrasado muitas decis�es, o que agrava o efeito da turbul�ncia financeira”, diz Lacerda. Para ele, os Piigs (Portugal, Irlanda, It�lia, Gr�cia e Espanha) est�o no foco das aten��es, pois t�m endividamento e d�ficits fiscais elevados, combinados com aumento da taxa de desemprego, como � o caso da Espanha, com quase 22% da popula��o sem trabalho. “A crise envolve um custo pol�tico grande porque algu�m precisa pagar a conta”, afirma Rafael Cortez, cientista pol�tico da consultoria Tend�ncias.
Segundo ele, as medidas de austeridade adotadas pelos governos para o enfrentamento da crise, desde 2008, como corte salarial e de benef�cios previdenci�rios, t�m um custo pol�tico elevado, especialmente nos pa�ses com sistema parlamentarista. “O desenho do parlamentarismo, que prevalece na Europa, proporciona flexibilidade de troca de governos. Faz parte da regra do jogo. A Fran�a, por exemplo, � semipresidencialista. Por isso, Nicolas Sarkozy tem mandato fixo at� as pr�ximos elei��es, no ano que vem. Nesse caso, � poss�vel que ele tenha de deixar o cargo, mas por n�o conseguir se reeleger”, explica Cortez.
Maur�cio Santoro, professor de rela��es internacionais da Funda��o Getulio Vargas (FGV), chama a aten��o para a fragilidade da sa�de dos bancos franceses e para a possibilidade de o status da d�vida ser rebaixada. Na Espanha, segundo ele, o governo socialista deve ser derrotado e o Partido Popular volta ao governo nas elei��es de hoje. J� na Alemanha parlamentarista, onde a crise tamb�m desgasta cada vez mais a popularidade da chanceler Angela Merkel, ela pode renunciar, abrindo caminho para antecipar elei��es. “Os eleitores est�o punindo o partido de quem estava no poder no in�cio da crise, independente da ideologia pol�tica”, destaca Santoro.
Poder da economia
No Brasil o cen�rio � bem diferente. No sistema presidencialista, o mandato do presidente da Rep�blica tem um prazo fixo. “Ent�o ele n�o tem a menor preocupa��o com a manuten��o do governo. S� um impeachment pode tir�-lo do poder, como aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor”, diz Cortez, ponderando que se o atual governo deixar a crise internacional contagiar o mercado interno pode influenciar a avalia��o do brasileiro em rela��o � presidente Dilma Rousseff. “A economia � a base do comportamento eleitoral. A pessoa vota naquele que proporciona renda e bem-estar.”
O pa�s vive 17 anos de relativa estabilidade macroecon�mica, que resistiu �s mudan�as de governo, pondera Lacerda. “No momento em que a infla��o baixa (leia-se Fernando Henrique) torna-se um valor para a sociedade, o crescimento (leia-se Lula) passou a ser valorizado, assim como os programas sociais. Dilma tem o desafio de manter o que j� foi conquistado e avan�ar nas quest�es institucionais para ampliar os investimentos p�blicos e privados, para sustentar o crescimento” , analisa. Para ele, a presidente tem a grande vantagem de conhecer tecnicamente grande parte das complexas quest�es envolvidas. Al�m disso, tem ganhado credibilidade at� mesmo das pessoas que tinham certa avers�o a ela.
Parlamentarismo x presidencialismo
No sistema parlamentarista o chefe de Estado n�o � eleito pelo povo e o governo responde politicamente perante o Parlamento. Entre as vantagens sobre o presidencialismo est� a flexibilidade e capacidade de rea��o � opini�o p�blica: prev� que as crises e esc�ndalos pol�ticos possam ser solucionados com um voto de censura e a correspondente queda do governo, seguida de novas elei��es legislativas. Uma vez que o governo � formado a partir da maioria partid�ria (ou de coaliz�o) no Parlamento, ele pode ser demitido antes da data prevista para as elei��es regulares. Ao contr�rio do parlamentarismo, no sistema presidencialista o presidente da Rep�blica � o chefe de governo e o chefe de Estado e � ele quem escolhe os ministros. Juridicamente, o presidencialismo se caracteriza pela separa��o dos poderes Legislativo, Judici�rio e Executivo.