
Nesta entrevista exclusiva, FHC afirmou que a Europa est� sem sa�da a curto prazo porque n�o consegue investir e n�o adotou medidas de ajustes fiscais. Disse que o Brasil, mesmo nos momentos de crise mais aguda, jamais entrou em recess�o. “N�s fizemos a estabiliza��o junto com condi��es para que a economia n�o morresse afogada. A Europa est� se afogando”. Apesar de elogiar a presidente Dilma Rousseff, FHC afirma que o pa�s n�o vive um ciclo de desenvolvimento sustent�vel. “Precisamos investir em infraestrutura, priorizar a educa��o, dar mais seguran�a jur�dica �s pessoas e definir o que fazer com energia e o meio ambiente”.
Ap�s 18 anos de implanta��o do Plano Real, o pa�s e a economia brasileira est�o mais maduros do que em 1994? Atingimos a maioridade?
Em rela��o ao que �ramos eu n�o tenho nenhuma d�vida. � preciso tomar cuidado porque, em alguns pa�ses, a maioridade s� se consegue aos 21 anos de idade. Mas estamos mais seguros.
Que sinais de seguran�a o pa�s transmite? E quais de inseguran�a?
O Plano Real, estrito senso, era um plano para controlar a infla��o e estabilizar a moeda. Mas foram necess�rias tamb�m uma s�rie de outras medidas para assegurar a estabilidade da moeda. O nosso programa atravessou muitas intemp�ries. Mudan�as de governo, inclusive com, formalmente, ideias que n�o seriam as mesmas das nossas. Mostramos que a for�a do plano era tal que obrigou a uma certa continuidade.
O que pode ser aperfei�oado no Plano?
Nosso objetivo era controlar a infla��o e por em ordem as contas p�blicas. Elas ainda n�o est�o completamente em ordem, temos uma d�vida interna muito grande, mas sob controle. Aprendemos a lidar com a taxa de c�mbio, que era r�gida e passou a ser flutuante. Engessamos o gasto com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Qual o desafio atual?
Manter isso e fazer crescer a economia. N�o est� claro ainda que n�s tenhamos um crescimento sustent�vel da economia.
Por qu�?
V�rios fatores. De 2004 at� 2008, 2009, o fator externo foi favor�vel. A partir da�, come�amos a enfrentar dificuldades. Quais s�o as dificuldades? A primeira diz respeito � nossa taxa de poupan�a e de investimentos, que s�o baixas. � preciso priorizar educa��o de boa qualidade. Dar garantias jur�dicas �s pessoas. Nesse aspecto, ainda temos muito o que fazer.
E a infraestrutura?
Ainda n�o crescemos os investimentos em infraestrutura. O dinamismo da economia fica apertado por esse gargalo. N�o temos uma vis�o estrat�gica de para que lado n�s vamos na quest�o da energia, como vamos ajustar as demandas de crescimento com meio ambiente.
O senhor tem elogiado a presidente Dilma Rousseff. Enxerga disposi��o para fazer as mudan�as econ�micas necess�rias?
Houve um avan�o em rela��o � quest�o da Previd�ncia Social (Funpresp). Em rela��o �s outras quest�es, ainda estamos esperando para ver o que vai acontecer. Eu n�o vejo com clareza qual ser� o rumo. A presidente est� tentando arrumar a casa das desordens produzidas pelo governo anterior.
Muitas das reformas come�aram durante o governo Itamar Franco. Aqueles dias conturbados serviram para fomentar o caldo reformista?
As reformas mesmo vieram depois – da previd�ncia, do sistema banc�rio, as quest�es estruturais. O clima para mudan�a surgiu no governo Itamar porque n�s est�vamos sufocados pela hiperinfla��o, t�nhamos que sobreviver.
Quais os erros cometidos pela Europa na crise do Euro?
Uma coisa foi o Plano Real com troca de moeda, URV. Por tr�s disso, houve uma reconstru��o das finan�as p�blicas e do sistema financeiro banc�rio. N�s pegamos todas as d�vidas dos estados, consolidamos, assumimos tudo. Proibimos os estados de contra�rem mais d�vidas sem a autoriza��o do Senado. Fechamos muitos bancos estaduais que eram um ralo para gastar dinheiro.
Nada disso foi feito pelos europeus?
A Europa n�o pode fazer isto at� agora porque ela tem uma moeda �nica, mas tem pol�ticas fiscais variadas, cada pa�s tem a sua. No come�o, alguns acordos limitavam o poder de endividamento dos pa�ses, mas era algo volunt�rio.
Mas o Real tamb�m enfrentou crises.
N�s tivemos uma crise financeira aqui em 1995, com a quebradeira dos bancos. A partir da�, o Banco Central colocou regras, come�amos a seguir as regras da Basil�ia, que os europeus est�o come�ando a falar agora. Nossos bancos n�o s�o alavancados. Nossa pol�tica n�o foi s� de reformar, mas de respeitar regras. A Europa n�o fez nem uma coisa nem outra.
O senhor enxerga sa�da para a crise europeia a curto prazo?
N�o. Sa�da mesmo � retomada do crescimento. Isso requer retomada de investimentos. Mas leva tempo. N�s nunca deixamos de ter crescimento. Pequeno, mas tivemos, nunca mergulhamos na depress�o. N�s fizemos a estabiliza��o junto com condi��es para que a economia n�o morresse afogada. A Europa est� se afogando.
Quando voc�s come�aram a elaborar o Plano Real, tinham no��o de que aquele plano seria praticamente definitivo no combate � infla��o?
N�s t�nhamos um compromisso muito forte de implementar as medidas necess�rias para acabar com a infla��o. Se �amos conseguir ou n�o, era dif�cil saber. Muita gente era contra. Ou contra ativamente ou contra por in�rcia. Tivemos que fazer um ajuste fiscal, cortei 50% do Or�amento. N�o t�nhamos certeza se ter�amos condi��es pol�ticas para implementar isso.