O governo lan�ou ontem um novo conjunto de medidas para tentar estimular a economia, que ainda n�o deu mostras de estar reagindo aos efeitos do agravamento da crise pol�tica e financeira da Europa. Ao lado do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, o ministro da Fazenda, Guido Mantega anunciou a redu��o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos autom�veis at� 31 de agosto e do Imposto sobre Opera��es Financeiras (IOF) cobrados nos financiamentos para pessoas f�sicas, al�m da libera��o de R$ 18 bilh�es para que os bancos aumentem a oferta de cr�dito para a compra de ve�culos. A expectativa � de uma redu��o de 10% dos pre�os de tabela dos carros populares, de at� 1 mil cilindradas.
Com o corte dos tributos, o governo vai abrir m�o de uma arrecada��o de R$ 2,7 bilh�es em tr�s meses. Em contrapartida, os bancos prometeram oferecer mais empr�stimos para a compra de ve�culos; e as montadoras, dar descontos e n�o demitir funcion�rios. “Nosso objetivo � reduzir os custos para o consumidor e o valor das presta��es. Trata-se de mais uma medida para garantir o crescimento econ�mico no meio da crise internacional”, afirmou o ministro da Fazenda.

As montadoras instaladas no Brasil ter�o o IPI para carros com motores de at� 1 mil cilindradas (1.0) reduzido de 7% para zero. Para ve�culos de 1 mil at� 2 mil cilindradas, a al�quota cair� da faixa de 41% a 43% para 35,5% a 36,5%. E, para os utilit�rios, de 34% para 31%. J� os importados ter�o o tributo cortado de 37% para 30%. O ministro anunciou ainda a redu��o de juros nos financiamentos do BNDES para bens de capital, com o objetivo de incentivar investimentos. Para exportadores, por exemplo, a queda foi de 9% para 8% ao ano. Os juros para a compra de caminh�es e �nibus ca�ram de 7,7% para 5,5% e, para m�quinas e equipamentos, de 7,3% para 5,5%. “Estamos voltando aos juros de 2009 e esse � o financiamento para o setor produtivo expandir sua produ��o”, disse.
Mantega demonstrou confian�a com o comprometimento do setor privado com esse novo pacote. O presidente da Associa��o Nacional dos Fabricantes de Ve�culos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, frequentador ass�duo do gabinete do ministro nos �ltimos dias, estava na plateia durante o an�ncio. “A ind�stria automotiva nunca descumpriu um acordo. Eu confio na Anfavea e tamb�m nos bancos. Eles v�o aumentar o n�mero de parcelas”, disse o ministro. Ele garantiu que, o governo ir� monitorar semanalmente o aumento da oferta de cr�dito. “Se ainda faltarem recursos o governo tomar� novas medidas. Essa � a ordem que temos”, emendou.
MEDIDA PALIATIVA Na avalia��o do professor de Economia da Universidade de Bras�lia, Jos� Luis Oreiro, esses incentivos de car�ter tempor�rio tendem a funcionar, mas ainda s�o paliativos. Ele alertou que o efeito no crescimento econ�mico poder� n�o ser o mesmo obtido na crise de 2009, quando foram adotadas medidas semelhantes. “Mais uma vez o governo est� no caminho errado. Ele est� de novo incentivando o consumo. Seria melhor reduzir a meta de super�vit prim�rio e aumentar o investimento p�blico”, afirmou, lembrando que o brasileiro est� cada vez mais endividado e, dessa forma, com menos capacidade para honrar seus compromissos.
Ao ser questionado sobre se o governo est� preocupado com o aumento do endividamento do brasileiro, Mantega demonstrou otimismo. “O mercado de trabalho est� aquecido e a massa salarial continua se expandindo. Isso � perfeitamente fact�vel com aumento do consumo, sem o qual n�o haver� aumento de investimento”, disse. No entanto, ele reconheceu que o pacote n�o dever� provocar um crescimento como em 2010 (de 12%) e que a expans�o da economia brasileira ficar� abaixo da meta de 4,5% deste ano.
As novas medidas devem entrar em vigor a partir de hoje, com a publica��o do decreto com as redu��es do IOF e do IPI para ve�culos. “O impacto no pre�o para o consumidor ser� imediato”, garantiu Belini, da Anfavea. Ele estimou que os carros at� 1 mil cilindradas ter�o uma redu��o de 10% no pre�o final. J� os de 1 mil a 2 mil cilindradas, de 7%, e os utilit�rios, de 4%. “Essas medidas v�o destravar o cr�dito”, afirmou ele, em tom confiante de que os estoques ser�o reduzidos. “Hoje eles est�o entre 45 e 50 dias e dever�o voltar ao normal, que � de 30 dias”, completou. Mais de 366 mil ve�culos est�o parados nos p�tios das montadoras e distribuidoras.
