O aumento da produtividade nos pa�ses desenvolvidos n�o teve impacto positivo sobre os sal�rios dos trabalhadores, segundo o Relat�rio Mundial sobre Sal�rios da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT). Ao contr�rio do que ocorreu nos pa�ses em desenvolvimento, como o Brasil, em que houve aumento real dos sal�rios nos per�odos anteriores e posteriores � crise financeira internacional, os ganhos de produtividade – proporcionados por avan�os tecnol�gicos, por exemplo –, n�o foram repassados aos trabalhadores dos pa�ses desenvolvidos, o que significa que a m�o de obra se beneficiou menos com os ganhos do trabalho.
“Essa � uma tend�ncia indesejada que, onde exista, � preciso ser revertida. Em n�vel social e pol�tico, sua interpreta��o mais clara � que os trabalhadores e suas fam�lias n�o est�o recebendo o que merecem”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, em nota da organiza��o. A OIT enfatizou que esses pa�ses devem ter cuidado para n�o promover o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em detrimento dos sal�rios e do bem-estar do trabalhador.
De acordo com o professor de economia da Universidade de Bras�lia (UnB) Jos� Lu�s Oureiro, a produtividade do trabalho � qual a OIT se refere diz respeito � raz�o entre a produ��o de uma pessoa e as horas trabalhadas. Quanto maior a quantidade produzida por n�mero de horas maior ser� a produtividade. Nas economias desenvolvidas, a produtividade laboral aumentou mais do que o dobro dos sal�rios desde 1999. Nos Estados Unidos, por exemplo, enquanto a produtividade aumentou 85% no per�odo, os sal�rios s� cresceram cerca de 35%. Na China, apesar de os sal�rios terem quase triplicado, os ganhos do trabalhador foram proporcionalmente menores devido ao forte crescimento do PIB, em ritmo mais acelerado do que os aumentos salariais.
Para Jos� Lu�s Oureiro, essa situa��o se encaixa na tese do "ex�rcito industrial" do alem�o Karl Marx, em que a quantidade de trabalhadores dispon�veis � maior do que a demanda do mercado, o que faz com que o pre�o da m�o de obra, o sal�rio, seja mais baixo devido ao excesso de oferta. Isso causa perdas aos trabalhadores, principalmente em rela��o ao poder de barganha perante o empregador, que pode contratar outro funcion�rio mais facilmente. Da� o trabalhador, nos pa�ses desenvolvidos, n�o conseguir aumentos de sal�rios no per�odo p�s-crise.
Esse capital que n�o vai para os trabalhadores fica retido nas m�os do empresariado em forma de lucro, que pode ser usado de forma negativa ou positiva. "Se eles est�o fazendo novos investimentos, � melhor para a economia. Se est�o usando para financial gastos e consumo, � mal�fico e aumenta a desigualdade de renda", explicou o professor da UnB.
Apesar da disparidade entre o crescimento dos sal�rios e a produtividade nos pa�ses desenvolvidos – e da situa��o contr�ria nos pa�ses em desenvolvimento –, ainda h� significativas diferen�as de sal�rios entre grupos de na��es. Segundo compara��o feita pela OIT entre os proventos de um trabalhador no setor industrial em 2010, a Dinamarca � o pa�s onde h� o sal�rio mais alto por hora trabalhada, cerca de US$ 34,7; seguido da Su��a (US$ 34,2) e da Austr�lia (US$ 28,5). Em �ltimo lugar ficaram as Filipinas (US$ 1,4), a Hungria (US$ 4,7) e a Pol�nia (US$4,8). Em seguida aparece o Brasil, que paga cerca de US$ 5,4 por hora trabalhada.
De acordo com o economista, esse fen�meno entre produtividade e sal�rios � tempor�rio entre os pa�ses desenvolvidos, cuja situa��o dever� voltar ao normal assim que os efeitos da crise internacional forem totalmente debelados. Um dos autores do relat�rio da OIT, Sangheon Lee, explicou que os pa�ses t�m de estabelecer uma rela��o mais estreita entre sal�rios e produtividade, que � uma quest�o de equidade e crescimento econ�mico sustent�vel.
Para superar o desafio da descoordena��o entre produtividade e sal�rios, a OIT sugere a ado��o de pol�ticas coordenadas para estimular a demanda da popula��o, manter a competitividade por meio da inova��o, fortalecer as institui��es, regular o mercado financeiro, e intensificar a seguran�a social.
"Os governos t�m de tomar medidas que atuem no sentido de diminuir a taxa de desemprego. Essa austeridade adotada na Europa, hoje, por exemplo, acaba agravando situa��o de desemprego e, por isso, refor�a a tend�ncia dos sal�rios a ca�rem", informou o professor da UnB.