A vit�ria do brasileiro Roberto Azev�do na disputa pelo comando da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) foi bem mais apertada do que o governo brasileiro declarou nos dias seguintes ao an�ncio do resultado. Dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo revelam que a diferen�a para o mexicano Herm�nio Blanco teria sido de 13 votos, entre 159 pa�ses.
Pe�a central na vit�ria do brasileiro foi a Comiss�o Europeia, que praticamente anulou o apoio que Reino Unido, Fran�a e Alemanha haviam dado ao mexicano. Ao contr�rio da declara��o brasileira de que Azev�do teria tido at� 40 votos acima do concorrente, os n�meros que surgem uma semana depois da vota��o mostram uma realidade diferente. Os dados s�o sigilosos, mas fontes muito pr�ximas ao processo indicaram que o Brasil teria acumulado apenas 13 apoios a mais, uma diferen�a de menos de 10% dos membros.
Se o n�mero de apoios nos mercados emergentes pesou, outra constata��o que come�a a vazar do processo sigiloso de vota��o � que, no fundo, foi o posicionamento da Uni�o Europeia que acabou decidindo a vit�ria do brasileiro. Azev�do n�o era favorito entre os governos nacionais europeus. Mas tinha o apoio da Comiss�o Europeia, o bra�o executivo do bloco e que atua de forma semi-independente em mat�ria de com�rcio.
Quinze pa�ses europeus apoiavam Blanco, e doze estavam com Azev�do. Mas numa manobra diplom�tica a Comiss�o conseguiu que, na pr�tica, o voto europeu fosse equivalente a uma absten��o. Essa realidade abriu caminho para a vit�ria de Azev�do que, de fato, tinha mais votos em outras regi�es.
A opera��o da Comiss�o envolveu seu pr�prio presidente, o portugu�s Jos� Manuel Barroso, que decidiu fazer campanha pelo brasileiro. Para isso, teve de reverter um cen�rio de apoio entre os 27 pa�ses do bloco a favor do M�xico. A primeira parte da estrat�gia foi a de adiar qualquer decis�o. Na quinta-feira, 2, o bloco se uniria para decidir o voto. A presid�ncia tempor�ria do grupo estava com a Irlanda, que sugeriu o voto em Blanco. Nesse momento, a Comiss�o interrompeu os trabalhos e pediu mais tempo. No dia seguinte, o debate se alongou e os diplomatas conseguiram transferir a vota��o interna para a segunda-feira, v�spera da elei��o.
Ao telefone
Com isso, deram duas cartadas. A primeira foi permitir que, no fim de semana, uma intensa movimenta��o reduzisse o apoio ao mexicano. O chanceler Antonio Patriota cancelou compromissos e permaneceu horas ao telefone. O mesmo fez a Comiss�o Europeia. “Foi nesse fim de semana que a elei��o de Azev�do foi definida”, disse um diplomata.
No domingo � noite, o Itamaraty j� cantava vit�ria. Quando a UE voltou a se reunir na segunda-feira, o apoio a Blanco j� havia ca�do e a diferen�a era de apenas dois votos na Europa. A Comiss�o ainda conseguiu incluir uma refer�ncia que faria toda a diferen�a: uma declara��o de que, caso Azev�do fosse o escolhido, n�o iria se opor.
Quando o embaixador europeu na OMC, Angelos Pangratis, foi votar em nome do bloco, sua posi��o foi interpretada praticamente como voto nulo. De um lado, deu apoio a Blanco. Mas, amigo pessoal de Azev�do, anunciou que o bloco estaria satisfeito com o brasileiro.
Isso fecharia a equa��o para que Azev�do fosse eleito. Pelas regras, o brasileiro precisaria do apoio em todas as regi�es e a posi��o da Europa foi interpretada pelo comit� de sele��o como um sinal verde. Uma semana depois, a atitude da Comiss�o criou uma crise no bloco, com Londres, Berlim e Paris questionando as manobras de Bruxelas e a independ�ncia de Barroso.
Pelo mundo, a demora dos europeus em definir seu voto tamb�m teve impacto. Pa�ses que dependem comercialmente da UE, como v�rios governos africanos, ficaram sem um sinal de Bruxelas de qual deveria ser o caminho. Isso acabou facilitando o lobby brasileiro, que ganhou votos no continente.