Recursos garantidos pelo BC
O Banco Central liberou R$ 18 bilh�es dos dep�sitos compuls�rios para que institui��es financeiras possam aumentar o ritmo de concess�o de financiamento de ve�culos e reduzir juros aos consumidores. O montante � equivalente a 10% de todo o cr�dito concedido pelo segmento. A nova regra vale a partir de hoje. Segundo o Banco Central, a medida tem como objetivo criar melhores condi��es para as opera��es do segmento sem com isso comprometer a seguran�a. Desde o in�cio do ano, representantes do setor tem se queixado ao governo das vendas e de escassez de recursos para financiar ve�culos novos.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu ontem as “reformas” promovidas pelo governo Dilma Rousseff, durante evento do Grupo de L�deres Empresariais (Lide), em S�o Paulo, pouco antes de anunciar as medidas de libera��o dos compuls�rios para ve�culos. A autoridade monet�ria ainda avaliou como positivas as altera��es na poupan�a e a briga do Pal�cio do Planalto por juros banc�rios menores. Em seu discurso, preparou o terreno para as medidas de est�mulo ao cr�dito que foram anunciadas no fim do dia. Tentou tamb�m avalizar uma redu��o dos dep�sitos compuls�rios e uma flexibiliza��o das garantias nos financiamentos ao projetar uma queda da inadimpl�ncia no segundo semestre do ano.
Tombini disse ainda que a atividade econ�mica vai se acelerar ao longo deste ano e destacou que o Brasil est� com um n�vel adequado de dep�sitos compuls�rios (cerca de R$ 400 bilh�es). Para ele, esses dep�sitos que as institui��es guardam no BC, que nada mais s�o do que um percentual do que clientes colocam nos bancos, s�o parte da defesa do pa�s em momentos de escassez de dinheiro e de cr�dito no mundo.
Dilma v� o Brasil “300% preparado”
A presidente Dilma, durante inaugura��o de uma ponte em Santa Catarina, tamb�m falou sobre crise e as armas do governo para superar as turbul�ncias. “N�s n�o precisamos encostar um tost�o do or�amento para expandir cr�dito. N�s temos no BC R$ 400 bilh�es a t�tulo de dep�sito que os bancos s�o obrigados a colocar no BC como garantia do sistema financeiro p�blico e privado. Portanto, temos R$ 400 bilh�es para enfrentar qualquer emerg�ncia de cr�dito”, disse a presidente. “Posso assegurar: n�s estamos 100%, 200%, 300% preparados”, garantiu Dilma, com rela��o ao enfrentamento da crise financeira.
Os discursos governamentais evidenciaram mais uma vez a preocupa��o da equipe econ�mica e de Dilma com o crescimento do pa�s neste ano e nos pr�ximos anos. “A economia brasileira vai continuar seguindo uma trajet�ria de crescimento”, frisou Tombini, que disse esperar um crescimento maior em 2013 do que neste ano. A recupera��o da atividade econ�mica, segundo t�cnicos do governo, est� mais lenta do que o esperado. Essa fraqueza, somada as incertezas internacionais, tem feito inclusive o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esquivar-se quando o assunto � previs�o para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do pa�s), mesmo com uma meta extra-oficial de 4,5% de expans�o.
Toda essa preocupa��o tem mobilizado o governo. N�o � toa, ontem, na divulga��o do novo pacote de est�mulo � economia, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, participaram do an�ncio. Banqueiros do setor privado e presidentes dos bancos p�blicos tamb�m estiveram em Bras�lia para debater a medida.
Na pol�tica monet�ria, o fantasma da infla��o � o que amea�a a estrat�gia de expans�o do governo. Os resultados mensais do �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) come�am a preocupar e podem travar o processo de afrouxamento monet�rio em algum momento.
Infla��o Na vis�o de especialistas e de t�cnicos do governo, a crise internacional, at� ent�o, facilitava o trabalho do Banco Central e, como o pr�prio Tombini ponderou em discursos e apresenta��es, os problemas na Europa tinham efeito desinflacionario sobre o Brasil. Essa ajuda, por�m, parece estar se reduzindo. “Houve um agravamento do cen�rio econ�mico internacional. Ningu�m tem bola de cristal para saber o que vai acontecer, mas estamos mais fortes do que est�vamos em 2008. Temos que avaliar a evolu��o da economia nos pr�ximos dias”, afirmou o presidente do BC.O d�lar em escalada frente o real tamb�m pode afetar os �ndices de pre�os. Para Tombini, por�m, esse impacto deve ser m�nimo para a pol�tica monet�ria. “O repasse da alta do d�lar para a infla��o tem diminu�do ao longo do tempo e a avalia��o do governo � de que esse repasse, at� esse momento, � moderado”, observou. (VM)